domingo, 14 de junho de 2015

INTERSTELLAR - Greg Keyes (Parte 15)





Quando Romilly encontrou com eles na entrada do módulo anular, sua aparência chocou Amélia. Ela pensara estar preparada, mas estava enganada.

Sua barba agora estava cinza. Rugas tinham crescido ao redor dos olhos, e havia um olhar perdido em seus olhos, como se não acreditasse que estivessem realmente lá, como se visse fantasmas.

– Olá, Rom – disse ela.
– Esperei anos – balbuciou Romilly.
– Quantos anos? – Perguntou Cooper, um pouco áspero.

Romilly ficou pensativo.

– Até agora...
– Vinte e três anos... – TARS esclareceu – quatro meses e oito dias.
Cooper se afastou deles.
– Doyle? – Perguntou Romilly.

Amélia descobriu que não conseguia encarar os olhos de Romilly e só balançou a cabeça negativamente. Em seguida, forçou-se a olhar de volta e segurou suas mãos.

– Eu pensei que estivesse preparada – disse. – Eu conhecia a teoria. Parou escolhendo as palavras. – A realidade é diferente.
– E Miller? – Perguntou Romilly.
– Não há nada aqui para nós – disse ela estudando seu rosto envelhecido. Então, um pensamento a atingiu em cheio. – Por que você não dormiu? 
– Dormi por algum tempo. Mas parei de acreditar que vocês voltariam, e pareceu errado passar o resto da vida sonhando. – Sorriu de leve. – Eu aprendi o que podia do buraco negro – continuou, – mas não pude enviar os dados para seu pai. Temos recebido, mas nada sai.

Vinte e três anos, ela pensou. Isso faria que o seu pai estivesse com...

– Ele ainda está vivo? – Perguntou ela.
Para seu alívio, Romilly assentiu. Ela fechou os olhos.
– Temos anos de mensagens armazenadas – disse Romilly.

Amélia viu Cooper tomar rumo da área comum.

***



Cooper ficou encarando o painel dos sistemas de comunicação pelo que pareceu um longo tempo antes de ter coragem de acioná-lo.

– As mensagens abrangem um período de 23 anos – a voz automatizada anunciou.
– Eu sei – ele sussurrou. – Vamos do início.
A tela ganhou vida, e Tom era o mesmo da última mensagem, ainda com dezessete anos.
– Oi, pai...
Com os dedos trêmulos, Cooper fez uma pausa na reprodução e respirou fundo, tentando acalmar-se. Então deixou que seguisse.



– Conheci outra menina, papai. Eu acho que essa é a certa. – Ergueu uma foto de si mesmo com uma adolescente, cabelos escuros, olhos escuros, bonita.
– Murph roubou o carro do vovô – continuou. – Bateu com ele. Ela está bem, apesar de tudo. Sua caminhonete ainda está funcionando. Vovô disse para ela roubá-la da próxima vez. Eu disse que se ela fizer isso será a última coisa que...
Cooper se inclinou para trás e apenas deixou as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Queria fazê-lo ha muito tempo, tinha a esperança de que talvez, talvez Murph aparecesse. Mas ela não o fez. Era sempre Tom ou Donald. Assim, observou-os envelhecer.

***

Não tinha certeza de quanto tempo estava sentado lá, mas Tom estava falando novamente.
Tinha vinte e pouco agora.



– Tenho uma surpresa para você, papai! Você é vovô. – E ergueu uma pequena criatura de grandes olhos, enrolada em panos. – Parabéns – disse Tom. – Conheça Jesse.
Cooper sorriu, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas. Sabendo que o bebê que estava olhando agora não era mais um bebê. Seu neto...
– Eu queria chamá-lo de Cooper, mas Lois disse que talvez o próximo. Vovô disse que se contentava em virar bisavô, então demos outro nome...

A tela escureceu de novo, depois voltou à vida. Tom novamente, talvez uma década mais velho. O menino tinha ido embora. Cooper viu agora um homem cansado, suportando um grande peso em seus ombros.



