terça-feira, 15 de julho de 2014

Guerra nas estrelas: Uma Nova Esperança – George Lucas e Alan Dean Foster (Parte 5)

A criatura era alta, mas não tinha nada de monstruosa.

R2-D2 franziu mentalmente o cenho enquanto verificava os circuitos ópticos e reativava as próprias entranhas.

O monstro se parecia muito com um velhinho.
Usava uma capa comprida e uma túnica larga, de onde pendiam alguns instrumentos não-identificados. R2-D2 olhou para mais além, mas não viu nenhum sinal de que o homem estivesse sendo perseguido por um monstro de pesadelo. Pelo contrário, pensou R2-D2, parecia bastante calmo e satisfeito.

Era impossível dizer onde acabava a roupa do recém-chegado e onde começava o corpo.
A pele crestada se fundia com o tecido sujo de areia; a barba parecia uma extensão das franjas que lhe cobriam o tórax Marcas de climas rigorosos que não o desértico, marcas de frio e umidade extremos estavam gravadas naquele rosto castigado. Um nariz aquilino se projetava de uma floresta de rugas e cicatrizes. Os olhos eram azuis e cristalinos. O homem trazia um sorriso nos lábios, e estava olhando para o vulto inerme de Luke com os olhos semicerrados.



Convencido de que os tuskens haviam sido vítimas de algum tipo de alucinação auditiva, ignorando convenientemente o fato de que ele próprio tinha ouvido o estranho grito, e seguro de que o estranho não pretendia fazer mal a Luke, R2-D2 mudou ligeiramente de posição, tentando observar melhor o que se passava. O som produzido por uma pequena pedra estava praticamente no limiar da sensibilidade dos sensores do robô, mas fez com que o homem se voltasse instantaneamente.
Olhou diretamente para o esconderijo de R2-D2, com o sorriso ainda nos lábios.

— Você, aí — chamou, em uma voz profunda e surpreendentemente jovial. — Venha cá, amiguinho. Não precisa ter medo.

Havia alguma coisa naquela voz que inspirava confiança. De qualquer forma, era preferível associar-se a um estranho do que permanecer solitário naquela terra desconhecida.
Saindo do esconderijo, R2-D2 encaminhou-se até o local onde estava Luke. O corpo do robô se inclinou para a frente enquanto examinava o rapaz.

Aproximando-se, o velho ajoelhou-se ao lado de Luke e tocou-lhe, primeiro a testa, depois a têmpora, com a palma da mão. Imediatamente, o rapaz começou a se mexer e a balbuciar, como se estivesse sonhando.

— Não se preocupe — disse o velho para R2-D2. — Ele não tem nada.

Como que para confirmar essas palavras, Luke piscou, arregalou os olhos espantado e murmurou: — O que aconteceu?

— Descanse, filho — aconselhou o velho, sentando-se nos calcanhares. — Teve um dia cheio. — Novamente o sorriso jovial. — Você tem sorte de ainda estar inteiro.

Luke olhou em volta, até que o olhar se fixou no rosto do velho". Ao reconhecê-lo, ganhou novo alento.

— Ben... tem que ser Ben! — Uma lembrança súbita o fez olhar em volta, assustado. Mas não havia sinal dos tuskens. Luke sentou-se com esforço. — Ben Kenobi... que satisfação ver o senhor!

Levantando-se, o velho percorreu o desfiladeiro com os olhos.

— O deserto de Jundland não é para o viajante solitário. Os tuskens não hesitam em atacar, quando se sentem superiores. — O olhar voltou para o jovem. — Diga-me, rapaz, o que o traz a esta terra desolada?

Luke apontou para R2-D2.

— Este pequeno andróide. Cheguei a pensar que ele estava maluco, afirmando estar à procura do antigo dono. Agora já não penso assim. Nunca vi tamanha devoção em um robô. Nada seria capaz de detê-lo. Diz que pertence a alguém chamado Velhi-ban Kenobi. — Luke observou atentamente o velho, mas não detectou nenhuma reação. — É parente seu? Meu tio diz que existiu uma pessoa com este nome. Ou será que a memória do robô está funcionando mal?

