domingo, 18 de outubro de 2015

Aliens - Alan Dean Foster (Parte 18)



Estava tudo muito quieto na sala de Operações, cada qual com seus pensamentos, mas ninguém falava. Nenhum dos pensamentos era agradável. Finalmente Hudson interrompeu essa contemplação solene e falou com sua eloquência habitual:

— Eu digo para dar um fim no sujeito, agora!

Burke se esforçou para não olhar para o focinho ameaçador do rifle do técnico.
Uma contração do dedo de Hudson, e sua cabeça explodiria como um melão maduro. Conseguiu manter uma calma gélida, traído apenas pelos grânulos isolados de suor que salpicavam sua testa. Nos últimos cinco minutos pensara e descartara meia dúzia de discursos, até que decidiu que era melhor não dizer nada. Hicks poderia ouvir seus argumentos, mas a palavra errada, até mesmo o movimento errado, e seria o seu fim.
Nisto ele estava bastante certo.

O cabo andava para lá e para cá na frente da cadeira do representante da Companhia. Ocasionalmente, ele olhava para ele e balançava a cabeça em descrença.

— Não entendi. Não faz sentido.

Ripley cruzou os braços enquanto olhava o homenzinho sentado.
Para ela, ele tinha deixado de ser humano.


 — Ele queria um alienígena, só que não conseguia descobrir uma maneira de passá-lo pela quarentena da estação Gateway. Eu garanti a ele que informaria as autoridades se tentasse fazê-lo. Esse foi meu erro.

— Por que ele iria fazer algo assim? — Hicks estava confuso.

— Para pesquisa de armas. Armas biológicas. Esta coisa é única, e eles veem lucro nele, a despeito de todo o resto — ela encolheu os ombros. — No começo eu pensei que ele poderia ser diferente dos outros. Quando percebi o contrário, cometi o erro de não pensar à frente. Eu provavelmente estou sendo muito dura comigo mesma. Eu não consegui pensar além do que um ser humano em sã consciência poderia fazer.

— Eu não entendo — disse Vasquez. — Porque deixar aquelas coisas te matarem? O que ele conseguiria com isso?


— Ele não tinha nenhuma intenção de nos matar... ao menos agora. Não até chegarmos com seus brinquedinhos de volta à Terra. Ele tinha tudo programado. Bishop desceria a nave de fuga em breve. Até lá os abraçadores teriam feito o trabalho, e eu e Newt estaríamos inconscientes, sem que ninguém soubesse o porquê. O resto de vocês nos teria transportado para a nave. Estando impregnados, parasitados, ou o que você quiser chamá-lo, e depois congelados no hipersono, os efeitos do hipersono iriam abrandar o crescimento embrionário  exatamente como faz conosco. Não iriam tornarem-se maduros durante a viagem para casa. Ninguém saberia o que estávamos levando conosco, e enquanto os nossos sinais vitais estivessem estáveis, ninguém pensaria que algo estivesse radicalmente errado. Uma vez na estação Gateway, a primeira coisa que as autoridades fariam seria enviar-nos a um hospital na Terra.

— É aí Burke e os comparsas da sua empresa iriam intervir, alegando responsabilidade, ou subornariam alguém, e em uma das suas próprias instalações, eles poderiam nos estudar. Eu e Newt.

Ela olhou para a figura frágil da menina sentada próximo.
Newt abraçou os joelhos contra o peito e observou-os com olhos sombrios.
Estava afundada na jaqueta de adulto que alguém tinha vestido nela.
Seu cabelo grudado na testa e nas bochechas.

Hicks parou de andar a olhar para Ripley.

— Espere um minuto. Nós com certeza faríamos questão de sermos checados no instante em que desembarcássemos na Estação. De maneira nenhuma poderíamos deixar alguém enviá-las para o planeta sem uma verificação médica completa.

Ripley considerou a hipótese, e em seguida, assentiu:


— A única maneira do plano dele funcionar, seria se ele sabotasse as cápsulas de sono na viagem de volta. Com Dietrich morta, cada um de nós teria que colocar a si próprio em hipersono. Ele poderia definir seu temporizador para acordá-lo dias após a partida, sair da sua cápsula, desligar os sistemas de suporte de vida de todo mundo e abandonar os corpos. Então poderia elaborar qualquer mentira que quisesse. Com a maioria  do pelotão morto pelos alienígenas e os detalhes da luta no nível C registrados pelas câmeras nos trajes e armazenados nos registros da Sulaco, seria uma tarefa fácil atribuir suas mortes aos alienígenas também.


— Você está morto! — Hudson virou sua atenção de Ripley para o representante da Companhia. — Você ouviu isso? Você já era, amigo.

— Vocês são paranoicos — Burke não viu nenhum mal em finalmente falar, convencido de que ele não poderia prejudicar a si mesmo mais do que já fizera. — Vocês viram o quão fortes são essas coisas? Não tive nada a ver com a sua fuga!



— Besteira! Nada é forte o bastante para forçar seu caminho para fora de um tubo de estase — Hicks disse.

— Acho que depois que saiu, ele trancou a sala de cirurgia pelo lado de fora, desligou a energia de emergência das luzes do teto, escondeu o meu rifle, e desligou as câmeras de vigília também.

Ripley parecia cansada. — Sabe, Burke, eu não sei qual é a pior espécie aqui. Você não os vê matando uns aos outros por um percentual de lucro.

— Vamos dar um fim nele — a expressão de Hicks era ilegível enquanto encarava o representante da Companhia.

