segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Aliens - Alan Dean Foster (Parte 16)


Hudson colocara o console portátil tático ao lado do terminal do computador principal da colônia. Cabos pendiam a partir do console para o computador, um ninho de ratos de conexões que permitia a quem se sentasse atrás do console tático, obter informações funcionais da colônia.

Hicks levantou os olhos do terminal quando Ripley entrou nas Operações e bateu no interruptor de alarme, desligando-o.

Vasquez e Hudson se juntaram a ela em torno do console.

— Eles estão vindo — ele informou-os calmamente. — Pensei que você gostaria de saber. Já estão no túnel.

Ripley umedeceu os lábios enquanto olhava para as leituras no console.

— Estamos prontos para eles?

O cabo deu de ombros. — Tão prontos quanto possível. Assumindo que tudo o que fizemos foi no improviso. Garantia dos fabricantes não vão ser muito úteis para nós, se aquelas armas sentinelas não funcionarem. Elas são tudo o que temos.

— Não se preocupe, cara, vão fazer o trabalhar — Hudson parecia bem melhor do que antes, após o ataque inicial nos níveis mais baixos da estação de processamento. — Eu preparei a festa para estes otários. Uma vez que sejam acionadas, pode deixar com elas, esqueçam. Só não sei se será o suficiente.

— Não adianta se preocupar com isso. Estamos apostando tudo que temos. As armas remotas vão funcionar. Depende de quantos deles existem.

Hicks manuseou um par de chaves de contato e olhou para as leituras dos sensores de movimento montados nas armas A e B. Estavam piscando rapidamente, o estroboscópio acelerado até que ambas as luzes brilhavam de forma constante. Então a artilharia pesada fez o chão tremer ligeiramente.

— Armas A e B atirando em alvos múltiplos — olhou para Hudson. — Bom poder de fogo.

O técnico ignorou Hicks, focado nas múltiplas leituras.

— Outra dúzia de armas — murmurou baixinho. — Era do que precisávamos. Se tivéssemos mais uma dúzia de armas...



Um estrondo constante ecoava pelo complexo das armas automáticas disparando sem parar. Os contadores de munição no console diminuiram inexoravelmente para dois dígitos.

— Cinquenta balas por arma. Como é que vamos detê-los com apenas cinquenta tiros por arma? — Hicks murmurou.

— Eles devem estar vindo pelas paredes — Hudson apontou as leituras. — Olhe para os contadores de munição? É uma galeria de tiro lá embaixo.

— E o ácido? — Perguntou Ripley. — Sei que essas armas são blindadas, mas você já viu essa coisa. Vai comer e atravessar qualquer coisa.

— Enquanto as armas continuarem a disparar, tudo bem — Hicks disse. — Essas blindagens suportam bastante bem o impacto. Se continuarem atirando, vai manter o ácido à distância. Pode pulverizar as paredes e o chão, mas as armas estarão bem.





Isso certamente parecia ser o que estava acontecendo no túnel de serviço porque as armas sentinelas mantiveram o bloqueio. Dois minutos se passaram; três. O contador da arma B chegou até zero, e os trovões foram reduzidos para a metade. Seu sensor de movimento continuou a piscar no mostrador tático conforme a arma descarregada rastreava alvos que não podia mais acertar.

— A arma B secou. Sobraram vinte na A — Hicks disse com a garganta seca. — Dez. Cinco. É isso aí. Acabou.



Um silêncio sombrio desceu sobre eles. Foi quebrado por um estrondo reverberando a partir debaixo e repetido em intervalos regulares, como um enorme gongo. Cada um deles sabia o que significava o som.

— Estão na porta corta-fogo — Ripley murmurou. O som crescia em força e ferocidade. Audível junto com o estrondo mais profundo havia outro novo som: o raspar nervoso de garras de aço.

— Acho que eles podem atravessá-la — Ripley disse a Hicks que parecia notavelmente calmo.

— Certeza ou resignação?

— Um deles rasgou uma escotilha do APC quando tentou puxar Gorman para fora, lembra?

Vasquez acenou com a cabeça para o chão.

— Aquilo lá embaixo não é nenhuma escotilha, é uma porta de incêndio dupla classe A, três camadas de aço com fibra de carbono entre elas. A porta vai dar conta. São as soldas que me preocupam. Nós não tivemos muito tempo. Eu me sentiria melhor com um par de barras de solda cromita e um laser, em vez de trabalhar com uma tocha de gás.

