sexta-feira, 18 de julho de 2014

Guerra nas estrelas: Uma Nova Esperança – George Lucas e Alan Dean Foster (Parte 11)


Luke entrou cambaleando no cargueiro, sem ouvir o ruído dos projéteis que se chocavam a todo instante com os defletores da nave, explodindo sem causar danos. Não estava preocupado com a própria segurança. Com os olhos marejados de lágrimas, passou por Chewbacca e Solo, que ajustavam os controle.


— Espero que o velho tenha conseguido desligar o raio de tração — estava dizendo o coreliano.

Ignorando-o, Luke foi para o compartimento de carga e deixou-se cair em um banco, colocando a cabeça entre as mãos.
Leia Organa observou-o silenciosamente por um momento, enquanto tirava o casaco. Aproximando-se, abraçou-o com carinho.



— Não havia nada que você pudesse ter feito — murmurou, tentando consolá-lo. — Foi tudo tão rápido!

— Não posso acreditar que ele esteja morto — replicou Luke, com voz trêmula. — Simplesmente não posso!

Solo puxou uma alavanca e olhou apreensivo para a porta do hangar. Mas a porta havia sido construída para se abrir automaticamente quando uma nave se aproximasse. Em poucos segundos, estavam no espaço, fora da estação.

— Nada — suspirou Solo, aliviado, depois de consultar vários indicadores. — Nada nos está puxando para trás. O velho fez o serviço, não há dúvida.

Chewbacca rosnou alguma coisa e o piloto olhou para outra série de indicadores.

— Tem razão, Chewie. Quase me esquecia de que existem outras maneiras de nos fazer voltar. — Mostrou os dentes, era um sorriso de determinação. — Mas só entrarei de novo naquela tumba ambulante depois de morto. Assuma os controles.
Saiu correndo da sala de controle.

— Venha comigo, garoto! — gritou para Luke, quando entrou no compartimento de carga. — Ainda não ganhamos a parada!

Luke não respondeu, não se mexeu, e Leia olhou zangada para Solo.

— Deixe-o em paz! Não compreende o que o velho significava para ele?

Uma explosão sacudiu a nave, quase fazendo Solo perder a equilíbrio.

— E daí? O Velho se sacrificou para nos dar uma oportunidade de escapar. Quer desperdiçar isso, Luke? Quer que o sacrifício de Kenobi tenha sido em vão?

Luke levantou a cabeça e olhou para o coreliano com olhos vazios. Não, vazios não... no fundo daqueles olhos havia alguma coisa triste e indelével. Sem dizer palavra, o rapaz se levantou e colocou-se ao lado de Solo.

O piloto sorriu para ele e apontou para um corredor estreito. Luke fez que sim com a cabeça e entrou no corredor, enquanto Solo se encaminhava para outra passagem.
Luke foi parar em uma grande cúpula rotativa que se projetava de um lado da nave. Do centro do hemisférico transparente, saía um tubo comprido. Era fácil adivinhar para que servia.
Luke sentou-se e começou a examinar rapidamente os controles. Ativador aqui, botão de disparo ali... O rapaz estava muito acostumado a lutar com este tipo de armas... em sonhos.
Na sala de comando, Chewbacca e Leia estavam atentos às telas de radar, aguardando a aproximação dos caças inimigos. De repente, Chewbacca soltou um grunhido e mexeu em vários controle, enquanto Leia exclamava:

— Aí vêm eles!



As estrelas giraram em torno de Luke no momento em que um caça Tie do Império passou como um relâmpago por cima do cargueiro, desaparecendo ao longe. O piloto do caça não havia antecipado a manobra de Chewbacca. Ajustando os controles, descreveu uma curva suave e apontou de novo o nariz do avião para a nave fugitiva.

Solo atirou em outro caça, cujo piloto quase ultrapassou o limite de resistência da nave na tentativa desesperada de evitar os disparos. A manobra o colocou do outro lado do cargueiro.
 