Ripley balançou a cabeça. Em seu interior, a raiva inicial dava lugar a um vazio enojado.

— Basta encontrar um lugar para prendê-lo até a hora de sairmos.

— Por quê? — Hudson estava tremendo de raiva reprimida, o dedo esticado no gatilho do M41A.

— Porque eu gostaria de levá-lo de volta. Quero que as pessoas saibam o que ele fez. Eles precisam saber o que aconteceu com a colônia, e por quê. Eu queria...

As luzes apagaram-se.


Hicks virou-se imediatamente para o console tático. A tela ainda brilhava graças a própria bateria, mas não havia imagens porque a energia do computador da colônia tinha sido cortada. Uma verificação rápida revelou que todos os sistemas estavam desligados: portas, vídeos, câmeras sensores.

— Eles cortaram a força — Ripley sussurrou imóvel na escuridão.

— O que quer dizer com ‘eles cortaram a força’? — Hudson virou-se lentamente e começou a recuar em direção a parede mais próxima. — Como poderiam? São animais irracionais.

— Quem sabe o que eles realmente são? Nós não sabemos o suficiente sobre eles para dizer isso com certeza — ela pegou o rifle que Burke tinha tomado dela e manuseou a trava de segurança. — Talvez eles possam agir individualmente, mas também podem ter algum tipo de inteligência coletiva. Como formigas ou cupins. Bishop falou sobre isso, antes de partir. Cupins constroem ninhos de três metros de altura. Formigas cortadeiras fazem agricultura. Apenas por instinto? O que é inteligência, afinal?

Ela olhou para a esquerda. — Fique perto de mim, Newt. O resto de vocês, vamos pegar alguns ratreadores. Vamos, mexam-se! Gorman, fique de olho em Burke!

Hudson e Vasquez ligaram seus escaneadores. O brilho dos sensores de movimento era reconfortante na escuridão.

Com os dois soldados liderando o caminho, eles se dirigiram para o corredor.

A voz de Ripley soou atrás da operadora da Smartgun. — Alguma coisa?

— Nada aqui — Vasquez era uma sombra contra a parede.


Ela não teve que repetir a mesma pergunta para Hudson, porque todo mundo ouviu o BEEP do seu rastreador. Os olhos se voltaram em sua direção.

— Tenho algo — rodou o rastreador ao redor. BEEP de novo, desta vez mais alto. — Ele está se movendo. É dentro do complexo.

— Não vejo nada — o rastreador de Vasquez permaneceu em silêncio. — Você só está me captando!

— Não! Não! Não é você. Eles estão dentro. Dentro do perímetro. Eles estão aqui!

 


— Fique frio, Hudson! — Ripley tentou ver o final do corredor. — Vasquez, confirme!

A operadora balançou seu rastreador em um amplo arco. O último lugar que ela apontou foi diretamente para detrás dela. O sensor portátil soltou um bip fino.

— Hudson pode estar certo.

Ripley e Hicks trocaram um olhar.
Pelo menos não ficariam mais tempo esperando que algo acontecesse.

— É hora do pau — disse o cabo.

Ripley chamou os soldados. — Voltem aqui!

Hudson e Vasquez começaram a recuar. Os olhos do técnico nervosamente no túnel escuro que estavam abandonando. O rastreador dizia algo mais.

Alguma coisa estava errada.

— Isso é estranho. Deve haver alguma interferência ou algo assim. Não há movimento em todo o lugar, não vejo mais nada.

— Voltem! — Ripley sentiu o suor começando a escorrer na testa, debaixo dos braços. Frio, na boca do estômago.

Hudson virou-se e começou a correr, chegando na porta um momento antes de Vasquez. Juntos, fecharam-na e a trancaram. Uma vez dentro, começaram a compartilhar os restos de seu lamentavelmente pequeno arsenal. Lança-chamas, granadas e, por último, uma distribuição justa dos cartuchos. O rastreador de Hudson continuava a apitar regularmente, subindo num crescendo gradual.

— Movimento! — Olhou ao redor descontroladamente, viu apenas as silhuetas de seus companheiros na sala. — Limpo aqui. Não pode ser um erro! Tenho uma gama completa de movimentos em vinte metros.

Ripley sussurrou para Vasquez. — Sele a porta.

— Se eu selar a porta, como é que vamos chegar na nave de fuga?

— Da mesma maneira que Bishop. A menos que você queira tentar sair.

— Dezessete metros — murmurou Hudson.

Vasquez pegou o maçarico portáil e foi até a porta.


Hicks entregou um dos lança-chamas para Ripley e começou a aprontar outro para si mesmo. — Vamos pegar essas coisas!

Um momento depois, uma pequena chama azul, constante, sibilava do cano da arma.

Um banho de faíscas envolveu Vasquez quando ela começou a soldagem da porta junto com o chão, teto e paredes.

O rastreador de Hudson estava enlouquecido agora, mas não tão rápido quanto o coração de Ripley.

— Eles aprenderam — disse ela, incapaz de suportar o silêncio. — Chame de inteligência ou instinto, mas eles aprenderam. Eles cortaram a força e estão evitando as armas. Devem ter achado outro caminho para o complexo, algo que não vimos.

— Nós vimos tudo — Hicks rosnou.

— Quinze metros — Hudson deu um passo para longe da porta.

— Não sei como fizeram isso. Talvez abrissem um buraco com ácido em um duto. Algo sob o piso que era supostamente para estar selado, mas não. Algo que os colonos adicionaram ou modificaram e não se preocuparam em atualizar os esquemas oficiais. Nós não sabemos como se esses planos são atuais ou se incluiram todos os acréscimos estruturais. Eu não sei, mas tem que haver alguma coisa!

