quinta-feira, 17 de julho de 2014

Guerra nas estrelas: Uma Nova Esperança – George Lucas e Alan Dean Foster (Parte 10)


Revestido por grossos cabos e eletrodutos que surgiam das profundezas e desapareciam nos céus, o poço parecia ter centenas de quilômetros de profundidade.

O estreito passadiço que se projetava sobre o abismo era como um fio de linha colado à superfície interna de um gigantesco cilindro. Tinha largura suficiente para um único homem.
Este homem que avançava cautelosamente ao longo do perigoso passadiço parecia estar à procura de alguma coisa. Os estalidos de imensos relês reboavam como leviatãs cativos no vasto espaço aberto.
Finalmente chegou ao lugar onde dois grossos cabos se juntavam atrás de um painel.
O painel estava fechado, mas depois de um exame cuidadoso, Ben Kenobi comprimiu a tampa de um jeito especial e ela se abriu, revelando um terminal de computador.
Com a mesma meticulosidade, o velho começou a fazer vários ajustes no terminal.

 
Afinal, sorriu satisfeito, quando algumas luzes indicadoras mudaram de vermelho para azul.

Inesperadamente, uma porta se abriu a alguns passos de Kenobi. O velho fechou apressadamente o painel e se afastou. Um grupo de soldados apareceu na porta e o oficial em comando desceu para o passadiço, parando a apenas alguns metros da figura imóvel.

— Vigiem esta área até que o alerta seja cancelado.

Quando os soldados se adiantaram para cumprir a ordem, Kenobi já havia desaparecido nas sombras

.

Chewbacca gemia e bufava, conseguindo afinal, com a ajuda de Luke e Solo, atravessar a estreita abertura da portinhola. Soltando um suspiro de alívio, Luke voltou-se para examinar os arredores.
O corredor onde haviam emergido estava coberto de poeira. Dava a impressão de não ter sido usado desde que a estação espacial havia sido construída. Provavelmente, era uma passagem usada apenas para serviços de manutenção. Luke não tinha a mínima idéia de onde estavam.
Alguma coisa chocou-se com a parede do depósito de lixo, produzindo um ruído surdo.
Luke soltou um grito de alerta, quando um tentáculo gelatinoso saiu pela abertura e começou a tatear no corredor. Solo levantou a pistola, enquanto Leia tentava passar por Chewbacca, paralisado de medo.

— Alguém tire este macaco da minha frente! — De repente, a Princesa percebeu o que Solo pretendia fazer. — Não, espere! Podem ouvir!

Solo ignorou-a e apertou o gatilho, apontando para a portinhola. O tentáculo se retesou e depois ficou imóvel.
Amplificado pelo corredor estreito, o ruído do disparo ecoou por vários minutos. Luke sacudiu a cabeça, lamentando o gesto impensado do companheiro. Até o momento, tivera uma admiração cega pelo coreliano. Mas a atitude insensata de atirar desnecessariamente no monstro os colocava, pela primeira vez, era igualdade de condições.
Entretanto, a reação da Princesa foi ainda mais surpreendente do que a de Solo.



— Escute — começou, olhando fixamente para o coreliano. — Não sei de onde você surgiu, mas sou-lhe muito grata. E a você também — acrescentou, sem muita convicção, olhando para Luke. Dirigiu-se de novo a Solo. — De agora em diante, porém, faça o que eu disser.

Solo estava perplexo. Desta vez, o sorriso irônico não apareceu.

— Escute, Majestade — conseguiu finalmente murmurar. — Quero deixar uma coisa bem clara. Só recebo ordens de uma pessoa... eu mesmo.



— É um milagre que ainda esteja vivo — replicou a moça, friamente. Um olhar rápido para o corredor e começou a caminhar na direção oposta, com passos decididos.

Solo olhou para Luke, começou a dizer alguma coisa, mudou de idéia e limitou-se a sacudir a cabeça devagar.

—Nenhuma recompensa vale o que estou passando. Não sei se existe dinheiro suficiente no universo para pagar o desprazer de lidar com ela. Ei... espere por nós!

