domingo, 1 de junho de 2014

A coisa - Alan Dean Foster (Parte 3)



Isso é insano, Macready pensou quando sobrevoava um cume de gelo. O motor protestou, mas apenas por um segundo ou dois. Era possível ver algumas pedras no topo do cume, debaixo da neve. Carecas enterrados, Macready meditou.
O vendaval tinha diminuído consideravelmente desde a decolagem e teve de admitir que o voo havia se tornado quase agradável. Estava começando a parecer que eles conseguiriam fazê-lo, sem qualquer problema.
O aquecedor da cabine choramingou alto. Macready tinha ajustado no limite. Tanto quanto lhe dizia respeito, era a única posição que possuía. Máximo de calor. Cooper sentia-se desconfortavelmente quente, mas não disse nada. O superaquecimento deixava o piloto feliz. Macready olhou para o mapa de plástico situado no suporte ao console.
— Devemos estar quase sobre ele, Doutor, se as coordenadas de Fuchs e Bennings estiverem corretas.
— Este não é o Ártico, Mac. Aqui os acampamentos não flutuam em blocos de gelo. Vai estar onde é suposto estar.
De repente ele apontou para baixo através da bolha. — Lá, o que é aquilo?
Alguma fumaça era visível diretamente à frente, e não vinha da chaminé de alguém. Uma coluna densa e várias outras menores. Muitas outras. O vento fez a onda de fumaça dançar na noite Antártica. Logo o sol desapareceria completamente e a longa noite polar sul iria descer sobre eles.
— Algum lugar especial, Doutor?
Cooper estava inclinando para a direita, olhando solenemente através da bolha. — Você escolhe, Mac. Pela aparência das coisas, não acho que isso importa muito.



O vento favoreceu para que Macready, sem nenhum problema, cuidadosamente trouxesse o aparelho para baixo. Ele desligou o motor e ligou o preaquecimento para manter o gelo longe. Os rotores diminuíram seu gemido reconfortante desaparecendo no silêncio, misturando-se ao vento triste. Macready destravou a porta da cabine e saiu. Seu primeiro olhar foi para o céu azul cobalto, com nuvens movendo-se rápido. Não havia como dizer quanto tempo ficaria assim. Teriam que se apressar.
Arrastaram-se em direção ao acampamento. A grande construção metálica pré-fabricada apareceu à frente deles. Estava cheia de brechas que não faziam parte do projeto original. Macready procurou, mas não conseguiu localizar uma janela intacta. Cacos de vidro brilhavam como diamantes na neve.
A fumaça subia da superfície. Como sua própria base, a maior parte desta se aconchegou debaixo do gelo.
Parecia que a terra estava em chamas.
Peças individuais de equipamentos queimavam, derretendo o gelo até a eventual extinção. Uma brasa flamejante passou zunindo e os dois homens instintivamente se abaixaram, embora o fogo fosse geralmente um companheiro bem-vindo. Mas o condicionamento era duro de perder.
Cooper não disse nada, apenas olhava. Macready boquiaberto. O lugar parecia Cartago após a última guerra púnica.
Não era o que esperavam. Ao menos não esta devastação total. Macready se virou e voltou para o helicóptero, e cuidadosamente escondeu a chave de ignição.
Finalmente eles localizaram a fonte da chama principal e também a razão para a coluna de fumo espesso. Ela partia de algo semelhante a uma pira funerária improvisada. Livros, pneus, móveis, madeira da sucata; qualquer coisa que pudesse queimar tinha sido amontoada do lado de fora do edifício principal e incendiada. Discernível entre o resto inorgânico, os restos carbonizados de vários cães e pelo menos de um homem. Montes de gosma preta que poderiam ter sido asfalto ou selante de telhado queimado perfumando os escombros.
Um pequeno tambor de gasolina estava próximo, a tampa em falta. Um tambor de óleo combustível maior entornado. Macready verificou o recipiente menor primeiro, depois a maior. Ambos estavam vazios.
Ele olhou para a esquerda. Era apenas o vento sussurrando em seus ouvidos? Trocou um olhar com Cooper. O rosto do médico estava pálido, e não era por causa do frio.
Macready fez outra viagem de volta ao helicóptero e abriu a porta. A espingarda deslizou facilmente para fora de seus suportes atrás do assento do piloto. Verificou se estava carregada, pegou uma caixa de cartuchos do compartimento abaixo e enfiou-a no bolso, em seguida, correu para se juntar a Cooper.
O médico olhou fixamente para a arma, cuja finalidade era tão diferente dos instrumentos que ele carregava em sua mochila. Mas não se opôs à sua presença. Parecia seguro o bastante em face da violência que tinha destruído este acampamento.
Eles começaram a andar em direção à estrutura central, ou melhor, o que restara dela. Brasas continuavam a flutuar passando por eles. Uma acertou a camisa de manga comprida de Macready e ele distraidamente afastou-a.










