sábado, 15 de agosto de 2015

Aliens - Alan Dean Foster (Parte 5)



Não era o melhor dos tempos, mas certamente o pior dos lugares.
Impulsionados por forças sobrenaturais meteorológicas, os ventos de Acheron martelavam incessantemente a superfície árida do planeta.
Eram tão antigos quanto o próprio mundo rochoso. Sem quaisquer oceanos para competir com eles, varriam a paisagem por eras, sem ter as forças inquietas das profundezas basálticas, empurrando novas montanhas e planaltos pra cima.

Os ventos da Acheron estavam em guerra com o planeta que lhes deu a vida.



Até agora não tinha havido nada para interferir com seu fluxo incessante. Nada para interromper as suas tempestades de areia, nada que se opusesse aos vendavais em vez de simplesmente admitir o domínio deles, até que seres humanos vieram para Acheron e o reclamaram para o seu uso próprio.

Primeiro, a própria atmosfera fora transformada, o metano renunciou a sua posição dominante para o oxigênio e o nitrogênio. Em seguida os ventos seriam treinados, e então a superfície. O resultado final seria um clima benigno cujo resultado se manifestaria na forma de neve e chuva, e das coisas que crescem.

Este seria um legado para as gerações futuras.

Por enquanto os habitantes de Acheron trabalhavam nos processadores e se esforçavam para fazer um sonho tornar-se realidade, sobrevivendo com uma ração de determinação, humor, e gordos cheques de pagamento. Não viveriam o bastante para ver Acheron se tornar a terra de leite e mel.
Apenas a Companhia viveria o suficiente para isso.
A Companhia era imortal, como nenhum deles jamais poderia ser.

O senso de humor comum a todos os pioneiros que viviam em condições difíceis, era evidente em toda a colônia, mais notavelmente numa placa de aço em um poste de concreto.

HADLEY HOPE - População 159
BEM-VINDO A ACHERON

Sobre a qual, algum idiota local tinha, sem autorização oficial, acrescentado com tinta spray indelével:

TENHA UM BOM DIA!

Os ventos ignoravam o desejo. Partículas de areia e cascalho tinham corroído grande parte da placa de aço. Um novo visitante de Acheron, por cortesia dos processadores atmosféricos, tinha acrescentado seu próprio comentário com um floreio marrom: as primeiras chuvas tinha produzido a primeira ferrugem.





Além da placa que caracterizava o estabelecimento da colônia em si, havia um conjunto de estruturas metálicas e plasticoncreto unidos entre si por plataformas aparentemente muito frágeis para suportar os ventos do Acheron. Não eram tão impressionantes ao olhar quanto o terreno circundante com suas formações rochosas e montanhas, mas eram quase tão sólidas e muito mais caseiras. Protegiam dos vendavais, e da atmosfera ainda fina, confortando aqueles que trabalharam no interior dela.



Tratores e outros veículos de rodas gigantescas arrastavam-se para baixo pelas estradas abertas entre os prédios, emergindo ou desaparecendo em garagens subterrâneas como tantos veículos tipo besouro comunais. Luzes de néon piscaram irregularmente em edifícios comerciais, anunciando os poucos e lamentáveis, mas sinceros, entretenimentos a preços exorbitantes que eram pagos sem comentários. Grandes e gordos cheques sempre geram pequenos negócios operados por homens e mulheres com gordos sonhos. A Companhia não tinha interesse em controlar tais operações em si, mas de bom grado vendiam concessões para aqueles que desejavam fazê-lo.

Além do complexo da colônia estava o primeiro processador atmosférico. Movido à fusão nuclear, arrotava uma tempestade constante de ar purificado no envelope gasoso que cercava o planeta.

O material particulado e os gases perigosos eram removidos, por incineração ou por decomposição química; oxigênio e nitrogênio eram jogados de volta para o céu escuro. Entrava o ar ruim, saia o ar bom.
Não se tratava de um processo complicado, mas era demorado e muito caro.

