sábado, 29 de agosto de 2015

Aliens - Alan Dean Foster (Parte 7)



Era uma nave feia, surrada, usada em demasia.
Seus reparos deveriam ter sido substituídos por novos, porém, era mais fácil para seus donos atualizá-la e modificá-la do que construir uma a partir do zero.
De linhas desajeitadas, seus motores eram excessivamente grandes, uma montanha de metal, compostos e cerâmica, uma sucata flutuante, um monumento a guerra, abrindo brutalmente seu caminho pela região misteriosa chamada hiperespaço.
Como sua carga humana, ela era puramente funcional.
Seu nome era Sulaco.
Setenta e oito mil toneladas de infama reputação, quase 400 metros de comprimento, pertencente a classe de destroiers espaciais Conestoga.



Quatorze sonhadores nesta viagem.
Onze deles morfoseados em trajes simples e objetivos, tal como a nave que os conduzia pelo vazio. Outros dois eram mais individualistas, e a última sonhadora fora sedada para silenciar os efeitos de pesadelos recorrentes.

Quatorze sonhadores e aquele para quem o sono era uma abstração supérflua.

O oficial executivo Bishop verificava leituras e ajustava controles.
A longa espera terminara.




Um alarme soou em todo o comprimento do maciço transporte militar.
Máquinas dormentes, desligadas para economizar energia, voltavam à vida, assim também os seres humanos foram acordados após longo tempo em suas cápsulas hipersono. Ciente de que os colegas tinham sobrevivido a longa hibernação, Bishop colocou a Sulaco em uma órbita geoestacionária ao redor do mundo-colônia Acheron.



Ripley foi a primeiro dos sonhadores a despertar, não porque era mais adaptável do que seus companheiros de viagem, ou mais acostumada aos efeitos do hipersono, mas simplesmente porque sua cápsula fora a primeira a ser reativada.

Sentando-se na cama, esfregou os braços, e, em seguida, passou para as pernas.

Burke sentou-se na cápsula em frente a dela, e o tenente... qual era mesmo o seu nome? Oh, sim, Gorman.

As outras cápsulas continham o corpo militar da Sulaco: oito homens e três mulheres. Um grupo seleto que escolhera colocar suas vidas em risco na maior parte do tempo em que estavam acordados: indivíduos acostumados a longos períodos de hipersono seguidos por breves períodos despertos, mas sempre intensos.
O tipo de pessoas para quem se abre caminho em uma calçada ou espaço em um bar.

O soldado primeira classe Spunkmeyer era o chefe da equipe de embarque e desembarque, o homem responsável, juntamente com a oficial piloto Ferro, por transportar com segurança seus colegas até a superfície de qualquer mundo que visitassem e, em seguida, tirá-los novamente de lá.
Com urgência, se necessário.
Ele esfregou os olhos e gemeu.

— Estou ficando velho demais pra isso.

Ninguém prestou atenção a este comentário, uma vez que era bem conhecido (ou pelo menos amplamente espalhado em boatos) que Spunkmeyer tinha se alistado quando ainda era menor de idade. No entanto, ninguém brincava sobre sua maturidade, ou a falta dela, quando estavam em queda livre em direção à superfície de um novo mundo.

O soldado Drake estava rolando para fora da cápsula ao lado de Spunkmeyer.
Era um pouco mais velho que Spunkmeyer e muito mais feio. Além de compartilhar semelhanças com a Sulaco, na aparência do velho transporte. Drake era má companhia, um peso-pesado com braços do lendário marinheiro de um só olho, um nariz preso graças a cirurgiões plásticos, e uma cicatriz desagradável que fazia em sua boca um sorriso de escárnio permanente. Uma cirurgia poderia facilmente ter corrigido a cicatriz, mas Drake tomara gosto por ela. Era uma medalha que fora autorizado a exibir todo o tempo. Usava um boné justo, que nenhuma alma viva ousaria a se referir como ‘bonito’.
Drake era operador de uma M56 Smartgun. Era também hábil no uso de rifles, revólveres, granadas, lâminas variadas e os dentes.