Ripley pegou rastreador de Vasquez e apontou para a mesma direção de Hudson.

— Doze metros — informou. — Cara, esse é um sinal dos grandes. Dez metros.

— Eles estão bem acima de nós — Ripley olhou para a porta. — Vasquez, e então?

A operadora da Smartgun não respondeu. Gotículas fundidas chamuscavam a pele dela e pousavam queimando sua roupa. Ela rangeu os dentes e tentou apressar a  soldagem com alguns imprecações.

— Nove metros. Oito — Hudson anunciou o último número em uma inflexão ascendente e olhou ao redor.

— Não pode ser — Ripley insistiu, apesar do fato do rastreador que estava segurando oferecer a mesma leitura impossível. — Estão aqui!


Ripley brincava com seu próprio rastreador, rolando os controles de ajustes finos.

— Você não pode estar lendo isso direito!

— Não? — A voz do técnico beirava a histeria. — Conheço estas coisas, e elas não mentem. São simples demais para dar defeito.

Estava olhando de olhos arregalados para as leituras tremeluzentes.

— Seis metros. Cinco. O que...

Ripley e Hudson simultaneamente inclinaram a cabeça para trás, apontando na mesma direção. O sinal sonoro de ambos os instrumentos se tornou um zumbido entorpecente.




Hicks escalou um armário, jogando seu rifle para as costas e, segurando firmemente o lança-chamas, levantou um dos painéis do teto e apontou a lanterna para dentro.

O fraco facho de luz iluminou uma visão que Dante jamais poderia ter imaginado em seus piores pesadelos, nem Poe, em um delírio incontrolável.



***

A passagem de serviço entre o teto acústico e o de metal estava repleta de alienígenas. Mais do que ele poderia contar. Agarravam-se de cabeça para baixo em tubos e vigas, rastejando como morcegos, brilhando metalicamente. Cobriam toda a área da passagem que sua luz podia iluminar.



Não precisa de um rastreador para detectar o movimento atrás dele. Quando girou o corpo, o feixe de luz acertou um alienígena a menos de um metro de distância. Ele investiu contra seu rosto. Esquivando-se descontroladamente, o cabo sentiu garras capazes de cortar o metal da sua armadura.

Quando caiu de volta a Operações a massa de criaturas fez ceder o frágil teto suspenso, chovendo detritos e formas saidas de um pesadelo pela sala abaixo. Newt gritou. Hudson abriu fogo, e Vasquez ajudou Hicks a se erguer enquanto usava do seu incinerador. Ripley pegou Newt e se afastou. Gorman estava ao seu lado, disparando com seu próprio rifle.

Ninguém viu Burke correr para o único corredor desbloqueado, o que conectava a Operações com o Setor médico.

Lança-chamas iluminaram o caos incinerando um atacante após o outro. Às vezes, os alienígenas em fogo tropeçavam em no outro, gritando insanamente e aumentando a conflagração. Soavam muito mais como gritos de raiva do que de dor.


O ácido derramado de corpos queimados, mastigava o chão, abrindo perigosos buracos.

— Para a área médica! — Ripley estava recuando lentamente mantendo Newt perto dela. — Vamos! — Virou-se e correu para o corredor de ligação.


Teve um vislumbre de Burke, assim que o representante da Companhia alcançou a pesada porta da área de laboratório e deslizou-a fechando atrás dele.
Ripley se chocou contra ela e puxou a alavanca do lado de fora.

— Burke! Abra a porta! Burke, abra a porta!

Newt puxou as calças de Ripley, apontando para o corredor.  — Veja!

Um alienígena vinha pelo corredor na direção deles. Um dos grandes.
Ripley levantou o rifle, tentando lembrar naquele instante de tudo que Hicks tinha ensinado-a sobre a arma. Apontou o cano em linha reta no meio do peito esquelético e brilhante e apertou o gatilho.

Nada aconteceu.

Um assobio veio da abominação que avançava,  as mandíbulas exteriores se separaram deixando respingos cairem no chão. Calma, calma, Ripley disse a si mesma. Ela verificou a trava de segurança. OK. Um olhar revelou um cartucho completo. Newt se agarrou desesperadamente e começou a chorar. As mãos de Ripley estavam tremendo tão violentamente, que quase deixou cair a arma.

Ele estava quase em cima deles quando se lembrou da bateria ser injetada na culatra manualmente. Fez isso e puxou convulsivamente o gatilho.
O rifle disparou praticamente a queima-roupa..



Ela se virou e cobriu o rosto da melhor maneira possível em um gesto defensivo instintivo. Mas a energia do impacto à queima queima-roupa tinha jogado o alienígena para trás com tanta força que o ácido pulverizou-se completamente.

O recuo da arma fora forte o suficiente para deixá-la temporariamente confusa.
Piscou furiosamente, tentando trazer os olhos de volta ao foco.
Seus ouvidos zumbiam.

Na sala de operações, Hicks olhou bem a tempo de atirar em um deles no meio do pulo, a força do impacto lançou seu agressor para trás em um gabinete em fogo. Por esta altura os esforços combinados dos lança-chamas tinham ativado o sistema de extintores de incêndio, e os jatos de aspersão inundaram a sala. Água em cascata ao redor do oficial, encharcado os outros soldados, penetrando as máquinas, o computador da colônia central, arruinando-as para uso futuro. Havia buracos abertos pelo ácido suficientes para drenar a agua. A sirene de incêndio tornara impossível para os combatentes,  ouvir uns aos outros e seus próprios pensamentos.

