sábado, 13 de junho de 2015

INTERSTELLAR - Greg Keyes (Parte 7)



Cooper acordou com o brilho, mas não da luz solar ou dos holofotes, não, era o que ele lembrava de sua juventude em edifícios governamentais, supermercados, hospitais.
Iluminação fria.

Tudo à sua volta se encaixava com isso, também. Cada superfície era limpa, polida, mantinha-se isenta de poeira. E o ar cheirava engraçado. Ou melhor, não tinha cheiro. De modo nenhum. Ele estava tão acostumado com o cheiro de poeira e ferrugem que só se tornavam verdadeiramente aparentes por sua ausência. O ar que respirava agora fora filtrado, limpo.

Se fosse forçado a adivinhar, diria que estava em algum tipo de complexo industrial.
Estava sentado em uma cadeira, de frente para uma grande placa retangular cinza de metal com dezenas de segmentos-articulados, uma forma cuboide de cubos menores, como blocos que uma criança usa para brincar.

A máquina tinha uma tela de dados perto do topo.

Memórias começavam a voltar.
Lembrou-se do choque através de seu corpo. Lembrou-se de... Murph!
Procurou ao redor freneticamente pela filha.

– Como você encontrou este lugar? – Perguntou a placa com sua voz eletrônica. A voz da cerca.
– Onde está minha filha? – Cooper exigiu saber. Seu corpo inteiro estava formigando com medo e raiva.
– Você tinha as coordenadas para esta instalação marcadas em seu mapa – disse a máquina, ignorando a pergunta. – De onde você as tirou? 

Cooper se inclinou para a coisa.



– Onde está a minha filha! – Gritou, mas a máquina não respondeu. Pensou em outra estratégia.
– Você pode pensar que ainda estamos nos fuzileiros navais, – disse ele – mas eles não existem mais, camarada. Eu tenho hoje soldadinhos como você cortando minha grama...

De repente, as duas laterais do robô e a placa central, se inclinaram para frente, de modo que parecia agora um retângulo de pé, com blocos laterais destacados. Inclinando sobre ele.

– Como você nos encontrou?
– Você não se parece com um cortador de grama para mim – Cooper seguiu adiante. – Você, eu vou transformar em um aspirador de pó. 
– Não, você não vai! – Uma voz de mulher soou atrás dele.
Cooper virou-se. A mulher tinha trinta e poucos anos, com cabelo castanho curto, grandes olhos escuros e uma boca expressiva. Usava um suéter preto que parecia, como o lugar, muito limpo.
– TARS – disse ela para a máquina, – recue, por favor. 

O velho robô militar obedeceu, seus “membros” dobraram de volta para o torso para se tornar um cuboide mais uma vez.

Cooper analisou a mulher, à procura de alguma pista sobre quem ela era. Teria tropeçado em algum tipo de operação ilegal? Infelizmente, seria uma explicação para uma série de fatos. O local secreto, os robôs, a ameaça à sua pessoa, o desaparecimento de Murphy. Mas como é que isso se encaixava com a mensagem bizarra no chão do quarto? E o que eles estavam fazendo? Fabricando armas, talvez? Havia uma nação em algum lugar, pronta para quebrar o tratado de desarmamento internacional? Ele sabia que as coisas estavam difíceis, mas com certeza, todos sabiam que um retorno à guerra só iria piorar as coisas. E se fosse o seu próprio governo a executar este show? Esse era realmente o pior cenário, percebeu. Talvez a mensagem não tivesse sido feita para atraí-lo aqui, mas para adverti-lo.  Talvez tivesse algo a ver com o drone.

A mulher estava estudando-o, e não parecia impressionada com o que via. Isso o irritou.



– Você está correndo um risco danado usando antigos equipamentos militares para a segurança – disse ele. – É velho, suas unidades de controle são imprevisíveis. 
– Bem, é o que o governo conseguiu nos dar – disse ela.

O governo. Bem, respondida uma pergunta. Não era a resposta que ele queria. Mas, pelo menos, ela estava falando.

– Quem é você? – Cooper exigiu saber.
– Dra. Brand. 

Cooper fez uma pausa. O nome era familiar.

– Eu conheci um Brand certa vez. Mas era um professor...
– O que faz você pensar que não sou eu?  – Ela interrompeu-o, franzindo a testa para ele.
...não era tão bonitinha – completou ele.

Uma expressão entre a incredulidade e nojo atravessou o rosto dela.
– Você acha que pode escapar desta confusão flertando comigo? 