Leia havia desaparecido em uma curva do corredor, e os três saíram correndo atrás dela.


Os soldados que vigiavam a entrada do poço estavam mais interessados em discutir o estranho tumulto que havia ocorrido no bloco de detenção do que em prestar atenção no que se passava em torno. Tão entretidos estavam na conversa que não notaram o anjo da morte que passava por eles. Movia-se nas sombras, como um animal noturno, parando apenas quando um dos soldados olhava casualmente em sua direção.



Minutos depois, um soldado franziu a testa e olhou para a porta de entrada, onde julgara pressentir um movimento. Não viu nada. Ainda preocupado, mas compreensivelmente relutante em compartilhar a alucinação com os companheiros, o soldado voltou a participar da conversa.
Alguém finalmente descobriu os dois soldados inconscientes dentro de um armário do cargueiro capturado. Apesar de todos os esforços, os dois homens não recuperaram os sentidos.
Sob a supervisão de um sargento autoritário, os soldados desceram a rampa com os dois companheiros nus e desmaiados e os levaram para a enfermaria mais próxima.
No caminho, passaram por dois vultos escondidos por um painel aberto.

Apesar de estarem tão perto do hangar, C-3PO e R2-D2 não foram notados.
 


Assim que os soldados passaram, R2-D2 acabou de tirar a tampa da tomada e enfiou o braço na abertura. Suas lâmpadas começaram a piscar loucamente. As juntas do pequeno andróide deixaram escapar espiras de fumaça. Afinal, C-3PO conseguia puxá-lo para trás, desfazendo a ligação.
Imediatamente, a fumaça desapareceu e as luzes voltaram ao normal. R2-D2 soltou alguns silvos débeis, dando a impressão de alguém que bebeu um grande gole de cachaça pura quando esperava estar bebendo um inocente copo d'água.

— Da próxima vez, veja onde enfia os seus sensores — disse C-3PO, em tom de censura. — Poderia ter torrado os circuitos. — Olhou para o soquete. Isto é uma tomada de força, estúpido, e não um terminal de dados!

R2-D2 deu um longo chiado, como quem pede desculpas. Depois, foram procurar a tomada certa.




Luke, Solo, Chewbacca e a Princesa chegaram ao final do corredor. Acabava em uma grande janela que dava para um hangar. Lá embaixo, observaram com um misto de surpresa e satisfação, estava o cargueiro capturado.
Ligando o comunicador enquanto olhava nervosamente para os lados, Luke disse ao microfone: — C-3PO... está-me ouvindo?



Houve uma pausa assustadora, e então uma voz respondeu: — Estou ouvindo, senhor. Tivemos que abandonar as proximidades do posto de guarda.

— Estão em local seguro?

— Creio que sim, embora ainda tema não chegar à velhice. Estamos no hangar onde guardaram o cargueiro, perto de uma das paredes.

Luke olhou pela janela, surpreso.

— Não consigo vê-los... devo estar bem acima de vocês. Fiquem onde estão. Vamos para aí assim que pudermos.

O rapaz desligou, sorrindo ao lembrar-se da forma como C-3PO se referira à "velhice". Às vezes, chegava a pensar que o robô mais humano do que muitas pessoas.

— Será que o Velho conseguiu desligar o raio de tração?.— murmurou Solo, enquanto observava o cargueiro capturado. Havia um movimento contínuo de soldados entrando e saindo da nave.

— Chegar ao Millennium vai ser como atravessar os Cinco Anéis de Fogo de Fórnix.

Foi então que Leia Organa compreendeu que se tratava da nave de Solo.

— Você chegou aqui naquela coisa? É mais corajoso do que eu pensava.