Kenobi pareceu estudar a pergunta, cofiando distraidamente a barba hirsuta.

— Velhi-ban Kenobi! — repetiu. — Velhi-ban... é um nome que não ouço há muito tempo. Muito tempo mesmo. É estranho.

— Meu tio disse que ele já morreu — adiantou Luke, esperançoso.

— Oh, não — corrigiu Kenobi, sorrindo. — Ainda não, ainda não.

Luke se pôs de pé, ansioso, esquecido por completo dos tuskens raiders.

— Então o senhor o conhece?

Um sorriso irônico rasgou aquele rosto enrugado.

— Claro que conheço. Sou eu mesmo. Como você provavelmente já suspeitava, Luke. Mas a última vez que me chamaram de Velhi-ban, você nem havia nascido.

— Então — afirmou Luke, apontando para R2-D2 — este andróide pertence ao senhor.



— Esta é a parte mais estranha — confessou Kenobi, olhando para o robô. — Não me lembro de possuir um robô, muito menos um modelo moderno como R2-D2. Muito interessante...

Alguma coisa de repente atraiu o olhar do velho para as colinas próximas.

— Acho que é melhor usarmos seu carro. Os tuskens se assustam com facilidade, mas logo estarão de volta com reforços. Seu carro vale muito para eles, e afinal de contas jawas é que eles não são.

Colocando as mãos em concha diante da boca, Kenobi inalou profundamente o soltou um grito inumano que fez Luke dar um pulo.

— Isso servirá para mantê-los afastados por mais algum tempo — concluiu o velho,
satisfeito.

— Mas é o grito de um dragão krayt! — exclamou Luke, espantado. — Como conseguiu fazer isso?

— Um dia eu lhe ensino, filho. Não é difícil. Basta muita força de vontade, um conjunto completo de cordas vocais e um bocado de fôlego. Se você fosse um burocrata do Império, eu lhe ensinaria agora mesmo. — Examinou de novo com os olhos a encosta da montanha. — Mas você não é. E acho que não é a hora nem o lugar apropriado.

— De acordo — Luke estava esfregando a nuca. — Vamos embora.

Foi então que R2-D2 soltou um silvo agudo e puxou Luke pelo braço. Luke não podia entender o que o robô estava dizendo, mas compreendeu o que queria.

— C-3PO! — exclamou o rapaz, preocupado. R2-D2 já estava correndo para longe do carro. — Venha também, Ben.

O pequeno robô os levou até a beira de um grande buraco.
Parou ali, apontando para baixo e chiando baixinho.
Luke olhou para onde R2-D2 estava apontando e começou a descer com cuidado a encosta suave. Kenobi o seguiu sem esforço.

C-3PO estava meio enterrado na areia, no fundo do buraco, no local onde havia caído.
Estava todo amassado. Havia perdido um braço, que jazia a seu lado.



— C-3PO! — gritou Luke.

Não houve resposta. O rapaz sacudiu o andróide, sem resultado. Abrindo um painel nas costas do robô, ligou e desligou várias vezes uma chave. Finalmente, um zumbido começou a sair das entranhas do robô.
Usando o braço que lhe restava, C-3PO rolou de barriga para cima e sentou-se.

— Onde estou? — murmurou, tentando colocar em foco os fotorreceptores. Então reconheceu Luke. — Oh, sinto muito, senhor. Acho que pisei em falso.

 

— Ainda bem que seus circuitos principais não foram danificados — informou-lhe Luke. Olhou significativamente para o topo da colina. — Pode ficar de pé? Temos que sair daqui antes que os tuskens voltem.

Os servomotores protestaram até C-3PO desistir.

— Acho que não vou conseguir. Vá em frente, senhor. Não adianta arriscar-se por minha causa. Estou acabado.

— Não diga uma coisa dessas — protestou Luke, espantado por se haver afeiçoado tão depressa ao robô. Mas afinal, C-3PO não era como as máquinas taciturnas, agrofuncionais com que estava acostumado a lidar.

— Estou sendo lógico — argumentou C-3PO.
Luke sacudiu a cabeça, zangado.— Está sendo é derrotista.