— Não estão me pagando o suficiente para isso — murmurou.

— Não o bastante para acordar olhando para sua cara, Drake.

O gracejo veio da oficial Dietrich, que sem dúvida era o membro mais bem apessoado do grupo, exceto quando abria a boca.

— Chupa vácuo — Drake disse para ela. Olhou para o ocupante da outra cápsula recentemente aberta. — Ei, Hicks, você sabe.

Hicks era o oficial sênior e segundo no comando após o Sargento Apone. Não falava muito e sempre parecia estar no lugar certo na hora potencialmente letal, um fato muito apreciado por seus colegas fuzileiros. Mantinha sua opinião para si mesmo e quando falava, o que tinha a dizer geralmente valia a pena ouvir.

Ripley estava de volta aos pés, estimulando a circulação das pernas e soltando as articulações enrijecidas.

Examinou os soldados passando por ela em seu caminho para os armários.
Não havia nenhum super-homem entre eles, arquétipos não excessivamente musculosos, mas magros e rijos. Suspeitava que o menor dentre eles pudesse correr o dia inteiro pela superfície de um mundo qualquer carregando uma mochila completa de equipamentos, lutar uma batalha, e, em seguida, passar a noite reparando alguma máquina vital. Músculos e cérebro em grande quantidade, mesmo que preferissem falar como sujeitos durões de rua. O melhor que a força militar contemporânea tinha para oferecer.
Sentia-se um pouco mais segura, mas só um pouco.

O Sargento Apone foi até o corredor central, conversar brevemente com cada um de seus soldados recém-revividos. Ele parecia poder desmontar um caminhão de tamanho médio com as próprias mãos. Quando passava pelo oficial técnico Hudson, este reclamou: — O chão tá gelado!



— Você também há dez minutos atrás. Eu nunca vi um grupo assim de mulheres idosas. Quer que eu vá buscar seus chinelos, Hudson?

O cabo piscou para o sargento. — Será que poderia, senhor? Eu ficaria tão grato!
O que provocou algumas risadas ásperas.

Apone sorriu para si mesmo enquanto retomava sua caminhada, repreendendo seu pessoal e estimulando-os a acelerar o ritmo.

Ripley só observava. Era um grupo coeso, um organismo de luta com onze cabeças, e ela não fazia parte dele. Alguns deles acenaram na sua direção quando passou caminhando, e ouviu um ou dois “olás” superficiais.
Isso era tudo o que ela tinha o direito de esperar, mas não a fazia sentir mais relaxada.


A soldada de primeira classe Vasquez apenas olhou. Ripley tinha recebido olhares mais quentes de robôs. A outra operadora da Smartgun não piscou e não sorriu. Cabelo preto, olhos mais pretos ainda, lábios finos. Seria atraente se fizesse um pouco de esforço.
Era necessário um talento especial; uma combinação única de resistência, capacidade mental, e reflexos, para operar uma Smartgun. Ripley esperou que a mulher dissesse alguma coisa. Ela não abriu sua boca. Cada um dos soldados parecia durão. Drake e Vasquez estavam bem acima da média.




Seu parceiro de armas gritou para ela quando ela veio de seu armário.

— Ei, Vasquez, você já foi confundida com um homem?

— Eu não. E você?

Drake ofereceu-lhe uma palma aberta e ela acertou-a com a sua mão, seus dedos se entrelaçaram imediatamente. A pressão aumentou, mesmo que ambos permanecessem em silêncio, apesar do cumprimento doloroso. Estavam felizes por ter saido do hipersono e estarem vivos.

Finalmente ela bateu-lhe no rosto e suas mãos se separaram. Riram. Brincadeira típica de jovens dobermans. Drake era mais forte, mas Vasquez era mais rápida.
Ripley decidiu que se tivesse que ir até lá embaixo, tentaria mantê-los um de cada lado. Seria o lugar mais seguro.