Sentindo-se ao mesmo tempo elogiado e insultado, Solo hesitou, sem saber como reagir.
Afinal, contentou-se em lançar-me um olhar malicioso quando começaram a voltar pelo corredor, com Chewbacca na retaguarda.
Ao dobrarem uma esquina, os três humanos pararam abruptamente. Foram imitados pelos vinte soldados do Império que marchavam na direção oposta. Reagindo naturalmente, isto é, sem pensar, Solo sacou a pistola e investiu contra o pelotão, gritando insultos em várias línguas a plenos pulmões.
Assustados com o ataque inesperado e supondo erroneamente que o atacante soubesse o que estava fazendo, os soldados começaram a recuar. Os disparos do coreliano semearam a confusão. Perdendo totalmente a compostura, os soldados se voltaram e saíram correndo.
Embriagado com a própria proeza, Solo foi atrás deles, voltando-se para gritar a Luke:

— Vá para o Millennium! Eu tomo conta deles!

— Está maluco? — gritou Luke de volta. — Aonde pensa que vai?

Mas Solo já ia longe e não podia ouvi-lo. Não que fizesse alguma diferença.

Nervoso com o desaparecimento do companheiro, Chewbacca soltou um sonoro rugido e saiu correndo atrás. Isto deixou Luke e Leia sozinhos no corredor vazio.



— Talvez eu tenha sido severa demais com seu amigo — confessou a moça, com relutância. — Ele é um bocado valente.

— Ele é um idiota! — exclamou Luke furioso. — Não sei como espera ajudar-nos, expondo-se assim.

Um alarme começou a tocar.

— Só faltava essa — resmungou Luke. — Vamos embora.

Os dois saíram juntos pelo corredor, à procura de um caminho que os levasse para o nível do hangar.

Solo continuou a perseguir os soldados pelo comprido corredor, correndo à toda velocidade, gritando e brandindo a pistola. De vez em quando dava um tiro, cujo efeito era muito mais psicológico do que tático.

Metade dos soldados já havia desaparecido em corredores secundários. Os dez restantes continuavam a correr em linha reta, respondendo ao fogo apenas para constar. Finalmente, chegaram a um corredor sem saída, o que os obrigou a parar e a enfrentar o$ adversários.
Vendo que os dez haviam parado. Solo reduziu a marcha. Depois de mais alguns passos, parou também. O coreliano e os soldados do Império ficaram-se olhando silenciosamente por alguns segundos. Então alguns soldados começaram a olhar, não para Han, mas para o espaço vazio atrás dele.

De repente, Solo percebeu que estava sozinho, e que o mesmo pensamento estava penetrando pouco a pouco nas mentes dos guardas. A vergonha foi rapidamente substituída pela raiva. Rifles e pistolas apareceram. Solo deu um passo para trás, disparou um tiro e saiu correndo.


Chewbacca começou a ouvir o ruído dos disparos quando ainda estava a uma certa distância de Solo. Mas havia alguma coisa estranha, pensou. Parecia que estavam ficando cada vez mais próximos, ao invés de se afastarem.
Estava pensando no que fazer quando Solo apareceu numa curva do corredor e quase o derrubou no chão. Ao ver os dez soldados que o perseguiam, o wookie resolveu guardar as perguntas para um momento mais calmo. Deu meia-volta e saiu correndo atrás de Solo.

Luke agarrou a Princesa e empurrou-a para um nicho da parede.
A moça estava abrindo a boca para protestar, quando o som de passos a fez obedecer sem discussão.
Um grupo de soldados passou rapidamente por eles, atendendo aos alarmas que continuavam a soar com insistência. Quando já iam longe, Luke saiu do esconderijo, ofegante.

— Nossa única esperança é entrar no hangar pelo outro lado. Eles já sabem que há alguém aqui.

O rapaz começou a voltar pelo corredor, fazendo um gesto para que a Princesa o seguisse.
Dois guardas apareceram no fundo do corredor, pararam e apontaram diretamente para eles. Luke e Leia deram meia-volta e correram na direção oposta. Adiante, depararam com um grupo maior de soldados.
Sem poder recuar e sem poder prosseguir, olharam em torno, procurando desesperadamente uma saída. Foi então que Leia descobriu um corredor secundário e o mostrou para o rapaz.
Luke disparou no perseguidor mais próximo e se enfiou na estreita passagem. A moça o seguiu. Atrás deles, os soldados faziam um ruído ensurdecedor no espaço confinado. Mas pelo menos só poderiam segui-los um de cada vez.

