quarta-feira, 16 de julho de 2014

Guerra nas estrelas: Uma Nova Esperança – George Lucas e Alan Dean Foster (Parte 7)



Luke e Ben estavam colocando R2-D2 no banco traseiro do carro, enquanto C-3PO montava guarda.

— Se o cargueiro de Solo for tão bom como ele diz, não teremos problemas — observou o velho, com otimismo.

— Mas dois mil... e mais quinze quando chegarmos a Alderaan!

— Não são os quinze mil que me preocupam, mas sim os primeiros dois mil — explicou Kenobi. — Acho que vamos ter que vender seu carro.

Luke deixou o olhar passear pelo veículo, mas a amizade que sentia pelo carro havia desaparecido... desaparecido junto com outras coisas nas quais era melhor nem pensar.

— Não tem importância — disse para Kenobi, com indiferença. — Nunca mais vou precisar dele.


Já devidamente instalados em outro reservado, Solo e Chewbacca assistiram ao desfile dos soldados do Império. Dois deles olharam demoradamente para o coreliano. Chewbacca rosnou uma vez e os dois soldados apertaram o passo.



Solo sorriu cinicamente, voltando-se para o companheiro: — Chewie, este trabalho pode ser a nossa salvação. Dezessete mil! — Sacudiu a cabeça, como se não pudesse acreditar. — Aqueles dois devem estar desesperados. Gostaria de saber qual foi o crime que cometeram. Mas concordei em não fazer perguntas, não foi? Vamos andando... precisamos preparar o Falcon para o vôo.

— Vai a algum lugar, Solo?

O coreliano não podia reconhecer a voz, pois estava sendo produzida por um tradutor eletrônico.
Mas não teve dificuldade em reconhecer quem estava falando, nem a arma que lhe havia encostado nas costelas.


A criatura era um bípede mais ou menos do tamanho de um homem, mas a cabeça parecia saída de um pesadelo. Os olhos eram enormes, multifacetados, e se destacavam como faróis no rosto verde escuro. O crânio era coberto por uma série de saliências ósseas; a narina e a boca formavam um focinho pontudo, como o de um tapir.

— Que coincidência — respondeu Solo. — Estava justamente a caminho para ver seu chefe. Pode dizer a Jabba que consegui o dinheiro que devo a ele.

— Foi o que você disse ontem... e na semana passada... e na outra semana. Agora chega, Solo. Não vou repetir mais seus contos de fadas para Jabba.

— Mas desta vez arranjei mesmo o dinheiro! — protestou Solo.

— Ótimo. Então passe para cá.

Solo sentou-se devagar. Os asseclas de Jabba tinham o dedo do gatilho muito sensível. O outro sentou-se do outro lado da mesa, mantendo a pequena pistola apontada para o peito de Solo.

— Não está comigo. Diga a Jabba que...

— Não adianta, Solo. Jabba decidiu ficar com o seu cargueiro.

— Sobre o meu cadáver — disse Solo, com firmeza.

O outro não pestanejou.

— Como quiser. Quer ir lá fora comigo, ou prefere que eu faça o serviço aqui mesmo?

— Acho que o dono não vai gostar.

Algo que poderia ser uma gargalhada saiu do tradutor da criatura.

— Ele não iria nem notar. Levante-se, Solo. Estou esperando por isto há muito tempo. Nunca mais vai-me envergonhar diante de Jabba com suas desculpas ridículas.

— Acho que tem razão.

Um clarão cegante envolveu o reservado.
Quando passou, tudo que restava do alienígena era uma massa informe no chão de pedra.
Solo tirou de debaixo da mesa a pistola ainda fumegante, atraindo olhares surpresos de vários fregueses da cantina e murmúrios de admiração dos mais traquejados. Estes sabiam que o alienígena havia cometido um erro fatal: não manter o tempo todo as mãos de Solo debaixo de seus olhos.

— É preciso mais do que uma cara feia para acabar comigo. Jabba sempre foi muito sovina na hora de contratar seus capangas.