Hudson estava gritando com todos os seus pulmões, seu tom de voz agudo audível sobre o gemido da sirene. — Vamos, vamos!

 
 


— Setor médico! — Hicks gritou para ele e gesticulou freneticamente enquanto recuava para o corredor. — Vamos!

Quando Hudson se virou para ele, os painéis do chão explodiram bem debaixo de seus pés. Braços poderosos de dedos triplos fechram-se em torno de seus tornozelos e arrastaram-no para baixo e ele se foi em segundos, engolido.

Hicks disparou uma rajada na direção da cavidade, esperando acertar o técnico, bem como seus raptores, então se virou e saiu correndo.
Vasquez e Gorman estavam bem atrás dele.
A operadora da Smartgun descreveu um arco assassino de fogo cobrindo a retirada.

Ripley estava atrapalhado com a alavanca da porta quando Newt puxou seu braço para atrair a sua atenção. Apontou silenciosamente para onde o alienígena sangrando, estava tentando avançar sobre eles novamente.
Ripley acertou-o uma segunda vez.
O focinho do M41A apontando o teto, e Newt cobriu os ouvidos contra o barulho.

Uma voz soou atrás deles. — Cessar fogo!

Hicks e os outros se materializaram em meio a fumaça e da poeira.
Estavam encharcados.
Ela deu um passo para o lado e fez um gesto para a porta.

— Trancado.

Não era necessário explicar como. Hicks apenas balançou a cabeça. De seu cinto retirou um maçarico de corte que era uma miniatura do que Vasquez tinha usado anteriormente para selar a porta. Serviria para dar conta da fechadura.

Formas não-humanas apareceram no final do corredor.


Ripley se perguntou como conseguiam rastrear suas presas de forma tão eficiente. Eles não tinham olhos ou ouvidos visíveis, só narinas. Algum orgão desconhecido e especial de detecção? Algum dia talvez algum cientista dissecasse uma dessas monstruosidades e chegaria a uma resposta. Um dia, quando ela já estivesse morta há muito tempo, porque não tinha intenção de estar por perto quando o fizessem.

Vasquez passou seu lança-chamas para Gorman e tirou das costas seu rifle. De uma bolsa extraiu vários pequenos objetos em forma de ovo e alimentou o M41A.

Os olhos de Gorman se arregalaram ao vê-la carregar as granadas.

— Ei, você não pode usar isso aqui!

Ele se afastou dela.

— Certo. Estou violando os regulamentos de combate a curta distância de número 95 a 98. Me coloque no relatório!

Apontou o cano da arma para a horda que se aproximava.

— Fogo no buraco!

Atirou e ligeiramente virou o rosto na direção contrária.

A explosão da granada cambaleou Ripley e quase jogou Vasquez ao chão.
Ripley tinha certeza de ter visto a operadora da Smartgun sorrindo quando a explosão iluminou seu rosto. Hicks vacilou e a chama quente azul de sua tocha descontrolou-se por um momento. Em seguida, retomou o corte.

A fechadura cedeu caindo longe da porta, um momento depois ele desligou a tocha, levantou-se e chutou a porta. Gotículas fundidas sairam voando. Hicks e seus companheiros as ignoraram. Estiveram se esquivando de ácido até então.

Virou-se apenas o tempo suficiente para gritar para Vasquez.

— Muito obrigado! Agora eu não posso ouvir nada!

Ela respondeu-lhe com um olhar de espanto tão genuíno e sincero como a sua natureza delicada, colocando uma mão no ouvido. — O que?

Avançaram pelo laboratório em ruínas.

Vasquez entrou por último então se virou, deslizou a porta pesada fechando atrás dela, sem antes disparar em sucessão três granadas através da brecha.
Fechou a porta e correu. Soou como um gongo gigante caindo.
A pesada porta de segurança foi ligeiramente abaulada para dentro.

Ripley já tinha atravessado para o outro lado do anexo e tentava abrir a porta seguinte. Desta vez, não ficou surpresa ao encontrá-la bloqueada. Com sua tocha, trabalhou ma fechadura enquanto Hicks selava a porta pela qual eles tinham acabado de passar.

No laboratório principal Burke encontrava-se ao chão escuro.
Desta vez quando o encontrassem, não haveria discussão de iniqüidades hipotéticas, nenhum diálogo educado. Ele levaria um tiro; talvez Hicks tentasse impedir, ou Gorman, mas seriam incapazes de conter Hudson ou Vasquez.

Ofegante, Burke foi até a porta que dava para o complexo principal.
Se os alienígenas estivessem ocupados com seus ex-colegas, ele poderia ter uma chance de se safar, apesar de tudo ter dado terrivelmente errado até então. Poderia tentar fugir de volta para a colônia, ficar longe da luta, e correr para o campo de pouso.
Bishop era passível de aceitar uma discussão racional, como qualquer bom sintético deveria ser. Talvez pudesse convencê-lo de que todo mundo estava morto.
Se conseguisse desativar o comunicador do andróide para que os outros não o contatássem, ele não teria escolha senão decolar imediatamente.
Se fizesse tudo de forma plausível, e sem ninguém para rebatê-lo, Bishop deveria cooperar.

Seus dedos encaminhavam-se para o trinco da porta, mas pararam sem tocar o metal.
O trinco já estava aberto.