Uma pesada porta de metal apareceu à frente. Do outro lado estava mais escuro, o que reacendeu as esperanças de Luke. Se pudessem manter a porta fechada pelo menos por alguns momentos, talvez tivessem tempo de se esconder.
Mas a porta continuou aberta, não demonstrando nenhuma vontade de se fechar automaticamente. Luke virou a cabeça para olhar para os perseguidores e quando olhou de novo para a frente, viu que o chão havia acabado. Com um dos pés no ar, lutou para recuperar o equilíbrio, conseguindo-o bem a tempo de quase cair de novo, quando a Princesa esbarrou nele com força.
Estavam em uma plataforma que se projetava no vazio. Uma brisa fresca acariciou o rosto de Luke, enquanto o rapaz examinava as paredes, que se estendiam a perder de vista para cima e para baixo do local onde se encontravam. O poço era usado para circular e reciclar a atmosfera da estação espacial.

No momento, Luke estava assustado demais para se aborrecer com a Princesa. Além disso, havia outros perigos a considerar. Um tiro atingiu uma viga de metal pouco acima deles e fragmentos voaram em todas as direções.

— Acho que tomamos o caminho errado — murmurou Luke, disparando nos soldados que se aproximavam e iluminando o estreito corredor com a luz da morte.
Do outro lado do abismo, havia uma porta aberta. Mas era como se estivesse a anos-luz de distância. Tateando na parede do corredor, Leia descobriu um botão e apertou-o. A porta atrás deles se fechou com um estrondo. Pelo menos com isso ficavam livres do fogo do soldados mais próximos. Ao mesmo tempo, estavam equilibrados precariamente em uma plataforma de menos de um metro quadrado. Se o mesmo mecanismo que acionava a porta recolhesse também a plataforma, teriam a oportunidade de conhecer muito bem o interior da estação espacial.

Fazendo um gesto para que a Princesa recuasse o máximo possível, Luke protegeu os olhos e apontou a pistola para os controles da porta. Um breve disparo transformou os circuitos em uma massa informe, assegurando que ninguém poderia abrir a porta facilmente do outro lado. Então o rapaz voltou sua atenção para o espaço vazio que os separava da outra porta, que acenava para eles convidativamente... um pequeno retângulo amarelo de liberdade.
Apenas o leve sussurro da corrente de ar quebrava o silêncio até que Luke comentou:

— Aquela porta é forte, mas não vai resistir indefinidamente.

— Precisamos passar para o outro lado — concordou Leia, examinando de novo a parede em volta da porta fechada. — Veja se encontra os controles da plataforma.

Alguns minutos foram gastos em uma busca infrutífera, enquanto os ruídos do outro lado ficavam cada vez mais fortes. Um pequeno círculo branco apareceu no centro da porta, e começou a aumentar rapidamente.

— Estão conseguindo! — exclamou Luke.

A Princesa virou o corpo cautelosamente para olhar para o poço.

— Os controles da ponte devem ficar do outro lado.

Estendendo o braço para apontar para os controles inacessíveis, Luke esbarrou com a mão em alguma coisa pendurada no cinto do uniforme. Um rápido olhar para baixo revelou a causa, e deu a Luke uma idéia desesperada.

A corda era fina e parecia frágil, mas fazia parte do equipamento-padrão dos soldados do Império e teria suportado facilmente o peso de Chewbacca. E ele e Leia não eram tão pesados assim. Arrancando o rolo de corda da cintura, tentou avaliar o comprimento, comparando-o com o tamanho do abismo. Seria mais que suficiente.

— O que foi? — perguntou a Princesa, curiosa.

Luke não respondeu. Em vez disso, tirou do cinto uma fonte de alimentação, pequena mas pesada, e amarrou-a em uma ponta da corda. Depois de certificar-se de que estava bem segura, aproximou-se o mais que pôde da borda da plataforma.