Deixando o reservado, Solo saiu da cantina com Chewbacca, não sem antes largar um punhado de moedas na mão do garçom.

— Desculpe a bagunça. Mas sabe que a culpa não foi minha.




Os soldados armados até os dentes desciam a rua estreita, olhando de vez em quando para os seres esfarrapados que lhes acenavam com mercadorias exóticas, penduradas na ponta de pedaços de pau. Neste bairro de Mos Eisley os edifícios eram altos e tinham sido construídos muito próximos, o que transformava a rua em um túnel.


 Ninguém olhava para os soldados com hostilidade; ninguém lhes dirigia imprecações ou lhes gritava obscenidades. Os homens uniformizados tinham por trás deles a autoridade do Império. Por toda parte, homens, alienígenas e robôs agachavam-se nos umbrais escuros. No meio de pilhas de lixo, trocavam informações e concluíam transações de legalidade duvidosa.

Um vento morno gemeu no beco e os soldados cerraram fileiras. A ordem e a disciplina ajudavam a disfarçar o medo que sentiam por se encontrarem em uma zona tão opressiva da cidade.
Um dos soldados parou para examinar uma porta e descobriu que estava trancada.
Um maltrapilho que estava nas proximidades olhou para o soldado e soltou uma torrente de palavras sem sentido. Encolhendo os ombros, o soldado fuzilou o louco com os olhos antes de apressar o passo para juntar-se aos companheiros. Assim que os soldados se afastaram, a porta se entreabriu e um rosto metálico olhou para fora. Por entre as pernas de C-3PO, um pequeno robô cilíndrico se esforçava para ver alguma coisa.

— Preferia ter ido com o Sr. Luke, em vez de ficar aqui com você. Mas ordens são ordens. Não sei direito qual é o problema, mas estou certo de que a culpa é sua.

R2-D2 respondeu com um som impossível: um bip de desprezo.

— Veja como fala — advertiu C-3PO.

Era possível contar nos dedos de uma das mãos o número de carros e outros veículos de transporte naquele terreno poeirento que ainda se achavam em condições de trafegar. Mas Luke e Ben nem pensaram nisso enquanto discutiam o preço com o proprietário, uma criatura alta, que lembrava um inseto. Afinal, estavam ali para vender, não para comprar.
Nenhum dos passantes dedicou à cena nem mesmo um olhar de curiosidade. Transações semelhantes, de interesse apenas dos participantes, ocorriam centenas de vezes por dia em Mos Eisley.
Finalmente, todas as súplicas e ameaças se esgotaram. Como se se estivesse desfazendo de amostras de seu próprio sangue, o proprietário concretizou a compra passando para Luke uma pilha de moedas de metal. Luke e o insetóide trocaram algumas palavras amáveis e se separaram, ambos convencidos de que haviam levado a melhor no negócio.
 


— Ele disse que não podia pagar mais. Desde que o XP-38 foi lançado, a procura diminuiu muito — suspirou Luke.

— Não fique tão desanimado — disse Kenobi. — O que você conseguiu é suficiente. Meu dinheiro dá para completar o que falta.

Deixando a rua principal, entraram em um beco, passando por um pequeno robô que levava com ele um bando de animais parecidos com tamanduás. Ao dobrarem a esquina, Luke virou a cabeça para olhar para o velho carro... a última coisa que o ligava ao passado.
Uma criatura baixa e furtiva, que poderia ou não ser humana, pois as vestes a cobriam inteiramente, saiu das sombras assim que Luke e Ben dobraram a esquina. E continuou a olhar para eles até desaparecerem em uma curva da calçada.

A entrada da plataforma de lançamento estava totalmente cercada por meia dúzia de homens e alienígenas, dos quais os primeiros eram sem sombra de dúvida os mais grotescos.
Um monumento de banha e músculos, encimado por uma cabeleira desgrenhada, observava satisfeito o semicírculo de assassinos armados. Colocando-se à frente dos outros, gritou na direção do cargueiro:

— Saia daí, Solo! Você está cercado!



— Está olhando na direção errada — respondeu calmamente uma voz.