Foi a vez de Luke abrir fogo.
Chewbacca estava dividindo a atenção entre os instrumentos e as telas de radar, enquanto Leia lutava para distinguir as estrelas distantes dos assassinos próximos. Dois caças mergulharam ao mesmo tempo sobre o cargueiro, tentando obter um bom ângulo de tiro. Solo disparou contra eles, e segundos mais tarde Luke o imitou. Ambos erraram. Os caças atiraram na nave em fuga e se afastaram rapidamente.

— Estão vindo depressa demais! — gritou Luke pelo comunicador.
 

Um novo disparo atingiu a proa do cargueiro, sobrecarregando os defletores. A nave estremeceu violentamente. Os indicadores mostraram que o consumo de energia estava chegando ao limite máximo.

Chewbacca murmurou alguma coisa para Leia, que respondeu baixinho como se tivesse compreendido as palavras do antropóide.
Outro caça abriu fogo contra o cargueiro, só que desta vez o raio conseguiu penetrar na blindagem sobrecarregada e atingir o casco da nave. Embora defletido parcialmente, ainda lhe restava energia suficiente para destruir um grande painel de controle no corredor principal, provocando uma chuva de fagulhas. R2-D2 encaminhou-se para o local do incêndio, enquanto o balanço da nave atirava C-3PO em um armário cheio de peças de reposição.


Uma lâmpada de advertência começou a piscar na sala de controle. Chewbacca resmungou para Leia, que olhou para ele preocupada e frustrada por não compreender o que o wookie estava dizendo.
Então, um caça emparelhou com o cargueiro danificado, bem na mira de Luke.
  


O rapaz apertou o botão de disparo. O piloto conseguiu esquivar-se no último momento, mas quando acabou de passar por baixo da Millennium, Solo já estava com o dedo no gatilho. De repente, o caça explodiu em um clarão multicolorido, reduzido a mil pedaços.


Solo virou a cabeça e acenou para Luke, que respondeu da mesma forma. Mas quase não tiveram tempo para comemorar, pois outro caça se aproximava, tentando atingir a antena parabólica do transmissor.

No meio do corredor principal, um pequeno cilindro metálico estava cercado pelas chamas. Da cabeça de R2-D2 saía um fino jato de pó branco. O pó estava fazendo as chamas recuaram.
Luke tentou relaxar, tornar-se parte da arma. Quase instintivamente, atirou em um caça que se afastava. Quando deu por si, os fragmentos em chamas da nave inimiga formavam uma bola de fogo no céu. Foi sua vez de virar a cabeça e sorrir para o coreliano.

 
Na sala de controle, Leia estava ajudando a verificar os indicadores, além de procurar visualmente novos atacantes.
 

A moça falou pelo alto-falante: — Acho que só restam dois. Mas parece que perdemos os monitores laterais e o defletor de boreste.

— Não se preocupe — disse Solo, procurando acreditar nas próprias palavras — a Millennium vai aguentar. — Olhou para as paredes, com ar de súplica. — Está-me ouvindo, Millennium? Aguente firme! Chewie, tente mantê-los a bombordo. Se nós...

Foi obrigado a interromper-se quando um caça Tie parecea surgir do nada e investiu contra o cargueiro, cuspindo fogo. O outro caça atacou do lado oposto e Luke se surpreendeu atirando sem parar, ignorando as violentas explosões que faziam estremecer a nave. No último momento, quando o caça já estava quase fora de alcance, o rapaz ajustou mais uma vez a mira e apertou convulsivamente o botão de disparo. O caça do Império se transformou em uma nuvem de poeira fosforescente.
 
 
O piloto do último caça pareceu hesitar por um momento, como se avaliasse a situação, depois fez uma curva e afastou-se a toda velocidade.

— Conseguimos! — gritou Leia, abraçando Chewbacca. O wookie deu um grunhido, mas foi um grunhido afetuoso.






Darth Vader entrou na sala de controle, encontrando o Governador Tarkin parado diante do mapa estrelar. Mas não era a visão deslumbrante de milhares e milhares de estrelas que ocupava no momento a atenção do Governador. Deu a impressão de que sequer havia percebido a chegada do outro.

