sábado, 3 de outubro de 2015

Aliens - Alan Dean Foster (Parte 12)


A atmosfera no APC durante o trajeto para a estação de tratamento foi mais moderada do que tinha sido quando desembarcaram. A devastação, os edifícios ocos; e a evidência inconfundível de duros combates tinha colocado um peso sobre o espírito inicial dos fuzileiros.

Ficou claro para todos que a causa das comunicações interrompidas da Colônia com a Terra não tinha nada a ver com seu satélite de retransmissão ou na base. Tinha a ver com a criatura de Ripley. Os colonos tinham cessado de comunicar-se porque algo o obrigou a fazê-lo. Se o que Ripley dissera era para ser acreditado, algo ainda estava rondando o lugar. Sem dúvida, a menina era uma fonte de informações sobre o assunto, mas ninguém tentou pressioná-la. Ordens de Dietrich. A recuperação da criança ainda era algo muito frágil para comprometer com investigações traumatizantes. Então, enquanto de volta ao APC eles tiveram que preencher as lacunas dos discos de Ripley com suas imaginações.

E soldados têm uma imaginação ativa.

Wierzbowski dirigia o transporte de pessoal através da paisagem crepuscular, atravessando uma ponte que ligava o resto do complexo até a estação a quase um quilômetro de distância. Ventos fortes atingiam o veículo, mas não conseguiam balança-lo. O APC fora projetado para viagens confortáveis sob ventos de até trezentos quilômetros por hora. Um vendaval Acheronian típico não o incomodaria.

A nave de desembarque descansava no campo de pouso, esperando o retorno dos soldados. À frente, a torre cónica da maciça unidade de processamento brilhava com uma luz espectral, já que continuava em seu negócio de terraformação do inóspito Acheron.



Ripley e Newt sentaram-se lado a lado atrás da cabina do piloto.
Wierzbowski mantinha sua atenção no trajeto.

Dentro da relativa segurança do veículo fortemente blindado a menina gradualmente mostrava-se mais à vontade. Embora houvesse pelo menos uma dúzia de perguntas Ripley apenas sentou e ouviu-a pacientemente, divagar. Ocasionalmente Newt iria responder a perguntas, de qualquer maneira. Como agora.

— Eu era melhor no jogo — abraçou a cabeça da boneca e olhou para a parede oposta. — Eu conhecia o labirinto.

O labirinto? Ripley pensou no local onde a encontraram.

— Você quer dizer o sistema de canalização de ar?

— Sim, você sabe — respondeu ela com orgulho. — E não apenas os dutos de ar. Eu poderia até mesmo entrar em túneis que estavam cheios de fios e outras coisas. Nas paredes, sob o piso. Eu podia entrar em qualquer lugar. Eu era campeã. Podia me esconder melhor do que ninguém. Todos eles disseram que eu estava trapaceando, porque eu era menor do que todo mundo, mas não era porque eu era menor. Eu era apenas mais esperta, isso sim! E eu tenho uma boa memória. Eu podia lembrar de qualquer lugar que eu tinha estado antes.

— Você é realmente boa nisso.




A garota parecia satisfeita.

O olhar de Ripley foi através do pára-brisa até a estação de processamento à sua frente.
Era uma estrutura feia, estritamente utilitária. Um milhão de tubos e câmaras e condutores tinha sido lavada por décadas pela areia trazida pelo vento. E era tão eficiente quanto feia. Trabalhando contra o relógio durante anos a fio, ela e suas estações irmãs espalhadas por todo o planeta, quebravam os componentes da atmosfera de Acheron, limpava-os, e, eventualmente, produziria uma biosfera agradável com um clima ameno, acolhedor.

Beleza brotando de tanta feiúra.


 


A massa de metal monolítico se elevava sobre o veículo blindado quando Wierzbowski freou em frente à entrada principal. Liderados por Hicks e Apone, os soldados esperaram em frente da colossal entrada. Até perto do complexo, o trovoar de máquinas pesadas, enchia seus ouvidos, elevando-se acima do apito constante do vento.

A máquina continuava a fazer o seu trabalho, mesmo na ausência de seus mestres humanos.

Hudson foi o primeiro a chegar na entrada e correu os dedos sobre os controles da porta.

— Surpresa, meninos e meninas. Funciona!