Jabba deu um pulo, o que por si só constituiu um espetáculo memorável. Os capangas giraram nos calcanhares e se viram frente a frente com Han Solo e Chewbacca.

— Estava a sua espera, Jabba.

— Esperava que estivesse — admitiu Jabba, ao mesmo tempo satisfeito e alarmado pelo fato de nem Solo nem o gigantesco wookie aparentemente estarem armados.

— Não sou homem de fugir — disse Solo.

— Fugir? Fugir de quê? — retorquiu Jabba. A ausência de armas começava a deixá-lo nervoso. Alguma coisa não estava certa, e era melhor não tomar nenhuma atitude precipitada antes de descobrir o que era.


— Han, meu rapaz, às vezes você me decepciona. Só queria saber por que ainda não me pagou... o prazo já se esgotou há muito tempo. E por que foi fazer aquilo com o pobre Greedo? Depois de tudo que você e eu passamos juntos.

Solo deu um meio sorriso.

— Deixe disso, Jabba. Não há no seu corpo sentimento suficiente para aquecer uma bactéria órfã. Quanto ao Greedo, você o mandou para me matar.

— Por que o faria, Han? — protestou Jabba, em tom ofendido. — Por quê? Você é o melhor contrabandista que conheço. Não quero perdê-lo. Greedo queria apenas transmitir-lhe minha preocupação pelo atraso do pagamento. Não queria matá-lo.

— Pois bem que tentou. Da próxima vez, não mande um de seus capangas. Se tiver algo para me dizer, venha ver-me pessoalmente.

Jabba sacudiu a cabeça e a papada tremeu — um eco visível de sua tristeza fingida.

— Han, Han... se pelo menos você não tivesse jogado fora aquele carregamento de especiarias! Compreenda... não posso fazer exceções. Onde eu estaria se todos os meus pilotos jogassem fora o carregamento ao primeiro sinal de um cruzador do Império? E então mostrasse os bolsos vazios quando eu exigisse minha parte? Não é bom para os negócios. Posso ser generoso e compreensivo, mas não a ponto de ir à falência.



— Você sabe, até eu, as vezes, fico encurralado, Jabba. Acha que joguei fora as especiarias apenas porque fiquei cansado do cheiro? Queria tanto entregar a mercadoria como você queria recebê-la. Não tive escolha. — Sorriu de novo. — Como você disse, não me quer perder. E agora consegui um trabalho e posso pagar tudo que lhe devo, mais os juros. Só preciso de tempo. Que acha de mil por conta e o resto em três semanas?

O obeso bandido pareceu pensar e depois dirigiu-se aos asseclas.

— Baixem as armas. — Olhou de novo para o coreliano. — Han, meu rapaz, só estou fazendo isso porque você é realmente um bom piloto e posso precisar de novo de seus serviços. Assim, como um gesto de boa vontade... e por uma comissão de, digamos, vinte por cento... vou conceder-lhe um pouco mais de tempo. — Sua voz de repente se tornou ameaçadora. — Mas é a última vez. Se você me decepcionar de novo, se zombar de minha generosidade, vou pagar um preço tão alto por sua cabeça que você não poderá chegar perto de um sistema civilizado durante o resto da vida, porque seu nome e seu rosto serão conhecidos por homens que matariam a própria mãe por um décimo do que prometerei a eles.

— Ainda bem que estamos de acordo — replicou Solo alegremente, enquanto ele e Chewbacca passavam pelos asseclas de Jabba. — Não se preocupe. Vou pagar. Mas não por causa de suas ameaças. Vou pagar porque... porque estou com vontade.





— Começaram a revistar a central do espaçoporto — informou o comandante lutando para acompanhar o passo rápido de Darth Vader. O Lorde Negro estava mergulhado em seus pensamentos, enquanto atravessava um dos corredores principais da base espacial, seguido por vários assistentes.

— Os relatórios estão começando a chegar — prosseguiu o comandante. — Em pouco tempo os andróides estarão em nossas mãos.

