sábado, 13 de junho de 2015

INTERSTELLAR - Greg Keyes (Parte 3)


No momento em que finalmente chegaram se arrastando na escola, com o drone pendurado para fora da parte de trás do caminhão, Cooper estava lutando com a ansiedade sobre a reunião.

– Como funciona essa coisa? – Perguntou timidamente. – Vocês vêm junto comigo?
– Eu tenho aula – Tom informou-o com superioridade. Então deu um tapinha no ombro de Murph.
– Mas ela vai te esperar.

Murph enviou a Tom outro olhar cheio de veneno enquanto ele agilmente saia do veículo.

– Por quê? – Perguntou Cooper. – O quê?

Como seu filho desapareceu em direção à porta, ele se virou para a filha.
Murph parecia desconfortável rabiscando algo em seu caderno.

– Pai, – ela começou, – Eu tive um... um problema. Bem, eles vão te falar sobre isso. Basta tentar não...
– Ficar com raiva? – Cooper perguntou erguendo as sobrancelhas.
– Não comigo – disse Murph. – Apenas tente...
– Relaxe – tranquilizou-a. – Eu entendi. 



Cooper não se impressionava com o escritório do diretor quando era um menino. Agora ele descobriu que se importava um pouco mais. Sentiu-se nervoso e agitado, quase como se ele tivesse feito algo errado.
O diretor William Okafor estava olhando para fora de sua janela quando Cooper entrou, e então virou-se para cumprimenta-lo. Ele era um pouco mais jovem do que o próprio Cooper. A autoridade que era tão casualmente ligada a ele parecia descomunal para o trabalho de conduzir um rebanho de menos de uma centena de alunos.
Seu terno escuro e gravata preta só reforçava a impressão, e fez Cooper ficar mais nervoso.
O que ele teria sido 30 anos atrás? Um executivo da empresa? Um oficial militar? O presidente de uma universidade?
Havia uma mulher na sala, e ele acenou para ela. Ela assentiu com a cabeça em retorno.
Ele se perguntou se ela era a Miss Hanley, e lembrou-se do conselho de Donald para ser bom para ela. Ele tinha que admitir que ela fazia bem aos olhos. Longos cabelos loiros trançados e presos em volta do topo de sua cabeça. Saia conservadora e camisa azul.

– Está atrasado, Coop – Okafor protestou e apontou para a cadeira vazia na frente de sua mesa e, em seguida acenou para fora da janela em direção a caminhonete.
– Ah, sim... fizemos uma parada – disse Cooper.
– Na loja de aviões asiáticos. – Ele demonstrava uma combinação de desaprovação e curiosidade.

Cooper estava sentado, tentando sorrir.

– Na verdade isso é um drone de vigilância. Com painéis solares incríveis. É indiano.
O diretor não parecia impressionado, pegou uma folha de papel, e a observou.

– Temos as notas de Tom – disse ele. – Ele vai ser um excelente fazendeiro. Empurrou o papel sobre a mesa. – Parabéns.
Cooper olhou para ele.
– Sim, ele tem o dom para isso.

Mas Tom poderia fazer melhor.

– E quanto a faculdade? – Perguntou.
– A universidade só escolhe apenas um punhado – Okafor respondeu. – Eles não têm recursos.
Isso foi demais para Cooper.
– Eu ainda estou pagando impostos – ele entrou em erupção, indignado. – Para onde vão os impostos? Não há mais exércitos...

O diretor balançou a cabeça lentamente. – Não é para a universidade, Coop.Você tem que ser realista. 
Realista? Cooper só sentiu sua indignação crescer. Era o seu filho. Tom.

– Está descartando meu filho? – Cooper insistiu, não estava disposto a deixar passar. – Ele só tem quinze anos. 
– A pontuação de Tom simplesmente não é alta o bastante.

Tentando manter o controle, Cooper apontou para as calças do diretor.
– Quais são suas medidas? – Perguntou. – Uma cintura de 86 centímetros?

Okafor só olhava para ele, sem saber para onde ele estava indo com isso.

– Por 70 de gancho? – Acrescentou Cooper.
– Eu não tenho certeza se eu entendo... – começou a dizer o Diretor.
– Você está me dizendo, que você precisa de dois números para medir o seu próprio rabo, mas apenas um para medir o futuro do meu filho?–

A senhorita Hanley sufocou uma risada. Então ela tinha um senso de humor, também. Isso era bom. Mas quando o diretor lhe lançou um olhar desagradável ela abaixou o rosto.

– Você é um homem bem educado, Coop. Um piloto treinado.
– E um engenheiro. – Cooper não estava disposto a ser enganado com esse ar condescendente.
– Tudo bem – disse Okafor, inclinando-se para frente. – Bem, agora o mundo não precisa de mais engenheiros. Não temos mais aviões, ou aparelhos de televisão. Ficamos sem comida. 

Cooper se recostou na cadeira, sentindo esvair o vapor de dentro dele.
– O mundo precisa de agricultores – Okafor continuou, com um sorriso que provavelmente era para ser benigno mas apenas pareceu paternalista. – Bons agricultores, como você. E Tom. Nós somos uma geração de provedores. As coisas estão melhorando. Talvez seu neto...
Cooper, de repente só queria estar longe deste homem, dessa conversa, da situação toda.