Com a ajuda de Luke e de Ben Kenobi, o robô avariado conseguiu colocar-se de pé. O pequeno R2-D2 observava tudo Já de cima. Enquanto subia, Kenobi cheirou o ar e fez uma careta.

— Depressa, filho. Eles estão de volta.

Tentando ao mesmo tempo olhar onde pisava e vigiar os arredores,
Luke conseguiu finalmente puxar C-3PO para fora do buraco.



A decoração da caverna bem escondida de Ben Kenobi era espartana sem parecer pouco confortável. Não teria agradado a muitas pessoas, refletindo como refletia os gostos peculiarmente ecléticos do proprietário. O conjunto irradiava uma aura de conforto modesto, dava a impressão de estar mais bem equipado para proporcionar conforto à mente do que ao corpo.

Haviam conseguido sair do desfiladeiro antes que os tuskens voltassem. Seguindo as instruções de Kenobi, Luke havia deixado atrás deles um rastro tão confuso que nem mesmo o mais experiente dos jawas seria capaz de segui-los.
Luke passou várias horas ignorando as tentações da caverna de Kenobi. Não se afastou do canto onde havia uma pequena mas bem equipada oficina mecânica, trabalhando para consertar o braço de C-3PO. Felizmente, os reles automáticos haviam funcionado, desligando os nervos eletrônicos antes que houvesse um curto-circuito. Para consertar o braço, bastaria encaixá-lo de novo no ombro e tornar a ligar os fios. Se o braço tivesse quebrado no meio de um "osso", e não em uma articulação, teria sido impossível consertá-lo.

Enquanto Luke estava ocupado com C-3PO, a atenção de Kenobi se concentrava em R2-D2.
O pequeno andróide estava sentado passivamente no chão frio da caverna enquanto o velho mexia em seus circuitos internos. Finalmente, o homem se levantou com um “hum” de satisfação e fechou os painéis da cabeça do robô.

— Agora vamos ver se descobrimos quem você é, meu amiguinho, e de onde veio.

Luke estava quase terminando, e as palavras de Kenobi foram o suficiente para fazê-lo aproximar-se.

— Vi parte da mensagem — começou — e acho que...

Mais uma vez a vivida imagem estava sendo projetada no espaço vazio à frente do pequeno robô. Luke interrompeu o que estava dizendo, novamente fascinado por sua beleza enigmática.



— É, acho que acertei — murmurou Kenobi.

A imagem continuava a piscar, sinal de que a fita havia sido preparada às pressas. Mas estava muito mais nítida, observou Luke, admirado. Uma coisa era evidente: Kenobi entendia muito mais de robôs do que poderia parecer à primeira vista.

"General Velhi-ban Kenobi" disse a voz suave, "apresento-me em nome do sistema de Alderaan e da Aliança para Restaurar a República. Venho perturbar seu isolamento a pedido de meu pai, Bail Organa, Vice-Rei e Primeiro Secretário do sistema de Alderaan."

Kenobi aceitou tranquilamente esta declaração extraordinária, enquanto os olhos de Luke se arregalavam.

"Há anos, General", continuou, “o senhor serviu à Velha República, durante as Guerras Estelares. Agora meu pai lhe faz um apelo para que nos ajude novamente nesta hora de aflição. Pede que se reúna a ele em Alderaan. É preciso que o senhor o atenda. Infelizmente, não posso transmitir pessoalmente o pedido de meu pai. Pretendia reunir-me com o senhor, mas não foi possível, assim, tive que recorrer a esta forma secundária de comunicação.

"Informações vitais para a sobrevivência da Aliança foram armazenadas no cérebro deste andróide R2-D2. Meu pai saberá como recuperá-las. Mas para isso, é preciso que o senhor leve o robô para Alderaan."

A mulher fez uma pausa, e quando prosseguiu, as palavras eram mais rápidas e menos formais:

Velhi-ban Kenobi, ajude-me! O senhor é a última esperança que me resta! Serei capturada por agentes do Império, mas eles nada descobrirão através de mim. Tudo que querem saber está guardado na memória deste andróide. Não nos decepcione, Velhi-ban Kenobi. Não me decepcione!"

