domingo, 20 de setembro de 2015
Aliens - Alan Dean Foster (Parte 10)
Gorman inclinou-se para trás, pensativo.
— Tudo bem. A área está segura. Vamos entrar e ver o que o seu computador pode nos dizer. Primeira equipe, para o Controle. Sabe onde fica, sargento?
Apone cutucou o interruptor no painel do seu braço. Um pequeno mapa da colônia Hadley apareceu no interior da viseira do seu capacete.
— É aquela estrutura alta que vimos quando entramos. Não é muito longe, senhor. Nós estamos a caminho.
— Bom. Hudson, quando você chegar lá, veja se você pode ativar a unidade de processamento central. Nada de extravagante. Nós não queremos usá-lo; só queremos falar com ele. Hicks, estamos entrando. Encontre-me no portão sul junto da torre de comunicação. Gorman desliga.
— Certo — Hudson teria cuspido, se não fosse por não haver nenhum alvo adequado. — Ele está chegando. Eu já me sinto mais seguro.
Vasquez verificou que seu microfone estivesse desligado antes de concordar.
As potentes luzes de arco montadas na frente da APC iluminavam as paredes manchadas, gastas pelo vento, dos prédios da colônia, assim que o veículo blindado rolou pela principal rua de serviço. Passaram por um par de veículos menores estacionados numa zona guarnecida. As rodas de titânio do APC vomitaram água suja dos grandes buracos. Amortecedores de choque internos absorveram o impacto. A chuva chicoteou os faróis.
No compartimento do piloto, Bishop e Wierzbowski trabalhavam sem problemas, lado a lado, o homem e o sintético em perfeita harmonia. Cada qual respeitando as habilidades do outro. Ambos sabiam, por exemplo, que Wierzbowski podia ignorar qualquer conselho que Bishop desse. Wierzbowski encontrara o local procurado.
— Lá, eu acho.
Bishop estava atento ao piscar no mapa de cores vivas na tela entre eles.
— Tem que ser. Não há nenhum outro bloqueio nesta área. Sim, lá está Hicks.
Apone, o segundo no comando, surgiu no terreno próximo ao veículo blindado.
Observou enquanto a porta deslizava para o lado. Gorman foi o primeiro a descer a rampa, seguido de perto por Burke, Bishop e Wierzbowski.
Burke olhou para trás, em busca da ocupante restante no tanque, apenas para vê-la hesitar à porta.
Ela não estava olhando para ele. Sua atenção estava voltada para a entrada escura que conduzia às profundezas da colônia.
— Ripley?
Em resposta ela balançou a cabeça bruscamente de lado a lado.
— A área está segura — Burke tentou soar confiante. — Você ouviu Apone.
Outro gesto negativo. A voz de Hudson soou em seus fones de ouvido.
— Senhor, o computador da colônia está ativo.
— Bom trabalho, Hudson — disse o tenente. — Aqueles de vocês no Controle, aguardem. Estaremos ai em breve — Acenou para seus companheiros. — Vamos lá!
Pessoalmente a devastação parecia muito pior do que nos monitores da APC.
— Parece que a sua empresa vai ter que amortizar a sua quota desta colônia — o tenente murmurou para Burke.
— Os edifícios estão na sua maioria intactos — o representante da Companhia não parecia preocupado. — O seguro cuida do resto.
— Ah é? E sobre os colonos? — Ripley perguntou a ele.
— Não sabemos ainda o que aconteceu com eles — respondeu um pouco irritado com ela.
Estava frio dentro do complexo. Sem energia, o regulador interno falhara, e em qualquer caso, as janelas que explodiram e os buracos nas paredes externas tinham sobrecarregado o equipamento rapidamente. Ripley descobriu que estava suando apesar do esforço de seu traje para mantê-la confortável. Seus olhos eram tão ativos quanto qualquer soldado, da maneira que verificava os buracos nas paredes e no chão, e cada canto escuro.
Este era o lugar onde tudo tinha começado. Este era o local para onde ele tinha vindo. O alienígena. Não havia nenhuma dúvida em sua mente do que tinha acontecido ali. O alienígena que tinha causado a destruição da Nostromo e as mortes de todos os seus companheiros estava solto na colônia Hadley.
