domingo, 25 de outubro de 2015

Aliens - Alan Dean Foster (FINAL)



Um relâmpago estalou em torno da borda superior da estação de processamento.
Vapor explodiu das aberturas de emergência. Colunas de gás incandescente foram ejetadas a centenas de metros para o céu pelos compensadores internos que lutavam inutilmente para ajustar sobrecargas de temperatura e pressão além da sua capacidade de correção.



Bishop cuidava para não aproximar a nave da estação enquanto a guiava para a plataforma de pouso na estação. Quando se aproximaram, passaram pelo veículo blindado em ruínas, fora da entrada da estação. A APC tinha finalmente parado de expelir fumaça. Um monumento ao excesso de confiança e uma fé mal colocada na capacidade da tecnologia moderna para vencer qualquer obstáculo. Em breve iria, juntamente com a estação e o resto da colônia, desaparecer.



A cerca de um terço do caminho até o enorme cone da estação de processamento, uma plataforma de desembarque estreita projetava-se contra o vento. Fora projetada para acomodar containers de carga e veículos pequenos, não para algo do tamanho de uma nave de carga e descarga de pessoal. De alguma forma, Bishop conseguira pousá-la naquele mínimo espaço estreito. A plataforma gemeu sob o peso e uma viga de suporte dobrou-se perigosamente.

Ripley terminara de utilizar uma fita metálica em torno de seu volumoso projeto, que tinha ocupado suas mãos e mente nos últimos minutos. Atirou o rolo de fita vazio para o lado e inspecionou sua obra. Não era um trabalho limpo, e provavelmente violava vinte regulamentos de segurança militar, mas ela não dava a mínima. Não havia ninguém por perto para dizer a ela que tal coisa era perigosa ou contra a lei.



O que ela tinha feito, enquanto Bishop estava trazendo-os para perto da estação era juntar o rifle de pulso de Hicks com um lança-chamas. O resultado era um enorme pacote desajeitado de armas siamesas com enorme e variado poder de fogo.
Poderia até ser o bastante para trazê-la de volta viva.

Voltou para o arsenal da nave e começou a carregar uma mochila e os bolsos com qualquer coisa que pudesse matar alienígenas: granadas, cartuchos de rifle carregados.

Após ter programado a nave para decolagem automática caso as plataforma de desembarque mostrassem sinais de ceder, Bishop fez o seu caminho até a ré da cabine de piloto para ajudar Hicks a tratar seus ferimentos. O oficial esparramara o conteúdo de um kit médico de campo em torno dele. Trabalhando juntos, ele e Ripley tinham conseguido estancar o sangramento. Com a medicação faria seu corpo se curar. A carne dissolvida já estava começando a se reparar. Mas, a fim de reduzir a dor a um nível tolerável, ele tinha sido forçado a tomar várias injeções. A medicação o mantinha confortável, mas a visão turva diminuia suas reações. O único apoio que poderia dar ao plano louco de Ripley era apoio moral.

Bishop tentou protestar.

— Ripley, não é uma idéia muito boa. Entendo como você se sente...

— Entende? — Ela retrucou sem olhar para ele.

— De fato, sim, entendo. É parte da minha programação. Não é sensato arriscar uma vida por outra.

— Ela está viva — Ripley encontrara um bolso vazio e o encheu com granadas. — Eles a trouxeram para cá, como trouxeram todos os outros, e você sabe disso.

— Parece lógico, sim. Admito que não haja nenhuma razão óbvia para se desviarem do padrão que têm demonstrado até agora. Mas esse não é o ponto. O ponto é que, mesmo se ela estiver aqui, é improvável que você possa encontrá-la, salvá-la, e estar de volta a tempo. Em 17 minutos este lugar será uma nuvem de vapor do tamanho de Nebraska.

Ela o ignorou, seus dedos fecharam a mochila estofada.

— Hicks, não o deixe partir.

Ele piscou para ela, com o rosto tenso com a dor. A medicação fazia seus olhos lacrimejarem.

— Não vamos a lugar nenhum —  acenou com a cabeça em direção a seus pés. — Você vai conseguir carregar isso?

Ela ergueu sua arma híbrida.

— Eu preciso.

Pegando a bolsa, ela pendurou-a sobre um ombro, em seguida, virou-se e caminhou até a escotilha.
Aguardou que abrisse.
Vento e o rugido do processador atmosférico adentraram.
Deu um passo para a ponta da rampa de carga e parou para um último olhar para trás.


— A gente se vê, Hicks.

Ele tentou sentar-se, não conseguiu. Uma mão segurava o maço de gaze medicinal apertado contra o rosto. — Meu nome é Dwayne.