— E mais uma hora — Hudson acrescentou. — Por que vocês não desejam um par de mísseis antipessoal. Um desses bebês limparia o túnel todo.

O interfone tocou assustando-os. Hicks abriu o áudio.


— Bishop falando. Ouvi as armas. Como estamos indo?

— Tal como era esperado. Sentinelas A e B estão sem munição, mas devem ter feito algum dano.

— Isso é bom, porque tenho algumas más notícias.

Hudson fez uma careta e recostou-se contra um armário. — Que tipo de notícia ruim?

— Será mais fácil explicar e mostrar-lhe ao mesmo tempo. Eu vou pra aí.

— Estaremos aqui — Hicks cortou a transmissão.

O andróide chegou e dirigiu-se para a única janela que dava vista para grande parte do complexo. O vento afastara o nevoeiro.

A visibilidade ainda estava longe de ser perfeita, mas era suficiente para permitir-lhes um vislumbre da estação de processamento distante. Enquanto olhavam, uma coluna de fogo de forma inesperada subiu ao céu a partir da base da estação. Por um instante, foi mais brilhante do que o jorro luminoso e constante que emanava do topo do cone.

— O que foi isso? — Hudson pressionou o rosto contra o vidro.

— Ventilação de emergência — Bispo informou.

Ripley estava em pé perto deles. — Vai conter sobrecarga?



— Sem chance. Não. Estive monitoramento os números, e são completamente precisos.

— O que aconteceu? — Hicks falou caminhando para o console tático. — Os alienígenas causaram isso?

— Não há como afirmar. Talvez. O mais provável é que alguém acertou alguma coisa vital, uma explosão de um rifle de pulso durante a luta no nível C, ou o dano pode ter sido feito quando a Bug Stomper colidiu com a base do complexo. A causa não importa. Tudo o que importa é o resultado, e que não é bom.



Ripley tocou a janela com os dedos, pensou melhor, e tirou-a. Enquanto olhava, outro jorro de gás superaquecido deflagrou a partir da base da estação

— Quanto tempo antes de explodir?

— Não há como ter certeza. Podemos extrapolar a partir dos dados disponíveis, mas sem qualquer grau de certeza. Há muitas variáveis envolvidas que só podem ser mais ou menos compensadas, e os cálculos necessários são complexos.

— Quanto tempo? — Perguntou Hicks pacientemente.

O andróide se virou para ele.

— Com base nas informações que fui capaz de reunir, eu estou projetando falha total dos sistemas em pouco menos de quatro horas. O raio de explosão será de cerca de 30 km. Cerca de dez megatons.

— Isso é muito reconfortante — disse Hudson secamente.

Hicks assobiou. — Temos problemas.

O técnico em comunicações descruzou os braços e se afastou de seus companheiros.

— Eu não acredito nisso — disse desconsolado. — Você acredita? As armas fizeram em pedaços um monte de desgraçados, a porta corta-fogo ainda está segurando, e tudo isso é um desperdício!

— É muito tarde para impedir a explosão? Assumindo que a instrumentação necessária para fazê-lo ainda está operacional? — Ripley perguntou para o andróide. — Não que eu esteja ansiosa de sair por ai, mas se essa é a única chance que temos, eu vou ariscar.

Ele sorriu com pesar.

— Temo que seja tarde demais. O impacto da nave, ou as armas, ou qualquer outra coisa, fez um dano irreparável. Neste ponto, a sobrecarga é inevitável.

— Ótimo. Então, qual é o procedimento recomendado agora?

Vasquez sorriu para ela e disse: — Incline-se, coloque a cabeça entre as pernas, e se despeça de seu traseiro.

Hudson estava andando de um lado para o outro feito uma fera enjaulada.

— Caramba! Faltava pouco pra mim... Quatro semanas mais e adeus. Três delas no hipersono. Aposentadoria antecipada. Dez anos nos fuzileiros e você está fora, numa boa, disseram os malditos recrutadores. Agora eu vou morrer? Não é justo, cara!



Vasquez parecia entediada. — Dá um tempo, Hudson!.

Ele girou para encará-la.