Mas quanto vale um mundo? E Acheron não era tão ruim como alguns que a Companhia havia investido antes. Pelo menos possuía uma atmosfera capaz de ser modificada. Era muito mais fácil afinar a composição do ar de um mundo do que fornecê-lo a partir do zero. Acheron tinha uma gravidade normal.

Um verdadeiro paraíso.

O brilho de fogo que emanava da coroa do processador atmosférico se assemelhava a de um vulcão em erupção, sugerindo outra coisa, outro reino.
Nada deste simbolismo era ignorado pelos colonos, apenas inspirava o humor local. Afinal, eles não tinham concordado em vir para Acheron por causa do clima.

Nos corredores da colônia não havia corpos moles ou pálidos, ou rostos frágeis. Até as crianças pareciam duronas. Não em maldade, mas fortes, tanto dentro como fora.
Não havia lugar aqui para os valentões. A importância da cooperação era uma lição aprendida desde cedo. Crianças cresciam mais rapidamente aqui do que outras iguais na Terra, e aquelas que viviam em mundos mais ricos e mais suaves.
Elas e seus pais pertenciam a uma raça própria. Focados, mas interdependentes.
Não eram únicos.
Seus antecessores tinham viajado em vagões, ao invés de naves estelares.

Ajudava a pensar em si mesmo como pioneiros.
Soava muito melhor do que uma descrição numérica de trabalho.



No centro deste gânglio de homens e máquinas, uma construção alta conhecida como  Controle. Ela se elevava acima de qualquer outra estrutura artificial em Acheron com excepção das estações de processamento atmosferico.
Do lado de fora parecia espaçosa. Dentro, não havia um metro quadrado vazio, tudo era tomado pela instrumentação, o espaço de piso e teto, seqüestrado pela aparelhagem. Nunca havia espaço suficiente. Pessoas apertavam-se de modo que os computadores e as suas máquinas de serviços pudessem caber. Todo papel era empilhado nos cantos, apesar dos esforços incessantes para reduzir a informação em bytes eletrônicos.
O novo equipamento recém-chegado da fábrica, rapidamente adquiria uma infinidade de arranhões, mossas caseiras e anéis escuros deixados por canecas de café.



Dois homens comandavam o Controle e, portanto, a Colônia. Um deles era o gerente de operações, o outro seu assistente. Eles chamavam um ao outro pelo primeiro nome. Formalidade não estava em voga em mundos fronteiriços. A insistência em títulos e sobrenomes, assim como a arrogância, poderia levar um homem a se ver um dia do lado de fora, sem um traje de sobrevivência ou comunicador.

Seus nomes eram Simpson e Lydecker, e um parecia mais acelerado do que o outro. Ambos tinham a expressão de homens para os quais o sono era uma amante raramente visitada. Lydecker parecia um contador assombrado por uma grande dedução fiscal extraviada dez anos antes. Simpson, um tipo grande e corpulento, teria sido mais feliz dirigindo um caminhão da Colônia. Infelizmente tinha sido preso pelo cérebro, apesar dos músculos, e não tinha conseguido esconder isso de seus empregadores. A frente de sua camiseta estava perpetuamente suada.



— Viu a previsão do tempo para a próxima semana?

Simpson estava mastigando algo perfumado, que manchava o interior de sua boca. Provavelmente ilegal, Lydecker sabia. E não disse nada sobre isso. Era problema dele, era da conta de Simpson. Além disso, ele estava considerando tambem pedir um pouco daquilo emprestado. Pequenos vícios não eram incentivados em Acheron, mas enquanto eles não interferissem com o trabalho de uma pessoa, nem o expusesse ao ridículo, tudo bem. Já era duro o suficiente manter sua sanidade, difícil ainda mais sobreviver.

— O que tem ela? — Perguntou o gerente de operações.

— Vamos ter um verdadeiro verão indiano. Ventos de até a quarenta nós.

— Bom. Vou precisar de protetor solar. Droga, eu me contentaria com apenas um vislumbre honesto do sol local.

Lydecker balançou a cabeça, com um ar de reprovação simulada.