Ela caminhou de volta para pegar sua mão. — Prazer. Ellen.

Hicks assentiu, inclinou-se para trás. Sua voz era uma pálida sombra do que tinha se acostumado.

— Não demore, Ellen.



Ela engoliu em seco, em seguida, virou-se e saiu, sem olhar para trás quando a escotilha se fechou atrás dela.

O vento poderia ter atirado-a para fora da plataforma se não estivesse tão pesada. Situado na parede da estação em frente a nave, estavam as portas de um grande elevador de carga. Os controles responderam imediatamente ao seu toque.

O elevador estava vazio.

Ela entrou e tocou o interruptor de contato do Nível C. O porão, ela pensou quando o elevador começou a descer. Foi um percurso lento. O elevador tinha sido projetado para transportar enormes e sensíveis cargas, e levaria seu tempo. Manteve as costas pressionadas contra a parede traseira, observando os indicadores luminosos.
Enquanto descia às entranhas da estação o calor crescia. Vapor rugia de todos os lugares.

Tinha dificuldade em respirar.
O ritmo lento da descida permitiu-lhe remover o casaco e deslizar o cinto de batalha de que se apropriou do arsenal diretamente sobre a camisa. Suor emplastara seu cabelo contra o pescoço e testa enquanto fazia uma última verificação das armas que tinha trazido consigo. A bandoleira de granadas cruzava o peito. O lança-chamas estava cheio. O cartucho de projéteis debaixo do rifle.

Dedos nervosos tatearam os bolsos inchados por sinalizadores, das coxas de suas calças. Atrapalhou-se com uma granada que escorregou entre seus dedos e caiu no chão, saltando inofensivamente.

Tremendo, ela a recuperou e deslizou-a de volta no bolso.
Apesar de todas as instruções detalhadas de Hicks, estava ciente de que não sabia nada sobre granadas e foguetes.

O pior de tudo era o fato de que, pela primeira vez desde que pousou em Acheron estava sozinha. Completamente e totalmente sozinha.

 

Não teve muito tempo para pensar sobre isso, porque os motores do elevador cessaram chegando ao fundo com uma pancada suave. A gaiola de segurança retraiu-se.

Levantou o cano duplo de seu fuzil-incinerador quando as portas se abriram.

Um corredor vazio estava diante dela.

A iluminação proporcionada pela iluminação de emergência enchia-o de brilhos avermelhados. Vapor assobiava de canos quebrados. Faíscas de sistemas sobrecarregados, circuitos danificados, máquinas gemiam, pulsavam e choramingavam.

Em algum lugar distante um som maciço.

Krank! Krank!




Lançou um olhar à esquerda, depois à direita. Não tinha um visor flexível de batalha para ajudá-la, embora na presença de tanto calor seus sensores infravermelhos não teria sido de muito uso, de qualquer maneira.

Saiu para o corredor, para uma cena projetada por (Giovanni) Piranesi e decorada por Dante.

Foi atingida pela presença dos alienígenas assim que virou a primeira esquina.

O material resinoso cobrindo conduites e tubos, fluia sem problemas até as passarelas para misturar as máquinas ao conjunto, criando uma única câmara. Com o localizador de Hicks colado na parte superior do lança-chamas, consultava-o tão freqüentemente quanto podia. Ele ainda estava funcionando, ainda apontando para seu único alvo.

Uma voz ecoou ao longo do corredor, assustando-a.
Uma voz calma, eficiente e artificial.

“ATENÇÃO! EMERGÊNCIA! TODAS AS PESSOAS DEVEM EVACUAR O LOCAL IMEDIATAMENTE! QUATORZE MINUTOS PARA CHEGAR A DISTÂNCIA DE SEGURANÇA MÍNIMA”.

O display LED do localizador continuava a apontar a direção.

Conforme avançava piscava devido ao suor nos olhos. O vapor girava em torno dela, tornando difícil de ver mais do que uma curta distância em qualquer direção. Luzes de emergência acesas piscavam numa passagem de interseção logo à frente.

Movimento.

Girou o lança-chamas e arrotou napalm, incinerando um demônio imaginário.




Nada.

Será que a onda de calor de sua arma seria notada? Sem tempo para se preocupar com suposições, retomou a marcha, tentando não tremer, enquanto se concentrava nas leituras do localizador.

Entrou no nível mais baixo.