Paralisado de medo, cambaleou para trás quando a porta foi aberta lentamente a partir do outro lado.

 

 O estalo descendente de um ferrão alienígena não foi ouvido por aqueles no anexo.

A festa da granada de Vasquez tinha cancelado a invasão pelo corredor o tempo suficiente para Hicks terminar de selar a porta, assegurando-lhes alguns minutos em paz e nada mais.

O oficial se afastou da porta, preparando seu rifle para o confronto final.

Um guincho metálico passou a ser ouvido quando a porta começou a se separar de sua moldura.

Newt puxava insistentemente a mão de Ripley. Finalmente, o adulto atendeu ao aviso, forçando a desviar sua atenção para longe da porta que cedia.

— Vamos! Por aqui! — Newt estava puxando Ripley para a parede oposta.

— Não vai funcionar, Newt. Eu mal consegui entrar em seu esconderijo. Os outros têm  armaduras e alguns são maiores do que eu. Não serão capazes de entrar.

— Não — a menina disse impaciente. — Tem outro.

Atrás de um balcão havia um respiradouro de ar, um retângulo escuro na parede.
Newt habilmente destravou a grade de proteção e abriu. Inclinou-se para dentro, mas Ripley puxou-a de volta.

Ela atirou-lhe um olhar petulante. — Sei onde estou indo.

— Não tenho dúvida, Newt. Mas você simplesmente não irá na frente, e pronto!

— Eu sempre fiz isso!

— Eu não estava aqui antes, e você não tinha todos os alienígenas de Acheron te perseguindo antes.

Ela foi até Gorman e trocou seu rifle pelo lança-chamas antes que ele pudesse pensar em protestar. Parando apenas o tempo suficiente para despentear o cabelo de Newt carinhosamente,  caiu de joelhos e meteu-se na escuridão desconhecida.
Olhou para trás de seu ombro. — Chame os outros. Você fica atrás de mim.

Newt balançou a cabeça vigorosamente e desapareceu, voltando em segundos, mergulhando no duto para perto de Ripley conforme ela começou a avançar.
A menina foi seguida por Hicks, Gorman e Vasquez.

Entre as armaduras e os grandes rifles de pulso que estavam transportando, os soldados precisavam apertar-se, mas todos passaram da abertura.
Vasquez fez uma pausa o bastante para fechar a grade atrás deles.

Se o túnel à frente reduzisse de tamanho ou se separasse em subdutos menores, eles estariam presos, mas Ripley não estava preocupada. Ela tinha uma grande dose de confiança em Newt. Na pior das hipóteses teriam tempo para trocar despedidas.



Um olhar mostrou que a menina estava bem atrás dela.
Mais perto do que isso. Acostumada a mover-se através do labirinto de canais em um ritmo muito mais rápido, Newt quase escalava as costas de Ripley.

— Vamos, — pedia repetidamente — mais rápido.

— Estou fazendo o melhor que posso. Não fui feita para isso, Newt. Nenhum de nós é, e não temos a sua experiência. Você está certo você sabe onde estamos?

— Claro — A voz da garota foi tingida com desprezo gentil, como se Ripley tivesse dito a coisa mais óbvia do mundo.

— E você sabe como chegar ao campo de pouso?

— Um pouco mais adiante, isso se transforma em um túnel maior. Em seguida, vamos para a esquerda.

— Um duto maior? — A voz de Hicks reverberou nas paredes de metal, enquanto falava com Newt. — Garota, quando chegamos em casa, vou comprar-lhe a maior boneca que você já viu. Ou o que quiser.

— Quero apenas uma cama, Sr. Hicks.

Vários minutos rastejando depois veio o principal duto de ventilação da colônia, exatamente onde Newt disse que seria. Era espaçoso o suficiente para permitir-lhes seguirem agachados. As mãos e os joelhos de Ripley agradeceram em alívio, e seu ritmo aumentou acentuadamente. Ela continuou batendo a cabeça no teto baixo, mas era um alívio para todos os quatro.

Apesar da velocidade, Newt os seguia facilmente. Onde os adultos precisavam abaixar-se, ela era capaz de ficar de pé e correr. As armaduras batiam no túnel confinado, mas neste momento, a velocidade era mais importante do que o silêncio. Por tudo o que sabiam, os alienígenas tinham problemas de audição e os localizavam pelo cheiro.

Estavam chegando a um cruzamento onde dois dutos principais cruzavam.
Ripley desacelerou para disparar uma carga  preventiva do lança-chamas, queimando metodicamente ambas as passagens.

— Que direção?

Newt não precisava pensar. — Direita aqui.


Ripley virou-se e começou a subir o túnel do lado direito.
O novo duto era um pouco menor que o principal, mas ainda assim maior do que o que eles tinham usado para fugir da ala médica.

Atrás dela e Newt, Hicks estava operando seu rádio do traje.

— Bishop, é Hicks, está me ouvindo? Bishop?

O silêncio saudou sua chamada inicial, mas, eventualmente, sua persistência foi recompensada por uma voz distorcida pela estática, mas ainda reconhecível.

— Sim, eu ouço você, mas não muito bem.

— Bem o bastante — Hicks disse. — Vai ficar melhor quanto mais nos aproximarmos. Estamos a caminho através dos dutos da colônia. É por isso que a conexão está ruim. Como estão as coisas?


— Bem e mal — respondeu o sintético. — Muito vento para pilotar remotamente. Mas a segunda nave está a caminho. A Sulaco confirmou. Tempo estimado de chegada: 16 minutos... — um rugido eletrônico distorceu o final da frase.