— Você nunca está satisfeito, não é? Não é o bastante saber que ele está lá em cima?

— Eu sou ganancioso. Eu deveria calar a boca e contar minhas bênçãos, certo? Você tem outra coisa em sua mente, Lydecker, ou você está apenas em um de seus intervalos para o café?

Verificou uma leitura impressa.

— Você se lembra de que enviou alguns prospectores para um planalto inexplorado pra lá de Ilium Range, alguns dias atrás?

— Sim. Tivemos alguns informes de radiação de lá, por isso pedi voluntários, e um cara chamado Jorden levantou a sua luva. Eu disse a eles para irem olhar se quisessem. Alguns outros podem ter seguido para lá também. O que tem?



— Tem um cara no rádio, equipe de pesquisa. Quer saber se seus direitos de posse serão respeitados.

— Todo mundo é advogado hoje em dia. Às vezes eu acho que eu mesmo deveria me tornar um.

— O que, e arruinar a sua imagem sofisticada? Além disso, não há muita procura por advogados por ai. E você ganha bem!

— Continue dizendo isso. Me ajuda muito.

Simpson balançou a cabeça e virou-se para olhar para uma tela verde.

— Algum almofadinha em um escritório confortável na Terra diz para darmos uma olhada em um quadrante no meio do nada, nós olhamos. Eles não dizem o porquê, e eu não pergunto. Eu não pergunto por que leva duas semanas para obter uma resposta de volta de lá, e a resposta é sempre ‘Não discuta’! Ás vezes me pergunto por que me preocupo.

— Eu lhe digo o motivo. Dinheiro.

O assistente de operações recostou-se contra um console.

— Então, o que eu digo pro cara?

Simpson virou-se para olhar para a tela que cobria a maior parte de uma parede.
Um mapa topográfico gerado por computador da parte explorada de Acheron.
O mapa não era muito amplo e os recursos ilustrados faziam o deserto de Kalahari parecer a Polinésia. Simpson raramente conseguia ver a superfície de Acheron em pessoa. Seus deveres o faziam permanecer perto do Controle o tempo todo, e gostava disso.



— Diga a ele — falou para Lydecker — que se ele encontrar alguma coisa, é dele. Qualquer um com a coragem de rastejar por aí merece ter o que achar.



***



O trator Daihotei tinha seis rodas, laterais blindadas, pneus de grandes dimensões e a parte inferior da carroçaria era resistente à corrosão. Não era completamente à prova de Acheron, mas, nenhum equipamento da colônia era. Adesivos e soldagem tinham transformado o exterior liso do trator em uma colagem de manchas coloridas de metal, de solda e selante epóxi.

Vencia o vento e a areia, seguindo de forma constante para frente. Isso era o suficiente para as pessoas lá dentro abrigadas.




No momento o trator chacoalhava em seu caminho até um declive suave, os pneus cuspindo sprays de poeira vulcânica que o vento rapidamente levava.
Arenito e xisto corroído desmoronava sob o seu peso.
Um vendaval oeste uivava lá fora contra seus flancos blindados, explodindo contra as janelas e portas numa tentativa incessante para cegar o veículo e aqueles dentro dele.
A determinação daquele que o conduzia, combinada com o motor confiável, o mantinha se movendo. O motor cantarolava tranqüilizador, enquanto os filtros de ar lutavam para manter a poeira e areia fora do sacrossanto interior. A máquina precisava de ar puro para respirar, tanto quanto seus ocupantes. Estes não eram tão a prova da atmosfera externa como seu veículo, mas Russ Jorden possuia a aparência inconfundível de alguém que tinha passado tempo o bastante em Acheron.

Desbastado e gasto.


Em menor grau, a mesma descrição poderia ser aplicada a sua esposa, Anne, embora não para as duas crianças que saltavam na parte traseira da grande cabine central.
De alguma forma elas conseguiam correr em torno de equipamentos de amostragem portátil e caixotes sem serem esmagadas contra as paredes. Seus ancestrais haviam aprendido na tenra idade, como montar algo chamado cavalo. O balanço do trator não era muito diferente daquele do quadrúpede, e as crianças tinham dominado-o quase tão logo quanto aprenderam a andar.