Ele manuseou um único botão, e a barreira pesada deslizou para o lado, revelando um corredor interior. A direita uma rampa de concreto levava para baixo.

— Qual o caminho, senhor? — Apone perguntou.

— Pegue a rampa — Gorman instruiu-os de dentro da APC. — Leve-os para baixo. Nível C.

— Entendido — o sargento apontou para suas tropas. — Drake, tomar posição. O resto de vocês segue de dois em dois. Vamos lá!

Hudson hesitou no painel de controle.

— E sobre a porta?

— Não há ninguém aqui. Deixe-a aberta.

Começaram a descer a rampa ampla para as entranhas da estação. 
Luz filtrada de cima para baixo, inclinando através de pisos e passarelas formadas por malhas de aço, dobrando-se em torno de conduites, como tubos de órgão.
Eles mantinham as luzes dos trajes ligadas, de qualquer maneira.

Os múltiplos pontos de vista fornecidos por suas câmeras saltavam e balançavam enquanto caminhavam, dificultando a visualização para aqueles que estavam assistindo os monitores dentro do APC. Eventualmente, com o piso nivelado as imagens se estabilizaram. Múltiplas lentes revelaram um piso transbordando com cilindros pesados e pilhas de caixas de plástico e de metal.

 


— Nível B — Gorman disse. — É no próximo nível abaixo. Tentem mover-se um pouco mais lentamente. É difícil ver qualquer coisa quando vocês estão se movendo rapidamente em uma curva descendente.

Dietrich virou-se para Frost.

— O que ele quer? Que a gente voe? Dessa forma a imagem não iria saltar.

Hudson chamou de volta para ela: — Que tal se eu jogá-la por sobre a mureta?

— A imagem seria boa também, até que você batesse no fundo.

— Calem-se ai atrás! — Apone rosnou.

* * *

Na área de monitoramento, Ripley olhou por cima do ombro direito de Gorman, e Burke por sobre o outro, enquanto Newt apertava-se junto deles.

 


Apesar de toda parafernália de vídeo que o tenente podia comandar, nenhuma das câmeras individuais fornecia uma imagem clara do que as tropas estavam vendo.

— Experimente um canal mais básico — Burke sugeriu.

— Foi a primeira coisa que fiz, Sr. Burke. Há uma enorme quantidade de interferência lá em baixo. Quanto mais profundo, mais os sinais precisam atravessar, e essas unidades individuais não são poderosas.Afinal, do que são construidas estas estações?

— Fibra de carbono e sílica combinada sempre que possível, para dar resistência e leveza. Um monte de vidro metálico também. Fundações e subníveis, nada de tão extravagante, pisos de concreto e aço com ligas de titânio.

Gorman foi incapaz de conter sua frustração enquanto brincava inutilmente com seus instrumentos.

— Se a energia de emergência estivesse desligada, a recepção seria mais clara, mas estariam avançando com nada além de luzes dos trajes para guiá-los.

Balançou a cabeça estudando as imagens desfocadas e as estranhas construções pouco compreensíveis e inclinou-se para o painel.

 

— Nós não estamos conseguindo ver grande coisa. O que é isso?

A quase inaudível voz de Hudson veio tão afetada pela estática quanto a visão fornecida por sua câmera. — Você é que sabe. Não trabalho aqui.

O tenente encarou Burke. — Seu pessoal construiu isso?

O representante da Companhia inclinou-se para a linha de monitores, para observar melhor as imagens turvas sendo transmitidas das entranhas da estação.

— De jeito nenhum.

— Então você não sabe o que é?

— Nunca vi nada parecido em minha vida.

— Poderiam ter sido os colonos?

Burke continuou a olhar, finalmente balançou a cabeça. — Se eles fizeram, foi de improviso. Não saiu do manual de construção da estação.

Algo tinha sido adicionado à treliça de tubos e conduites que atravessavam o nível mais baixo da estação de processamento. Não havia dúvida de que era o resultado de uma concepção para alguma finalidade, não de um acidente industrial desconhecido. Visivelmente húmido e brilhante em alguns pontos, o material utilizado para construir se assemelhava a uma resina líquida solidificada ou cola. Em lugares que a luz penetrava o material, até uma profundidade de vários centímetros, revelava-se uma estrutura interna complexa. Em outros locais a substância era opaca. Cores verdes e cinzas predominavam e aqui e ali um toque de verde mais escuro.