A porta estava destrancada. Macready virou o trinco, deu um passo atrás, e usou o cano da espingarda para empurrá-la para dentro. Ela balançou frouxamente e bateu contra a parede interior.
Adiante um corredor longo e escuro como breu. Cooper puxou uma lanterna de seu casaco e a apontou para o corredor.
— Tem alguém aqui?
Nenhuma resposta. O feixe jogado nas paredes e piso, revelavam um túnel pouco diferente em design e construção daquele de seu próprio acampamento.
Só o vento conversava com eles, constante mas pouco informativo.
Cooper olhou para o piloto, que deu de ombros.
— Esta é a sua festa doutor.
Copper concordou e começou a andar com Macready seguindo ao lado do homem mais velho.
Seu progresso foi lento por causa dos detritos que enchiam o corredor. Cadeiras viradas, caixas de equipamentos, fios soltos, vasilhames e tanques de gás tornavam o caminho traiçoeiro. Certa vez Macready quase caiu de cara quando seus pés se enroscaram em um aparelho de televisão explodido. Cooper estremeceu, em seguida, deu ao piloto um olhar reprovador.
— Talvez eu devesse carregar a arma?  — Ele estendeu a mão.
Macready estava com raiva de si mesmo: — Eu vou cuidar disso. Não vai acontecer novamente. Basta ver onde você aponta essa lanterna.
Copper concordou e tentou manter o feixe focado igualmente no chão e no corredor em frente. Era tão frio no corredor  quanto lá fora.
— O calor se foi faz tempo! — disse ele.
Macready balançou a cabeça, seus olhos tentando furar a escuridão na frente deles.
— Qualquer sobrevivente teria morrido congelado dias atrás.
— Não necessariamente. Só porque esta seção é exposta e sem calor não significa todo o acampamento está da mesma maneira. Seu barracão tem seu próprio calor, por exemplo.
— Sim, mas se o gerador pifar, eu viro um picolé em um par de horas.
— Bem, eles poderiam ter aquecedores a gás portáteis.
Macready lançou-lhe um olhar azedo. — Eu amo você, doutor. Você é um maldito otimista.
Cooper não respondeu, continuou a apontar o seu feixe de luz ao longo do chão e paredes. O vento gemia alto.
Macready parou. — Ouviu alguma coisa?
Cooper tenso, escutou. — Sim. Acho que sim. Um som mecânico.
Eles seguiram o ruído fraco, que logo se transformou em um assobio audível. Como eles continuaram pelo corredor o silvo tornou-se reconhecido como estática.
O ruído constante vinha do outro lado de uma das portas do corredor semibloqueado.
Cooper girou a luz sobre o que sobrara dela. Um machado se projetava do centro, enterrado profundamente na madeira.