— Onde estão eles? — perguntou o Lorde Negro.

— Acabam de entrar no hiperespaço. No momento, devem estar comemorando a brilhante fuga. — Tarkin voltou-se finalmente para Vader, com uma expressão preocupada nos olhos. — Estou correndo um sério risco, por sua insistência, Vader. Tem certeza de que o transmissor está bem escondido a bordo do cargueiro?


Vader transpirava confiança por trás da máscara negra e luzidia.

— Não se preocupe, tudo vai dar certo. Já conseguimos acabar com o último Cavaleiro de Jedi. Em breve, assistiremos ao fim da Aliança e da revolução.




Solo trocou de lugar com Chewbacca, que estava precisando de um descanso. Quando o coreliano estava indo para a popa verificar a extensão dos danos, encontrou Leia no corredor.

— Então, garota? — perguntou Solo, irradiando contentamento. — Nada mau, hem! Às vezes fico espantado comigo mesmo.

— O que não deve ser muito difícil — admitiu a jovem prontamente. — O importante não é a minha segurança, mas o fato de que as informações do andróide R-2 continuam intactas.

— Afinal, o que há de tão importante nessas informações?

Leia olhou para o céu estrelado.

— Na memória do robô está a planta completa da estação espacial. Esperamos que estes dados permitam descobrir algum ponto fraco nas defesas da base. Não ficarei sossegada enquanto a estação não for destruída. Esta guerra ainda não terminou, você sabe.

 
— Pois para mim, terminou — objetou o piloto. — Estou interessado em economia, e não em política. Pode-se ganhar dinheiro, qualquer que seja o governo. E não fiz o que fiz por seus belos olhos, Princesa. Espero ser bem pago por arriscar minha nave e minha pele.

—Não se preocupe com a recompensa — disse a moça, desapontada. — Se é dinheiro que quer... dinheiro terá.

Afastando-se de Solo, a moça encaminhou-se para o compartimento de carga. No caminho, cruzou com Luke. Ao passar pelo rapaz, comentou:

— Seu amigo é mesmo um mercenário, Não se importa com coisa alguma... e com ninguém.

Luke ficou olhando para a moça até ela desaparecer no compartimento de carga. Então, murmurou baixinho:

— Pois eu me importo, Leia... eu me importo.

Então foi para a sala de controle e sentou-se no lugar de Chewbacca.

— O que pensa dela, Han? Solo nem pestanejou.

— Procuro não pensar.

Luke provavelmente não pretendia que o comentário fosse audível, mas Solo ouviu distintamente quando o rapaz murmurou:

— Ótimo.



— Mas a verdade — continuou Solo, pensativo — é que a menina é um bocado valente, além de ser uma gracinha. Não sei, acha que é possível que uma Princesa e um sujeito como eu...

— Não — interrompeu Luke, secamente. E não disse mais nada.

Solo achou graça no ciúme do outro, mas ficou sem saber se havia dito aquilo apenas para mexer com o amigo, ou se havia algum fundo de verdade.




Yavin não era um planeta habitável. A atmosfera do gigante gasoso era assolada por tempestades ciclópicas, com ventos de seiscentos quilômetros por hora. O núcleo relativamente pequeno era composto de gases congelados. Um mundo belo e majestoso, mas estéril.
Por outro lado, várias das muitas luas do gigantesco planeta eram de dimensões planetárias, e dessas luas, três reuniam as condições necessárias para sustentar a vida.

 
Particularmente favorável era o ambiente do satélite designado pelos descobridores do sistema como número quatro. Brilhava como uma esmeralda no colar de luas de Yavin, era rico em vida vegetal e animal. Mas seu nome não constava da lista dos mundos colonizados pelo homem. Yavin ficava muito longe das zonas habitadas da galáxia.


 
Talvez a última razão, ou ambas, ou uma combinação de causas ainda desconhecidas, fosse responsável pelo aparecimento de uma raça inteligente, raça esta que havia desaparecido muito antes que o primeiro explorador humano pisasse no planeta. Pouco se sabia a respeito desta antiga civilização, que nada havia deixado a não ser alguns monumentos.
Agora tudo que restava eram aqueles estranhos edifícios cobertos pela vegetação. Mas embora os construtores pertencessem ao passado, sua obra e seu mundo continuavam a ser úteis.