— Mande mais homens, se for preciso. Não ligue para os protestos do governador do planeta. Preciso desses andróides de qualquer maneira. Ela só não falou até agora porque ainda tem esperanças de que as informações guardadas na memória dos robôs sejam usadas contra nós...

— Compreendo, Lorde Vader. Até lá, teremos que perder tempo com as tentativas tolas do Governador Tarkin de arrancar-lhe a verdade por outros meios.




— Lá está a plataforma de lançamento noventa e quatro — disse Luke para Kenobi e para os dois robôs, que se haviam reunido a eles. — E lá está Chewbacca. Parece nervoso com alguma coisa.



Realmente, o wookie estava fazendo gestos frenéticos por sobre as cabeças da multidão.
Apressando o passo, nenhum dos quatro notou a criatura baixa e furtiva que os seguia.
A criatura parou na entrada da plataforma e tirou um pequeno transmissor de uma bolsa escondida na roupa. O transmissor, novo e moderno, não combinava com uma figura tão decrépita, que no entanto começou a falar com muito desembaraço.

A plataforma de lançamento noventa e quatro não era diferente de um sem-número de outras plataformas espalhadas por toda a cidade. Consistia quase que unicamente em uma rampa de acesso e um enorme buraco cavado no solo rochoso. O buraco servia como proteção contra os efeitos do campo antigravitacional que era usado para lançar as espaçonaves.

Os princípios do vôo espacial eram extremamente simples, mesmo para uma pessoa como Luke. A antigravidade só funcionava nas proximidades de um forte campo gravitacional  — como o de um planeta. Por outro lado, para voar mais rápido do que a luz, era preciso que a nave estivesse suficientemente afastada de qualquer objeto sólido. Daí a necessidade de usar um sistema de duas etapas.

O buraco da plataforma de lançamento noventa e quatro era tão mal feito e mal conservado como a maioria dos buracos de Mos Eisley. As encostas eram irregulares e haviam desmoronado em alguns lugares. Luke achou que combinava perfeitamente com a espaçonave para a qual Chewbacca os estava levando.

O grotesco elipsóide, que só com muito boa vontade poderia ser chamado de espaçonave, parecia ter sido construído a partir de velhos fragmentos de cascos e peças descartadas como imprestáveis por outras naves. Era um milagre, pensou Luke, que uma coisa daquelas ainda se mantivesse de pé. Só de imaginar-se como passageiro a bordo daquele arremedo de veículo, teria sofrido um ataque histérico, não fosse a situação tão séria. Mas pensar em viajar até Alderaan naquele...

— Que monstrengo! — murmurou finalmente, não podendo esconder por mais tempo o que pensava. Estavam subindo a rampa, em direção à escotilha aberta. — Duvido que esta coisa possa viajar no hiperespaço.

Kenobi não fez nenhum comentário. Limitou-se a apontar para a escotilha, de onde saía alguém para encontrá-los.

Ou Solo tinha uma audição hipersensível, ou estava acostumado à reação dos passageiros ao verem pela primeira vez o Millennium Falcon.



— Pode não parecer grande coisa — confessou, à guisa de saudação — mas está em ponto de bala. Eu mesmo fiz algumas modificações. Além de ser piloto, entendo um pouco de mecânica. É mais rápido do que qualquer cargueiro.

Luke cocou a cabeça, tentando reavaliar a nave à luz das informações do proprietário.
Ou o coreliano era o maior mentiroso deste lado da galáxia, ou a primeira impressão havia sido totalmente errônea. Luke pensou mais uma vez no conselho do Velho Ben de não julgar nada pelas aparências e decidiu guardar seu julgamento a respeito do piloto e da espaçonave para mais tarde, quando tivesse visto ambos em operação.

Chewbacca havia ficado para trás durante a subida da rampa. Agora aparecia correndo, um furacão peludo, e dizia alguma coisa para Solo, em tom agitado. O piloto ouviu-o com toda a calma, fazendo que sim com a cabeça várias vezes, e deu uma resposta lacônica. O wookie entrou correndo na nave, detendo-se apenas para convidar os outros a segui-lo com um gesto.