Nas câmaras internas agora. Nas paredes formas esqueléticas dos corpos dos infelizes colonos que haviam sido trazidos ali para servir como hospedeiros para os embriões alienígenas. Suas figuras incrustadas em resina brilhavam como insetos congelados em âmbar. O sinal do localizador tornou-se mais forte, levando-a para a esquerda.
Em cada ponto de intersecção, tinha o cuidado de acender um sinalizador e colocá-lo no chão atrás dela. Seria fácil perder-se no labirinto sem os marcadores para ajudá-la a encontrar seu caminho de volta. Uma das passagens era tão estreita que precisou virar de lado para deslizar através dela. Seu olhar passando de um rosto atormentado para outro, cada colono sepultado, pego em um grito de agonia.

Algo a agarrou. Seus joelhos cederam, e a respiração se foi, antes que pudesse gritar. Mas a mão era humana, ligada a um corpo aprisionado, encimado por uma face.

Um rosto familiar. Carter Burke.

— Ripley — o gemido não era humano. — Ajude-me. Posso sentir a coisa aqui dentro. Ele está se movendo...

Ela olhou para ele horrorizada.
Ninguém merecia isso.

— Aqui.

Seus dedos agarraram convulsivamente a granada que ela entregou-lhe.
Apressou-se a deixar o lugar.

A voz sintetizada cresceu ao redor dela. Havia um tom crescente de urgência no tom.

“VOCÊ TEM AGORA ONZE MINUTOS PARA CHEGAR A DISTÂNCIA DE SEGURANÇA MÍNIMA”.

De acordo com o localizador, estava praticamente em cima do alvo.

Atrás dela, a granada explodiu, e o abalo quase a derrubou. Foi respondido por uma segunda, mais forte, erupção de dentro da própria estação. Uma sirene começou a chorar, e toda a instalação estremeceu.

O localizador a levou para um canto. Ficou tensa em antecipação.
O localizador lia ‘zero’.

A pulseira emissora do sinal de Newt estava caida ao chão do túnel.
O brilho no display era um verde brilhante, triste.
Ripley desabou contra a parede.
Estava tudo acabado.



* * *

Os olhos de Newt se abriram, e imediatamente ela tornou-se ciente de seus arredores.



Tinha sido encapsulada em uma estrutura semelhante a um pilar na borda de uma série de formas ovóides: ovos alienígenas. Reconheceu-os imediatamente.

Os últimos colonos adultos tinham trazido alguns para estudo.
Mas aqueles estavam vazios, abertos no topo.
Estes estavam selados.

De alguma forma o ovo mais próximo de sua prisão tornou-se consciente de sua agitação. Tremeu e, em seguida, começou a abrir, tal qual uma obscena flor.
Algo úmido e couráceo se agitava dentro dele.



Paralisada pelo terror, Newt viu pernas articuladas, aracnóides,  surgirem sobre o lábio do ovóide, uma de cada vez. Sabia o que ia acontecer a seguir, e reagiu da única maneira que podia, a única maneira que sabia.

Gritou.

Ripley virou-se em direção do som, e começou a correr.

Newt observou o abraçador sair do ovo, parando por um momento, reunindo a sua força, e, em seguida se virou para ela.

Ripley tinha o dedo tenso no gatilho do rifle.
O disparo atirou a criatura para longe.


O flash da arma iluminou a figura de um alienígena maduro, um zangão, que estava nas proximidades. Girou na direção do intruso apenas a tempo para receber rajadas gêmeas do rifle, catapultando-o para trás.



Ripley avançou sobre o cadáver, disparando de novo e de novo, uma expressão sinistra em seu rosto. O alienígena repousou sobre suas costas, e ela terminou com ele, usando do lança-chamas.

Enquanto queimava, correu para Newt.

O material resinoso do casulo da garota não tinha endurecido completamente ainda, e Ripley foi capaz de soltá-la sem dificuldade.

— Aqui! — Ripley virou as costas para a menina e dobrou os joelhos. — Suba a bordo.

Newt subiu para as costas do adulto e fechou as mãos em torno do pescoço de Ripley.

Sua voz soou fraca. — Eu sabia que você viria.

— Ok, vamos sair daqui. Quero que você se segure firme, Newt. Não vou ser capaz de segurá-la, porque eu tenho que ser capaz de usar as armas.

— Entendi, não se preocupe.

Ripley sentiu um movimento à sua direita. Acertou os ovos com o lança-chamas.
Só então se preocupou com os alienígenas que avançavam.
Um deles quase a atingiu, foi transformado em uma bola de fogo viva, outro foi dividido com duas rajadas de fuzil.

Recuou esquivando-se debaixo de uma massa cilíndrica brilhante.
Um grito agudo encheu o ar, elevando-se acima das máquinas e do lamento da sirene de emergência; o guincho dos alienígenas.

Teria visto aquilo antes, se olhasse para cima em vez de para frente, quando adentrou na câmara dos ovos.
 