— Isso é fácil para você dizer, Vasquez. Você está nisso até morrer. Você adora perder tempo nessas porcarias de planetas alienígenas para matar tudo que tiver mais de dois olhos. Mas eu entrei nessa pela pensão. Dez anos e fora, pego a grana e compro um pequeno bar em algum lugar, contrato alguém para trabalhar pra mim e posso relaxar e ficar de papo furado com os clientes, enquanto o dinheiro entra.

A operadora da M56 Smartgun olhava em direção à janela quando outro jato de gás iluminou a paisagem. Sua expressão era severa.

— Está partindo meu coração.

— É simples — Ripley virou-se para Hicks. — Não podemos ficar aqui, então temos que fugir. Só há uma maneira de fazer isso. Precisamos de outra nave. Aquela que ainda está na Sulaco. De alguma forma temos que trazê-la para baixo no controle remoto. Tem que haver uma maneira de fazer isso.




— E tem. Você acha que eu não tenho pensado nisso desde que Ferro virou pó? — Hudson parou de andar. — Você usa um transmissor sintonizado em banda estreira para controlar a nave...

— Eu sei, — disse ela impaciente — pensei sobre isso também, mas não podemos fazê-lo mais.

— Certo. O transmissor estava na APC. Já era.

— Tem que haver outra maneira de trazer a nave para baixo, não sei como. Pense! Você é o especialista. Pense em algo!

— Pensar no que? Estamos mortos!

— Você pode fazer melhor do que isso, Hudson. Que tal o transmissor da colônia? A torre na outra extremidade do complexo. Poderíamos programá-lo para enviar uma frequência de controle. Por que não? Ela parecia intacta.

— Este pensamento já me ocorreu — todos os olhos se voltaram para Bishop. — Já verifiquei. O cabeamento entre aqui e o transmissor na torre foi cortado nos combates entre os colonos e os alienígenas, mais uma razão por que eles não foram capazes de se comunicar via satélite, mesmo que fosse apenas para deixar um aviso de advertência.

A mente de Ripley estava girando como um dínamo, explorando opções, considerando e desconsiderando possíveis soluções até que apenas uma restasse.

— Então, o que você está dizendo é que o próprio transmissor ainda é funcional, mas que não pode ser operado a partir daqui?

O andróide olhou pensativo e finalmente concordou.
— Se está recebendo a sua quota de energia de emergência, então sim, não vejo por que não seria capaz de enviar os sinais necessários. Não seria preciso uma grande quantidade de energia, já que todos os outros canais que normalmente seriam de radiodifusão estão inoperantes.

— É isso, então — ela esquadrinhou os rostos de seus companheiros. — Alguém vai ter que ir lá fora, com um terminal portátil e ligar manualmente.

— Oh, certo, moleza! — Disse Hudson com falso entusiasmo. — Com essas coisas correndo por aí. De jeito nenhum!

Bispo deu um passo adiante. — Eu vou.

Ripley ficou boquiaberta. — O quê?




Ele sorriu desculpando-se.

— Sou o único presente qualificado para pilotar remotamente uma nave de desembarque de dezoito toneladas. E o tempo lá fora não me afeta como faria com vocês. Nem vou estar sujeito ao mesmo grau de... distrações mentais. Eu vou ser capaz de me concentrar no trabalho.

— Se você não encontrar nenhum dos monstros — Ripley observou.

— Sim, eu vou ficar bem, se não for interrompido, — seu sorriso se alargou — acreditem em mim, eu prefiro não ter que fazer isso. Posso ser sintético, mas não sou estúpido. Como ser incinerado numa explosão nuclear é a única alternativa, estou disposto a tentar.

— Tudo bem. Do que você precisa?

— O transmissor portátil, é claro. Vamos precisar verificar se a antena ainda está recebendo energia. Já que estamos fazendo uma transmissão extra-atmosférica em um feixe estreito, a antena terá de ser realinhada com a maior precisão possível. Eu também vou precisar de alguns...

Vasquez interrompeu-o bruscamente: — Ouçam!

— O quê? — Hudson virou-se para ela. — Não tô ouvindo nada!

— Exatamente.

Ela estava certa. O ruído crescente e o arranhar da porta corta-fogo havia cessado. Enquanto ouviam, o silêncio foi quebrado pelo trinado de um alarme sensor de movimentos. Hicks consultou o console tático.