O que diabos estava pensando? Perguntou-se.
De repente, seu medo por Murph era mais forte do que nunca. Estava fora de si, e arrogância não ia fazer-lhe qualquer bem. O problema era que ele não tinha certeza de como abordar isso. Foi muito repentino, muito desorientador, e ele não conseguia afastar as imagens do que poderia ter acontecido ou estar acontecendo com sua filha.
Tinha que se concentrar em seus pensamentos.

– Dra. Brand – disse baixo.– Eu não tenho ideia em que “confusão” estou. Estou com medo por minha menina, e quero ela do meu lado. Então vou dizer-lhe qualquer coisa que você quiser saber. – Fez uma pausa para deixar transparecer a sinceridade de suas palavras. – Ok? 
Sentiu que ela considerou seu apelo por um longo tempo antes de se voltar para o robô.
– Leve os diretores e a garota à sala de reuniões. – Disse ela antes de voltar a atenção
para Cooper. – Sua filha está bem. É uma garota esperta. Deve ter uma mãe muito inteligente.

***

Brand o conduziu por um corredor largo. Cooper tinha plena consciência de que o robô estava atrás dele também, apenas num ritmo diferente, dentro da distância de ataque. E apesar de seu discurso sobre transformar a coisa em uma torradeira ou o que fosse, sabia que em uma luta direta não tinha a menor chance contra ele. Poderia dividir seu crânio com um único e simples movimento. Portanto, não havia razão para se preocupar com isso. Em vez disso, colocou sua mente para avaliar onde eles estavam. Ou, talvez o mais importante, para que aquele lugar servia. Fosse o que fosse, Cooper percebeu, pelo tempo que levavam andando que era maior do que uma fábrica de armas. A menos que estivessem construindo armas nucleares, ICBMs.

Podia explicar isso. Começou a construir cenários. Uma bomba de nêutrons detonada sobre, digamos, o celeiro ucraniano, mataria as culturas e todos os agricultores e campos poderiam ser usados de novo dentro de um ou dois anos.

Mais alimentos para a América.

Ele não queria acreditar nisso, mas no entanto, havia muitos corredores em todas as direções. Chegaram a algum lugar sem janelas ou claraboias, ou portas que mostrassem o mundo exterior. Subterrâneo? Parecia a explicação mais provável. Caso contrário, alguém teria tropeçado neste lugar a bastante tempo. Uma instalação subterrânea seria perfeita para a construção de grandes, coisas desagradáveis, coisas antiéticas.

Inferno! Isso poderia até ser uma das antigas instalações do NORAD (Comando de Defesa Aeroespacial Norte Americano), repleta com os restos do que uma vez fora o arsenal nuclear.
Nunca tinha ouvido nada sobre uma base localizada nesta cordilheira em particular, mas o que ele não sabia sobre a antiga Guerra Fria encheria muitos volumes de livros.

Quanto mais via, menos tranquilo ficava. Mesmo que fosse subterrâneo, um lugar como este precisaria de suprimentos. Para ocultar algo tão grande precisaria de certa quantidade de... de determinação.

Pensou de novo no robô militar atrás dele, sempre ao alcance.

– Está claro que vocês não querem visitantes – disse ele. – Por que não deixa a gente voltar ao nosso caminho? 
– Não é tão simples assim – disse Brand.
– Claro que é – disse tentando não parecer em pânico. – Eu não sei nada sobre você ou esse lugar.
– Sim, você sabe – ela respondeu, o que não pareceu promissor, porque significava que saber as coordenadas já era muito, mas muito errado.

Depois de um pouco mais de inquietação e caminhada, chegaram ao destino, uma típica sala de conferências, com uma série de fotos nas paredes e uma grande mesa no meio.
Nenhuma janela, é claro.

Ela conduziu-o para dentro, onde havia várias pessoas presentes, mas o único que entrou em foco para ele foi Murph. Viva, graças a Deus, e inteira! Pelo menos até o momento.
Não conseguia afastar a sensação de que estavam no subsolo profundo, e que ninguém mais sabia onde ficava, e que se desaparecessem, ninguém jamais saberia.Tom iria tomar conta da fazenda, e Donald ajudaria até onde pudesse. As pessoas iriam se perguntar por um tempo o que tinha acontecido com Cooper e sua filha. Provavelmente acabaram enterrados em uma tempestade de poeira, a maioria diria. As pessoas não tinham muito tempo ou tolerância para mistérios nos dias de hoje.