Uma silhueta gigantesca na névoa, a rainha alienígena acima de sua bolsa de ovos, como um grande e brilhante Inseto-Buda.

O crânio era o horror encarnado.


Seis membros, duas pernas e quatro braços com garras, grotescamente dobradas ao longo de um abdômen distendido. Inchado com ovos, que compreendia um vasto tubo suspenso pela treliça de tubos e condutos servindo como teia, ao longo da maquinaria.


Ripley percebeu que passara bem debaixo dela.

Dentro do recipiente abdominal um número incontável de ovos descia para um ovipositor pulsante, como em uma linha de montagem orgânica. Surgiam brilhando e úmidos, para ser apanhada por pequenos zangões. Essas versões em miniatura dos guerreiros alienígenas atendiam somente às necessidades dos ovos e da rainha.  Ignoraram a forma humana no meio deles como se intensamente concentrados como uma mente única, na tarefa de transferir os ovos recém-depositados para um lugar seguro.


Ripley se lembrava de como Vasquez tinha carregado o lançador de granadas e disparou quatro vezes. As granadas perfuraram profundamente o frágil saco de ovos que explodiu em pedaços. Ovos e toneladas de material fétido gelatinoso derramaram sobre o chão da câmara.

A rainha enlouquecida gritava como uma locomotiva psicótica.



Ripley carregou no gatilho do incinerador, metodicamente incendiando tudo à vista enquanto recuava. Ovos murchavam, e as figuras de guerreiros e zangões desaparecendo em meio ao inferno frenético.

A rainha se erguia acima da carnificina, lutando nas chamas.



Dois zangões cercaram Ripley.


O pente do rifle clicou vazio. Suavemente ela ejetou o cartucho, substituiu por outro, e puxou o gatilho. Seus atacantes desapareceram numa nuvem de retalhos e ácido.

Cobriu de fogo tudo o que não parecia totalmente mecânico, enquanto corria para o elevador, incendiando e destruindo equipamentos e instrumentação de controle, juntamente com alienígenas que brotavam na periferia da sua visão.
O suor e a vapor a cegavam,  as chamas iluminavam seu caminho entre a devastação.
Sirenes uivavam ao redor dela, e a estação era abalada por convulsões internas.


Atrás dela a rainha separou-se do saco de ovos arruinado, rasgando-o para longe de seu abdômen. Subindo nas pernas do tamanho de pilares de um templo, arrastou-se para frente, esmagando ovos, zangões, e qualquer coisa em seu caminho.

Ripley usou do incinerador para limpar o corredor à frente, alternando incineração e explosões em intervalos regulares e nos corredores laterais antes de cruza-los, para não ser surpreendida. Quando chegaram ao elevador, o tanque da arma estava vazio.

Bateu no botão para chamar e foi recompensada pela lamentação de um motor saudável da gaiola de metal começando a descer lentamente vinda dos níveis superiores.

Um grito enfurecido a fez virar-se.


A forma brilhante, como um guindaste fugitivo estava tentando abrir seu caminho através dos tubos para alcançá-la. O crânio da rainha raspava no teto.


Ela verificou o rifle. O cartucho estava vazio, e estava sem recargas, tinha gasto tudo enquanto resgatava Newt. Não haviam mais granadas também.
Jogou de lado a arma dupla inútil, feliz por se livrar do peso.

A descida da gaiola era lenta demais.


Havia uma escada de serviço situada no interior da parede ao lado dos poços dos elevadores individuais.

Subiu os primeiros degraus. Newt era leve como uma pluma.

Assim que começou a subir a escada, um poderoso braço negro disparou pela porta como um pistão. Garras bateram a centímetros de suas pernas, abrindo o metal.

Que fazer agora? Não estava mais com medo, não tinha tempo para entrar em pânico. Tinha outras coisas para se concentrar.

Muito ocupada para estar aterrorizada.

Uma escada aberta levava a níveis superiores da estação. Balançou e estremeceu quando a enorme instalação começou a rasgar-se em pedaços sob seus pés. Atrás dela, o chão se dobrara quando algo incrivelmente poderoso jogou-se insanamente contra a parede de metal. Mandíbulas perfuraram as placas espessas.

“VOCÊ TEM AGORA DOIS MINUTOS PARA CHEGAR A DISTÂNCIA DE SEGURANÇA MÍNIMA”, a voz triste da estação informava qualquer um que poderia estar escutando.

Ripley caiu, batendo um joelho contra as escadas de metal.
A dor a obrigou a fazer uma pausa.
Prendeu a respiração quando ouviu o som dos motores do elevador.
Olhou para trás, para baixo, através da treliça.
A gaiola começou a subir.
Podia ouvir os cabos sobrecarregados gemendo no poço.