Bishop estava se movendo em silêncio entre o grupo, ajudando com massagens e uma garrafa de líquido especial pós-hipersono, agindo mais como um massagista do que um oficial da nave. Aparentava ser mais velho do que qualquer um dos soldados, incluindo o tenente Gorman. Quando passou perto dela, Ripley notou o código alfanumérico tatuada nas costas de sua mão esquerda.
Seu corpo todo enrijeceu ao compreender do que se tratava, mas não disse nada.

— Ei — o soldado Frost disse para alguém fora da vista de Ripley — você pegou minha toalha? — Frost era tão jovem quanto Hudson, mas de melhor aparência.

Spunkmeyer foi até perto dele, ainda reclamando.

— Preciso de uma folga, cara. Como é que nos mandam direto de volta para a ação? Não é justo! Precisamos de uma folga, cara!

Hicks murmurou baixinho: — Você teve três semanas. Quer gastar toda a sua vida em tempo de folga?

— Quero respirar de verdade, não esta coisa gelada. Três semanas no congelador não é descanso de verdade.

— É chefe, o que diz sobre isso? — Dietrich queria saber.

— Sabe que não depende de mim — Apone ergueu a voz acima do desabafo. — Vamos lá pessoal, vamos! Primeira reunião em quinze minutos. Quero que todo mundo parecendo seres humanos, então a maioria de vocês vai ter que fingir. Vamos!

Devido ao desgaste do hipersono as roupas foram atiradas na unidade de eliminação. Era mais fácil cremar os restos e dar novo traje fresco para a viagem de volta do que tentar reciclar shorts e camisas que haviam se agarrado a um corpo por várias semanas.

Os corpos nus e musculosos foram para o chuveiro. Jatos de água de alta pressão limpavam o suor e a sujeira acumulada.

Hudson, Vasquez e Ferro observavam Ripley se secar.

— Quem é a carne fresca? — Vasquez perguntou.

— Ela deve ser algum tipo de consultor. Não sei muito sobre ela — Ferro lavava sua barriga, que era tão chata e musculosa como uma placa de aço. — Ela viu um alien uma vez. É o que comentam.

— Whooah! — Hudson fez uma careta. — Estou impressionado.

Apone gritou com eles. Já estava na sala de secagem, enxugando os ombros. Era tão desprovido de gordura como aqueles de sua tropa, 20 anos mais jovens.

— Vamos, vamos! Bando de bunda-moles! Se sequem. Vamos!




Segregação informal era a ordem do dia na sala de encontro. Era algo automático. Não havia necessidade de palavras sussurradas ou pequenas placas de identificação.

Apone e seus soldados requisitaram a grande mesa enquanto Ripley, Gorman, Burke, e Bishop sentaram-se na outra menor. Todos com seus cafés, chás, refrescos ou água, enquanto aguardavam a cozinha automática da nave preparar imitações de ovos e bacon, torradas e a gororoba condimentada de sempre, e suplementos vitamínicos.


Você poderia identificar cada soldado pelo seu uniforme. Não havia dois exatamente iguais. Era o resultado não da insígnia que identificava a especialização, mas o gosto individual. Na Sulaco não havia um quartel e em Acheron não havia desfile de tropas. Ocasionalmente Apone tinha que chamar a atenção de alguém por conta de uma adição particularmente inadequada, como quando Crowe tinha aplicado por computador o retrato de sua última namorada na sua armadura de batalha. Mas a maior parte do tempo deixava os soldados usarem as roupas como quisessem.

— Ei, Chefe — Hudson chiou. — Qual é a parada?

— Sim — Frost soprou seu chá. — Tudo que eu sei é que recebi ordens de embarque e não tive tempo para dizer olá-adeus para Myrna.

— Myrna? — O soldado Wierzbowski ergueu uma sobrancelha. — Achei que era Leina?

Frost pareceu momentaneamente confuso. — Acho que Leina foi há três meses. Ou seis.