Hicks notou o nervosismo dela ao esquadrinhar o corredor devastado e os escritórios queimados. Sem dizer nada, ele fez um gesto para Wierzbowski. O oficial assentiu imperceptivelmente, ajustando seu passo para ficar ao lado direito de Ripley. Hicks foi flanqueando-a do lado esquerdo. Juntos formaram um cordão protetor em torno dela. Ela notou e olhou para o cabo. Ele piscou, ou, pelo menos, ela pensou que sim. Foi muito rápido para ela estar certa.
Frost emergiu do corredor lateral logo à frente. Acenou para os recém-chegados, falando com Gorman, mas olhando para Hicks.
— O senhor precisa ver isso.
— O que Frost? — Gorman estava com pressa para encontrar-se com Apone. Mas o soldado foi insistente.
— É mais fácil mostrar, senhor.
— Certo. Mostre-me! — O tenente apontou para o corredor. Frost assentiu com a cabeça e virou-se para a escuridão, os outros o seguiram.
Ele levou-os para uma ala que estava completamente sem energia. As luzes dos trajes revelaram cenas de destruição ainda piores do que o que tinham até então encontrado. Ripley descobriu que estava tremendo. Na APC era seguro, fortemente armada, e não estava muito longe, se corresse ela estaria de volta lá em poucos minutos. Mas não importava o quão seguro o transporte de pessoal fosse, ela sabia que era mais seguro aqui, cercada pelos soldados. Continuou dizendo isso para si mesma à medida que avançavam.
Frost estava gesticulando. — Direto à frente aqui, senhor.
O corredor estava bloqueado. Alguém havia erguido uma barricada improvisada de tubos soldados e chapas de aço, e painéis das portas extras, revestimento de teto do piso. Furos e ácido marcavam barreira levantada às pressas. O metal tinha sido rasgado e torcido por forças terrivelmente poderosas. Onde Frost estava, a barricada tinha sido rasgada como uma lata de sopa. Espremeram-se através da abertura estreita, um de cada vez.
Luzes foram jogadas sobre a devastação além.
— Alguém sabe onde estamos? — Perguntou Gorman.
Burke estudou um mapa.
— Ala médica. Estamos no lado direito.
Se espalharam, as luzes de seus trajes iluminando mesas viradas, armários e cadeiras quebradas e equipamento cirúrgico caro destruido. Instrumentos médicos menores espalhados pelo chão como confetes de aço. E mesas móveis tinham sido empilhadas, aparafusadas e soldadas para dentro da barricada. Listras negras mostravam onde o fogo havia inflamado, e as paredes estavam marcadas por buracos de pulso-rifle e ácido.
Apesar da ausência de luz, o local não estava completamente sem energia. Alguns dos instrumentos e placas de controle brilhavam suavemente graças a força de emergência. Wierzbowski passou a mão enluvada sobre um buraco na parede do tamanho de uma bola de basquete.
— Última tentativa. Eles armaram uma barricada e se enfurnaram aqui.
Gorman chutou uma garrafa de plástico vazia. Ela correu fazendo barulho no chão.
— A área médica tem energia extra para alimentação de emergência duradoura e seu próprio estoque de suprimentos.
— Este é o lugar para onde eu viria também. Nenhum corpo?
Frost estava varrendo a extremidade da sala com a sua luz.
— Eu não vi nenhum quando entrei aqui, senhor. Parece que foi uma batalha.
— Não vejo nenhum de seus meninos, tampouco, Ripley — Wierzbowski olhou para cima e ao redor. — Ei, Ripley? Onde está Ripley?
— Aqui.
O som de sua voz levou-os para uma segunda sala. Burke examinou o novo ambiente antes de se pronunciar. — Laboratório Médico. Parece muito limpo. Eu não acho que a luta chegou até aqui. Eu acho que eles perderam antes de chegar aqui.
Os olhos de Wierzbowski percorreram o local até encontrarem o que atraiu a atenção de Ripley. Murmurou algo baixinho e caminhou na sua direção.
Assim fizeram os outros.
No outro lado do laboratório haviam cilindros transparentes brilhando em luz violeta.
O fluido dentro deles servia para preservar o material orgânico.
Todos os cilindros estavam em uso.
— Alguém fazia bebida ilegal aqui — brincou Gorman. Ninguém riu.