Estranhos gritos e lamentos quase imperceptíveis habitavam cada árvore e cada moita; uivos, guinchos e grunhidos de criaturas que passavam a vida escondidas na densa vegetação.
Quando o sol raiava na quarta lua, anunciando mais um longo dia, o coro se tornava ainda mais frenético, ressoando na névoa espessa.
Ainda mais estranhos eram os sons que provinham de um certo ponto. Ali estava o mais majestoso dos edifícios que a raça desaparecida havia levantado em direção aos céus. Era um templo, uma pirâmide tão colossal que parecia impossível que tivesse sido construída sem o auxílio da antigravidade. Mas tudo indicava que os nativos haviam empregado apenas a força manual, máquinas simples... e talvez artefatos de outros mundos.

Embora a ciência dos habitantes desta lua não os tivesse levado às viagens espaciais, havia produzido várias descobertas que sob certos aspectos superavam tudo que o Império fora capaz de realizar — entre elas, o método, ainda inexplicado, usado para cortar e transportar gigantescos blocos de pedra.

O templo havia sido construído com esses blocos monumentais. A selva havia chegado até o topo, cobrindo a pirâmide com um manto verde e castanho. Apenas perto da base, na frente do templo, a selva se abria para revelar uma passagem escura, aberta pelos construtores e alargada pelos ocupantes atuais.


Uma pequena máquina apareceu na floresta, o brilho metálico contrastando com o verde da folhagem. Zumbia como um besouro enquanto transportava os passageiros em direção à entrada do templo. Depois de atravessar a clareira, foi engolida pelas sombras, deixando a selva mais uma vez nas patas e garras dos predadores invisíveis.

Os construtores nunca teriam reconhecido o interior do templo. Em lugar da pedra, agora havia chapas metálicas; as divisões de madeira haviam sido substituídas por painéis de plástico. Os andares subterrâneos também eram recentes: hangares c mais hangares, ligados por possantes elevadores.


Depois de transpor a entrada do templo, o carro diminuiu a marcha e parou.
Um grupo de homens que conversava animadamente ali perto se desfez imediatamente e todos saíram
correndo em direção ao veículo.

Felizmente, Leia Organa saltou rapidamente do carro, caso contrário teria sido arrancada à força pelo primeiro a chegar, tão grande era sua satisfação ao vê-la. O homem contentou-se em abraçá-la efusivamente, enquanto os companheiros a saudavam.


— Está viva! Pensamos que havia morrido. — De repente, ele caiu em si, recuou e fez uma reverência. — Quando soubemos o que aconteceu com Alderaan, pensamos que havia perecido com o resto da população, Princesa.

— Tudo isso são águas passadas, Comandante Willard — disse Leia. — O futuro é que importa. Alderaan não existe mais — A voz assumiu um tom gélido, assustador em uma pessoa de aparência tão delicada. — Cabe a nós assegurar que a tragédia não se repita. Não temos tempo para lamentações, Comandante. A estação espacial nos seguiu até aqui.

Solo abriu a boca para protestar, mas Leia o fez calar-se com um gesto.

— É a única explicação para nossa fuga — continuou ela. — Mandaram apenas quatro caças Tie atrás de nós, quando poderiam ter mandado cem.

Solo ficou calado, pensativo. Leia apontou para R2-D2.

— Comandante, precisa elaborar um plano de ataque com base nas informações contidas na memória deste andróide. É nossa última esperança. A estação é uma ameaça mortal. — Baixou a voz. — Se a análise dos dados não revelar nenhum ponto fraco, a revolução estará condenada.

Luke então teve ocasião de assistir a um acontecimento raro. Vários técnicos se reuniram em torno de R2-D2 e levantaram-no cuidadosamente do chão. Foi a primeira vez, provavelmente a última, que o rapaz viu um robô ser carregado respeitosamente por um grupo de homens.