Girando a extremidade da corda em círculos cada vez maiores, arremessou-a para o outro lado. A corda chocou-se com um eletroduto e caiu. Pacientemente, o rapaz recolheu a corda e tornou a enrolá-la para uma nova tentativa.

Mais uma vez a fonte de alimentação começou a girar em círculos crescentes e depois foi arremessada através do abismo. Luke já podia sentir atrás de si o calor do metal fundido.
Desta vez, a corda se enrolou em um grupo de canos que passava ao lado da outra plataforma.
O peso da ponta escorregou, desceu um pouco e ficou preso no espaço entre os canos. Luke recuou e puxou a corda com toda a força. A corda nem se mexeu.

Depois de enrolar várias vezes na cintura e no braço direito a outra ponta da corda, o rapaz colocou o braço livre em torno da cintura de Leia. Alguma coisa morna e agradável tocou os lábios de Luke, fazendo uma corrente elétrica percorrer-lhe o corpo. Olhou chocado para a Princesa, ainda com o gosto do beijo na boca.

— É para dar sorte — murmurou a moça, com um sorriso quase tímido, enquanto o abraçava. — Vamos precisar.


Luke segurou a corda firmemente com as duas mãos, respirou fundo e pulou. Se houvesse calculado mal, os dois não chegariam à plataforma, mas iriam chocar-se com a parede de metal.
Neste caso, Luke sabia que não teria força para continuar segurando a corda.
A travessia foi. completada em menos tempo que o rapaz levou para concluir o pensamento. Quando viu, estava do outro lado, jogando-se de bruços no chão para não correr o risco de cair de volta no poço. Leia largou-o no último momento, com um senso admirável de distância. Rolou sobre a plataforma, colocando-se graciosamente de pé, enquanto Luke lutava para desembaraçar-se da corda.
Um sibilar distante transformou-se em um forte chiado e depois em um gemido, quando a porta do outro lado finalmente cedeu, caindo para dentro do poço. Luke não a ouviu tocar o fundo.
Alguns disparos atingiram a parede de metal. Luke sacou a pistola e respondeu ao fogo, enquanto a Princesa o puxava para o corredor.

Assim que passaram pela porta, Luke apertou o botão. A porta se fechou. Nos minutos seguintes, pelo menos, não teriam que temer um tiro pelas costas. Por outro lado, Luke não tinha a mínima idéia de onde estavam, e começou a se preocupar com o que teria. acontecido a Han e Chewbacca.

Solo e o companheiro haviam conseguido despistar vários perseguidores, mas tinham a impressão de que, assim que se livravam de alguns soldados, outros surgiam para substituí-los.
A estação inteira parecia estar atrás deles.

À frente, uma série de portas estava começando a se fechar automaticamente.

— Depressa, Chewie! — gritou Solo.

Chewbacca rosnou mais uma vez, respirando como um motor em mau estado. A despeito da imensa força, o wookie nunca seria um bom fundista. Apenas a passada enorme o permitia acompanhar o ágil coreliano. Chewbacca deixou um tufo de cabelo em uma das portas, mas os dois conseguiram passar pelas cinco portas, antes que se fechassem.

— Isso nos dá alguns minutos de vantagem — disse Solo, exultante.
O wookie respondeu com um grunhido, mas o piloto não se deu por achado.

— Claro que sei como chegar ao Millennium! Os corelianos nunca se perdem!

Chewbacca replicou com outro grunhido, desta vez em tom acusador. Solo deu de ombros.
— Tocneppil não conta; ele não era coreliano. Além do mais, eu estava bêbado na ocasião.




Ben Kenobi mergulhou nas sombras de uma estreita passagem, parecendo tornar-se parte da própria parede no momento em que um grande destacamento de soldados passou por ele. Esperou um momento, para assegurar-se de que o último soldado havia passado, e então tomou a direção oposta. Mas não notou que era seguido por um vulto vestido de negro.

Kenobi havia evitado várias patrulhas, aproximando-se aos poucos do hangar onde estava o cargueiro. Agora estava a poucos metros do hangar. O que faria em seguida dependia do que os companheiros houvessem feito durante sua ausência.
A julgar pela atividade que havia observado no caminho de volta, o jovem Luke, o impetuoso coreliano e seu ajudante e os dois irrequietos robôs haviam feito muito mais do que aguardar tranquilamente seu retorno. É claro que todos aqueles soldados não estavam apenas a sua procura!