— O que foi? — Hicks brincava com os controles do rádio. — Fale novamente Bishop. É o vento?

— Não. A estação de processamento atmosférico. O sistema de ventilação de emergência se aproxima de uma sobrecarga. Não pare para o almoço!


Na escuridão o soldado sorriu.
Nem todos os sintéticos eram programados com senso de humor, e nem todos sabiam como fazer uso dele. Bishop era diferente.

— Não se preocupe. Nenhum de nós está com fome. Teremos tempo para isso depois. 

Preocupado com a comunicação, ele quase atropelou Newt. A menina tinha parado no duto. Olhando para além dela, viu que Ripley tinha parado também.

— O que há de errado?

— Não tenho certeza — a voz de Ripley soou fantasmagórica na escuridão. — Poderia jurar que vi algo!

No limite extremo do alcance da lanterna de Hicks, um movimento, uma forma obscena, como uma doninha, o alienígena tinha de alguma forma conseguido achatar seu corpo o suficiente para caber dentro do duto.
Havia movimento visível além dele.

— Voltar, voltar! — Ripley gritou.

Todos tentaram virar-se no túnel confinado.
Atrás deles, o som de uma grade sendo dilacerada ecoou pelo duto.
A grade desmoronou com um som enorme, e uma silhueta mortal fluiu através da abertura resultante.

Vasquez acionou seu lança-chamas e lavou o túnel atrás deles com fogo.
Todo mundo sabia que era uma vitória temporária.

Estavam presos.

Vasquez se inclinou para um lado e olhou para cima.


— Eixo vertical bem aqui. Não há no que se segurar. Liso demais para tentar uma subida.

Hicks acionou sua tocha de corte e começou a cortar através da parede do duto.
Metal fundido respingado na sua armadura como faíscas encheram o espaço confinado do túnel com uma luz sinistra. O lança-chamas de Vasquez rugiu e em seguida falhou.

— Sem combustível.

De outra direção a coluna de alienígenas continuava a aproximar-se, seu avanço era retardado somente pela estreiteza do túnel.

Hicks tinha três quartos do corte acabado quando a tocha portátil apagou.
Xingando, posicionou-se de costas contra a parede oposta e chutou forte. O metal dobrou. Chutou novamente e ele cedeu. Sem parar para ver o que havia do outro lado, agarrou seu fuzil e mergulhou através da abertura... para emergir em um corredor de serviço estreito com tubos e conduites expostos. Ignorando as bordas afiadas da abertura, puxou Newt por ela. Ripley em seguida, virou-se para ajudar Gorman. Ele hesitou na abertura tempo suficiente para ver secar o lança-chamas de Vasquez.

Houve um movimento acima dela quando uma forma grotesca veio pelo duto vertical.
Quando o alienígena a alcançou ela rolou e disparou.



O alienígena caiu em direção a ela com pequenos projéteis rasgando seu corpo esquelético. Vasquez desviou a cabeça para um lado a tempo de evitar o ferrão que enterrou-se na parede ao lado de seu rosto.
Ela continuou atirando, esvaziando a pistola.

Um jorro de ácido atravessara sua armadura acertando sua coxa.
Ela deixou escapar um gemido de dor.

Gorman congelou no túnel e olhou para Hicks. — Estão bem atrás de mim!


Seus olhos se encontraram, então ela virou-se e correu com Newt no colo.
Hicks seguiu-a com relutância, sem tirar os olhos da abertura que ele tinha cortado no duto de ventilação.

Gorman se arrastou em direção a operadora da Smartgun caida.
Quando a alcançou, viu a fumaça saindo do buraco em sua armadura, o cheiro horrível de carne. Seus dedos fechados em torno do equipamento de batalha.
Começou a arrastá-la para a abertura.

Tarde demais.

O primeiro alienígena vindo de outra direção já tinha chegado e passado pelo buraco que Hicks tinha feito. Gorman parou de puxar e inclinou-se para olhar a perna de Vasquez. Onde a armadura tinha sido vencida, a carne tinha sido comida pelo ácido e os ossos brilhavam esbranquiçados.

Quando ela olhou para ele com olhos vidrados, sua voz foi um sussurro áspero: — Você sempre foi estúpido, Gorman.

Seus dedos o agarraram em um aperto de morte. Um aperto especial. Gorman retribuiu o abraço o melhor que pôde. Dividiram dois pares de granadas quando os alienígenas fecharam sobre eles, vindos de ambas as extremidades do túnel.

 


Ele sorriu e levantou um dos explosivos.
Ela mal tinha força suficiente para imitar o gesto.

— A nossa — sussurrou sem poder dizer se ela sorrira, porque tinha fechado os olhos, mas teve a sensação de que sim.

Algo afiado e inflexível acariciou suas costas.
Não se virou para ver o que era.

Bateu sua granada contra a de Vasquez num brinde final.

* * *

Atrás deles o corredor de serviço iluminou-se como o sol, pegando de surpresa Ripley, Newt e Hicks.

A onda de choque da explosão foi poderosa o suficiente para balançar todo aquele nível.

Newt seguia a frente, Ripley e Hicks se esforçavam para acompanhá-la.

— Por aqui — ela gritava animadamente. — Vamos, estamos quase lá!

— Newt, espere!