– Acabamos por aqui, senhor? – Perguntou abruptamente.
Mas não ia ser assim tão fácil. Nada jamais era.
– Não. A senhorita Hanley está aqui para falar sobre Murph. 



Relutantemente, Cooper desviou o olhar para a senhorita Hanley.
O que estava por vir? Eles iriam dizer-lhe que Murph não servia para a sexta série? Porque, se fosse esse o caso, havia algumas modificações que ele poderia fazer nas suas colheitadeiras. Elas poderiam fazer uma verdadeira bagunça deste lugar.

– Murph é uma garota brilhante – ela começou, dissipando sua preocupação, mas a despejar uma tonelada de outras. – Porém ela está tendo um pouco de dificuldade...
Aqui vamos nós, pensou Cooper. O “porém”.
Senhorita Hanley colocou um livro sobre a mesa.

– Ela trouxe isso para a escola. Para mostrar a outras crianças a seção sobre pousos lunares...
– Sim – disse ele reconhecendo-o. – É um dos meus velhos livros didáticos. Ela gosta das fotos. 
– Este é um antigo livro federal – a senhorita Hanley disse. – Nós os substituímos por versões corrigidas.
– Corrigidas? – Perguntou Cooper.
– Explicando como as missões Apolo foram forjadas para provocar a falência da União Soviética.

Ele estava tão atordoado que por um momento ele não tinha certeza de como deveria reagir. Rir? Chorar? Explodir? Ele escolheu por incredulidade.

– Você não acredita que fomos à Lua?

Claro, ele estava ciente dos loucos e suas teorias conspiratórias. Mas um professor? Como qualquer um com metade de uma mente poderia pensar esta bobagem?
Ela sorriu para ele como se ele fosse uma criança de três anos de idade.

– Creio que foi uma brilhante peça de propaganda – ela disse. – Os soviéticos foram à falência despejando recursos em foguetes e outras máquinas inúteis.
– Máquinas inúteis?

Cooper, sentindo o pavio ficar mais curto.
– Sim, Mr. Cooper – disse ela tolerante. – E se nós não queremos repetir o desperdício do século XX, nossos filhos precisam aprender sobre este planeta, não contos sobre tê-lo deixado.
Cooper tentou absorver isso por um momento. O pavio ainda estava queimando, queimando, indo para o barril.

– Uma dessas máquinas inúteis que eles fizeram – finalmente desabafou – era chamada de ressonância magnética, e se tivéssemos qualquer uma delas aqui, os médicos teriam sido capazes de encontrar o tumor no cérebro de minha esposa antes dela morrer. Então ela estaria sentada aqui ouvindo isso, o que seria bom, porque ela sempre foi a mais calma da família...

Senhorita Hanley olhou primeiro confusa, em seguida, envergonhada, então um pouco horrorizada, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Okafor interrompeu:

– Sinto muito por sua esposa, Mr. Cooper. Mas Murph entrou em uma briga com vários dos seus colegas sobre esse absurdo sobre a Apolo, e nós pensamos que seria melhor chamá-lo e ver que ideias o senhor poderia ter para lidar com o comportamento dela em casa. 

Dito isso, parou e esperou.
Cooper observou os dois por um momento, pensando em como irreal aquilo era, como tudo parecia normal, por vezes, e então você percebia como as coisas estavam de cabeça para baixo.
Estou realmente tão distante de tudo, se perguntou. Realmente é tão ruim assim? Não prestava muita atenção nas poucas notícias, porque ele tinha a muito tempo percebido que era principalmente propaganda. Mas até então não que tinham ido tão longe, como reescrever os livros didáticos.
Diretor Okafor e Miss Hanley estavam esperando com expectativa. Eles queriam saber como ele iria punir Murph. Como ele iria endireitá-la. E mereciam uma resposta.

– Claro – disse finalmente, medindo cuidadosamente as suas palavras. – Bem, há um jogo de beisebol amanhã a noite e Murph está passando por aquela fase de gostar de esportes. Haverá doces e refrigerantes...

Um olhar de aprovação tinham começado a aparecer no rosto de Miss Hanley e se lembrou das palavras de Donald. Mesmo se ele estivesse disponível para outra mulher, nenhum olhar seu poderia compensar a sua estupidez. Encarou-a sem rodeios.
– Eu acho que vou levá-la – disse e piscou, embora ela não entendesse, então se virou para Okafor. O diretor não parecia feliz.

***

– Como foi? – Perguntou Murph, poucos minutos depois, quando ele se aproximou do caminhão.
– Eh... você foi suspensa – admitiu Cooper.
– O quê? – Ela engasgou.
– Desculpe.
– Papai! – Ela disse levantando a voz. – Eu disse que não...

O radiocomunicador do caminhão de repente criou vida.

– Cooper? Boots para Cooper!

Com certa dose de alívio, passou por sua filha angustiada e pegou o microfone, segurando-o perto de sua boca.

– Cooper falando – respondeu.
– Coop, essas colheitadeiras que você reconstruiu se descontrolaram – afirmou Boots. Ele parecia um pouco excitado, o que era incomum. Boots tinha sido chefe de Cooper pela metade de uma década, na agricultura desde a infância, e tinha praticamente visto de tudo.
– Desligue os controladores por alguns minutos – disse Cooper, ainda consciente da expressão de Murph de descrença, e tentando evitar o olho no olho com a filha.
– Já fiz isso – Boots respondeu. – Você deveria vir dar uma olhada, é meio estranho.

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