— Parece que estamos com um pouquinho de pressa — disse Solo, enigmaticamente. — Vamos entrar, vamos entrar!

Luke abriu a boca para fazer uma pergunta, mas Kenobi já o estava empurrando para a frente. Os andróides os seguiram.
Ao entrar, Luke levou um pequeno susto ao ver Chewbacca lutar para enfiar-se em um assento de piloto que, embora adaptado, ainda era pequeno demais para seu corpo. O wookie ligou várias chaves com dedos aparentemente grossos demais para a tarefa. As grandes patas dançavam nos controles com surpreendente leveza.

A nave começou a vibrar quando os motores foram ligados. Luke e Ben se afivelaram nos assentos vazios do corredor principal.

Na base da rampa, uma tromba comprida emergiu de uma roupa escura. Dos dois lados da tromba, dois pequenos olhos brilhantes se fixavam no velho cargueiro. Os olhos se voltaram, juntamente com o resto da cabeça, quando um pelotão de oito soldados do Império se aproximou. Os soldados se dirigiram diretamente para a enigmática criatura, que disse alguma coisa para o comandante do pelotão e apontou para a espaçonave.



A informação deve ter sido importante. Sacando as armas, os soldados correram para a rampa.
Um brilho metálico captou a atenção de Solo quando os primeiros soldados começaram a subir a rampa. Solo achou pouco provável que estivessem ali apenas para uma conversa amistosa. Suas suspeitas foram confirmadas, porque antes que tivesse tempo de abrir a boca para protestar contra a invasão, os soldados abriram fogo. Solo pulou de volta para dentro da nave, gritando ao mesmo tempo para o imediato:

— Chewie... ligue o campo de força, depressa! Vamos dar o fora!

O wookie respondeu com um grunhido.

Sacando sua arma, Solo conseguiu disparar alguns tiros da segurança relativa da escotilha. Vendo que a presa não estava indefesa, os soldados recuaram, procurando abrigo. A vibração se transformou em um gemido e depois em um estrondo ensurdecedor. Solo apertou um botão. Imediatamente, a escotilha se fechou.

Quando os soldados chegaram à base da rampa, o chão estava tremendo ligeiramente



Eles esbarraram em um segundo pelotão, que acabava de chegar em resposta a uma chamada de emergência. Um dos soldados, gesticulando nervosamente, tentava explicar ao oficial recém-chegado o que havia acontecido.
Assim que o ofegante soldado terminou o relato, o oficial tirou do bolso um comunicador portátil e gritou: — Torre de controle... eles estão tentando escapar! É prenso detê-los, custe o que custar!

Alarmas começaram a soar em toda Mos Eisley, espalhando-se em círculos concêntricos a partir da plataforma noventa e quatro.
O pequeno cargueiro deixou o solo. Em poucos segundos, não passava de um pontinho brilhante no céu azul.




Luke e Ben já estavam desamarrando os cintos de segurança quando Solo passou por eles, encaminhando-se para a sala de controle com o andar fácil e descontraído de alguém que passou a vida no espaço. 

 

Chegando lá, deixou-se cair no assento do piloto e começou imediatamente a verificar os indicadores. No assento ao lado, Chewbacca rosnava e grunhia como um motor mal ajustado. Voltando-se para Solo, apontou para a tela. Solo olhou para a tela e disse, em tom irritado:



— Eu sei, eu sei... são dois, talvez três destróires. Alguém está atrás de nossos passageiros. Desta vez, Chewie, pegamos uma carga realmente perigosa. Tente mantê-los a distância, enquanto acabo de programar o salto no hiperespaço. Regule os defletores para o máximo de proteção.

Dito isso, Solo concentrou inteiramente sua atenção nos terminais de entrada do computador. Quando um pequeno robô cilíndrico apareceu na porta, foi como se não existisse.
R2-D2 soltou alguns bips interrogativos e foi embora.
Os sensores de ré mostravam que Tatooine estava ficando rapidamente para trás. Mas os três pontos na tela que indicavam a presença dos destróires do Império estavam ficando cada vez maiores.
Embora Solo tivesse ignorado R2-D2, a entrada dos dois passageiros humanos o fez levantar os olhos do painel.