Mas outra coisa os preocupava, pois tinha ouvido rumores a respeito de um importante prisioneiro que havia escapado. A coincidência o deixara intrigado, até se lembrar do temperamento inquieto de Luke e Han Solo. Na certa os dois eram de alguma forma responsáveis pela fuga do prisioneiro.

Ben sentiu que havia alguma coisa à frente e reduziu o passo. Era uma sensação familiar, um odor mental bem conhecido, mas que não conseguia identificar.

Então, o vulto vestido de negro apareceu no final do corredor, bloqueando o acesso ao hangar. Kenobi reconheceu-o instantaneamente. Apenas a maturidade da mente que havia pressentido o impedira de identificá-lo mais cedo. Instintivamente, levou a mão ao sabre de luz.

— Há muito tempo espero por este momento, Velhi-ban Kenobi — disse Darth Vader solenemente — Afinal nos encontramos. O círculo se fechou. — Kenobi sentiu uma satisfação sádica nas palavras do outro. — A presença que senti há algumas horas só podia ser você.

Kenobi olhou para o gigante que bloqueava a passagem e fez que sim com a cabeça.
Parecia mais curioso do que amedrontado.

— Você ainda tem muito que aprender.

— Foi meu professor — admitiu Vader — e aprendi muito com você. Mas o tempo passou, e hoje o mestre sou eu.

A falta de lógica, que sempre constituíra o ponto fraco de seu discípulo mais brilhante, continuava a mesma, pensou Kenobi. Sabia que não adiantava argumentar com o outro.

Ligando o sabre, assumiu a posição de combate com a graça e a elegância de um bailarino.
Vader imitou-o, mas não com a mesma agilidade.
Durante vários minutos os dois ficaram, parados olhando um para o outro, como se estivessem à espera de um sinal.



Kenobi piscou várias vezes, sacudiu a cabeça e tentou limpar os olhos lacrimejantes.
A testa ficou coberta de suor. As pálpebras tremeram novamente.

— Seus poderes já não são os mesmos — observou Vader, sem emoção. — velho, você nunca devia ter voltado. Poderia ter terminado seus dias tranquilamente, em vez de ter um fim violento.

— Sente apenas uma parte da força. Darth — murmurou Kenobi, com a segurança de alguém para quem" a morte é apenas uma sensação como qualquer outra, como dormir, fazer amor ou tocar uma vela acesa. — Como sempre, você percebe tão pouco da força quanto uma panela percebe o gosto da comida que contém.

Movendo-se com uma rapidez incrível para um homem de sua idade, Kenobi desfechou um golpe mortal contra o Lorde Negro. Vader bloqueou o golpe com igual rapidez, respondendo com uma estocada que quase apanhou o velho desprevenido. Outra esquiva, e Kenobi atacou novamente, aproveitando a oportunidade para passar para o outro lado de Vader.

Continuaram a trocar golpes, agora com Kenobi de costas para o hangar. Afinal, os feixes dos dois sabres se encontraram e a interação dos campos de energia iluminou a cena com uma luz fantástica. Os dois mantiveram os sabres na mesma posição, sabendo que quem recuasse primeiro estaria perdido.



C-3PO enfiou a cabeça na porta do hangar, contando os guardas que vigiavam o cargueiro.

— Onde estarão eles? Oh, oh!

Recuou a cabeça no momento em que um dos guardas olhava em sua direção. Da segunda vez que espiou, os resultados foram mais animadores. Pôde ver que Solo e Chewbacca estavam escondidos em outra entrada do hangar.
Solo também estava preocupado com o número de guardas.
Murmurou para o companheiro: — Será que vieram todos para cá?

Chewbacca rosnou e os dois se voltaram, apenas para darem um suspiro de alívio e baixarem as armas ao verem que se tratava de Luke e da Princesa.