— É uma missão de resgate — Apone tomou um gole de café. — Temos que resgatar algumas suculentas filhas de colonos.

Ferro fez um olhar decepcionada. — Que inferno, me deixe de fora dessa!

— Até parece... — Hudson disse olhando de soslaio para ela e ela jogou açúcar nele. Apone apenas ouviu e viu. Não havia razão para intervir. Ele poderia ter acalmado-os, poderia ter jogado ‘pelo livro’. Em vez disso, deixou correr solto, apenas porque sabia que seu grupo era o melhor. Entraria em uma batalha com qualquer um deles guardando suas costas e não se preocuparia com o que não podia ver, sabendo que estaria protegido de forma tão eficiente como se tivesse olhos na parte de trás de sua cabeça. Deixe-os brincar, deixe-os amaldiçoar a ECA, a Companhia e ele também. Quando chegasse a hora, a brincadeira iria parar, e cada um deles cuidaria de fazer o certo.

— Colonos idiotas — Spunkmeyer olhou para seu prato onde o alimento surgiu como uma aparição. Depois de três semanas adormecido ele estava morrendo de fome, mas não tanta assim que não coubesse um comentário culinário.

— O que deveria ser isso?

— Ovos, estúpido! — Ladrou Ferro.

— Eu sei o que é um ovo, cérebro de bolha. Quero dizer essa coisa chata e amarela encharcada na lateral.

— Pão de milho, eu acho — Wierzbowski acrescentou distraidamente. — Ei, eu não me importaria de ter um pouco mais de tempo com uma menina Arcturan. Lembra aquela vez?

Hicks estava sentado em seu lado direito. O cabo olhou brevemente, em seguida, olhou para seu prato.



— O novo tenente parece se achar bom demais para comer com a gente. Puxa-saco do representante da empresa.

Wierzbowski olhou para o oficial, não se importando se alguém notasse seu olhar.

— Sim.

— Isso não importa, desde que saiba fazer seu trabalho — disse Crowe.

Frost cortando seus ovos comentou: — Nós vamos descobrir.

Talvez fosse a juventude de Gorman que lhes incomodava, embora fosse mais velho do que a metade dos soldados. Era mais provável que se devesse a sua aparência: cabelo curto e bem arrumado, mesmo depois de semanas no hipersono, vincos no lugar, botas brilhando como metal negro. Sua aparência era impecável.




Enquanto comiam e conversavam baixo, Bishop veio e tomou o lugar vazio ao lado de Ripley. Ela imediatamente se levantou e mudou-se para o outro lado da mesa.
Ele pareceu se incomodar.




— Sinto muito que você se sinta dessa forma sobre os sintéticos, Ripley.

Ela o ignorou e olhou direto para Burke, dizendo num tom acusador: — Você nunca disse nada sobre a existência de um androide a bordo! Por que não disse? Não minta para mim.

Burke pareceu perplexo.

— Bem, não me ocorreu. Não sei por que você está tão chateada. É política da empresa para os próximos anos ter sempre um sintético a bordo de cada transporte. Eles não precisam do hipersono, é muito mais barato do que contratar um piloto humano para supervisionar os saltos interestelares. Eles não vão ficar loucos por trabalhar tanto. Não é nada demais.

— Eu prefiro o termo ‘pessoa artificial’ — Bishop interrompeu suavemente. — Existe algum problema? Talvez eu possa ajudar.

— Eu penso que não — Burke limpou ovo de seus lábios. — Um sintético falhou na última viagem dela. Ocorreram mortes.

— Estou chocado. Foi há muito tempo?


— Bastante tempo, na verdade — Burke respondeu, sem entrar em detalhes, no que Ripley ficou grata.

— Deve ter sido um modelo antigo.

— Um Hyperdine 120A/2.

Curvando-se para trás, tentando ser conciliador, Bishop se virou para Ripley.