Teoricamente, nenhuma arma seria capaz de penetrar na rocha excepcionalmente dura de que era feito o antigo templo. Entretanto, Luke havia visto o que restara de Alderaan e sabia que para aquela incrível estação espacial, a lua inteira constituiria apenas mais um interessante problema de conversão de massa em energia.

O pequeno R2-D2 repousava confortavelmente em um lugar de honra, o corpo ligado por fios a um computador. A informação gravada em sua memória estava sendo transferida para a máquina maior: diagramas, tabelas, especificações.

Os dados eram inicialmente analisados e classificados pelos sofisticados programas do computador. Em seguida, as informações mais importantes eram fornecidas aos humanos para uma análise mais profunda.
C-3PO permaneceu o tempo todo ao lado de R2-D2, tentando imaginar como fora possível armazenar tantos dados complexos na mente de um robô tão simples.
A sala principal de reuniões estava localizada no centro do complexo, muito abaixo do antigo templo. Em uma das extremidade do espaçoso auditório, havia uma mesa sobre um estrado e uma grande tela eletrônica. Os assentos da platéia estavam tomados por pilotos, navegadores e alguns andróides R-2. Impacientes, e sentindo-se bastante deslocados, Han Solo e Chewbacca ficaram de pé, o mais longe possível do palco. Solo correu os olhos pela multidão à procura de Luke. O rapaz não dera ouvidos às ponderações do amigo e se apresentara como piloto voluntário, sendo imediatamente aceito. O coreliano não conseguiu localizar Luke, mas reconheceu a Princesa, que conversava com um velho cheio de medalhas.

Quando um homem alto e sério, com muitas mortes nas costas, se levantou na extremidade da mesa, todas as atenções, inclusive a de Solo, se voltaram para ele. Assim que a platéia fez silêncio, o General Jan Dodonna ajeitou o minúsculo microfone que trazia pendurado no pescoço e apontou para o pequeno grupo sentado à mesa.

— Todos conhecem estas pessoas — afirmou. — São os senadores e generais dos mundos que nos apóiam, de forma ostensiva ou disfarçada. Quiseram estar conosco neste momento, que talvez seja o mais importante de toda a nossa luta.

— A estação espacial do Império de que todos já ouviram falar está-se aproximando deste sistema. É preciso detê-la, é preciso destruí-la, antes que faça com esta lua o que fez com Alderaan.

A menção do planeta, aniquilado de forma tão brutal, despertou murmúrios na platéia.
Dodonna prosseguiu: — A estação é muito bem defendida e dispõe de um poder de fogo maior do que metade da frota do Império. Mas as defesas foram planejadas para rechaçar ataques maciços, de grande escala. Um pequeno caça de um ou dois lugares talvez consiga furar o bloqueio.

Um homem ágil e esguio, que parecia uma versão mais velha de Han Solo, levantou-se e fez sinal de que queria falar.

— O que é, Líder Vermelho? — perguntou Dodonna.

O homem apontou para a tela, que mostrava a imagem da estação espacial.

— Desculpe a pergunta, General, mas que é que os nossos pobres caças podem fazer contra essa monstruosidade?


Dodonna pensou um pouco e depois explicou: — É evidente que o Império não teme que um caça se aproxime da estação, caso contrário as defesas seriam mais complexas. Aparentemente, estão convencidos da que a blindagem da estação é invulnerável a qualquer ataque com armas de pequeno porte. Entretanto, uma análise das plantas fornecidas pela Princesa Leia mostrou que existe um ponto fraco na blindagem. Um cruzador não conseguiria aproximar-se o suficiente para tirar partido desta deficiência, mas um caça X ou Y talvez possa fazê-lo.

— Trata-se de uma pequena abertura na carcaça externa. Entretanto, comunica-se diretamente com o núcleo do reator principal. Como é usada para descarregar o combustível em caso de emergência, não pode dispor de uma blindagem contra partículas. Um impacto direto no núcleo do reator daria origem a uma reação em cadeia capaz de destruir totalmente a estação.