Retomou sua subida, a escada se tornando um borrão em torno dela.
Só havia uma razão para o elevador retomar sua ascensão.

Finalmente chegaram à porta que dava para a plataforma de pouso.
Com Newt ainda de alguma forma agarrada a ela, Ripley saiu cambaleando ao vento e na fumaça.

A nave de desembarque tinha ido embora.


— Bishop!

O vento a obrigou a gritar enquanto examinava o céu. — Bishop!

Newt soluçou contra suas costas.

O esforço do elevador em sua subida lenta traduziu-se em um gemido.
Ela afastou-se da porta encostando-se na grade estreita que circundava a plataforma de desembarque. Dez níveis até o chão duro abaixo. Não podiam ir para cima e não poderiam descer, ou mergulhar por um duto de ar.

A plataforma tremeu quando uma explosão destruiu as entranhas da estação. Vigas de metal curvaram-se, quase a derrubando. Um grito de aço sendo cortado veio de uma torre de resfriamento nas proximidades que desabva, soçobrando como uma sequoia morta. As explosões pararam após o primeiro momento. Os sistemas de segurança de backup não conseguiam mais conter a reação em expansão.


Do outro lado o elevador estancou.

A gaiola de segurança que envolvia o compartimento de carga começou a abrir.

Ela sussurrou para Newt: — Feche os olhos, querida.

A garota assentiu solenemente, sabendo o que Ripley pensava fazer quando colocou um pé sobre o parapeito.


Iriam bater no chão juntos, rápido e limpo.

Estava prestes a largar-se ao ar livre quando a nave de transporte surgiu pairando, vinda debaixo deles, com os propulsores rugindo.

Ela não tinha ouvido-a antes devido ao vento uivante. A rampa de carga do navio foi projetada para fora, enquanto Bishop mantinha a nave estabilizada contra o vendaval. Ripley não queria saber. Atrás dela, apenas a voz da estação.

“VOCÊ TEM AGORA TRINTA SEGUNDOS...”

Pulou para a rampa de carga.

Um instante depois, uma tremenda explosão rasgou através da estação.

O vento resultante bateu contra a nave. As pernas de pouso estendidas chocaram-se contra a  plataforma e parede. Metal chiando contra metal, ameaçando arrastar a nave para baixo.

Dentro, Ripley se jogou em um assento, puxando Newt para seu colo, enquanto prendia a ambas. De onde se achava, podia ver na cabine Bishop lutando com os controles.

O som das pernas de pouso libertas ecoou pela pequena embarcação.


Ela bateu nas travas de seu equipamento de assento, e envolveu com os braços firmemente Newt.

— Agora, Bishop!

O nível mais baixo da estação desapareceu em uma bola de fogo em expansão.
Do chão subiu a terra e o metal  enquanto a Smart Ass irrompeu em direção ao céu. Seus motores ao máximo, e a força-G  resultante esmagou Ripley e Newt contra o assento. Não foi confortável, a aceleração gradual para alcançar a órbita.

Bishop tinha os motores em aceleração máxima enquanto a aeronave abria seu caminho através da atmosfera.

 

As costas de Ripley protestavam, mesmo quando pedia mentalmente a Bishop para aumentar a velocidade.

Quando trocaram o azul pelo preto, uma bolha branca de gás quente avançou pelo meio da troposfera. A onda de choque da explosão termonuclear atingiu-os, mas sem danificar a nave, nem os impediu de continuarem em direção a órbita alta.


Ripley e Newt olhavam para fora por uma janela, observando a forma ofuscante dissipar-se ficando para trás. Então Newt caiu contra o ombro de Ripley e começou a chorar baixinho. Ripley acariciou seus cabelos.

— Está tudo bem, querida. Conseguimos. Acabou.

À frente deles, a grande e deselegante Sulaco presa em órbita geoestacionária, esperava a chegada de sua pequena prole.

Ao comando de Bishop a Smart Ass deslizou até que as garras de encaixe da doca estalassem, levantando-os para dentro do compartimento de carga.
As portas exteriores se fecharam.
Luzes de advertência automáticas varreram a câmara deserta e escura, e um alarme cessou. O excesso de calor dos motores foi ventilado do porão cavernoso.

Dentro da nave, Bishop observava Ripley ao lado de Hicks em coma. 


— Dei-lhe outra injeção para a dor. Ele insistiu que não precisava disso, mas não lutou contra a injeção. Coisa estranha a dor. Estranho esta necessidade interior peculiar de certos tipos de humanos para fingir que ela não existe. Muitas vezes eu fico feliz por ser sintético.