Um velho estava agachado ao lado de Murph, conversando com ela. Ela olhou para cima quando ele entrou.

– Papai! – Gritou, e correu atravessando a sala até seus braços. Por um momento ficou absorto em tê-la ali, mas quando viu o velho sorrir para ele, o reconhecimento golpeou-o quase fisicamente.
– Olá, Cooper – saldou o homem.



– Professor Brand?
– Sente-se, Mr. Cooper – disse um dos homens na mesa, bastante jovem, com cabelo e barba preta.

Professor Brand permaneceu em silêncio.
Vacilante, Cooper fez o que lhe foi pedido. Murph sentou ao lado dele.
Havia outras cinco pessoas sentadas à mesa. Um homem mais velho e de óculos, com ar de autoridade, inclinou-se em direção a eles.



– Explique como você encontrou essa instalação – ele disse.
– Tropecei nela – Cooper mentiu – procurando por auxílio, encontrei a cerca. 
O homem levantou a mão e o interrompeu. As rugas que formavam seu rosto viraram linhas de desaprovação.
– Você está sentado no segredo mais bem guardado do mundo – disse ele. – Você não entra tropeçando nele. E certamente não sai.
– Cooper, por favor – Professor Brand disse, sua voz uniforme e suave como tinha sido décadas antes. – Coopere com essas pessoas. 

O professor era um homem bom, pelo menos era quando Cooper trabalhou com ele. Não era o tipo de homem desagradável. Mas havia muitas coisas que ele um dia pensou serem verdadeiras. Ainda assim, quando olhou para o Professor Brand, queria confiar nele.

Talvez a verdade fosse a melhor resposta, Cooper pensou. Mas, examinando os rostos hostis ao redor dele, percebeu o quão louca a verdade iria soar.

– É difícil de explicar – começou, – Mas chegamos a estas coordenadas a partir de uma anomalia...
– Que tipo de anomalia? – Outro homem indagou. Era o de cabelos negros que havia falado primeiro para Cooper se sentar. Havia uma intensidade sobre a pergunta, e todos os outros na mesa pareciam tornar-se um pouco mais alertas.
– Eu não quero chamá-la de “sobrenatural”, – disse Cooper – mas...

Alguns deles desviaram o olhar frustrados. Fosse o que fosse que eles queriam ouvir, ele não estava dizendo.
Então o homem com os óculos se inclinou para frente novamente, com o rosto e um tom mortalmente sério.

– Você vai ter que ser mais específico, Mr. Cooper, e rápido.
– Após a última tempestade de poeira – começou Cooper. – Um padrão surgiu... no pó...
– Era gravidade – Murph afirmou categoricamente.

E de repente todos estavam de boca aberta para a menina, animados, como uma criança na manhã de Natal. O jovem de barba cerrada negra e o homem-óculos, olharam para o Professor Brand, em seguida, o jovem virou-se para Cooper e perguntou:
– Onde estava essa anomalia gravitacional?



Mais uma vez, Cooper passou a olhar ao redor da sala.
– Olha, – disse com cautela – Fico feliz que esteja animado sobre a gravidade, mas se você quer mais respostas de nós, eu vou precisar de garantias. 
– Garantias? – Perguntou o homem de óculos.
Cooper cobriu os ouvidos de Murph com as palmas das mãos. Ela olhou sério para ele.
– Que nós vamos sair daqui – sussurrou ferozmente. – E não no porta-malas de algum carro. 

De repente, a jovem Brand começou a rir. Seja qual fosse a reação que Cooper esperava, não era essa. Mesmo o homem com os óculos sorriu.

– Você não sabe quem nós somos, Coop? – O Professor olhou para ele, aparentemente confuso.

Cooper começou a pensar que todos, menos ele, conheciam a piada.

– Não – disse Cooper. – Eu não sei.
– Williams – disse a doutora Brand, nomeando o homem com os óculos. Em seguida continuou:
– Doyle, Jenkins, Smith. Você já conhece meu pai, Professor Brand. Somos a NASA.
– A NASA? 
– A NASA – ela afirmou. – A mesma NASA pela qual você voou como piloto. 

Todo mundo riu, e de repente Cooper estava rindo também. O alívio foi como um banho d’água. Então ele olhou para Murph, que parecia confusa, não percebendo a essência. Mas, neste instante uma das paredes começou a se abrir, e Cooper viu algo que nunca imaginou que veria novamente. Os bocais de exaustão de um foguete lançador.