Ripley tentou alcançá-la. O som de seu coração era alto em seus ouvidos, e seus pulmões gritavam em protesto a cada passo que dava. As paredes borradas ao redor dela. Estava vagamente consciente de Hicks correndo esbaforido logo atrás dela.
Ele poderia se aliviar de sua armadura, mas não tentou. Em vez disso, seguia ao final para que pudesse proteger contra um ataque vindo por trás.

À frente o corredor bifurcava. No final da forquilha do lado esquerdo, uma calha de ventilação angular e estreita subia em íngremes quarenta e cinco graus.
Newt estava de pé na sua base, gesticulando freneticamente.

— Aqui! Vamos para cima.

Ripley desacelerou. Seu corpo estava grato pela pausa, não importando se temporária.  Examinou a subida íngreme, mas não muito longa.
Na penumbra ela podia ouvir o vento soprando, como um lábio à boca da garrafa.
Olhou para baixo, onde o buraco desaparecia nas profundezas escuras e desconhecidas.

Nada se movia lá em baixo. Nada vinha subindo em direção a eles.

Ela colocou o pé no apoio visível e começou a escalada. Newt seguiu-a e Hicks emergiu do corredor principal por trás deles.

A menina virou-se para acenar.

— Venha, Sr. Hicks. Não é tão ruim quanto parece. Já fiz isso muitas vezes!

Oxidado pelo escorrer d’água e elementos corrosivos contidos na atmosfera não domesticada  de Acheron, o apoio cedeu sob os pés da menina.
Escorregou, mas conseguiu pegar uma alça com uma mão.
Ripley se apoiou contra a superfície perigosamente escorregadia, virou-se e tentou voltar. Quando o fez, deixou cair a lanterna, assistindo-a cair deslizando e batendo pela abertura até que o brilho reconfortante desaparecesse de vista.

— Riiipplleeee... — a alça que sustentava Newt quebrou.

Hicks mergulhou para ela, e seus dedos seguraram a gola do grande casaco.
Ela escorregou para fora dele. Seu grito ecoou desaparecendo dentro da escuridão.

Hicks largou a jaqueta vazia e olhou para Ripley. Seus olhos se encontraram por apenas um segundo antes de começarem a descer a calha atrás de Newt.

— Newt. Newt!

Um gemido distante, melancólico e distorcido pela distância, flutuou de volta para ela.

— Mamãe, onde está você? — Quase inaudível.


O eixo do poço levou-os a um túnel de serviço horizontal. A lanterna jazia no chão, mas não havia nenhum sinal da menina. Quando se inclinou para recuperar a lanterna, ouviu o grito dela novamente, saltando das paredes estreitas.

— Mammãeee!

Ripley começou a avançar pelo túnel achando estar na direção certa dos gritos.
A descida pela rampa tinha desorientado-a completamente.
Achou ter ouvido Newt novamente. Ripley não tinha certeza, pânico crescendo dentro dela, a única luz iluminando sujeira e umidade. Lembrou de que ela ainda estava usando seu fone de ouvido, e de outra coisa, algo que o cabo tinha dado a ela.

— Hicks, preciso do localizador para aquela pulseira que você me deu.

Colocou as mãos à boca e gritou: — Newt! Fique onde está. Estou indo!

A menina estava em uma câmara baixa, semelhante a uma gruta onde o outro ramo da rampa tinha despejado-a. Atravessada com tubos e condutos de plástico e inundada até a altura da sua cintura.
A única luz vinha de cima, através de uma pesada grade. A mera presença de outro ser humano naquele túnel assombrado foi suficiente para afastar um pouco o medo.


Hicks, segurando o rifle em uma mão, desabotoou a unidade de emergência de seu cinto de batalha. — Eu dei a pulseira para você usar — disse ele em tom de acusação.

— E eu dei para Newt. Achei que ela ia precisar mais do que eu, e acertei. De outro modo nunca mais a encontraríamos. Você pode me dar uma bronca mais tarde. Qual o caminho?

Ele verificou a leitura no rastreador, virou-se e começou a descer o túnel.
Luzes de emergência ainda iluminavam teto e paredes. Eles apagaram as luzes.
Água pingava nas proximidades.
O olhar do oficial raramente desviando-se da tela do rastreador. Virou à esquerda.

— Por aqui. Estamos chegando perto.

O localizador levou-os a uma grande grade no chão e uma voz veio baixo: — Ripley?

— Somos nós, Newt.

— Aqui! Estou aqui, estou aqui embaixo.


Ripley se ajoelhou na borda, e em seguida colocou os dedos ao redor da barra central e puxou. Ela não se moveu. Uma rápida inspeção revelou que fora soldada no chão em vez de ser fechada para fácil remoção. Lá embaixo ela conseguiu distinguir o rosto marcado pelas lágrimas de Newt. A menina estava subindo. Seus dedos pequenos se contorceram entre as barras da grade. Ripley deu-lhes um aperto reconfortante.

— Desça, querida. Nós vamos ter que cortar a grade.

A menina obediente afastou-se descendo enquanto Hicks já tinha sua tocha à mão.

Ripley baixou a voz. — Quanto combustível sobrou?

— O bastante — curvou-se e começou a cortar a primeira das barras.

Abaixo deles, Newt assistia a chuva de faíscas enquanto Hicks cortava a liga.

Fazia frio no túnel, e ela estava de pé na água.
Mordeu o lábio e lutou contra as lágrimas.
Não viu a aparição cintilante subindo silenciosamente atrás dela.