— Precisamos levá-lo para a ala médica — respondeu ela levantando-se. — Se você segurar os braços, eu pego seus pés.

Bishop sorriu. — Ele está descansando confortavelmente agora. Será melhor para ele se o mexermos o mínimo possível. E você está cansada. Eu estou. E vai ser mais fácil se tivermos uma maca.

Ripley hesitou, olhando para Hicks, depois assentiu.

— Você está certo, é claro.

Pegando Newt, ela foi à frente do androide para o corredor que conduzia à rampa de carga. Poderiam pegar uma maca auto-impulsionda e voltar em poucos minutos.

Bishop continuou a falar.

— Me desculpe se te dei um susto quando saiu na plataforma e não viu a nave lá. Ela tinha se tornado demasiado instável. Estava com medo de perder a nave. Era mais simples e seguro pairar a uma curta distância. Perto do chão o vento não era tão forte. Eu tinha um monitor ligado o tempo todo para saber quando você chegasse.

— Gostaria de ter sabido disso antes.


— Eu sei. Na ausência do sentido humano eu tive que usar meu próprio julgamento, de acordo com a minha programação. Desculpe-me se não lidei com isso da melhor forma.

Eles estavam no meio da rampa quando ela parou e colocou uma mão em seu ombro, olhando em seus olhos artificiais.

— Você fez bem, Bishop.

— Bem, obrigado, eu... — parou no meio da frase.

Sua atenção focada em algo vislumbrado com o canto do olho.
Uma gota de líquido inócuo havia espirrado para a rampa ao lado de seu sapato.
A gota começou a assobiar corroendo o metal.

Ácido.


Algo afiado e brilhante explodiu do centro do peito de Bishop, pulverizando Ripley com o leitoso fluido interno do androide.

O ferrão alienígena da rainha perfurou-o em linha reta através dele vindo por detrás. Bishop engasgou, proferindo ruídos sem sentido, de máquina e segurando o ponto saliente da lança que lentamente o erguia no ar.


A rainha tinha se escondido no mecanismo de pouso, dentro do compartimento de suporte. As placas atmosféricas normalmente fechadas alinhadas com o resto do casco da nave tinham sido dobradas de lado ou arrancadas.

Havia se misturado perfeitamente com o resto da maquinaria pesada até então.
Segurou o indefeso Bishop com as duas enormes mãos e rasgou-o, atirando as duas metades de lado.


Luzes rotativas de advertência brilharam em seus membros escuros quando desceu para o convés. Ácido escorria de pequenas feridas que estavam cicatrizando rapidamente. Membros sêxtuplos desdobraram-se em geometrias não humanas.


Escapando da paralisia, Ripley soltou Newt, sem tirar os olhos do pesadelo.

— Corre!

Newt foi esconder-se na barreira mais próxima de engradados e equipamentos.

O alienígena avançou pelo convés, na direção do movimento.

Ripley agitava os braços e gritava fazendo caretas, pulando, qualquer coisa para chamar a atenção do monstro, afastando-o da criança.

O gigante girou, se movendo muito rápido, rápido demais para algo tão enorme.
Ripley correu para a enorme porta que dominava o extremo do porão de carga.
Pés enormes ecoavam como trovões no deque atrás dela.

Encontrou e socou o interruptor ‘FECHAR’.

A barreira zumbiu obedecendo ao comando, movendo-se  rápido.
Um ‘BRUUM’ ecoou reverberando pela sala de armazenamento quando o alienígena chocou-se com a parede sólida.

Ripley não tinha tempo para certificar-se de que a porta iria suportar. Moveu-se rapidamente entre as formas volumosas e escuras, buscando algo em particular.

Lá fora, a atenção da rainha fora desviada da barreira teimosa por um movimento visível. Uma rede de canais de escoamento protegida por pesadas grades de metal sob a baía de carga, funcionava como afluentes de um sistema fluvial.
Os canais tinham a profundidade o bastante para Newt se esconder.



Ela começou a engatinhar em direção ao outro lado da baía de carga como um coelho fugitivo.

O alienígena acompanhou o movimento. Garras mergulharam rasgando uma seção de grades logo atrás da criança. Newt tentou se mover mais rápido, lutando desesperadamente quando outro pedaço de grade desapareceu junto de seus calcanhares. O próximo seria diretamente acima dela.

O alienígena fez uma pausa ao ouvir o som da pesada porta da sala de armazenamento sendo aberta atrás dele, deixando ver à entrada, uma enorme silhueta articulada.




Montando duas toneladas de aço temperado, Ripley vestia o exoesqueleto carregador, como uma armadura de alta tecnologia.