Suas roupas e rostos estavam sujos de poeira, apesar do interior inviolável do veículo. Este era um fato da vida em Acheron, não importava o quanto você tentava selar, a poeira sempre conseguia penetrar veículos, escritórios, residências. Um dos primeiros colonos tinha inventado um nome para esse fenômeno que era mais descritivo do que científico. Chamou de “partícula-osmose”. Ciência acheroniana. Os colonos mais imaginativos insistiam que o pó era senciente, que se escondia e esperava que as portas e janelas se abrissem para deliberadamente correrem para dentro. Donas de casa se perguntavam zombando se era mais rápido lavar a roupa ou raspá-la.

Russ Jorden lutava com o enorme trator em torno de pedregulhos grandes demais para subir e achava um caminho através das fendas estreitas no planalto, auxiliado pelo “PING” constante do localizador. O som ficava mais alto quanto mais perto eles chegaram da fonte de perturbação eletromagnética, mas ele se recusava a abaixar o volume. Cada “PING” era uma alegria em si, como o som das caixas registradoras de antigamente. Sua esposa monitorava as condições do trator e os sistemas de suporte de vida enquanto o marido dirigia.

— Olhe para este lindo perfil magnético! — Jorden bateu na pequena leitura à sua direita. — E é minha, toda ela, minha! Lydecker disse que Simpson falou que sim, e temos  isso gravado. Eles não podem tirar isso de nós agora. Nem mesmo a Companhia pode tirar isso de nós. Minha, toda minha!

— Metade sua, querido — disse sua esposa quando olhou para ele e sorriu.

— E metade minha!

Esta alegre profanação da matemática básica veio de Newt, a filha dos Jordens.
Tinha seis anos de idade e mais energia do que seus pais e o trator juntos.
O pai sorriu carinhosamente, sem tirar os olhos do console.

— Eu tenho muitos parceiros.

A menina brincava com Tim, seu irmão mais velho, até que finalmente se entediou.

— Papai, quando é que vamos voltar para a cidade?

— Quando ficarmos ricos, Newt.

— Você sempre diz isso.

Ela arrastou-se sobre seus pés, tão ágil como uma lontra.

— Quero voltar! Eu quero jogar ‘Labirinto dos monstros!’

Seu irmão enfiou o rosto no dela.

— Você vai jogar sozinha desta vez. Você trapaceia demais!

— Não — ela levou pequenos punhos aos quadris não formados. — Eu sou apenas a melhor, e você está com ciúmes!

— Não estou! Você pode ir a lugares que eu não posso!

— Então, é por isso que eu sou melhor!

A mãe deles tirou o olhar de seu banco de monitores e leituras.



— Parem com isso! Se eu pegar um de vocês dois brincando nos dutos de ar da Colônia, vou arrancar suas peles. Não só é contra os regulamentos, é perigoso. E se um de vocês perder o equilíbrio e cair pelo eixo vertical?

— Ah, mãe. Ninguém é burro o bastante para fazer isso. Além disso, todas as crianças brincam, e ninguém se feriu. Somos cuidadosos — seu sorriso voltou. — E eu sou a melhor porque eu entro em lugares que ninguém consegue entrar.

— Como um pequeno verme — seu irmão mostrou a língua para ela.

— Nyah, Nyah! Ciumento, ciumento!

Ele tentou agarrá-la e ela soltou um grito infantil e se escondeu atrás de um analisador portátil de minério.

— Parem, vocês dois! — Havia mais carinho do que a raiva na voz de Anne Jorden. — Vamos tentar nos acalmar durante dois minutos, ok? Estamos quase terminando aqui. Nós vamos voltar para a cidade logo e...

Russ Jorden tinha subido no seu assento para olhar pelo pára-brisa.
Confrontos infantis temporariamente colocados de lado, sua esposa se juntou a ele.

