sábado, 7 de junho de 2014

A coisa - Alan Dean Foster (Parte 8)


Macready parara na cozinha, um desvio rápido antes de retornar para o pub e a fita de vídeo. Retirou do grande refrigerador um par de cervejas para reabastecer o estoque do bar, quando o longínquo lamento o alcançou.

Por um instante permaneceu ali, congelado pelo som assustador, chocado com o que ouvia. Então se virou e correu para fora da cozinha, esquecendo-se de fechar a porta do refrigerador.
Usou uma lata de cerveja para esmagar o vidro exterior do alarme de incêndio no corredor, enfiou a mão dentro sem se importar com o vidro quebrado ainda à caixa e puxou com força a alavanca. Sirenes começaram a tocar por toda parte, surpreendentemente alta nos corredores isolados.
Macready e Norris seguiram o gerente da estação para o canil. Macready carregava uma espingarda do pequeno arsenal enquanto Garry erguia sua Magnum. Nenhum deles estava completamente vestido. Clark carregava um machado de incêndio.

— Não sei o que diabos está acontecendo por lá — ele estava dizendo-lhes — mas é estranho, seja lá o que for. Com certeza não é nenhum cão.
— Por que tem tanta certeza disso? — Garry perguntou.
A voz de Clark foi solene. — Já trabalhei com muitos animais na minha vida, chefe. Nenhum cão faz um som como este.


Muito atrás deles, do lado de fora dos quartos, rapidamente o pessoal do posto avançado começou a encher os corredores. Homens tropeçavam seminus, pulando em um pé só enquanto tentavam empurrar a outra perna apressadamente para dentro de calças.
A noite tranquila se transformou em uma manhã de confusão.
Childs estava lutando com a fivela do cinto, que se recusava a apertar. Ele ainda não estava completamente acordado. Bennings gritou para ele a partir de uma porta próxima.
 — O que Mac quer?
— Foi o que ele disse. E ele quer agora!



  Bennings girou e desapareceu pelo corredor antes de Childs poder pensar em outra pergunta.
Clark e seus companheiros armados alcançaram a porta do canil. Depois que os dois cães vieram voando para fora contra ele, o tratador tinha reflexivamente trancado a porta. Garry olhou para ele interrogativamente.
— Eu não consegui pensar em mais nada a fazer. E em todo caso, eu não queria tentar nada sozinho.
Os dois cães que haviam sido jogados para fora, estavam latindo histericamente enquanto arranhavam a porta de aço em tentativas desesperadas de voltar para a luta. Um deles sangrava, e não devido à colisão com Clark.
A briga continuava no interior, o barulho dava arrepios aos homens do lado de fora.
Garry alcançou a maçaneta e hesitou. — Como você pretende resolver isso? Este é o seu departamento!
— Eu não tenho certeza que é do departamento de alguém aqui — Clark respondeu. — Você e Norris segurem estes dois — indicou os cães impacientes. — Macready e eu ladeamos a porta. Se nada vier para fora, nós entramos.
Garry refletiu sobre isso brevemente, depois assentiu com a cabeça. Ele e Norris agarraram cada um a coleira de um cachorro e lutaram para afastá-los da porta. Macready assumiu uma posição à direita da porta, preparou a espingarda. Parecia tenso. Onde diabos estava Childs?
Clark mudou-se para o outro lado e colocou a mão no trinco. Olhou para o piloto.
— Pronto?



Mac pensou em uma resposta sarcástica, engoliu-a e acenou afirmativamente. O tratador deu aos outros dois um olhar, vendo que estavam ocupados demais tentando controlar os cães furiosos.
Clark respirou fundo e abriu o trinco. A pesada porta girou para fora. O barulho dentro do canil era ensurdecedor. Quando nada se mostrou, acenou para Macready. Os dois homens entraram lado a lado.
A luz interior tinha sido queimada ou quebrada. Estava inesperadamente escuro e muito frio. Macready acendeu uma lanterna, mas antes que pudesse fazê-la apontá-la, algo o atingiu por trás.
No momento em que os dois homens desapareceram no interior, os dois cães tinham arrebentado as coleiras e se livrado de Norris e Garry. Norris tinha ido de cara ao chão. Um dos cães tinha corrido contra as pernas de Macready e o derrubado.
— Mac, onde você está! Clark estava gritando.
— Aqui, caramba!

O piloto estava deitado, tateando em busca de sua lanterna. Ela tinha rolado de suas mãos, mas estava nas proximidades, ainda brilhando intensamente.
Refeito Macready levantou o cano da espingarda para a luz. Clark rapidamente veio para ficar ao lado dele. Pouca luz entrava do corredor mal iluminado do lado de fora. Macready girou a lanterna ao redor, tentando se orientar.
Um dos cantos do canil vivara uma massa fervilhante de dentes e rosnados ferozes. Um grito de gelar os ossos. Algo atirava os cães para fora da pilha com uma força considerável, mas cada vez que um deles era arremessado, ficava de pé e corria de volta para se juntar à batalha.
A luz iluminou outra coisa. Algo que não era um cão. Alguma coisa...era um cão? Era impossível dizer, porque parecia ter alguns dos aspectos de um cão em um momento e, quando a luz revelava um pouco mais, era algo completamente diferente. Sua própria forma parecia alterar-se enquanto observavam.
Macready piscou. A luz aplicava truques sujos com seus olhos. Esforçou-se para se concentrar no que era um cão em um segundo e não era no seguinte.