— Bem, isso explica tudo. Os antigos /2 sempre foram um pouco nervosos. Isso nunca poderia acontecer agora, não com os novos inibidores comportamentais implantados. Seria impossível para mim prejudicar ou, por omissão, permitir  a um ser himano ser prejudicado. Os inibidores vem instalados de fábrica, junto com o resto das minhas funções cerebrais. Ninguém pode alterá-los . Então como vê, sou inofensivo.

Ele ofereceu-lhe um prato cheio de retângulos amarelos dizendo: — Quer mais pão de milho?

O prato quebrou quando atingiu a parede depois que Ripley acertou-o.
O pão de milho esfarelado, assim como o prato, ficaram ao chão.



— Basta ficar longe de mim, Bishop! Você entendeu? Fique longe de mim!

Wierzbowski observou a cena em silêncio, depois deu de ombros e voltou para sua comida.

— Ela também não gosta do pão de milho.

A explosão de Ripley provocou o término das conversas e assim que os soldados terminaram de comer, se retiraram para a sala de instruções. Fileiras de toda sorte de armamento cobriam as paredes. Alguns fuzileiros se agruparam em torno de uma mesa e começaram um jogo improvisado de dados que terminou quando Gorman e Burke chegaram. Apone latiu para eles.



 — Atenção!

Os homens e mulheres responderam com os braços na vertical ao lado do corpo, olhos para a frente, e focados apenas no que o sargento poderia dizer-lhes em seguida.




Os olhos de Gorman analisaram a linha de corpos em sentido. Os soldados estavam mais imóveis do que quando congelados em hipersono.
Esperou por mais um momento antes de falar.

— À vontade! — A linha relaxou. — Sinto muito, mas não tivemos tempo para informar-lhe antes de sairmos, mas...

— Senhor? — Interrompeu Hudson.

Irritado, Gorman olhou para o altão. Não podia deixá-lo terminar sua primeira frase, antes de começar com as perguntas. Não que ele esperava outra coisa. Ele tinha sido avisado que este grupo poderia ser difícil.

— Sim, o que é, Hicks?

Hudson acenou para o homem de pé ao lado dele.

— Hudson, senhor. Ele é Hicks.

— Qual é a pergunta, soldado?

— Será que isso vai ser uma luta ao ar livre, senhor, ou em espaço confinado?




— Se você esperar um momento, pode encontrar algumas de suas perguntas, Hudson. Eu posso entender sua impaciência e curiosidade. Não há muito a explicar. Tudo o que sabemos é que perdemos contato com a Colônia. Bishop tentou contactar Hadley no instante em que a Sulaco alcançou uma distância de saudação de Acheron e não obteve uma resposta. O satélite planetário está ok, então esse não é o motivo para a falta de contato. Nós não sabemos o que é ainda.

— Alguma idéia? — Perguntou Crowe.

— Há uma possibilidade, apenas uma possibilidade, neste momento, que um xenomorfo possa estar envolvido.

— Um o que? — Perguntou Wierzbowski.

Hicks se inclinou em direção a ele e sussurrou baixinho. — Será uma caçada — e então mais alto, para o tenente, — Então, o que são essas coisas?

Gorman acenou para Ripley, que deu um passo adiante.
Onze pares de olhos fixos nela como a mira de uma arma: alertas, atentos, curiosos e especulativos. Ainda não tinham certeza se ela pertencia a mesma turma de Burke e Gorman ou a outro lugar. Não se importavam com ela nem gostavam dela, porque não a conheciam ainda.

Ela colocou um punhado de discos minúsculos sobre a mesa à frente.

— Aqui tem o que eu sei sobre ele. Vocês podem lê-los em seus quartos.

— Eu sou um leitor lento — Apone disse e sorriu um pouco. — Nos dê uma palhinha.

— Sim, vamos ouvir uma prévia — Spunkmeyer encostou-se num bloco com explosivos suficientes para colocar abaixo um prédio pequeno.