— O que foi, Russ?

Ela colocou a mão em seu ombro para se firmar quando o trator deu uma guinada para a esquerda.

— Tem algo lá fora. As nuvens de pó se abriram por apenas um segundo, e eu vi. Eu não sei o que é, mas é grande! E é nossa! Seu e meu e das crianças!



A nave alienígena apequenou o trator de seis rodas que se aproximava.
Arcos gêmeos de vidro metálico varriam o céu em curvas graciosas, mas de uma forma perturbadora, a partir da popa abandonada. De certa distância se assemelhavam aos braços suspensos de um homem morto, de barriga para cima, em avançado rigor mortis. Um era mais curto do que o outro, e ainda assim não conseguia arruinar a simetria da nave.




O projeto era tão estranho quanto sua composição. Parecia ter sido cultivado em vez de construído. O bojo liso do casco exibia um brilho vítreo peculiar que o grão de areia de Acheron não conseguia completamente obliterar.

Jorden chamou os freios do trator.




— Gente, acertamos desta vez! Anne, vamos arrebentar! Será que o Hadley Café pode sintetizar champanhe?

Sua esposa ficou onde estava, olhando através do vidro resistente.

— Vamos dar uma olhada e voltar com segurança antes de começar a celebrar, Russ. Talvez nós não sejamos os primeiros a encontrá-la.

— Você está brincando? Não há nenhum sinalizador. Não há nenhum marcador do lado de fora. Ninguém esteve aqui antes de nós. Ninguém! Ela é toda nossa.

Ele estava indo em direção à parte traseira da cabine enquanto falava.

Anne ainda soava duvidosa. — É difícil acreditar que esse tipo de ressonância, deste tamanho, poderia estar aqui por tanto tempo sem ser notada.

— Besteira!

Jorden já estava subindo em seu traje, puxando as presilhas, fechando lacres com a facilidade da longa prática.

— Você se preocupa demais. Posso pensar em vários motivos para não ter sido descoberto até agora.

— Por exemplo?

Relutantemente ela se afastou da janela e juntou-se a ele, vestindo seu próprio traje.

— Por exemplo, estas montanhas podem estar bloqueando os detectores da Colônia, e você sabe que os satélites de vigilância são inúteis neste tipo de atmosfera.

— E quanto ao infravermelho?

Ela fechou o zíper da frente de seu traje.

— O infravermelho? Olhe para ele, mortinho da silva! Provavelmente isso está aqui a milhares de anos. Mesmo que tivesse pousado ontem, não veriam qualquer infravermelho nesta parte do planeta; o novo ar que sai do processador é muito quente.

— Então como o Controle tropeçou nisso?

Ele deu de ombros.

— Como diabos vou saber? Se está incomodando você, pode perguntar a Lydecker quando voltarmos. O importante é que nós somos os únicos que escolheram verificar este sítio. Nós tivemos sorte!

Se virou em direção à porta-estanque.

— Vamos lá, querida. Vamos pegar o baú do tesouro. Aposto que as entranhas desse bebê estão repletas de coisas valiosas.



Igualmente entusiasmada, mas consideravelmente mais controlada, Anne Jorden apertou os selos de seu próprio traje. Marido e esposa verificaram um ao outro: oxigênio, ferramentas, luzes, células de energia, tudo no lugar. Quando estavam prontos para deixar o trator, ela levantou a viseira corta-vento do capacete e olhou para sua prole com um olhar severo.

— Vocês crianças, fiquem dentro de casa!

— Ah, mãe — a expressão de Tim estava cheia de decepção infantil. — Não posso ir também?

— Não, você não pode. Nós vamos lhe contar tudo quando voltarmos.

E fechou a porta atrás dela.

Tim correu imediatamente para o visor mais próximo e pressionou o nariz contra o vidro. Fora do trator, a paisagem crepúscular era iluminada pelas luzes dos capacetes de seus pais.

— Eu não sei por que eu não posso ir também.