Não teria importado se ela tivesse visto. Não havia para onde correr, nenhum duto de ar seguro. Por um momento o alienígena pairou sobre ela, imóvel, crescendo sobre a forma minúscula. Somente quando ele se moveu novamente, ela sentiu sua presença e virou-se.
Mal teve tempo suficiente para gritar quando a sombra a engoliu.

Ripley ouviu o grito abaixo e perdeu o controle. A grade tinha sido cortada somente pela metade. Ela e Hicks a chutaram até conseguir dobrar uma porção dela para baixo. Outro chute enviou o pedaço de metal amassado para a água. Sem se importar com as bordas incandescentes, Ripley se lançou através da abertura, a luz segura em uma das mãos, o feixe encontrando tubulações e conduítes.

— Newt! Newt!

A superfície da água escura era plácida, depois de ter engolido a seção da grade.
Da menina não havia sinal. Tudo o que restara para atestar que ela já tinha estado lá era Casey. Ripley observou impotente, a cabeça da boneca afundar na escuridão oleosa.

— Não, nãooo!



Hicks teve que arrastá-la para fora da abertura.
Ela lutava cegamente, tentando libertar-se do seu abraço.
Precisou de toda sua força para puxá-la pela abertura.

— Ela se foi — disse ele. — Não há nada que você ou eu, ou qualquer outra pessoa, possa fazer agora. Vamos embora!

Achou ter visto algo se mover no final do corredor.
Poderia não ser nada mais do que seus olhos brincando com ele.
Coisas assim podiam ser fatais em Acheron.

Ripley estava histérica, gritando e chorando e sacudindo os braços e pernas.
Precisou impedí-la de mergulhar de volta. Seria um suicídio.

— Não! Não! Ela ainda está viva! Temos que...

— Tudo bem — Hicks rugiu. — Ela está viva. Eu acredito nisso. Mas temos que continuar. Agora! Você não vai ser capaz de encontrá-la assim. Ela não vai estar esperando por você lá embaixo, mas eles sim. Olhe!

Apontou, e ela parou de lutar. Havia um elevador na extremidade do túnel.

— Se temos energia de emergência para as luzes nesta seção, então talvez ele esteja funcionando também. Vamos sair daqui. Podemos pensar nisso fora daqui.

Ele ainda precisou arrastá-la até o elevador e empurrá-la para dentro.


O movimento que tinha detectado na extremidade do túnel tornou-se  o contorno de um alienígena. Hicks praticamente quebrou o plástico quando pressionou o botão ‘SUBIR’. As portas duplas do elevador começaram a fechar, mas não tão rápido.
A criatura esticou um braço enorme entre eles.
Ambos os seres humanos olharam horrorizados, o dispositivo de segurança automático do elevador começou a abrír as portas.

A máquina não podia discriminar entre humano e alienígena.

A abominação se lançou babando na direção deles, e Hicks disparou seu rifle de pulso praticamente à queima queima-roupa.

Perto demais.

Ácido espirrando do peito escorreu entre as portas se fechando e o traje de Hicks.
Felizmente não atingira os cabos do elevador que começou a subir, em direção a superfície, graças a energia de emergência.

Hicks arrancou as presilhas de liberação rápida da armadura enquanto o líquido poderoso comia o composto de fibra. A situação foi suficiente para arrancar Ripley de seu pânico, tentando ajudá-lo o máximo que podia. Ácido atingira seu peito e o braço, e ele gritava, tirando a armadura de combate como um inseto trocando de pele. As placas fumegantes cairam ao chão, e o ácido implacável começou a comer através do metal sob os seus pés. Vapores acres encheram o interior do elevador, queimando olhos e pulmões.

Depois do que pareceram mil anos, o elevador estacou.

O ácido comera o chão e começou a escorrer para os cabos e as rodas de suporte.

As portas se abriram e eles saltaram para fora. Desta vez foi Ripley que teve que amparar Hicks. Fumaça continuava a subir de seu peito, e ele estava dobrado em agonia.



— Vamos lá. Eu pensei que você fosse um cara durão.

Ela respirou profundamente, tossiu, e inalou novamente.
Hicks engasgou, cerrou os dentes e tentou sorrir.
Depois dos túneis e dutos, o ar de Acheron cheirava a perfume.

— Estamos quase lá!


Não muito longe à frente deles, via-se a forma da nave suborbital de transporte descendo elegante em direcção à grelha de pouso como um anjo negro,deslizando lateralmente enquanto lutava com as rajadas de vento logo acima da superfície.



Viram Bishop, de costas para eles, ao pé da torre transmissora, trabalhando ainda no terminal portátil para trazê-la com segurança. Exceto por uma escora de aterragem que se dobrou no pouso deselegante, a nave parecia estar intacta.

Ripley gritou chamando-o. O sintético virou-se para ver os dois saindo de uma porta no prédio colônia atrás dele. Baixou o terminal com cuidado, e correu para amparar Hicks e ajudá-lo a caminhar na direção da Smart Ass enquanto corriam, ela gritou para o androide, palavras quase inaudíveis sob o vendaval.

— Quanto tempo temos?

— Muito! — Bishop parecia satisfeito. — Vinte e seis minutos!

— Não vamos partir — disse cambaleando com eles até a rampa, adentrando no calor e na segurança da nave.

Bishop ficou boquiaberto. — O quê? Por que não?

Ela estudou-o cuidadosamente, procurando a menor sugestão de decepção no rosto dele e não encontrou. Sua pergunta foi perfeitamente compreensível, dadas as circunstâncias. Ela relaxou um pouco.

— Direi em um minuto. Vamos tratar de Hicks e, em seguida, explicarei.

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