 – Oi, pai. Eu estou triste, já faz um tempo. Com o que aconteceu com Jesse e tudo mais... – Fez uma pausa, uma expressão sombria no rosto, e Cooper percebeu que algo deveria ter acontecido com o bebê. Seu neto. Quanto tempo viveu? Como era?
– Vovô morreu na semana passada– continuou. – Nós o enterramos ao lado de mamãe e de Jesse. – Olhou para baixo. – Onde enterraríamos você... se você voltasse. – Seu olhar voltou para a câmera. – Murph estava no enterro. Não a vemos muito, mas ela estava lá.

Tom suspirou, e no seu rosto surgiram linhas de resignação.

– Você não vai ouvir isso, pai, eu sei disso. Todas estas mensagens estão à deriva na escuridão. Imaginei que, enquanto estivessem dispostos a enviar-lhes estas mensagens, haveria alguma esperança, mas... você se foi. Nunca mais vai voltar. Eu já sabia disso há muito tempo. Lois, minha esposa, pai, ela diz que eu tenho que deixar você ir. Então, eu te esquecerei.  – Olhou como se quisesse dizer algo mais, então, decidiu que não.



Cooper começou a chegar em direção à tela, como se de alguma forma pudesse pedir a Tom para ficar, dizer que estava vivo. Mas não podia.

Na tela, Tom estendeu a mão em direção à câmera.

– Onde quer que esteja, espero que esteja em paz. Adeus, pai.

A tela escureceu de vez, mas Cooper continuou olhando para ela, enxugando as lágrimas de seu rosto, seu coração como chumbo.

Adeus, Donald. Era difícil de acreditar que Donald estava morto. Ele tinha sido com sua presença resilente, uma parte daquele lugar. E Cooper tinha despejado tanto sobre seus ombros, primeiro encarregando-se das coisas de Erin quando ela morreu, e depois os próprios filhos. E ele tinha aceitado tranquilamente, com alguns comentários, mas nenhuma queixa real. Ele devia muito ao velho e não havia nenhuma maneira de retribuir-lhe.

Às vezes você tem que ver a sua vida de muito longe para que ela faça sentido, pensou. Para ver o que era provavelmente óbvio para qualquer outra pessoa.

Adeus, Tom. Adeus, meu filho.

Claro que Murph não poderia perdoá-lo. Sua mãe a tinha deixado para sempre, mas a mãe não teve qualquer escolha quanto a isso. Em seguida, seu pai também. Mas seu pai escolheu. Como ela poderia perdoar isso? Como poderia não ter visto isso?

A tela ainda estava escura, as gravações terminaram. Não podia deixar de tocar a tela, sua única conexão com sua família. Em seguida a tela brilhou novamente. Retirou a mão surpreso.

Nela, uma mulher olhava para ele, trinta e tantos anos ou quarenta e poucos, cabelo vermelho flamejante. Linda. Começou a dizer algo, e depois parou, parecendo insegura.
Em seguida, seus olhos congelaram numa expressão assustadoramente familiar.

– Olá, papai – finalmente disse. – Você é um filho da puta!

Os olhos de Cooper se arregalaram. Murph? 



– Eu nunca fiz uma dessas quando você ainda podia responder, porque eu estava tão brava com você por ter nos deixado. Quando você ficou em silêncio... Achei que deveria manter a minha decisão, e mantive. Mas hoje é meu aniversário. E é um dia especial, porque você me disse...Você uma vez disse que quando voltasse, poderíamos ter a mesma idade. Hoje eu tenho a idade que você tinha quando partiu. – Sua voz ficou presa, e por um momento ela não conseguia falar. Seus olhos brilhavam enquanto as lágrimas começaram a se formar.

– Então esta seria uma ótima hora para você voltar – e então desligou a câmera.

Mais uma vez, Cooper olhou para a tela vazia.
Feliz aniversário Murph, pensou atordoado.
O que eu fiz?

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