Uma pequena nuvem de estática tridimensional substituiu o lindo rosto, e então a imagem desapareceu inteiramente. R2-D2 olhou interrogativamente para Kenobi. Luke se sentia totalmente confuso. Seus pensamentos e olhos se voltaram para a figura tranquila sentada a seu lado, em busca de estabilidade.

O velho. O feiticeiro maluco. O vagabundo do deserto, que o tio e todos os outros haviam conhecido durante toda a vida de Luke.

Era impossível dizer se a mensagem ansiosa da mulher desconhecida havia afetado Kenobi de alguma forma. O velho estava encostado à parede de pedra, cofiando a barba e tirando de vez em quando uma baforada de um velho cachimbo aromado.
Luke pensou de novo na mulher desconhecida.

— Ela é tão... tão... — O rapaz não tinha palavras para descrevê-la. De repente, alguma coisa na mensagem o fez olhar incrédulo para o ancião. — General Kenobi, o senhor participou das Guerras Estelares? Mas foi há tanto tempo...

— Participei, sim — admitiu Kenobi, em um tom tão casual como se estivesse discutindo uma receita de cozinha. — Foi mesmo há muito tempo. Antigamente eu era um Cavaleiro de Jedi. Como seu pai, Luke — acrescentou, olhando para o rapaz.

— Um Cavaleiro de Jedi — repetiu Luke. Então pareceu confuso. — Mas meu pai não participou das Guerras Estelares. Nem era um cavaleiro. Trabalhava como navegador, a bordo de um cargueiro espacial.

Kenobi deu um sorriso irônico.

— Isso foi o que seu tio lhe contou. Owen Lars não concordava com as idéias e opiniões de seu pai, nem com sua filosofia de vida. Achava que seu pai devia ter ficado aqui em Tatooine, em vez de se envolver em... — O velho encolheu os ombros.

— Bem, achava que seu pai devia ter ficado aqui, trabalhando na fazenda.


Luke não disse nada, limitando-se a ouvir fascinado uma história que só conhecera através das distorções do tio.

— Owen sempre temeu que a vida de aventuras de seu pai pudesse influenciar você, pudesse afastá-lo de Anchorhead. — Kenobi meneou a cabeça tristemente. — Acho que seu pai não tinha nada de fazendeiro.

Luke afastou-se alguns passos e continuou a cuidar de C-3PO, removendo os últimos grãos de areia das juntas do robô.

— Gostaria de tê-lo conhecido — murmurou o rapaz, depois de algum tempo.

— Era o melhor piloto que já conheci — disse Kenobi. — E um guerreiro valente. A força... o instinto era poderoso nele.

— Por um momento, Kenobi aparentou a idade que tinha. — Era também um bom amigo.

De repente, o brilho jovial voltou àqueles olhos penetrantes.

— Ouvi dizer que você também é um excelente piloto. Saber pilotar não é um talento inato, mas as qualidades necessárias para tornar-se um bom piloto podem ser herdadas. Entretanto, mesmo um pato precisa aprender a nadar.

— O que é um pato? — perguntou Luke, curioso.

— Não importa. Sob vários aspectos, você se parece muito com seu pai, sabe? — O olhar crítico de Kenobi já estava deixando Luke nervoso. — Você cresceu um bocado desde a última vez que o vi.

Não sabendo o que responder, Luke esperou em silêncio enquanto Kenobi mergulhava em uma meditação profunda. Finalmente, o velho pareceu haver chegado a uma decisão importante.

— Tudo isto me lembra — declarou, tentando aparentar indiferença — que tenho uma coisa para você.

Levantou-se e foi até uma velha arca, começando a remexer o conteúdo. Objetos de todos os tipos e tamanhos foram retirados e examinados, apenas para serem colocados de volta. Luke conseguiu reconhecer alguns deles. Compreendendo que o velho estava procurando alguma coisa importante, absteve-se de perguntar a respeito dos outros objetos.