Um murmúrio de incredulidade percorreu a platéia. Os pilotos mais experientes eram também os mais céticos.

— Não disse que vai ser fácil — advertiu Dodonna. Apontou para a tela. — Será preciso passar entre esses dois edifícios e voar junto à superfície até... este ponto. O alvo tem apenas dois metros de diâmetro. E para que o projétil atinja o reator, o caça terá que estar exatamente sobre a abertura no momento do disparo.

— Como já disse, o poço não dispõe de blindagem contra partículas. Entretanto, a proteção contra radiação é total. Isso quer dizer que vamos ter que usar torpedos de prótons.

Alguns pilotos riram nervosamente. Um deles foi um calouro sentado ao lado de Luke, que se chamava Wedge Antilles. R2-D2 também estava presente, ao lado de outro robô R2-D2, que soltou um longo assovio de descrença.

— Um alvo de dois metros, a toda velocidade... e ainda mais com um torpedo! — exclamou Antilles. — É impossível, mesmo para um computador!

— Pois eu não acho — protestou Luke. — No meu planeta natal, costumava caçar ursos do deserto com um velho T-16. E eles não tinham muito mais do que dois metros de comprimento.

— É mesmo? — replicou o outro, ironicamente. — Então me diga, quando você mergulhava atrás de um deles, será que havia milhares de outros, como é mesmo o nome, "ursos do deserto", com rifles na mão, tentando derrubá-lo? — Sacudiu a cabeça, tristemente. — Não, com a estação inteira atirando em nós, vai ser preciso muito mais do que uma boa pontaria, acredite.


Como que para confirmar o pessimismo de Antilles, Dodonna mostrou na tela uma série de pontos luminosos.

— Observem a localização destas baterias. O fogo da estação está concentrado em anéis paralelos ao equador, mas também existem baterias ao longo de alguns meridianos. Além disso, os geradores de campo da estação devem dar origem a uma séria distorção, especialmente no espaço entre os  edifícios. Calculo que a manobrabilidade perto da superfície não deve chegar a zero vírgula três.

A platéia respondeu à última observação com novos murmúrios e alguns suspiros.
 

— Lembrem-se — prosseguiu o General — de que o impacto deve ser direto. A esquadrilha Amarela cobrirá a Vermelha no primeiro ataque. A Verde cobrirá a Azul no segundo. Alguma pergunta?

Um rapaz alto e elegante se levantou. Não parecia ser o tipo capaz de sacrificar a vida por um ideal tão abstrato como a liberdade.

— E se os dois ataques falharem? O que acontecerá em seguida?

Dodonna sorriu para ele.

— Não haverá nenhum "em seguida". — O homem assentiu lentamente, compreendendo o que o outro queria dizer, e sentou-se. — Alguém mais?

O silêncio tomou conta do recinto, um silêncio tenso, cheio de apreensão.


— Então vão para suas naves, e que a força os acompanhe. Imediatamente, homens, mulheres e máquinas se levantaram e se encaminharam para as saídas.

Os elevadores trabalhavam sem parar, carregando as pequenas espaçonaves dos hangares subterrâneos para o hangar principal na superfície, quando Luke, C-3PO e R2-D2 se aproximaram da entrada do hangar.

Nem as equipes de vôo, nem os pilotos, nem mesmo os sofisticados equipamentos de teste atraíram a atenção de Luke. No momento, só estava interessado na atividade de duas figuras muito mais familiares. Solo e Chewbacca estavam carregando uma pilha de pequenas caixas a bordo de um aerociclo, ignorando totalmente os preparativos para o combate.

 
Solo levantou os olhos por um instante, depois continuou o que estava fazendo. Luke limitou-se a observá-lo, sentindo-se um joguete de emoções conflitantes. Solo era arrogante, irresponsável, intolerante e pretensioso. Também era valente, sincero e um otimista incurável.
A combinação o tornava um amigo desconcertante, mas que nem por isso deixava de ser um amigo.

— Afinal conseguiu a recompensa — observou, finalmente, Luke, apontando para as caixas.
Solo fez que sim com a cabeça.