***

– Ouvi dizer que tinham sido fechados por se recusarem a lançar bombas na estratosfera para eliminar pessoas famintas – Cooper disse para o professor Brand ao entrarem na câmara de lançamento.
O professor balançou a cabeça.
– Quando eles perceberam que matar pessoas não era a solução a longo prazo, voltaram atrás – disse. – Nos colocaram nesta antiga instalação NORAD. Tudo muito secreto.
Bem, pensou Cooper, eu estava certo sobre a parte NORAD, ao menos.
– Por que em segredo?
– A opinião pública não vai permitir gastos com a exploração espacial. Não quando estamos lutando para colocar comida na mesa. 

Era por este motivo que tanto esforço tinha sido feito para que pessoas se convencessem de que o programa espacial fora um mito, uma farsa, Cooper percebeu com súbita clareza. Lembrou-se de novo da conversa com a professora de Murph, a senhorita Hanley.
O que foi que disse? “Nossos filhos precisam aprender sobre este planeta. Não como deixá-lo.”
Como se a Terra existisse sem o sol, os planetas, as estrelas, o resto do universo. Como se voltando-se para a terra suja lhes desse todas as respostas que precisavam.

Se aproximaram de um grande portão. Professor Brand abriu-o e acenou para que entrasse.
Como tudo que havia encontrado nas últimas 24 horas, não era o que Cooper estava esperando. Levou um tempo, de fato, para entender o que ele estava vendo.
Sua primeira impressão foi de estar do lado de fora, mas não. Em vez disso, se viu olhando para a maior estufa que já tinha visto. Campos do tamanho das plantações, tudo debaixo de vidro.

– A praga – disse o professor. – O trigo há sete anos, quiabo este ano. Agora só sobrou o milho. 
Algo sobre aquilo o afetou. Ele era, afinal, um fazendeiro.
– Mas estamos produzindo mais do que nunca – Cooper protestou.
– Como as batatas da Irlanda, o milho vai morrer. Em breve .

Atrás deles, a jovem Dra. Brand entrou com Murph, que olhou em volta com admiração indisfarçável. Cooper tinha visto lugares como este, embora a muito tempo. Murph nunca.

Ela tinha os olhos turvos.

– Murph está um pouco cansada – disse a Brand mais jovem. – Vou levá-la para o meu escritório para poder tirar uma soneca. 
Cooper balançou a cabeça aliviado. Esta provavelmente era uma conversa que sua filha não precisava ouvir.
– Nós vamos dar um jeito – Cooper protestou quando ela se foi. – Nós sempre demos um jeito. 
– Motivados pela fé inabalável de que a Terra pertence a nós. – O professor Brand acrescentou, um pouco sarcástico.
– Não apenas a nós. Mas é a nossa casa.
O professor olhou-o friamente.
– A atmosfera da Terra é 80 por cento de nitrogênio – ressaltou. – Nós não respiramos nitrogênio. –
Apontou para um pé de milho. As folhas estavam manchadas e listradas de cinza, juntamente com bolhas tumescentes nos grãos infectados, sinais indicadores de infecção.
– A praga respira nitrogênio – continuou o professor. – É como ela se desenvolve, o nosso ar contém cada vez menos e menos oxigênio. As últimas pessoas a morrer de fome serão os primeiros a sufocar.
A geração da sua filha será a última a sobreviver na Terra. 

Cooper queria continuar a protestar, defender a esperança. Novas linhagens de milho poderiam ser produzidas. A resposta para a praga poderia vir depois de amanhã. Os seres humanos eram engenhosos, era sua marca registrada como raça. Mas, ele sabia que tudo que o professor dizia era verdade.

Inconscientemente, começou a experimentar uma imagem de Murph, ofegante, os olhos, a boca e as narinas endurecidas com pó. Virou-se para o professor.



– Diga que você vai me dizer como pretende salvar o mundo.

***

A próxima parada foi em outra sala, esta em uma escala menor que a última. Mas desta vez ele soube imediatamente o que estava vendo, e trouxe sentimentos há muito enterrados.
Um foguete lançador de múltiplos estágios, um dos grandes, contido em uma câmara cilíndrica imensa. De fato, a câmara de lançamento parecia muito maior do que o necessário, em algumas ordens de grandeza. Sentia-se como uma formiga em um silo de grãos. Lá no alto a luz sol era refletida por um anel de espelhos. Parecia ser madrugada lá fora.