— Estão no complexo!

Não demorou muito para reunirem o equipamento que Bishop necessitava.
Encontrar uma saída segura era outra questão. Debateram possíveis rotas de saída, misturando informações do computador da colônia com sugestões a partir do console tático, e com as suas próprias opiniões pessoais.
O resultado foi uma rota consensual que pareceu ao grupo ser mais promissora.

Apresentaram-na a Bishop. Androide ou não, ele teria a palavra final. Juntamente com uma infinidade de outras emoções humanas, os novos sintéticos também eram programados para autopreservação.

Havia pouco para discutir. Todos concordaram que a rota escolhida era a única que oferecia a chance para ele escorregar deixar o local sem atrair atenção indesejada. Seguiu-se um silêncio desconfortável até que ele estivesse pronto para partir.

Um dos buracos feito pelo ácido durante a batalha perdida dos colonos com os alienígenas tinha formado uma abertura apropriada no chão do laboratório médico.
O buraco oferecia acesso ao labirinto de canos e dutos de serviço. Alguns deles tinham sido adicionados posteriormente à construção original da colônia e acrescentado a ela pelos habitantes industriosos de Hadley. Era em uma dessas adições que Bishop estava se preparando para entrar.

O andróide abaixou-se através da abertura, contorcendo-se até conseguir deitar-se de costas, olhando para os outros.




— Como é ai embaixo? — Perguntou-lhe Hicks.

Bishop olhou para trás entre seus pés, em seguida, arqueou o pescoço para olhar para frente.

— Escuro. Vazio. Apertado, mas acho que posso fazer isso.

É melhor que sim, Ripley meditou em silêncio. — Pronto?

— Passe o transmissor.

Ela entregou-lhe o pesado e compacto dispositivo.

Ele empurrou-o à sua frente. Felizmente, o instrumento fora revestido de plástico de proteção. Faria algum barulho ao ser empurrado ao longo do duto, mas não tanto quanto metal raspando em metal. Levantou as mãos.

— Me dê o resto.

Ripley passou-lhe então uma pequena mochila com ferramentas, cabos e placas de circuito de correção e substituição, uma pistola de serviço e um pequeno maçarico de corte, juntamente com combustível para o mesmo. Mais peso para carregar, atrasando sua viagem. Melhor levar um pouco mais de tempo até a torre do que chegar rápido sem algum item vital.

— Você tem certeza sobre o caminho? — Ripley perguntou para ele.

— Se o esquema da colônia atualizado estiver correto, sim. Esse duto tem uns cento e oitenta metros. Digamos, 40 minutos para rastejar até lá. Seria mais fácil com esteiras ou rodas, mas os meus desenhistas deram-me pernas.

Ninguém riu.

— Depois que eu chegar lá, uma hora no máximo para corrigir e alinhar a antena. Se eu receber uma resposta imediata, trinta minutos para preparar a nave, e em seguida, cerca de cinquenta minutos de vôo.

— Por que tanto tempo? — Perguntou Hicks.

— Um piloto a bordo levaria metade disso, mas pilotar remotamente a partir de um terminal portátil vai ser complicado. A última coisa que eu quero fazer é apressar a descida e perder o contato ou o controle. Preciso de um tempo extra para trazê-la lentamente. Caso contrário,pode acabar como a outra.

Ripley ajustou seu cronômetro.

— É melhor você ir.

— Certo. Vejo vocês em breve.

Sua despedida estava cheia de alegria forçada. Uma atitude para animá-los, Ripley sabia. Não havia razão para surir efeito com ela.

Ele era apenas um sintético, uma máquina.

Virou-se se afastando do buraco quando Vasquez deslizou uma placa de metal sobre a abertura e começou a soldá-la no lugar.



Não houve qualquer consideração adicional sobre o que Bishop tinha que fazer. Se falhasse eles não teriam que se preocupar com os alienígenas. A estação de processamento iria terminar com todos os seus problemas.

Bishop estava deitado de costas, observando o brilho do soldador de Vasquez transcrever um círculo sobre sua cabeça. Um belo espetáculo e ele era sofisticado o suficiente para apreciar a beleza, mas estava perdendo tempo. Rolou de barriga e começou a se contorcer-se pra frente, empurrando o terminal e o saco de equipamento.
Contorcer-se, empurrar, contorcer-se, devagar. O duto era largo o bastante apenas para seus ombros. Felizmente, não estava sujeito a claustrofobia, ou vertigem ou qualquer um dos outros males mentais que a humanidade sofria. Havia muito a ser dito a respeito da inteligência artificial.