Macready colocou a arma de lado, agarrou com as duas mãos e puxou até que se soltou. A aresta de corte estava manchada, escura. Ele estudou brevemente, olhando para Copper para confirmação.
O médico não disse nada, o que foi suficiente para Macready. Não havia muito sangue no machado, e o que restou foi congelado em uma crosta marrom.
Colocando o machado de lado, ele pegou a arma, segurando-a um pouco mais firme agora, e tentou a maçaneta. Esta girou e a porta se abriu para dentro, mas parou depois de apenas alguns centímetros. O piloto encostou o ombro contra ela e empurrou, mas ela se recusou a ceder ainda mais.
— Bloqueada do outro lado — disse em voz baixa. Ele colocou o rosto através da pequena abertura. — Tem alguém ai dentro?
Não houve resposta. Cooper tomou o lado de Macready e gritou. — Somos americanos!
— Viemos para ajudá-los! — Macready adicionou. — Viemos em paz!
 Ainda sem resposta. Ele se firmou e inclinou-se com mais força contra a porta.
Houve um rangido. — Eu acho que cedeu um pouco — disse o médico. — Dê-me uma mão!
Cooper somou sua própria massa a de Macready e empurrou. Alternadamente empurrando e pressionando, eles conseguiram que a porta cedesse um centímetro de cada vez. Eventualmente o suficiente para Macready meter a cabeça dentro.
— Me dê a luz — Cooper entregou ao piloto que dirigiu seu feixe para dentro. A estática era alta agora.
— Tá vendo qualquer coisa, Mac?
— Sim.
 A lanterna revelou bancos de instrumentação eletrônica, a maior parte destruída. Um console parecia ser a fonte do zumbido constante. — Radio-comunicação — disse o médico. — Parece um pouco com o posto de Sanders.
Ele deu a luz de volta para Cooper, enfiando-se na abertura e empurrou. A porta avançou outro par de centímetros.
Cooper o seguiu, iluminando o pequeno aposento. O vento gelado beijou seus rostos inesperadamente rápido, vindo de buracos no teto.
Uma lamparina Ganz repousava sobre uma mesa de canto. Macready pegou um fósforo com cuidado e aplicou a chama no receptáculo interno enquanto virava o botão de controle. O butano pegou fogo depressa, formando um pequeno círculo de luz.
Levantando a lamparina, ele criou um círculo iluminado maior. A luz suave revelou o topo da cabeça de um homem, e o encosto de uma cadeira giratória.
— Ei, Sueco! Você está bem?
A cadeira balançou ligeiramente na brisa do teto. Os dois homens se moveram lentamente em direção a ela. Macready estendeu um braço e segurou o médico, em seguida cutucou-o com a espingarda.
— Sueco?
O olhar de Cooper mudou-se para o braço descansando em um dos braços da cadeira. Uma fina linha vermelha descia a partir dele, um fio vermelho congelado, terminando em uma poça de sangue coagulado no chão de madeira.




Macready cutucou a cadeira. Cooper moveu-se para o outro lado.
O homem na cadeira estava vestido com roupa de trabalho interno, muito leve para a temperatura congelante da sala. Seus olhos abertos, fixos em algo além de seu campo de visão. A boca aberta congelada, parecia ter sido petrificada no ato de gritar.
O olhar de Macready percorreu o corpo rígido. A garganta fora cortada de orelha a orelha, ambos os pulsos também. Uma navalha antiquada estava no colo do homem, manchada com a mesma cor que o machado que fora enterrado na porta. A navalha parecia deslocada na sala de comunicações, uma antiguidade entre alta tecnologia. No entanto tinha feito bem o seu trabalho.
Macready tirou os olhos do cadáver e apertou um interruptor. O silvo constante do rádio morreu.
Havia uma porta na parede distante, que também acabara por ser bloqueada a partir do lado oposto. Macready bateu seu ombro com raiva contra ela, empurrando-a para dentro. Fez uma pausa para recuperar o fôlego, e viu seu companheiro olhando fascinado para o cadáver.
— Meu Deus— o médico estava murmurando meio que para si mesmo. — Que diabos aconteceu aqui?
— Vamos lá, Cooper — Macready rosnou para ele impaciente. — Bloqueada também.
— O quê? — O médico olhou fixamente para o piloto, em seguida, saiu de seu torpor e foi ajudá-lo.  Juntos golpearam o novo obstáculo até o suficiente para deixá-los passar.
Um armário de metal tinha sido usado para segurar a porta. Além disso mais escuridão. O vento estava mais forte.
Cooper apagou sua lanterna e pegou a lamparina de Macready, liberando o último para segurar a arma com as duas mãos.
Segurou-a alta, revelando uma série de degraus de madeira que conduziam para baixo.
— Ei, suecos! — Macready gritou para a escuridão abaixo.
— Eles não são suecos! — Cooper o corrigiu  irritado. — São norueguês, Mac...
Algo escapou da escuridão e bateu em seu rosto...