– Nós não estamos destinados a salvar o mundo – falou o professor Brand. – Nós vamos deixá-lo. 
Cooper não conseguia tirar os olhos do foguete. Deixou o olhar passear por ele, pelos belos centímetros dele, sem pressa. Quando chegou ao topo, viu duas naves elegantemente montadas no topo e sabia o que eram.

– São Rangers – murmurou. Descendentes diretos dos aviões-foguetes, como o X-15, bem como o os ônibus espaciais, os Rangers manobravam facilmente na atmosfera. Ao contrário de seus antecessores, no entanto, eles eram igualmente adequados para o espaço profundo, pelo menos em teoria. Nenhum deles tinha sido testado antes do programa ser cancelado. Ou ele tinha acreditado que sim. Era o que tinha sido dito, quando foi forçado a se aposentar, enviado para fazer o seu dever nos campos, há quase duas décadas.
– Esse é o último componente da nossa versátil nave que já se encontra em órbita, a Endurance – disse o professor Brand. – Para nossa expedição final. 

Final, Cooper pensou, em transe. Imaginara que tinham sido desmontadas para serem feitos equipamentos agrícolas. Mas agora...

– O que aconteceu com os outros Rangers? – Perguntou Cooper.
Uma nova expressão, ilegível estampou o rosto do velho.
– Foram utilizadas nas missões Lázaro.
– Soa bem. – Cooper gracejou.
– Lázaro voltou dos mortos... – Brand começou a dizer.
– Teve que morrer primeiro – Cooper interrompeu. – Você mandou pessoas para o espaço, à procura de uma nova casa...? – Parou incrédulo, mas o professor apenas balançou a cabeça como se tudo fizesse sentido.
– Não há nenhum planeta do nosso sistema solar que possa sustentar a vida – disse Cooper. – E levaríamos mil anos para chegar à estrela mais próxima, que nem sequer se qualifica como... Balançou a cabeça.
– Pra onde vai enviá-lo, Professor? 
– Não posso dizer mais nada a menos que concorde em pilotá-lo.
Cooper olhou para ele, pasmo.
– Você é o melhor que já tivemos – acrescentou.

Do que ele estava falando? Aquilo fora em outra década. Tudo que tinha experimentado, durante a maior parte de sua vida adulta, dizia-lhe que a coisa toda era impossível. E no entanto... Ser convidado a participar despertou uma inegável emoção nele. Que, por sua vez, tornou-o mais cauteloso do que nunca.

– Eu nunca deixei a estratosfera – Cooper ponderou.
– Esta tripulação nunca saiu do simulador – disse o professor. – Não podemos programar esta missão da Terra, e nós não sabemos o que está lá fora. Nós precisamos de um piloto. E esta é a missão para qual foi treinado.

Cooper voltou a pensar na sua formação. Com certeza ninguém nunca tinha mencionado nada como isso para ele. Tinha pensado em Marte, talvez, ou a lua Europa.

– Uma hora atrás, você nem sabia se eu ainda estava vivo, e vocês estavam indo de qualquer maneira. 
– Não tínhamos escolha. Mas algo trouxe você aqui. “Eles” escolheram você. 

Cooper lembrou o fantasma de Murph, as linhas na poeira, as coordenadas que mostraram o caminho para este lugar e estas pessoas. No fundo da sua mente, ele tinha pensado que iria encontrar o misterioso mensageiro aqui, mas agora estava claro que não era o caso. No entanto, a partir de palavras do professor, entendeu que havia um mensageiro.
Não fora tudo um pouco produto de sua imaginação.

– Quem são “eles”?

O professor ficou em silêncio. Cooper sabia o que ele estava tentando fazer. Tinha colocado a isca no anzol e deixava o tempo passar, até que o peixe estivesse firme na linha.
Cooper pensou sobre a impossibilidade, e a possibilidade, do que o professor estava dizendo.

– Por quanto tempo eu ficaria fora? – Perguntou finalmente.
– É difícil saber – disse Brand. – Anos.
– Eu tenho filhos, professor.

O professor balançou a cabeça, em seguida disse sério: – Então vá e salve-os.
Anos, Cooper pensou. Anos.

E, no entanto, a chance de fazer isso, viver um sonho que tinha quase desaparecido; ir lá encima, empurrar os limites do que era conhecido. Fazer algo que poderia salvar seus filhos, salvar a todos...
Mas e os anos? Ele encontrou o olhar do professor.

– Quem são “eles”? – Repetiu.

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