Câmaras intrincadas variavam em tamanho, de meio metro de diâmetro para uma dúzia de metros de diâmetro, todos interligados por tiras frágeis semelhantes a teias, que, em uma inspeção mais próxima, acabou por mostrar-se quase tão forte quanto um cabo de aço. Túneis levavam mais fundo no labirinto enquanto poços cónicos peculiares desciam fundo ao chão. Tal mistura de material adicionado a maquinaria tornava difícil dizer onde a obra humana terminava e algo de uma natureza completamente diferente começava. Em certas partes quase imitava os equipamentos existentes, embora se o propósito fosse ser uma imitação ou se duplicação meramente às cegas, ninguém poderia dizer.

Todo o complexo reluzente estendia-se até longe, para trás do Nível C, o quanto as câmeras da tropa podia penetrar. A incrustação não parecia ter de forma alguma prejudicado o funcionamento da estação.


 



De todos, apenas Ripley tinha alguma idéia do que os soldados tinham encontrado, e ela estava momentaneamente horrorizada para explicar.
Ela só podia olhar e lembrar.

Gorman olhou para trás por um instante e viu a expressão em seu rosto.

— O que é isso?

— Eu não sei.

— Sabe de alguma coisa, mais do que qualquer um de nós. Vamos, Ripley. Fale. Neste momento eu pagaria uma centena de créditos por uma dica.

— Eu realmente não sei. Acho que vi algo como isso antes, mas não tenho certeza. É diferente, de alguma forma. É... mais elaborado.

— Me fale quando souber — desapontado, o tenente virou-se para o microfone.
— Continue com seu avanço, sargento.


 

Os soldados retomaram sua marcha, suas luzes brilhando nas paredes vítreas em torno deles. Quanto mais profundo entravam ao labirinto, mais assumia a aparência de terem sido cultivadas ou segregadas ao invés de construídas. O labirinto parecia o interior de um órgão gigantesco ou osso. Não um órgão humano, nem um osso humano.


Qualquer que fosse sua finalidade, aquilo concentrava calor residual do reator de fusão do processador. Vapor de água pingava em poças formadas no chão, como se a fábrica respirasse.

— Está se abrindo um pouco à frente — Hicks girou a câmera ao redor. A tropa estava entrando em uma grande câmara, abobadada. As paredes mudaram abruptamente em caráter e aparência.

Ripley murmurou: — Oh, meu Deus.

Burke soltou um palavrão, em choque. Câmeras e luzes dos trajes iluminaram a câmara. Em vez de paredes lisas, curvas, estas eram ásperas e irregulares. Uma formação robusta composta por detritos recolhidos a partir da colônia: móveis, fiação, componentes sólidos e pedaços de máquinas quebradas, objetos pessoais, roupas rasgadas, ossos humanos e caveiras, fundidos em conjunto com a resina onipresente e translúcida.

Hudson estendeu a mão enluvada ao longo de uma parede, casualmente acariciando um bolo de costelas humanas, colhidas no lodo resinoso.

 

— Já viram alguma coisa como essa antes?

— Eu não — Hicks teria cuspido se tivesse espaço para isso.

Dietrich esperara para emitir uma opinião e assim o fez. — Parece um tipo de cola segregada. Seus garotos malvados cuspiram este material ou o que, Ripley?

— Eu... eu não sei como é fabricado, mas já vi isso antes, em uma escala muito menor.

Gorman franziu os lábios, a análise desfizera o choque inicial.

— Parece que eles precisavam da colônia como material de construção.

Ele indicou a imagem oferecida pela câmera de Hicks. — Há toda uma pilha de discos de armazenamento lá.

— E células de energia portáteis — Burke fez um gesto em direção a outro dos monitores individuais. — Material caro.

— E os colonos — Ripley apontou — olhe o que foi feito com eles...

Virou-se para olhar para a menina de pé ao lado dela.

— Newt, é melhor você ir sentar-se na frente. Vá!

Ela assentiu com a cabeça e obedientemente se dirigiu para a cabine do piloto.

O vapor do nível C intensificou-se quando as tropas alcançaram um espaço ainda mais profundo da câmara. Um aumento considerável na temperatura.

— Está um forno aqui — Frost resmungou.

— Sim — Hudson concordou sarcasticamente — mas é um calor seco.