— Porque mamãe mandou — Newt respondeu ao irmão, enquanto pressionava seu próprio rosto contra outra janela. As luzes dos capacetes de seus pais ficaram turvas, à medida que avançavam em direção da estranha nave.

Algo a agarrou por trás. Ela gritou e virou-se para enfrentar seu irmão.

— Trapaceira! — ele zombou. Então se virou e correu para um lugar para se esconder. Ela o seguiu gritando.

***



A maior parte da nave alienígena pairava sobre estruturas bipedes partindo dos escombros que a cercava. O vento uivava em torno deles. A poeira obscureceu o sol.

— Não deveríamos batizá-la? — Anne admirou a massa polida.

— Vamos esperar até sabemos como chamá-la.

Seu marido chutara um pedaço de rocha vulcânica para longe de seu caminho.

— Que tal “grande coisa estranha”?

Russ Jorden virou-se para encará-la.

— Ei, qual é o problema, querida? Nervosa?

— Estamos nos preparando para entrar em uma nave alienígena abandonada. Pode apostar que eu estou nervosa.

Ele bateu nas costas dela. — Basta pensar no belo dinheiro. A nave por sí só vale uma fortuna, mesmo que esteja vazia. É uma relíquia de valor inestimável. Me pergunto quem a construiu, de onde vieram, e porque acabou caindo neste monte de cascalho esquecido por Deus.

Sua voz e expressão estavam cheios de entusiasmo, apontando para um corte escuro no costado da nave.

— Há uma abertura. Vamos verificar.

Se voltaram para o local. Quando se aproximaram, Anne Jorden estava inquieta.

— Eu não acho que seja consequência dos danos, Russ. Parece parte do casco para mim. Quem concebeu essa coisa, não gostava de ângulos retos.

— Não me importo com o que eles gostavam. Vamos entrar.

***


Uma única lágrima percorreu seu caminho pelo rosto de Newt Jorden.
Ela tinha estado olhando para fora, pelo pára-brisa dianteiro, por um longo tempo. Finalmente desceu e foi para cadeira do piloto onde seu irmão dormia. Fungou e limpou a lágrima, não querendo que Tim a visse chorando.

— Timmy, acorda, Timmy. Eles se foram faz muito tempo!

O irmão dela piscou os olhos, tirou os pés do console e sentou-se.
Conferiu despreocupadamente o cronômetro e, em seguida, olhou para a paisagem escura lá fora. Apesar do isolamento do trator, ainda se podia ouvir o vento soprando com o motor desligado. Tim chupou o lábio inferior.

— Vai ficar tudo bem, Newt. Papai sabe o que está fazendo.

Neste instante a porta estanque se abriu, deixando entrar vento, poeira e uma forma escura e alta. Newt gritou e Tim pulou do assento quando sua mãe arrancou a viseira e jogou-a de lado, sem se importar com o dano que poderia causar ao delicado instrumento.

Seus olhos ,transtornados, os tendões destacados em seu pescoço, passou pelos filhos empurrando-os para o lado.

Pegou o microfone e gritou: — Socorro! Socorro! Aqui é Alfa Kilo Dois Nove Quatro chamando Controle Hadley. Repito. Este é Alfa...

Newt mal ouviu sua mãe. Ela tinha as duas mãos pressionadas sobre sua boca enquanto respirava a atmosfera rarefeita. Atrás dela, os filtros do trator gemiam lutando com as particulas no ar. Ela estava olhando para a porta aberta. Seu pai estava lá fora, deitado de costas sobre as rochas. Sua mãe o havia arrastado por todo o caminho de volta da nave alienígena.

Havia algo em seu rosto.





Uma coisa plana com nervuras,  tinha pernas quitinosas de aranha e uma cauda longa, musculosa, circundando o pescoço do pai. A criatura parecia um caranguejo-ferradura mutante, com um exterior suave. Estava pulsando como uma bomba. Como uma máquina. Com excepção de que não era uma máquina. Era claramente, obviamente, obscenamente viva.



Newt começou a gritar novamente, e desta vez não parou.

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