Na frente dele, o infinito. Isto é como uma bala deve se sentir, pensou, ao dar entrada no cano de uma arma. Só que uma bala não estava sobrecarregada com sentimentos e ele sim. Mas só porque tinha sido programado para isso.

A escuridão e a solidão lhe deram muito tempo para pensar. Avançar não requeria esforço mental, por isso foi capaz de pensar na sua condição.




Sentimentos e programação. Raiva orgânica, byte da ira? Em última análise era essa a diferença entre ele e Ripley ou qualquer um dos outros seres humanos? Além do fato de que ele era um pacifista e a maioria deles era guerreira, é claro. Como é que um ser humano adquiria seus sentimentos?

Programação lenta. Um bebê humano vinha ao mundo já pré-programado pelo instinto, mas pode ser radicalmente reprogramado por conta do ambiente, companheiros, educação, e uma série de outros fatores. Bishop sabia que sua própria programação não era afetada pelo ambiente. O que havia acontecido com seu semelhante antes, que tinha enlouquecido e causara em Ripley motivo para odiá-lo por isso? Uma falha na programação, ou deliberada reprogramação maliciosa, feita por algum ser humano ainda não identificado? Por que um ser humano faria uma coisa dessas?

Não importava quão sofisticada era a sua própria programação ou o quanto aprendeu durante sua existência, Bishop sabia que a espécie que o tinha criado, ficaria para sempre envolta em mistério. Para uma humanidade sintética ela seria sempre um enigma, embora um divertido e cheio de surpresas.

Em contraste com seus companheiros, não havia nada de misterioso sobre os alienígenas. Sem mistérios incompreensíveis para se refletir, não há duplos sentidos a desvendar. Você pode facilmente prever como agiriam em uma dada situação. Além disso, uma dúzia de alienígenas provavelmente reagiria da mesma forma, enquanto uma dúzia de seres humanos poderia fazer uma dúzia de coisas completamente diferentes e independentes. Mas os seres humanos não eram membros de uma sociedade colméia. Pelo menos não escolheriam pensar em si como tal. Bishop ainda não tinha certeza.

Afinal, não havia tanta diferença entre o ser humano, alienígena, e androide. Todas as culturas tipo colméia. A diferença era que a colméia humana era governada pelo caos provocado por essa coisa peculiar chamada de individualidade. Fora programado também com isso. Como resultado, ele era parte humano. Um orgânico honorário, em alguns aspectos, melhor do que um ser humano, em outros, menos. Sentia-se melhor quando eles agiam como se ele fosse um deles.

Verificou seu cronômetro. Teria que rastejar mais rápido ou nunca chegaria a tempo.

* * *

As armas robô que guardavam a entrada abriram fogo, seu barulho metálico subindo ao longo dos corredores. Ripley pegou o lança-chamas e se dirigiu para o computador central. Vasquez terminou a placa que bloqueava o buraco do coelho de Bishop com um floreio, colocou a tocha de lado e seguiu a outra mulher.

Hicks estava olhando para o console tático, hipnotizado pelas imagens transmitidas pelas câmaras de vídeo no topo das armas. Acenou para as duas recem-chegadas.


— Deem uma olhada nisso — disse calmamente.

Ripley se forçou para olhar. De alguma forma, o fato de eram distantes imagens bidimensionais em vez de uma realidade imediata tornou tudo mais fácil.

Cada vez que uma arma disparava, a breve chama branca saida do cano, tornava a imagem um borrão branco, mas o suficiente para assistir a horda alienígena aproximando-se aos empurrões, tropeçando pelo corredor. Cada vez que um deles era atingido, o corpo quitinoso explodia espalhando sangue-ácido em todas as direções. Buracos e ranhuras no piso e paredes destacavam-se acentuadamente. A única coisa que o ácido não afetava era outros alienígenas.

 
 


— Vinte metros e aproximando — a atenção de Hicks foi atraída para as leituras numéricas. — Quinze. Armas C e D em cinquenta por cento.