A lanterna caiu de suas mãos e foi pulando abaixo as escadas. Cooper tropeçou e caiu se debatendo com algo em torno de sua cabeça. Macready recostou-se contra uma parede sólida e ligou sua própria lanterna, segurando-o com uma mão e a espingarda na outra, enquanto tentava localizar o agressor.
Cooper tinha recuperado o equilíbrio e subjugado o atacante. O ergueu, deixando o papel amassado debatendo-se na brisa que vinha da escada.
Macready se aproximou e pegou o papel. As notações em sua parte inferior estavam em norueguês, mas não teria feito qualquer diferença se fossem ideogramas chineses.
— Norueguês do mês, doutor.
Ia atirar a página longe, mas pensou melhor e guardou no bolso para uma inspeção detalhada mais tarde.
Um Cooper envergonhado, arrumando sua roupa, desceu até o último degrau para recuperar a lanterna ainda acesa.
Esperou lá por Macready. Juntos começaram a varrer o corredor subterrâneo.
As vigas de apoio que sustentam o teto eram de madeira. Estavam entortadas e cederam a partir da pressão constante do gelo ao redor delas. Esta era uma área mais ativa do que glacial planalto, onde o posto avançado americano se localizava.
Os acontecimentos recentes que queimaram o acampamento, eram sentidos ainda mais intensamente ali. Podiam ouvir o túnel rangendo e reclamando em torno deles. Pedaços de gelo e lama escorriam caindo em seus cabelos e fazendo cócegas em suas bochechas.
Uma viga quebrada atravessava transversalmente à frente deles, bloqueando o caminho. E ainda ardia. Macready abaixou-se para deslizar cuidadosamente por debaixo com cuidado. Uma chuva de detritos pequenos caia do teto arqueado.
— Calma aqui, doutor.
Cooper agachou e passou sob ela, que gemeu, mas manteve-se estável. Continuaram em frente.
— Ei!
— Mac? Algo errado? — Cooper girou, brilhando a luz em direção ao seu companheiro.
Macready estava pesquisando a parede atrás dele.
— Bati em alguma coisa. Não parecia madeira. Acho que se moveu. Puta merda! — Fez uma careta.
O braço estava saindo da borda de uma porta de aço fixada na parede do corredor. O cotovelo estava a cerca de noventa centímetros do chão. A porta estava fechada. Os dedos seguravam uma pequena tocha de soldagem.
Cooper se aproximou, examinando o membro preso.
— Cuidado, Doutor — Macready avisou. — Pode ter gás escapando.
— Acho que não — Cooper indicou os controles da tocha. — A chave está na posição desligada e não cheira a nada.
Ele lambeu o dedo, segurou-o por baixo do bocal da tocha. — Nada. O combustível acabou ou vazou há muito tempo.
Macready tentou abrir a porta. Estava desbloqueada e ao contrário das anteriores que tiveram que lutar com elas, esta abriu facilmente. O braço caiu no chão. Não estava ligado a nada, tendo sido cortado e mantido no lugar pela porta. Não havia nenhum sinal de seu antigo proprietário.
Isso foi o bastante para Macready. Virou-se e tossiu, sentindo o estômago girar como uma roda gigante dentro de sua barriga. Os mergulhos e a turbulência de um helicóptero ao vento não o incomodava, mas aquilo...
— Cristo — Copper murmurou. Ele olhou para dentro, elevando a lanterna. — Vamos ver onde vai dar.
Uma curta caminhada trouxe outra porta. Letras no idioma norueguês estavam escritas na madeira na altura dos olhos. Macready preparou a arma e deu um chute na porta.
Pelo menos as portas estavam se tornando mais cooperativas. Esta obedientemente revelou o interior, rangendo até parar. Dezenas de documentos voavam ao redor da sala além daquela porta, qual mariposas brancas agitadas pelo vento que descia através de buracos no telhado. Era difícil determinar a finalidade da sala porque era um desastre total.
Macready jogou a luz da lanterna sobre a carnificina.