— Mais dois destróires se juntaram à caçada — disse para eles, colocando o dedo sobre a tela. — Vão tentar cercar-nos antes que tenhamos tempo de entrar no hiperespaço. Cinco espaçonaves... o que foi que vocês fizeram para merecer tanto?

— Não pode andar mais depressa? — perguntou Luke sarcasticamente, ignorando a pergunta do outro. — Pensei que tivesse dito que esta coisa era veloz.

— Cuidado com o que diz, garoto, ou não me responsabilizo pelas consequências. Em primeiro lugar, eles são cinco, e estão vindo de todas as direções... Mas estaremos a salvo assim que entrarmos no hiperespaço. — Deu um sorriso superior. — É difícil seguir uma nave que se está movendo mais depressa do que a luz. Além disso, conheço alguns pequenos truques para confundi-los. Gostaria de ter sabido que vocês dois eram tão populares.

— Por quê? — disse Luke, em tom de desafio. — Se recusaria a levar-nos?

— Não necessariamente — respondeu o coreliano. — Mas garanto que o preço teria sido muito maior.



Luke abriu a boca para responder quando um intenso clarão vermelho substituiu a escuridão dó espaço. O rapaz protegeu os olhos com as mãos, no que foi imitado por Kenobi,
Solo e até mesmo Chewbacca, já que a explosão havia sido próxima demais para que a blindagem fototrópica funcionasse com eficiência.

— A coisa está ficando interessante — murmurou Solo.

— Quanto tempo para entrarmos no hiperespaço? — perguntou Kenobi, imperturbável.

— Ainda estamos no campo gravitacional de Tatooine — explicou o piloto. — O computador de navegação vai levar ainda alguns minutos para iniciar o salto. Poderia assumir o controle manual, mas provavelmente nosso motor seria destruído na tentativa, e ficaríamos à deriva no espaço.

— Alguns minutos — repetiu Luke, olhando para a tela. — Do jeito que eles estão ganhando terreno...

— Viajar no hiperespaço não é como colher legumes, garoto. Já tentou calcular um salto no hiperespaço? — Luke teve que fazer que não com a cabeça. — Não é brincadeira. Um pequeno erro, e a gente dá de cara com uma estrela ou outro simpático fenômeno espacial, como um buraco negro. E a viagem termina para sempre.

As explosões se sucediam, apesar de Chewbacca estar seguindo um rumo em ziguezague. No painel de Solo, uma lâmpada vermelha começou a piscar.

— O que é isso? — perguntou Luke, assustado.

— Perdemos um dos defletores — anunciou Solo, com o ar de quem acaba de extrair um dente. — É melhor voltarem para seus lugares. Estamos quase prontos para o salto.

No corredor, C-3PO já estava firmemente preso ao assento por braços de metal mais fortes do que qualquer cinto de segurança. A concussão produzida por uma nova explosão quase fez R2-D2 perder o equilíbrio.

— Será que precisávamos mesmo fazer esta viagem? — lamentou-se C-3PO. — Tinha me esquecido de como detesto as viagens espaciais. — Interrompeu-se quando Luke e Ben apareceram e começaram a apertar os cintos.

Estranhamente, Luke estava pensando em seu cachorro de estimação, quando uma força imensamente poderosa distorceu o espaço em torno do cargueiro em fuga.




O Almirante Motti entrou na sala de conferências. Seu olhar se deteve no Governador Tarkin, que estava de pé, diante de uma gigantesca tela. O Almirante fez uma leve mesura e anunciou formalmente, embora o pequeno planeta verde estivesse bem visível na tela:



— Acabamos de entrar no sistema de Alderaan. Aguardamos suas ordens.

Uma campainha soou e Tarkin fez um gesto para o oficial.

— Espere um momento, Motti.

A porta se abriu e Leia Organa entrou, conduzida por dois guardas e seguida por Darth Vader.

— Eu sou... — começou Tarkin.