— Por que demoraram tanto? — reclamou Solo, impiedosamente.

— Encontramos alguns amigos — explicou Leia, ofegante. Luke estava olhando para o cargueiro.

— A nave está em condições de voar?

— Parece estar — respondeu Solo. — Acho que não tiraram nada, nem mexeram nos motores. O problema vai ser chegar lá.

De repente, Leia apontou para o outro lado do hangar.

— Vejam!

Iluminados pelo clarão dos dois feixes de energia, Ben Kenobi e Darth Vader acabavam de entrar no hangar. A luta atraiu a atenção geral. Os guardas se aproximaram para apreciar melhor o duelo titânico.



— É a nossa oportunidade — observou Solo, adiantando-se.

Os sete guardas que vigiavam a rampa saíram correndo em direção aos combatentes, tentando ajudar o Lorde Negro. C-3PO mal teve tempo de recuar quando passaram pelo túnel onde estava.
Voltando-se para o interior da passagem, gritou para o companheiro:

— Desfaça a ligação, R2-D2. Vamos embora!

Assim que o outro retirou o braço do soquete, os dois andróides começaram a avançar cautelosamente em direção ao cargueiro.

Kenobi ouviu o ruído às suas costas e arriscou um olhar. Ao ver os soldados que avançavam, compreendeu que estava cercado.

Vader aproveitou-se da distração momentânea para desferir um violento golpe de cima para baixo.
No último momento, Kenobi desviou-se para o lado e bloqueou o feixe de energia com o feixe de sua própria arma.

— Você ainda conserva a mesma habilidade, mas a força não é mais a mesma. Prepare-se para morrer, Velhi-ban.



Kenobi calculou a distância que o separava dos soldados e olhou para Vader com ar de piedade:— Esta é uma luta que não pode vencer, Darth. Sei que seu poder amadureceu desde aquele tempo, mas eu também tive tempo de aprender muito. Se meu feixe encontrar o alvo, você simplesmente deixará de existir. Mas se me partir em dois, ficarei ainda mais poderoso. Acredite no que estou dizendo.



— Sua filosofia já não me afeta, Velhi-ban — disse Vader com desprezo. — Agora o mestre sou eu.

Desferiu uma nova estocada; no momento em que o velho se esquivou, Darth Vader descreveu um longo arco com o sabre, com precisão mortal. O feixe de energia cortou Kenobi em dois.
Houve um pequeno clarão e os pedaços da túnica caíram lentamente no piso.
Mas Ben Kenobi não estava no interior das vestes.
Pressentindo algum embuste, Vader retalhou o tecido com o sabre, mas não viu sinal do velho.
Era como se nunca tivesse existido..



Os guardas se reuniram em torno de Vader e o ajudaram a examinar o local onde Kenobi estivera até momentos antes. Nem a presença temível do Lorde de Sith impediu que alguns sentissem uma ponta de medo.

No momento em que os guardas deixaram seus postos para ajudar Vader, Solo e os outros saíram correndo em direção ao cargueiro. Mas quando Luke viu Kenobi ser cortado em dois, mudou de direção e investiu contra os soldados.

— Ben! — gritou o rapaz, disparando a pistola a esmo.



Solo soltou um grito e também começou a atirar.
Um dos disparos atingiu o mecanismo que mantinha suspensa a porta do túnel, fazendo-a descer com estrondo. Tanto Vader como os soldados conseguiram esquivar-se a tempo.

Os guardas pularam para o interior do hangar, enquanto Vader refugiou-se no túnel.



— Não adianta, Luke! — gritou Leia. — Está acabado!

— Não! — exclamou o rapaz, soluçando.

Foi então que ouviu uma voz familiar, a voz de Ben.

— Luke... escute! — foi tudo o que disse.

Luke olhou em torno, espantado. Tudo que viu foi a Princesa acenando para ele da base da rampa.

— Venha, Luke! Depressa!

Com a voz imaginária ecoando no cérebro (seria imaginária mesmo?) o rapaz hesitou, derrubou mais alguns soldados e saiu correndo em direção à nave.


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