 

Enquanto avançava sobre a rainha, os pesados pés pesados explodiam contra as placas de convés.

O rosto de Ripley era uma máscara de fúria maternal desprovida de medo.

— Fique longe dela, vagabunda!

A rainha emitiu um grito desumano e pulou na direção da máquina que se aproximava.

Ripley jogou o braço em um movimento rápido, normalmente não associado a atividades da máquina ou dispositivos semelhantes, mas ela, elegantemente, reagiu perfeitamente. O braço hidráulico acertou o crânio do alienígena e atirou-o contra a parede. A rainha caiu de costas em uma pilha de equipamento.

— Vamos lá! — Ripley gritou sustentando um sorriso distorcido. — Vamos!


Com raiva, a rainha recobrou-se, atacando a carregadeira uma segunda vez.


Quatro braços biomecânicos balançaram a máquina pesada.
O afiado ferrão esfaqueou os flancos e a parte inferior, acertando somente o metal sólido. Ripley desviou e desferiu golpes nos dentes de aço, fazendo a carregadeira, em seguida, avançar, girando para manter os braços da máquina entre ela e a rainha.

A batalha mudou-se do outro lado da plataforma, demolindo caixotes, instrumentação portátil, tudo aquilo que estava no caminho da luta.

O compartimento de carga ecoou com os sons de pesadelo de dois dragões lutando até a morte.


Ripley cerrou os próprios dedos apertados dentro dos comandos sensíveis, esmagando ambos os membros biomecânicos. A rainha se contorcia com indignação, as garras de suas outras mãos penetrando centímetros na gaiola de segurança para rasgar a pequena humana.

Ripley levantou os braços, erguendo a rainha.
O motor gemeu, protestando pelo excesso de peso. Patas traseiras arranhavam e amassavam a gaiola de segurança, que protegiam seu operador. O crânio inclinou-se e as mandíbulas exteriores começaram a se separar.

Ripley se agarrava em seus controles.

Dentes interiores impressionantes explodiram em sua direção. Ela abaixou quando eles se chocaram contra a almofada do assento atrás dela em um jorro de gosma gelatinosa. Ácido amarelo espumava ao longo dos braços hidráulicos, pingando em direção à gaiola de segurança. A rainha conseguira rasgar as mangueiras de alta pressão e agora o fluido escapava em todas as direções.



Sangue da máquina misturado com sangue alienígena.

Conforme perdia pressão hidráulica de um lado a carregadeira amassada tombou.

A rainha imediatamente rolou para cima dela, evitando ser esmagada pelas pinças dos braços de metal, tentando encontrar uma maneira de penetrar a gaiola de segurança.

Ripley bateu em um interruptor no console, e sua tocha de corte veio à vida, a intensa chama azul acertou o rosto do alienígena que gritou e recuou, arrastando a carregadeira com ele. O cinto de segurança de Ripley a mantinha presa ao assento.

Juntos máquina, o biomecanoide e a humana despencaram pelo poço retangular da doca de carga. A carregadeira por cima do alienígena, esmagando parte de seu torso e prendendo-o sob seu grande peso.


Ácido começou a infiltrar-se pelo piso, devido aos vários ferimentos, pingando e espalhando-se sobre as portas de contenção atmosférica, que começavam a soltar fumaça, uma vez que o ácido fazia seu trabalho na liga superforte.

Agora Ripley lutava para soltar-se do assento, à medida que os primeiros pequenos buracos apareciam e o ar começava a deixar a Sulaco, sugado pelo vazio insaciável do espaço.

Um vento crescente desnorteou Ripley fazendo-a tropeçar. Saltou uma poça de ácido fumegante, e agarrou os degraus inferiores da escada na parede. Com uma das mãos, acertou o botão de emergência da porta interna. Acima dela, as pesadas portas de contenção começaram a mover-se, uma contr a outra, qual mandibulas de aço.

Ela subiu descontroladamente.


Abaixo dela, os primeiros furos se alargaram, juntaram-se a outros enquanto o ácido fazia seu trabalho. O fluxo de ar escapando ao redor dela aumentava de volume, retardando seu progresso.

Newt havia surgido dos canais para se esconder entre uma floresta de cilindros de gás. Quando Ripley, e a coisa alienígena cairam no buraco, ela saiu para ver melhor.
Agora a intensa sucção vinda de lá puxava suas pernas, arrastando-a através da plataforma lisa.

Bishop, ou melhor, sua metade superior, viu o que acontecia com a menina e agarrou um pilar de apoio com uma mão para com a outra, graças a cronometragem sintética perfeita, conseguir alcançar a menina no momento que deslizou por perto dele.