Ripley olhou para as telas à esquerda. Burke e Gorman acompanharam a sua intenção. À esquerda do tenente havia um pequeno monitor que mostrava uma leitura gráfica do chão da estação.


— Estão bem debaixo dos trocadores de calor primários.

— Sim — Burke era incapaz de tirar os olhos da imagem sendo transmitida pela câmera de Apone. — Talvez os organismos necessitem de calor.

— Não foi isso que eu quis dizer. Gorman! Se o seu pessoal usar suas armas ai dentro, eles vão romper o sistema de resfriamento.

Burke de repente se deu conta do que Ripley queria dizer.

— Ela está certa.

— E daí? — Perguntou o tenente.

— E daí — continuou ela — o freon ou a água naqueles canos, é para fins de resfriamento.

— Ótimo — ele bateu na tela — vai esfriar todos.

— Vai fazer mais do que esfriá-los.

— Por exemplo?

— O sistema de contenção de fusão será desligado.

— E...?  Por que ela não vai direto ao ponto? Não percebe que estou tentando conduzir  uma missão aqui?

— Estamos falando de explosão termonuclear.

Suas palavras fizeram Gorman parar para pensar, pesando suas opções.
Sua decisão foi facilitada pelo fato de que não tinha nenhuma outra opção.

— Apone, recolha o armamento perfurante ou explosivo. Não podemos disparar.

Apone não era o único que ouviu a ordem. Os soldados olharam um para o outro com uma combinação de descrença e desânimo.

— Tá louco? — Wierzbowski agarrou o rifle as costas, como se desafiando Gorman a desarmá-la pessoalmente.

Hudson rosnou. — O que usaremos, cara? Xingamentos? — Falou em seu microfone. — Ei, Tenente, talvez devêssemos tentar judô? E se estiverem armados?

— Eles não têm armas — Ripley assegurou-lhe.

— Você não vai lá nu, Hudson — Gorman disse — você tem outras armas que podem usar.

— Talvez não seja uma má idéia — Dietrich murmurou.

— O que, usar outras armas? — Perguntou Wierzbowski.

— Não. Hudson ir lá nu. Nenhum ser vivo poderia suportar o choque.

— Foda-se, Dietrich —  o técnico respondeu.

Com um suspiro a médica arrancou o pente de cartuchos explosivos de 10 mm de seu rifle de pulso M41A.

— Usaremos os incineradores M240. — Gorman não estava de brincadeira. — Quero todos os rifles guardados!

— Vocês ouviram o tenente!

Apone começou a circular entre eles, coletando os pentes de munição. — Tirem!



Um por um, as armas foram esvaziadas. Vasquez entregou as baterias da Smartgun com grande relutância. Três dos soldados carregavam unidades de incineração além das armas de penetração. Estes foram empunhados e verificados.

Sem que Apone ou qualquer um dos seus colegas visse, Vasquez puxou uma célula de energia de reserva da parte de trás de sua calça e enfiou-a na sua Smartgun.
Assim que os olhos do sargento e todas as câmeras estavam distraídos, Drake fez o mesmo. Os dois operadores das Smartgun trocaram uma piscadela.


Hicks não tinha ninguém para piscar e nenhuma Smartgun. Descompactou sua armadura de torso e abriu a bainha interna para revelar a arma de metal cinzenta de canos gêmeos, de uma espingarda antiga com a coronha serrada.

Hudson olhava com interesse profissional para o cabo e sua relíquia bem conservada.

— Onde você conseguiu isso, Hicks? Quando vi essa protuberância, pensei que você estava escondendo bebidas. Roubou um museu?

— Está na minha família há muito tempo. Bonita, não é? — Hicks mostrou-lhe um cartucho. — Não é o material militar padrão de alta-velocidade,  mas você não vai querer experimentar isso na cara, também. — Manteve a voz baixa. — Eu sempre achei que um dia seria útil. Para encontros íntimos. Não acho que vai penetrar qualquer coisa longe o bastante para detonar este lugar.

— Sim, é realmente bonita — Hudson deu um olhar de admiração. — Você é um romântico, Hicks.

O cabo sorriu. — É a minha natureza.

A voz de Apone veio da frente. — Vamos andar. Hicks, você pega a retaguarda.