— E vai embora, não é?

— Isso mesmo, garoto. Tenho algumas dívidas antigas para pagar, e mesmo que não tivesse, não acho que seria bobo de ficar por aqui mais tempo. — Olhou para Luke com admiração. — Gosto do seu jeito, garoto. Por que não vem conosco? Estou precisando de outro assistente.

O brilho mercenário nos olhos de Solo só serviu para deixar Luke furioso.

  

— Por que não olha em torno e tenta ver alguma coisa além de você mesmo? Sabe o que está acontecendo aqui. Sabe contra quem eles estão lutando. Precisam desesperadamente de bons pilotos. Mas você lhes dá as costas.

Solo não pareceu abalado com o discurso de Luke.

— De que adianta uma recompensa, se a gente não está vivo para usá-la? Atacar aquela estação espacial não é o que chamo de coragem... soa mais como um suicídio.

— Está certo... cuide-se bem, Han — disse Luke em vos baixa, afastando-se. — Mas acho que é o que você sabe fazer melhor, não é mesmo. — E o rapaz encaminhou-se para o fundo do hangar, acompanhado pelos dois robôs.

Solo hesitou por um momento e depois gritou: — Ei! Luke... que a força esteja com você!

Luke virou a cabeça e viu que o coreliano estava piscando para ele.
Um último aceno e desapareceu no meio das máquinas e mecânicos.

  
 
Solo sacudiu a cabeça, levantou uma caixa... e então parou, ao ver que Chewbacca estava olhando fixamente para ele.

— O que está olhando, macacão? Sei o que estou fazendo. Continue a trabalhar!

Devagar, ainda olhando de soslaio para o parceiro, o wookie continuou a levar as pesadas caixas para o veículo.

Luke esqueceu-se completamente de Solo ao ver a graciosa figura que o esperava ao lado do caça — o caça que se havia oferecido para pilotar.

— Tem certeza de que é isto mesmo que quer? — perguntou a Princesa Leia. — Os riscos são imensos!

— Mais do que qualquer coisa no mundo.

— Então, o que há de errado? Luke encolheu os ombros.

— É Han. Tinha esperanças de que mudasse de idéia. Pensei que nos fosse ajudar.

— Cada homem deve seguir seu destino — disse a moça, com ar pensativo. — Ninguém tem o direito de dizer aos outros o que fazer. As prioridades de Han Solo são diferentes das nossas. Gostaria que não fosse assim, mas não o condeno. — Colocando-se nas pontas dos pés, Leia deu-lhe um beijo rápido, quase tímido. — Que a força esteja com você.

— Como gostaria de que Ben estivesse aqui — murmurou Luke, depois que a moça foi embora.

— Luke! — exclamou um o homem ligeiramente mais velho. — Não acredito! Como chegou aqui? Vai participar da missão?

— Biggs! — Luke abraçou carinhosamente o amigo. — Claro que estarei lá com vocês! — O sorriso esmaeceu ligeiramente. — Já não tenho mais escolha. — Então tornou a se animar.

— Escute, tenho tanta coisa para lhe contar...


A conversa animada dos dois, semeada de sonoras gargalhadas, contrastava com o ambiente austero do hangar. Afinal, o barulho chamou a atenção de um velho soldado, que os pilotos mais novos conheciam apenas como Líder Azul.

O Líder Azul tinha o rosto marcado pelo mesmo fogo que brilhava em seus olhos, um fogo alimentado não pelo fanatismo revolucionário, mas por anos e anos de injustiças sofridas e presenciadas. Por trás daquela fisionomia paternal, um demônio furioso lutava para escapar.
Breve, muito breve, poderia deixá-lo agir à vontade.
Agora estava interessado nos dois rapazes, que daí a algumas horas provavelmente estariam reduzidos a partículas de carne congelada girando em órbita em torno de Yavin.
Conhecia um deles.

— Você não é Luke Skywalker? Conseguiu a autorização que queria para pilotar um Incom T-65?