— Seu pai queria que isto fosse seu — estava dizendo Kenobi — quando tivesse idade suficiente. Mas não consigo encontrar o maldito objeto. Tentei entregá-lo a você uma vez, mas seu tio não deixou. Ele achava que poderia colocar idéias malucas em sua cabeça, como a de seguir o velho Velhi-ban em alguma cruzada idealista. Você vê, Luke, aí está a raiz das divergências entre seu pai e seu tio. Owen Lars não é homem de deixar que o idealismo interfira com os negócios, enquanto que seu pai não admitia nem mesmo discutir a questão. Ele se dispunha a defender uma causa justa da mesma forma como pilotava... por puro instinto.

Luke assentiu. Acabou de limpar o robô e olhou em volta, à procura do componente que faltava instalar na cavidade torácica de C-3PO. Encontrando o módulo de controle, preparou-se para encaixá-lo no lugar. C-3PO observou o que o rapaz estava fazendo e estremeceu. Luke encarou por um longo tempo aqueles fotorreceptores de metal e plástico. Então colocou ostensivamente o módulo sobre a bancada e fechou ò painel no peito do andróide.
C-3PO não disse nada.


Luke ouviu uma exclamação e voltou-se para ver um sorriso nos lábios de Kenobi.
O velho entregou a Luke um pequeno objeto de aparência inócua, que o rapaz examinou com interesse. O objeto tinha um cabo curto e grosso, no qual estavam embutidos alguns botões.
Acima do cabo havia um disco de metal ligeiramente maior do que uma mão aberta.
 

Tanto o cabo como o disco continham vários componentes exóticos, inclusive o que parecia a menor fonte de alimentação que Luke jamais havia visto. A superfície inferior do disco brilhava como um espelho. Mas foi a fonte de alimentação que deixou Luke mais intrigado. Fosse o que fosse o aparelho, consumia um bocado de energia, a julgar pela capacidade da fonte.
Embora tivesse pertencido a seu pai, estava praticamente novo. Kenobi sem dúvida havia cuidado dele com carinho. Apenas alguns pequenos arranhões no cabo mostravam que havia sido usado anteriormente.

— Sr. Luke? — disse uma voz familiar, que Luke já não ouvia há bastante tempo.

— Que foi? — perguntou Luke, interrompendo o exame do objeto.

— Se não vai precisar de mim — declarou C-3PO — acho que vou desligar meus circuitos principais. Preciso fazer alguns reparos internos.

— Está bem, vá em frente — disse Luke, distraído, voltando a estudar, fascinado, o estranho objeto. Atrás dele, C-3PO ficou imóvel e o brilho desapareceu temporariamente de seus fotorreceptores. Luke reparou que Kenobi o observava com interesse. — O que é isso? — perguntou o rapaz, finalmente.

— O sabre de luz de seu pai — disse Kenobi. — Antigamente, eram muito usados. E ainda o são, em certas regiões da galáxia.

Luke examinou os controles do cabo e experimentou apertar um botão colorido perto da superfície espelhada. Instantaneamente, o disco emitiu um feixe de luz branco-azulada da grossura de um polegar. O feixe desaparecia a um metro de distância, mas era tão brilhante e intenso na extremidade como nas proximidades do disco.
Estranhamente, o feixe não irradiava nenhum valor, mas Luke teve o cuidado de evitar tocá-lo.
Embora nunca tivesse visto um sabre de luz, sabia do que era capaz.
Poderia fazer um furo na parede de pedra da caverna de Kenobi — ou em um ser humano.



— Esta era a arma formal dos Cavaleiros de Jedi — explicou Kenobi. — Não é uma arma grosseira como as pistolas de raios. É preciso muita habilidade para usá-la. Uma arma elegante. Qualquer um sabe usar um desintegrador, mas para usar bem um sabre de luz, é preciso ser alguém especial. — Estava passeando pela caverna enquanto falava. — Por mais de mil gerações, Luke, os Cavaleiros de Jedi foram os homens mais respeitados da galáxia. Eram os guardiões da paz e da justiça na Velha República.

Quando Luke permaneceu calado, Kenobi olhou, para ele e viu que os olhos do rapaz tinham uma expressão ausente e que pouco tinha ouvido da narrativa. Outros teriam repreendido Luke por não prestar atenção. Mas não Kenobi. Sensível como poucos, o velho esperou pacientemente até que o silêncio forçasse Luke a falar.