— Sei quem você é — interrompeu a moça. — O Governador Tarkin. Já esperava que estivesse por trás desta afronta. Aliás, quando entrei nesta nave, julguei reconhecer o seu fedor inconfundível.

— Sempre encantadora — disse Tarkin. — Não sabe com que pesar assinei a ordem de sua execução. — Assumiu um ar compungido. — Naturalmente, se tivesse colaborado com nossa investigação, a situação seria bem outra. Lorde Vader me disse que você resistiu aos nossos métodos tradicionais de interrogatório...

— De tortura, você quer dizer — corrigiu Organa, com a voz um pouco trêmula.

— Mera questão de semântica — protestou Tarkin, sorrindo.

— Não sei como teve coragem de assinar pessoalmente a ordem.
 

Tarkin suspirou.

— Sou um homem que vive para o trabalho. Não me concedo muitos prazeres. Um deles é o de que antes da execução, você seja minha convidada de honra em uma pequena cerimônia. Será ao mesmo tempo a inauguração desta base espacial e o início de uma nova era de supremacia técnica do Império. Esta base é o último elo de uma nova cadeia que unirá para sempre os milhões de planetas do Império. A revolução morrerá de morte natural. Depois da demonstração de hoje, ninguém ousará desafiar o Império, nem mesmo o Senado!

Organa olhou para ele com desprezo.

— Não conseguirá unir o Império pela força. A força não serve para unir, apenas para dividir. Quanto mais apertar, mais sistemas escorregarão por entre seus dedos. Você é um tolo, Tarkin. Um tolo com ilusões de grandeza.

O sorriso de Tarkin era frio com gelo.



— Lorde Vader escolheu uma forma bem interessante para você terminar seus dias. Aliás, você merece isso. — Mas antes que nos deixe, queremos demonstrar o poderio desta base de forma a não deixar margem a dúvidas. De certa forma, foi você mesma quem nos sugeriu o local do teste. Já que se recusa a nos fornecer a localização do esconderijo dos rebeldes, achei que seria apropriado usar o seu planeta natal, Alderaan.

— Não. Não tem o direito! Alderaan é um mundo pacífico, não tem exércitos! Você não pode...

Os olhos de Tarkin brilharam.

— Prefere outro alvo? Um alvo militar, talvez? Está bem... escolha o sistema. — Encolheu os ombros. — Estou ficando cansado desta farsa. Pela última vez, onde fica a principal base dos rebeldes?

Uma voz anunciou pelo alto-falante que estavam suficientemente próximos de Alderaan para usarem o sistema de frenagem antigravitacional. Isto foi o suficiente para conseguir o que todas as máquinas infernais de Vader não haviam conseguido.

— Dantooine — sussurrou a moça, baixando os olhos. — Eles estão em Dantooine.

Tarkin soltou um longo suspiro de satisfação e voltou-se para o gigante negro.

— Está vendo, Lorde Vader? A mocinha pode ser razoável. É só formular a pergunta de forma correta. — Dirigiu-se aos outros oficiais: — Depois que terminarmos nosso pequeno teste, iremos imediatamente para Dantooine. Cavalheiros, podem prosseguir com a operação.

Organa levou alguns segundos para compreender o significado das palavras de Tarkin, ditas em tom tão casual.

— O quê? — exclamou, finalmente.

— Dantooine — explicou Tarkin, calmamente — fica longe demais do centro do Império para servir como uma demonstração efetiva de nosso poderio. Você há de compreender que os efeitos psicológicos da destruição de Alderaan sobre a população em geral serão bem mais pronunciados. Mas não se preocupe; cuidaremos de seus amigos rebeldes o mais cedo possível.

— Mas você disse... — começou a protestar Organa.



— Não importa o que eu disse — interrompeu Tarkin. — Vamos destruir Alderaan conforme o planejado. Então você assistirá à aniquilação de Dantooine e desta estúpida revolução. — Fez um gesto para os soldados que vigiavam a moça. — Levem-na para a plataforma de observação. Quero que assista à nossa demonstração da primeira fila.



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