— Laboratório — Copper anunciou assim que o feixe viajou através de copos quebrados e tubos de ensaio fragmentados. Um microscópio estava de lado no chão, perto de uma bancada rachada. Outro equipamento ao canto, como se atingido por um tornado. Um osciloscópio caro descansava danificado em uma prateleira, e algo havia perfurado o seu único olho ciclópico.
— Ei, olhe isso, doutor.
A lanterna de Macready tinha descoberto uma caixa de metal cinza próxima a uma parede. Uma única lente continuava apontando para o chão. Câmera de vídeo portátil.
Cooper olhou para ele, então começaram a avançar através da confusão em direção a um armário de arquivamento. Suas gavetas tinham sido puxadas para fora, testemunho mudo da destruição casual que tinha invadido o lugar.
Outros papéis estavam sob pesos ou equipamentos capotados em cima da principal mesa de trabalho. Ele arrastou os pés entre eles, procurando uma pista que poderia explicar como aquela catástrofe havia dominado esta estação.
Macready continuou a examinar a câmera de vídeo, desejando que Sanders estivesse com eles.
— Alguma coisa? — Perguntou sem se virar.
Cooper balançou a cabeça com pesar. — Tudo escrito em norueguês, eu temo.
Puxou um aglomerado de folhas, olhando-os à luz fraca. — Não, aqui está escrito em alemão.
— E daí?
— Eu leio um pouco de alemão.
Macready se virou para ele e falou ansiosamente. — É? O que diz?
O médico continuou a inspecionar os documentos, seus lábios se movendo enquanto seguia as palavras.
—...allgegenwertig glaci… — ele parou e olhou para cima, desapontado. — É um tratado sobre o movimento das cristas de pressão.
— Maravilha — disse Macready sarcasticamente. — Isso é uma grande ajuda.
Cooper alinhara cuidadosamente as folhas e começou a adicionar outras a estas. O piloto fez uma careta.
— O que você está fazendo? Ninguém vai voltar para ler essas coisas!
— Eu sei.
Curvou-se para recuperar um pacote de papel encadernado em plástico vermelho.
— Mas isso pode ser um trabalho importante. Parece que seis pessoas morreram por isso. Poderia muito bem salvá-los antes que sejam soprados longe. Se as posições se invertessem, eu gostaria que algum outro cientista fizesse o mesmo por mim.
Macready absteve de mencionar que Cooper era apenas um médico, não um cientista.
— Tudo bem — disse com impaciência — mas está ficando tarde. Depressa! Vou verificar os últimos quartos.
Ele se virou e saiu.


Cooper continuou a recolher os papéis, empilhá-los ordenadamente debaixo de um braço. Talvez algum laboratório norueguês ou universidade fosse capaz de dar sentido a eles.
Espalhados entre os escombros havia um gravador de bolso. Vários cassetes estavam espalhados pelo chão nas proximidades. Ele pegou um. Se fosse parte da coleção particular de alguém, isso significava que provavelmente continha notas científicas ou música.
Algo se moveu atrás dele...ele girou. Não. Nada. Calma Cooper, disse a si mesmo. Este lugar é muito frio, mesmo para fantasmas. Ele colocou uma das fitas no gravador e tentou operar os controles.
Macready no outro quarto, foi recebido com uma chuva de estilhaços e gelo picado.
Resmungando, limpou os escombros de sua parka e inclinou a lanterna para cima. Aqui também o teto era uma bagunça. Abaixou a luz e começou a inspecionar o interior.
Cooper encontrou o interruptor de reprodução. A voz de um norueguês veio abafada, em tom pedante, sem emoção. Ele rapidamente trocou por outra. A voz era a mesma, era o padrão.
Um grito distante quebrou sua concentração: Macready.
— Cooper, venha aqui!
Agora, o que, ele se perguntou? Teria encontrado o dono do braço na outra sala, talvez. Ele desligou o gravador e saiu correndo da sala.
Macready não tinha ido longe. Copper teve que apertar-se através da abertura estreita que conduzia para a próxima sala e atraiu mais da avalanche de sujeira que tinha recebido o piloto antes.
— Cuidado — Macready advertiu-o com um gesto em direção ao teto. — Esta está pronto para ruir.
Macready estava de pé ao lado de um enorme bloco sólido de gelo. Bastou um olhar rápido para terem certeza de que não tinha caído do teto. Cooper não era geólogo, mas ajudara Norris frequentemente, o bastante para saber que essa massa era composta de gelo antigo, não era material recém-formado que se encontra na superfície.
Automaticamente sua mente começou a tomar medidas. O bloco tinha cerca de quinze metros de comprimento e seis de largura, talvez quatro de altura. Estava deitado no chão, muito grande para descansar em qualquer mesa. As bordas mostravam sinais de derretimento recente, um processo interrompido pelas baixas temperaturas que tinham invadido o acampamento.
Além de seu tamanho, era normal.