Ripley verificou a trava de segurança em seu lança-chamas para se certificar de que estava desliagada. Vasquez não precisa verificar seu M41A. Era parte dela.

As leituras piscavam de forma constante. Entre as rajadas de fogo, guinchos estridentes, não humanos eram claramente audíveis.

— Quantos? — Perguntou Ripley.

— Não consigo dizer. Montes deles. É difícil dizer quantos estão vivos e quantos estão mortos. Eles perdem braços e pernas e continuam em frente até as armas explodí-los.

O olhar de Hudson estava em outra leitura.

— Fim da arma D em vinte rodadas. Dez — engoliu em seco — acabou.

De repente o tiroteio cessou quando a arma restante ficou inerte. Fumaça e névoa obscureciam a imagem. Pequenos incêndios queimavam onde havia chamas do material inflamável no corredor. O chão estava repleto de cadáveres retorcidos e enegrecidos, um cemitério biomecânico.

Enquanto olhavam para os monitores vários corpos desmoronavam e desapareciam com o ácido vazando de seus membros, mastigado um buraco enorme no chão.

Nada se lançou da mortalha de fumaça para rasgar as armas silenciosas de suas montarias. O alarme sensor ficou em silêncio.

— O que está acontecendo? — Hudson perguntou incitado com a incerteza de seus instrumentos. — O que está acontecendo, onde estão eles?

— Eu acho... — Ripley exalou bruscamente — eles se foram, se retiraram. As armas os detiveram. Isso significa que eles podem raciocinar o suficiente para conectar causa e efeito. Eles não agem apenas, sem pensar.

— Sim, mas veja isso — Hicks bateu apontou entre um par de leituras. O contador que monitorava a arma D descansava no zero. A arma C tinha ainda dez segundos de poder de fogo. — Da próxima vez eles colocam a porta abaixo. Se APC não tivesse explodido...

— Se não tivesse explodido, não estaríamos aqui falando sobre isso. Nós estaríamos indo para algum lugar distante! — Vasquez manifestou-se nitidamente contrariada.

Apenas Ripley não desanimou.

— Mas eles não sabem até que ponto as armas ainda funcionarão. Nós os machucamos. Agora eles estão provavelmente lá fora em algum lugar, reagrupando, ou o que quer que eles façam para tomar decisões em grupo. Eles vão começar a procurar outro caminho para entrar. Isso vai atrasá-los um pouco, e quando decidirem sobre outra abordagem, serão mais cautelosos. Vão começar a ver essas armas sentinelas em todos os lugares.

— Talvez nós os desmoralizamos — Hudson recuperou sua confiança. Tinha novamente um pouco de cor em seu rosto. — Você estava certa, Ripley. Os monstros são feios, mas não são invulneráveis.

Hicks olhou para Vasquez e Hudson.

— Quero que vocês dois varram o perímetro. Operações e laboratório. Isso é tudo o que podemos cobrir. Sei que estamos todos com os nervos em frangalhos, mas tentem ficar frios e em alerta. Se Ripley estiver certa eles vão começar a testar as paredes e dutos. Temos que cobrir toda entrada. Vamos pegá-los um de cada vez quando tentarem entrar.


Os dois soldados acenaram com a cabeça. Hudson abandonou o console, pegou o rifle, e juntou-se a Vasquez indo ao corredor principal. Ripley localizou uma meia xícara de café, pegou-a, e esvaziou-a com um único gole. Tinha um gosto ruim, mas acalmou sua garganta. O cabo que a observava, esperou até que terminasse.

— Quanto tempo faz que você dormiu? Vinte e quatro horas?

Ripley encolheu os ombros com indiferença. Ela não ficou surpresa com a pergunta. Se ela parecia tão cansada quanto se sentia, não era de admirar que Hicks estivesse preocupado com ela. A exaustão ameaçava dominá-la antes que os alienígenas o fizessem.

Quando respondeu, sua voz estava distante:

— Que diferença isso faz? Estamos apenas perdendo tempo.

— Não é o que estou dizendo.

Ela assentiu com a cabeça em direção ao corredor que tinha engolido Hudson e Vasquez.

— Nós podemos dormir, mas eles não vão. Eles não vão abrandar e eles não vão recuar até que consigam o que eles querem.

— Talvez sim. Talvez não — ele sorriu levemente.