— Como foi que meu pai morreu? — perguntou Luke, de repente
.
Kenobi hesitou e Luke percebeu que o velho preferia não tocar no assunto. Entretanto, ao contrário de Owen Lars, Kenobi era incapaz de mentir.

— Ele foi traído e assassinado — declarou Kenobi, solenemente — por um jovem Cavaleiro de Jedi chamado Darth Vader. — O velho não estava olhando para Luke. — Um rapaz que eu estava educando. Um dos meus discípulos mais brilhantes... e o meu fracasso mais trágico.

Kenobi voltou a andar pela caverna.

— Vader usou a educação que lhe dei e sua força natural para praticar o mal, para ajudar imperadores corruptos. Com os Cavaleiros de Jedi fora do caminho, não havia praticamente ninguém para se opor a seus desígnios. Hoje, os Cavaleiros de Jedi estão quase extintos.

Uma expressão indecifrável atravessou o rosto de Kenobi.

— A verdade é que eles foram excessivamente idealistas, excessivamente ingênuos. Confiaram demais na estabilidade da República, sem perceber que, embora o corpo ainda fosse saudável, a cabeça estava ficando cada vez mais fraca.Gostaria de saber o que Vader queria. Às vezes, tenho a impressão de que estava ganhando tempo, preparando-se para alguma maldade incompreensível. Tal é a complexidade daqueles que dominam a força, mas se deixam levar por seu lado negro.

Luke olhou para o velho, intrigado.

— Força? Que força? É a segunda vez que o senhor se refere a uma "força".

Kenobi assentiu.



— Às vezes, eu me esqueço com quem estou falando. Digamos simplesmente que a força é uma coisa que um Cavaleiro de Jedi deve aprender a controlar. Embora nunca tenha sido perfeitamente explicada, os cientistas acham que não passa de uma forma de energia que é gerada pelos seres vivos. Há milhares de anos que os homens suspeitam da sua existência. Entretanto, apenas alguns indivíduos reconheciam a força como tal. E eram taxados de charlatães, curandeiros, místicos... e coisas piores. — Kenobi fez um gesto largo com os dois braços. — Esta força está em todos nós. Alguns acreditam que é ela que dirige todos os nossos atos. Mas os Cavaleiros de Jedi sabiam manipulá-la, e era isto que os distinguia dos outros homens.

O velho baixou os braços e ficou olhando para Luke até que o rapaz começou a se remexer, inquieto. Quando falou de novo, foi em um tom tão incisivo que Luke teve um sobressalto.

— Você também precisa aprender a usar a força, Luke. Vai precisar dela quando for comigo para Alderaan.

— Alderaan? — Luke parecia atônito. — Mas não vou para Alderaan. Nem sei onde fica Alderaan. — Condensadores, andróides, a colheita... de repente, a caverna lhe pareceu opressiva. A mobília exótica e os estranhos artefatos, que há pouco tanto haviam despertado sua curiosidade, agora o deixavam assustado. Virou a cabeça, tentando evitar o olhar penetrante de Ben Kenobi... do velho Ben... do General Velhi-ban.

— Tenho que voltar para casa — murmurou, com dificuldade. — Já é tarde. Tio Owen deve estar uma fera. — Lembrando-se de uma coisa, fez um gesto em direção à forma inerte de R2-D2. — Pode ficar com o andróide. Arranjarei uma desculpa para dar a meu tio — acrescentou, desamparado.

— Preciso de você, Luke — explicou Kenobi, com um misto de arrogância e tristeza. — Estou ficando velho demais para esse tipo de coisa. Não devo tentar fazer tudo sozinho. A missão é importante demais. — Apontou para R2-D2. — Você viu e ouviu a mensagem.



— Mas... não me posso envolver em uma coisa dessas! — protestou Luke. — Tenho trabalho a fazer! A colheita está próxima. Se bem que Tio Owen poderia contratar ninguém para me substituir, acho. Mas não conseguiria convencê-lo. Além disso, é tudo tão remoto! Por que me iria envolver?