Newt ficou pendurada, flutuando no vento intenso como uma bandeira estirada ao vento.

A cabeça de Ripley surgiu acima do nível do convés.
Quando ela tentou jogar para cima e para fora a perna direita, algo acariciou seu tornozelo esquerdo. Um puxão quase arrancou os braços de Ripley dos ombros.
Desesperadamente ela jogou os braços ao redor do degrau superior da escada.
As portas internas continuavam avançando.

Se ela não chegasse ao convés ou caisse de volta, dentro de um par de segundos, acabaria como Bishop.

Abaixo, as portas de bloqueio exteriores enfraquecidas pelo ácido, gemeram perto do colapso. O exoesqueleto peso-pesado e a rainha alienígena ainda lutavam.

Ripley sentiu seu braço saindo do lugar enquanto era arrastada para baixo, mas de repente sentiu sua perna livre. Convocando forças de profundezas desconhecidas, suspendeu o próprio corpo para o convés, assim que as portas interiores se fecharam.




Abaixo dela, a rainha alienígena proferiu outro grito de raiva e exerceu toda a sua força descomunal.

A carregadeira pesada torceu-se quando ela começou a empurrá-la.
Estava na metade do caminho quando as portas exteriores,sucumbiram, enviando pedaços de metal, bolhas de ácido, e a rainha para o espaço.



Ripley levantou e cambaleou para a janela mais próxima.

Os esforços da rainha foram o suficiente para impulsioná-la além da gravidade artificial da Sulaco. Ainda gritando e atracada ao exoesqueletor, a rainha caia lentamente de volta para o mundo inóspito de onde recentemente havia fugido.

Ripley olhava enquanto seu inimigo tornou-se um ponto escuro, e foi finalmente engolido pelas nuvens.

Dentro do compartimento de carga os recicladores automáticos da Sulaco recuperavam a atmosfera que tinha sido perdida.

Bishop ainda estava segurando Newt com uma mão.

Seu tronco dividido deixava à vista órgãos internos artificiais e conduites que produziam faíscas. Suas pálpebras tremiam, e sua cabeça, às vezes, de forma imprevisível, batia contra o deque. Seus reguladores internos tinham conseguido cortar o fluxo de sangue androide, porém uma lágrima branca coagulara em seu rosto.

Conseguiu produzir um pequeno e triste sorriso ao ver Ripley se aproximando.


— Nada mal para um ser humano — disse recuperando o controle de suas pálpebras o suficiente para dar-lhe uma piscadela inconfundível.

Ripley abraçou Newt. A menina parecia atordoada.

— Mamãe, mamãe?

— Aqui, querida. Eu estou bem aqui — trouxe-a para seu colo e abraçou-a o mais forte que pode.


 Em seguida se dirigiu para a sala da tripulação da Sulaco.

Ao redor delas, os sistemas da grande nave cantarolavam tranquilizadores.

Encontrou seu caminho até a seção médica e voltou ao porão de carga com uma maca.

Bishop poderia esperar.

Com a ajuda da maca gentilmente trouxe Hicks ainda apagado, para a enfermaria.
Sua expressão era pacífica. Ele tinha perdido a coisa toda, deleitando-se com os efeitos da injeção Bishop lhe dera.

O androide estava deitado no convés, com as mãos cruzadas sobre o peito e os olhos fechados. Não podia dizer se estava morto ou dormindo. Melhores cérebros do que o dela iriam saber o que fazer com ele, uma vez que voltassem para a Terra.

Durante o sono o rosto de Hicks perdia muito de sua tenacidade máscula. Se parecia muito com qualquer outro homem. Mais bonito, porém, e certamente mais cansado. Só que ele não era como qualquer outro homem. Se não fosse por ele, ela estaria morta, Newt estaria morta, todos eles. Somente o Sulaco teria sobrevivido, um recipiente vazio aguardando o retorno dos seres humanos que nunca viriam.

Pensou em acordá-lo, mas decidiu que não. Em pouco tempo, quando ela tivesse a certeza de que seus sinais vitais estavam estabilizados e as cicatrizes do ácido em sua carne praticamente curadas, ela o colocaria em uma das cápsulas de hipersono vazias.

Se virou para inspecionar o quarto de dormir. Quatro cápsulas para preparar.

Bishop não precisava necessariamente de uma. O sintético provavelmente acharia o hipersono confinante.




Newt olhou para ela.

— Vamos dormir agora?

— Isso mesmo, Newt.

— Podemos sonhar?

Ripley olhou para o rosto luminoso e sorriu.

— Sim querida. Acho que podemos.


FIM.