— Ok. Em primeiro lugar é importante entender o ciclo de vida do organismo. Ele é, na verdade, duas criaturas. A primeira é um esporo, numa espécie de ovo grande. Em seguida, ela salta na vítima e injeta um embrião dentro dela, se destaca e morre. É essencialmente um órgão reprodutor que anda. Então o...

— Parece com você, Hicks — Hudson sorriu para o homem mais velho, que respondeu com seu sorriso tolerante habitual.

Ripley não achou engraçado. Não achava nada engraçado sobre um alienígena.
Os soldados ainda não estavam convencidos de que ela estava descrevendo algo que existia fora de sua imaginação. Ela teria que tentar ser paciente com eles.
Não ia ser fácil.




—...O embrião, a segunda forma, se hospeda no corpo por várias horas. É o período de gestação. Então... — teve que engolir, lutando contra uma repentina secura na garganta —...ele emerge. Diferente. Cresce rapidamente. A forma adulta avança rapidamente através de vários estágios intermediários, até que amadurece na forma de...

Desta vez foi Vasquez que interrompeu: — Tá, tudo bem, mas eu só preciso saber uma coisa.

— Sim?



— Onde eles estão —  apontou o dedo para um espaço vazio entre Ripley e a porta, levantou o polegar e disparou em um intruso imaginário.

Vaias e gargalhadas de aprovação vieram de seus colegas.

— Dá-lhe Vasquez! — Como sempre Drake demonstrou prazer diante da sede de sangue de sua parceira. Seu apelido era “pivete assassino”, não a toa.

Ela assentiu com a cabeça bruscamente.

— A qualquer hora. Em qualquer lugar.

Hudson recostou-se na cadeira, de braços cruzados dedilhando uma arma com um carregador longo e estreito.

— Ela acha que são ‘imigrantes ilegais*’.   *(alien=imigrante)

— Foda-se! — Vasquez mostrou ao técnico um dedo.

Ele respondeu imitando-a: — A qualquer hora. Em qualquer lugar.

O tom de Ripley foi tão frio quanto o casco da Sulaco.




— Lamento interromper a conversa, Sr. Hudson? Sei que a maioria de vocês está olhando para isso como se fosse apenas, mais outra ação policial típica. Posso assegurar a vocês que é bem mais do que isso. Eu vi essa criatura. Eu vi o que ela pode fazer. Se você for para um encontro com aquilo, posso garantir que você não vai rir.

Hudson murchou. Ripley mudou sua atenção para Vasquez.

— Espero que vá ser tão fácil como você faz parecer, soldado. Eu realmente espero.

Seus olhos se encontraram. A mulher não desviou o olhar.

Burke caminhou entre elas.

— Isso é o bastante para uma pré-visualização. Sugiro a todos vocês que encontrem tempo para estudar os discos de Ripley, pois serão úteis para se prepararem. Eles contêm informações básicas adicionais, bem como alguns gráficos altamente detalhados especulativos da imagem. Eu acredito vão achar interessante. Eu prometo que vai prender a atenção de vocês.

Ele deu lugar para Gorman. O tenente soava como um comandante, mesmo que não chegasse a parecer um.

— Obrigado Sr. Burke e Ripley.

Seu olhar vagava sobre os rostos indiferentes de seu esquadrão.

— Alguma pergunta?

Uma mão acenou casualmente na parte de trás do grupo e ele suspirou resignado.



— Sim, Hudson?

— Como saio dessa?

Gorman fez uma careta e absteve-se de oferecer o primeiro pensamento que veio à mente. Ele agradeceu Ripley novamente com gratidão, ela sentou-se.

— Tudo bem. Eu quero que esta operação corra dentro dos números. Quero DCS completos e assimilação de banco de dados tático em zero-oito-trinta.

Alguns gemidos subiram do grupo, mas nada na forma de um forte protesto.
Nada menos do que o que eles esperavam.

— Carregar munição, checar armas, e preparar para desembarcar em sete horas. Quero tudo e todos prontos a tempo. Vamos fazer isso corretamente. Você já tiveram três semanas de descanso.


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