— Parece seu tio falando — observou Kenobi, sem rancor.

— Oh! Meu Tio Owen... como vou explicar tudo isto para ele?

O velho conteve um sorriso, convencido de que o destino de Luke já estava traçado. Tudo havia sido decidido cinco minutos antes que soubesse como o pai havia morrido. Fora decidido quando Luke ouvira a mensagem completa. Havia sido determinado quando ele vira pela primeira vez o rosto belo e suplicante da Senadora Organa, projetado pelo pequeno andróide.

Kenobi corrigiu-se mentalmente. Não, provavelmente tudo já estava decidido antes mesmo de o rapaz nascer. Não que Ben acreditasse em predestinação, mas acreditava em hereditariedade... e na força.

— Lembre-se, Luke, de que o sofrimento de um homem é o sofrimento de todos. A injustiça independe da distância. Quando não é contido a tempo, o mal se espalha para atingir todos os homens, tanto os que o combateram como os que o ignoraram.



— Pelo menos — disse Luke, nervoso — posso levá-lo até Anchorhead. Lá, o senhor pode arranjar condução para Mos Eisley, ou para outro lugar qualquer.

— Está bem — concordou Kenobi. — Já é um começo. Mais tarde, você fará o que achar que é certo.

Luke assentiu, agora totalmente confuso.

— Claro, claro. No momento, não me sinto muito bem...



A escuridão era quase total.
Havia apenas luz suficiente para entrever as paredes metálicas.
A cela havia sido projetada para acentuar a sensação de isolamento do prisioneiro.
E cumpria tão bem a missão que o único ocupante se retesou quando um zumbido quebrou o silêncio mortal. A porta de metal que começou a se abrir tinha um palmo de espessura... como se tivessem medo, pensou Organa ironicamente, de que ela fosse capaz de arrombar com as próprias mãos alguma coisa menos sólida.

Olhando para fora, a jovem viu vários soldados do Império se perfilarem.


 
Com uma expressão de desafio nos olhos, Leia Organa recuou até a parede dos fundos da cela.
A determinação da jovem se esvaiu quando um monstruoso vulto negro entrou na cela, deslizando sem fazer ruído, como se tivesse rodas, A presença de Vader esmagou-lhe o espírito tão seguramente como um elefante esmagaria um ovo. O vilão estava acompanhado por um homem de aparência igualmente assustadora, embora parecesse um anão ao lado do Lorde Negro.



Darth Vader fez um gesto para alguém lá fora. Alguma coisa que zumbia como uma abelha gigante se aproximou e entrou na cela. Leia prendeu a respiração ao ver o globo de metal. Movia-se sem tocar o chão, sustentado por campos de força. A superfície era coberta por estranhos braços, que terminavam em delicados instrumentos.

Leia olhou para a máquina, aterrorizada. Já tinha ouvido falar a respeito, mas jamais acreditara realmente que os técnicos do Império tivessem a coragem de construir tal monstruosidade.
Em sua memória estavam todas as torturas jamais inventadas pela raça humana... e por várias outras raças alienígenas.

Vader e Tarkin ficaram quietos, deixando-a examinar à vontade o pesadelo mecânico.
O Governador, em particular, não tinha esperanças de que a simples presença da máquina a obrigasse a falar. Não, refletiu ele, que a sessão que estava para vir lhe causasse alguma repulsa. Pelo contrário, era sempre possível aprender muita coisa a respeito da natureza humana durante um interrogatório, e a senadora prometia ser um paciente bastante interessante.
Depois de algum tempo, Tarkin apontou para a máquina.

— Agora, Senadora Organa, Princesa Organa, vamos discutir a localização da principal base dos rebeldes.

A máquina se aproximou lentamente da jovem.
Sua forma esférica ocultou Vader, o Governador, o resto da cela...


Sons abafados atravessavam as paredes e a grossa porta da cela, penetrando no corredor.
O volume não era suficiente para perturbar a paz e a tranquilidade que reinavam lá fora.
Mesmo assim, os guardas encarregados de vigiar a porta da cela arranjaram desculpas para se afastar o suficiente para não ouvir os gritos femininos.

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