— Claro — interveio Biggs, antes que o amigo pudesse responder. — Luke é o melhor piloto de aerociclo desta parte da galáxia.

O velho guerreiro bateu de leve no ombro de Luke.

— É uma boa maneira de começar. Eu mesmo tenho milhares de horas de vôo em aerociclos da Incom. — Fez uma pausa antes de prosseguir. — Conheci seu pai, Luke. Na época, eu era apenas um garoto. Seu pai foi o melhor piloto que jamais conheci. Não se preocupe; se tiver metade da habilidade de seu pai, já estará muito acima da média.

— Muito obrigado. Vou fazer o que puder.

— Não há muita diferença entre os controles de um T-65 de asas em X e os de um aerociclo — prosseguiu o Líder Azul. — A principal diferença está na carga — concluiu, com um sorriso sádico.

Luke tinha milhares de perguntas para fazer, mas antes que pudesse abrir a boca, o outro já tinha ido embora.

— Tenho que ir também, Luke — disse Biggs. — Na volta a gente continua a conversa, está bem?

— Está certo. Bem que você disse que um dia nos encontraríamos, Biggs.

— É verdade. — Biggs caminhava em direção a um grupo de caças, ajeitando o traje de vôo. — Vai ser como nos velhos tempos, Luke. A dupla do espaço!

Luke riu. Costumavam usar aquela expressão quando pilotava naves estelares feitas de velhos pedaços de madeira pelas ruas poeirentas de Anchorhead... há muitos e muitos anos atrás.
O rapaz tornou a olhar para o T-65, admirando-lhe as linhas sóbrias e elegantes. Apesar do que dissera o Líder Azul, teve que admitir que não se parecia muito com um aerociclo. R2-D2 estava sendo ligado à tomada R-2, atrás da nacele do caça. Uma solitária figura de metal assistia nervosamente à operação, andando de um lado para outro.

— Segure-se bem — estava dizendo C-3PO para o pequeno robô. — Você tem que voltar inteiro. Se não voltar, com quem vou gritar quando estiver de mau humor? — Para C-3PO, a pergunta equivalia a uma declaração de amor.

Enquanto Luke subia a bordo, R2-D2 respondeu ao amigo com um silvo confiante.
Do outro lado do hangar, o Líder Azul já estava instalado na nacele do seu caça e fazia sinais para os mecânicos. Os motores das naves começaram a ser ligados, produzindo um ruído ensurdecedor no ambiente fechado do hangar.

Luke ajeitou-se no assento e começou a examinar os controles e instrumentos, enquanto a tripulação de terra ligava às tomadas da nave os diversos fios que saíam do traje de vôo. O rapaz se sentiu mais confiante ao ver que os instrumentos eram muito parecidos com os do seu velho aerociclo.
Alguém bateu-lhe no ombro. Luke olhou para a esquerda e viu que era o chefe dos mecânicos. O homem teve que gritar para ser ouvido.

— Seu R-2 parece meio gasto. Quer trocar por um novo? Luke olhou para o robô antes de responder. R2-D2 parecia uma peça permanente do caça.

— Não, obrigado. Esse andróide e eu estamos juntos há muito tempo. Está firme aí atrás, R2-D2?

O robô respondeu com um assovio tranquilizador.

Quando o chefe dos mecânicos se afastou, Luke iniciou a verificação final dos instrumentos.
Aos poucos, foi tomando consciência do perigo que iria enfrentar. Não que a decisão já não estivesse tomada. Luke não era mais um indivíduo, agindo apenas para satisfazer suas necessidades pessoais. Sentia-se unido em espírito a todos os homens e mulheres que participavam da missão.


Os pilotos já se estavam despedindo, alguns sérios, outros risonhos, mas todos decididos a não deixar transparecer o que estavam realmente sentindo. Luke imaginou quantos deles não teriam contas pessoais a ajustar com o Império.


Os fones do capacete lhe disseram que era hora de partir.

O rapaz puxou uma alavanca e o caça rolou pelo chão de concreto, cada vez mais depressa, em direção à boca escancarada do templo.

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