— O que está acontecendo, caramba! — Garry rugiu.
—  Há algo aqui com os cães! Algum tipo de animal. — Ele levantou a arma e apontou-a para a pilha no canto. — Eu vou atirar.
— Não, espere, você vai abater os nossos animais! — Clark gritou e Macready hesitou.
— Faça alguma coisa, então!


Clark enfiou-se no emaranhado arfante de pêlos e dentes e começou a pegar os cães pelo pescoço e corpo, jogando-os de lado. Assim que ele retirou vários, embora ele também balançasse o machado, cortando e cortando a silhueta que os cães estavam atacando.
Da escuridão veio uma coisa escura, da espessura de uma perna. Parecia algo emprestado de uma aranha, ou talvez de um caranguejo. Ela se enrolou em torno do machado e balançou-o espasmodicamente, enviando Clark contra a parede.
O tratador, de alguma forma, manteve a arma.





O resto da equipe da estação que estava chegando, espremiam-se na entrada do canil atrás de Garry, para olhar o caos interior.
Macready achou poder ver a coisa claramente agora. Estaria perdido se esperasse Clark por mais tempo. A espingarda disparou várias vezes, um trovão ensurdecedor no canil fechado. Um míssil peludo, um dos huskies ainda lutando, foi arremessado contra ele, mandando-o ao chão novamente. A lanterna rolou livre.

Assim que Macready caiu Garry moveu-se em direção a coisa, segurando a Magnum com as duas mãos e disparando constantemente na direção do guincho. Um cão ganiu, atingido por uma bala. Macready estava rastejando junto aos tornozelos de Garry, tentando recuperar a lanterna.
— Clark! Onde você está? Clark! — Não houve resposta do tratador. Colidira duro contra a parede. Em todo caso, era difícil ouvir qualquer coisa no canil agora, entre gemido insuportável, o latido frenético dos cães e os disparos.
Childs veio galopando pelo corredor lateral. Estava rebocando um grande tanque de duas rodas. Mangueiras duplas partiam do topo do tanque até um pesado maçarico industrial.
Parou do lado de fora do canil e gritou para os homens de dentro.

— O que está acontecendo?
— Childs, é você? — Ouviu-se o grito de Macready.
— Sim, sou eu, Mac. Que diabos está acontecendo?
— Trouxe a tocha? Traz pra cá!
Childs não hesitou. Abriu as válvulas no topo do tanque, em seguida ligou o aparelho e correu para dentro do canil arrastando o tanque atrás de si. Os outros homens abriram caminho para ele.
Ao entrar ele esbarrou em Garry, jogando-o para o lado.
— Desculpe, chefe. Não vi você.
— Não se preocupe comigo!
— Childs! — Macready uivou.
— Estou chegando, merda! Onde você está?
— Aqui! — Macready sinalizou com a lanterna, em seguida, dirigiu o feixe em direção ao canto. — Lá! Mande fogo!
— E os cachorros? — O mecânico hesitou.
— Danem-se! Fogo, agora!


 Childs tocou um interruptor e a pequena chama azul surgiu da ponta do dispositivo. Apontou em direção ao emaranhado e abriu a válvula de saída. A chama lambeu pelo chão e atingiu o centro da massa. Os cães se afastaram imediatamente.
Um terror mais elementar sobrepujou temporariamente o medo e a raiva.
Espalharam-se e instintivamente correram para a porta do canil aberta.
Parte do piso de madeira do canil começou a torrar, algo gritou e gritou e arranhou a parede do fundo, grande demais para passar pela portinhola dos cães.

— Está pegando fogo! — Childs gritou preocupado.
— Não aponte para cima — Macready ordenou ele. Ele estava disparando a arma várias vezes para as chamas.
Garry juntou-se a eles e esvaziou sua Magnum, em seguida, falou calmamente enquanto carregava pela terceira vez.
— Tragam extintores — disse aos homens reunidos atrás dele.
A munição de Macready havia acabado. Ele agora estava ao lado de Childs, com uma expressão demoníaca.
— É isso, é isso, Childs! Queime o desgraçado, queime!
O mecânico despejava a chama com firmeza enquanto se movia muito lentamente em direção a parede detrás.
Um assobio mais distinto enchia o canil, agora que os cães sobreviventes haviam fugido.
Lá fora no corredor, o resto da tripulação estava perseguindo os cães fumegantes, pulverizando-os com o extintor químico.

O cheiro de pêlo queimado encheu o ar. Cães e homens se engasgavam com fumaça e os produtos químicos.
Norris levou um grupo para o canil, onde começaram a pulverizar o chão para evitar que as chamas se espalhassem.

Gritos e uivos começaram a desaparecer.
Houve um último silvo prolongado. Em seguida, silêncio, exceto para o barulho constante do maçarico.

Macready estava de pé ao lado do mecânico, com a mão no ombro do amigo. — É isso aí, cara. Queime-o até que volte para o inferno, queime-o...
Childs desligou a tocha. — Tá feito! Acabou!
Macready olhou para ele, respirando com dificuldade, os punhos fechados, pronto para atacar. Childs agarrou o braço do piloto e apertou-o. — Acabou, Mac.
Baixou a tocha. Um corpo jazia sentado, encostado na parede do canil.
— Ei, Clark.

Os olhos de Clark estavam abertos, mas o homem não reconhecia Childs. O mecânico virou-se e gritou ansiosamente em direção ao corredor. — Ei, alguém vá buscar Cooper. Rápido!

Garry estava de pé ao lado dele. Agachou-se, virando a lanterna na cara do tratador.
— Está em choque, parece.

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