Ela tentou sorrir de volta, mas não tinha certeza se conseguiu.

Certo, então ela teria trocado um ano de salário por um bule de café fresco, mas não havia ninguém para negociar com ela e estava muito cansada.

Pendurou o lança-chamas por cima do ombro.

— Hicks, eu não vou acabar como aqueles outros. Como os colonos e Dietrich e Crowe. Você vai cuidar disso, não vai?

— Sim, vou — ele disse a ela suavemente. — Mas se estivermos ainda aqui, quando a estação de processamento explodir, não será necessário.

Desta vez, ela tinha certeza que conseguiu um sorriso.

— Eu não consigo entender você, Hicks. Os soldados não deveriam ser otimistas?

— Sim, eu sei. Você não é a primeira a pensar que sou uma anomalia.

Virando-se, pegou algo por trás do console tático.

— Eu gostaria de apresentá-la para um amigo meu.

Com a suavidade e facilidade devido a longa prática ele retirou o cartucho de munição e entregou-lhe a arma.

— M41A, 10 milímetros e também lançador de granadas de 30 milímetros. O melhor amigo do fuzileiro colonial, com exceção das namoradas. A prova de falhas, auto-lubrificante, funciona sob a água ou no vácuo e pode explodir um buraco através de uma chapa de aço. Tudo o que ela pede é que você mantenha-a limpa e que não abuse muito e ela vai mantê-la vivo.

Ripley levantou a arma. Era volumosa e desajeitada, recheada com fibra absorvente de recuo, muito mais impressionante do que seu lança-chamas.
Experimentalmente apontou para a parede oposta.

— O que acha? — Hicks perguntou a ela. — Você pode lidar com uma?

— Como faço para atirar?




Ele balançou a cabeça em aprovação e entregou-lhe o cartucho.

* * *


Não importa o quão silencioso  tentasse ser,  Bishop ainda fazia um barulho considerável com o terminal portátil e o saco de equipamentos raspando ao longo da parte inferior do duto. Nenhum ser humano poderia ter mantido o ritmo que ele manteve desde que deixara a Operações, mas isso não significava que poderia continuar assim indefinidamente. Havia limites até mesmo para as habilidades de um sintético.

Sua visão aperfeiçoada permitiu-lhe perceber as paredes do túnel às escuras. Um ser humano estaria totalmente às cegas no duto cilíndrico. Pelo menos não teria que se preocupar em perder o caminho. O caminho era uma reta direta para a torre transmissora.

Um buraco irregular apareceu na parede do lado direito, de onde vinha uma luz fraca. Entre as emoções que haviam sido programadas nele havia a curiosidade. Fez uma pausa para espiar pela fresta corroida por ácido.

Mandíbulas brilhantes vieram em direção ao seu rosto para bater contra o aço com um som metálico.

Bishop encostou-se do outro lado do duto enquanto o eco do ataque ainda reverberava. A parede curva onde as mandíbulas tinham atingido-a dobrara ligeiramente para dentro. Apressadamente ele retomou seu rastejar para frente. Para sua grande surpresa o ataque não foi repetido, nem pode sentir qualquer movimento aparente.

Talvez a criatura tivesse simplesmente sentido o movimento e agido cegamente. Quando nenhuma reação veio do interior do duto, não havia nenhuma razão para atacar novamente. Como se detecta potenciais hospedeiros? Bishop realizava todos os movimentos esperados de alguém que respira, mas sem realmente executar a respiração. Nem emitia cheiro de sangue. Para um alienígena o andróide poderia parecer apenas outra peça de maquinaria. Enquanto ele não os atacasse ou oferecesse resistência, poderia ser capaz de andar livremente entre eles. Mesmo que as reações e motivos dos alienígenas permanecessem imprevisíveis, informação era sempre útil. Se a hipótese pudesse ser verificada, poderia oferecer um meio de estudar os alienígenas.




Deixe outra pessoa estudar os monstros, pensou. Deixe outra pessoa buscar verificação. Talvez um modelo mais ousado do que ele. Queria sair de Acheron tanto para seu próprio bem quanto para dos seres humanos com que ele estava trabalhando.

Olhou para o cronômetro, fracamente brilhando na escuridão.

Atrasado.

Pálido e tenso procurou mover-se mais rápido.

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