— O prazer é meu, Sargento — o cabo descansou a velha espingarda sobre seu ombro direito, equilibrando-o facilmente com uma mão, e um dedo no gatilho. Hudson sorriu e deu o sinal de positivo a Hicks, e correu para tomar sua posição.

O ar era espesso e as luzes sumindo no vapor turvo.
Hudson sentiu como se estivessem avançando através de uma selva de aço e plástico.



Gorman ecoou em seu fone de ouvido. — Algum movimento?

A voz do tenente parecia fraca e longínqua, mesmo Hudson sabendo que ele estava apenas a um par de níveis acima, na entrada para a estação de processamento.
Manteve os olhos no rastreador enquanto avançava.

— Hudson aqui, senhor. Nada até agora.

Virou uma esquina e olhou para cima. E o que viu o fez esquecer o rastreador, esquecer seu rifle, esquecer tudo.

Incrustrados na parede diretamente na frente deles, bojos e ondulações esculpidas por algo que não era humano, a versão teratogênica dos “Portões do Inferno” de Rodin.

Ali se encontravam os colonos desaparecidos, sepultados vivos na mesma resina que tinha sido utilizada para construir os túneis, as câmaras e os poços, e tinha transformado o nível mais baixo da estação em algo saído de um pesadelo xenopsicótico.

Cada um deles fora encapsulado na parede sem ter em conta o conforto humano. Braços e pernas haviam sido grotescamente torcidos, quebrados quando necessário a fim de fazer com que a infeliz vítima se encaixasse corretamente, pendendo em ângulos não naturais. Muitos dos corpos reduzidos a pedaços de ossos ressecados a partir do qual a carne e a pele tinham deteriorado. Outros eram só osso nu. Eram os afortunados a quem tinham sido concedida a dádiva da morte.

Cada cadáver tinha uma coisa em comum, não importava onde se localizava ou como tinha sido colocado na parede: as caixas torácicas tinham sido dobradas para fora, como se o esterno houvesse explodido de dentro.

Os soldados se moveram lentamente para dentro da câmara de embriões.
Suas expressões eram sombrias. Ninguém disse nada.
Não havia um entre eles que não tivesse rido da morte, mas isso era pior do que a morte.

Era obsceno.

Dietrich aproximou-se da figura estalagmite de uma mulher. O corpo branco fantasmagórico fora drenado. De pálpebras abertas, e, como se sentisse o movimento ou a sua presença, seus olhos se mexeram na sua direção.

Loucura.


A figura falou com uma voz oca e sepulcral, um sussurro conjurado por desespero.

Tentando ouvi-la, Dietrich se inclinou pra perto dela.

— Por favor, me mate.

A médica tropeçou para trás.

Dentro da segurança do APC Ripley só podia olhar impotente, mordendo com força os nós dos dedos de sua mão esquerda. Ela sabia o que estava por vir, sabia o que motivou o pedido final da mulher, assim como sabia que nem ela, nem ninguém, não podia fazer coisa alguma a não ser obedecer.




O som de alguém vomitando veio dos alto-falantes.
Ninguém fez piadas sobre isso, também.

A mulher presa na parede começou a convulsionar. De algum lugar surgira forças para gritar, um grito constante, de agonia sem sentido.

Ripley deu um passo para o microfone mais próximo, querendo alertar os soldados sobre o que estava por vir, mas a sua garganta foi incapaz de fazer o seu trabalho.


Não foi necessário.
Eles haviam estudado os registros de investigação que ela tinha preparado para eles.

— Incineradores! — Apone gritou. — Agora!


 

Frost entregou seu lança-chamas portátil para o sargento e afastou-se. Quando Apone o tomou, o peito da mulher entrou em erupção em um jato de sangue. A partir da cavidade formada, um pequeno crânio surgiu sibilando violentamente.

O dedo de Apone puxou o gatilho. Os dois outros soldados que carregavam incineradores semelhantes imitaram-o. Calor e luz encheram a câmara, queimando a parede e obliterando o horror. Casulos e seus conteúdos derreteram, escorrendo como caramelo translúcido. Um guincho ensurdecedor ecoou em seus ouvidos. O que não foi carbonizado pelo intenso calor derreteu totalmente. A parede escorreu em torno de suas botas como plástico derretido, mas o cheiro não era de plástico.
Exalava um fedor orgânico.

Todos na câmara tinham a atenção na parede e nos incineradores.

Ninguém viu a seção de uma outra parede contrair-se.

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