 — Um bloco de gelo — disse para Macready. — E daí?
Macready se inclinou sobre o bloco, apontando sua lanterna para baixo. — Veja isto!
Cooper se aproximou. O centro do bloco tinha sido descongelado ou cavado. Era como se alguém tivesse tentado fazer do bloco, uma enorme banheira gelada.
— O que você acha disso?
Cooper sacudiu a cabeça, completamente perplexo.
— Que inferno, Mac! Glaciologia não é o meu departamento. Tem mais alguma coisa aqui?
— Não sei ainda. Isso chamou minha atenção.
Virou-se para longe do bloco, procurando com a luz até encontrar  um grande armário de metal contra uma parede. Uma inspeção mais detalhada revelou várias fotos Polaroid coladas nele, que mostravam homens no trabalho ao redor do complexo.
— Pelo menos alguma coisa está intacta — murmurou.
Colocou a arma cuidadosamente de lado e segurou a lanterna na boca enquanto usava as duas mãos para tentar abrir o gabinete.
O trinco girou, mas as portas se recusaram a colaborar. Preso, talvez congelado. Puxou de novo. Poeira escorreu de cima do armário. O teto desabou parcialmente bloqueando os topos das portas. Ele tentou novamente. Algo gemeu alto.
Cooper deu um passo para trás, olhando para o teto com cautela. — Cuidado, Mac!
Macready se preparou, lançou um breve olhar ao teto instável e puxou com força. As portas se abriram e ele cambaleou para trás, lutando para manter o equilíbrio.
Grandes pedaços de isolamento e de madeira caíram do telhado. Macready tossiu e espantou o pó em seu caminho para o gabinete.
O conteúdo era uma decepção! Não que ele esperasse encontrar muito. Sua luta com as portas não produziu nenhuma descoberta. Algumas das prateleiras estavam vazias. Outras apoiavam pequenos instrumentos científicos, calculadoras programáveis​​, racks de slides, alguns copos intactos, e alguns tubos de vidro.
A lanterna estava focada em uma grande fotografia presa no interior de uma porta
Cinco homens preenchiam o quadro, de braços dados, todos sorrisos, segurando copos levantados num brinde mútuo. Era uma foto do exterior, tirada em algum lugar fora do acampamento.
Na frente deles na neve estava o bloco de gelo. A foto fazia com que parecesse maior. Talvez tivesse derretido um pouco no transporte, Macready pensou.
Ele olhou por cima do ombro para o bloco de gelo e de volta para a foto, em seguida para o gelo novamente. Não havia nenhuma dúvida de que o bloco na imagem e aquele descansando um metro atrás era a mesma coisa. As dimensões daquele da imagem podia ser um pouco maior, mas as proporções eram idênticas.
Ele cuidadosamente desprendeu a fotografia e guardou-o no bolso do casaco, e depois fechou o armário.
Quando fez isso mais detritos caíram do teto, madeira, gesso, fibra de vidro, e algo mais. Algo frio, mas ainda macio. Macready gritou; Copper ficou boquiaberto.
No cadáver estava faltando um braço, mas ainda era pesado o suficiente para derrubar Macready ao chão...

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