— Tubos de estase. Equipamento padrão para um laboratório médico de uma colônia deste tamanho — Burke contornou os cilindros de vidro.
Sete tubos para sete espécimes.
Cada cilindro mantinha algo que parecia uma mão decepada com muitos dedos. Os organismos de longos dedos eram achatados e envoltos em um material qual couro bege, fino e translúcido. Pseudoguelras mexendo-se preguiçosamente no fluido de suspensão. Não havia órgãos visíveis de visão ou audição. A cauda longa pendurado na parte de trás de cada abominação, arrastando-se livremente no líquido. Um par das criaturas ‘abraçadoras’, tinham suas caudas enroladas firmemente contra suas barrigas.
Burke falou com Ripley, sem tirar os olhos dos espécimes.
— São iguais aos que você descreveu em seu relatório?
Ela assentiu com a cabeça sem falar uma palavra.
Fascinado, o representante da Companhia foi até um cilindro, inclinando-se até que seu rosto estava quase tocando o vidro.
— Cuidado, Burke — Ripley avisou.
Assim que concluiu o alerta, a criatura no tubo avançou bruscamente, batendo contra o revestimento interno do cilindro. Burke pulou assustado. A partir da porção ventral do corpo achatado, uma projeção fina, carnuda havia emergido. Parecia uma secção cônica do intestino que deslizou feito uma lingua sobre o interior do tubo.
Eventualmente retraiu-se, enroscando-se dentro de uma capa protetora entre as estruturas feito guelras. Pernas e cauda em uma posição de repouso.
Hicks olhou sem expressão para Burke. — Ele gosta de você.
O representante da Companhia não respondeu, foi inspecionar cada um dos cilindros.
Com a sua proximidade, apenas um dos restantes dos seis espécimes reagiu.
Os outros, soltos no líquido de suspensão, com seus dedos e caudas flutuando livremente.
— Estes estão mortos — disse quando chegou ao último tubo. — Apenas dois vivos. A menos que haja um estado diferente, mas eu duvido. Vejam, os mortos têm uma cor completamente diferente.
Pastas de arquivo descansavam sobre cada cilindro.
Ao exercer cada gota de autocontrole que possuía, Ripley foi capaz de tirar uma delas do topo de um tubo contendo uma criatura viva. Recuando rapidamente, abriu a pasta e começou a ler com a ajuda de sua luz. Além do material impresso, o arquivo estava repleto de gráficos e ultra-sonografias. Havia imagens de ressonância magnética, da estrutura interna das criaturas. Todos os longos relatórios traziam muitas notas rabiscadas à mão livre nas margens. Caligrafia do médico, ela concluiu, por serem em sua maioria ilegíveis.
— Alguma coisa interessante? — Burke estava encostado no cilindro de estase cujo arquivo ela estava folheando, ainda estudando a criatura que ele continha a partir de todos os ângulos possíveis.
— Provavelmente sim, mas a maior parte é demasiado técnica para mim — ela bateu no arquivo. — Relatório do médico examinador chamado Ling.
— Chester O. Ling. — Burke bateu no tubo com uma unha. Desta vez a criatura dentro dele não respondeu. — Tinhamos três médicos estacionados em Hadley. Ling era um cirurgião, eu acredito. O que ele tinha a dizer sobre este pequeno prêmio aqui?
— Removido cirurgicamente antes da implantação embrionária ter sido concluída. Os procedimentos cirúrgicos padrões foram inúteis.
— Me pergunto por quê? — Gorman estava tão interessado na amostra como o resto deles, mas não a ponto de tirar os olhos do local.
— Fluidos corporais dissolveram os instrumentos. Tiveram que usar lasers cirúrgicos para remover e cauterizar o espécime. Estava preso a alguém chamado Marachuk, John L. — ela olhou para Burke, que balançou a cabeça.
— Não me diz nada. Não era um administrador ou um dos maiorais. Deve ter sido um motorista de trator ou lojista.
Ela olhou de volta para o relatório. — Ele morreu durante o procedimento.
Hicks foi até ela, olhar para o relatório, espiando por cima do ombro de Ripley.
Ele não teve a chance de fazê-lo. Seu rastreador de movimento emitiu um sinal sonoro inesperado e surpreendentemente alto.
Os quatro soldados tomaram posição, verificando primeiro a entrada para o laboratório, passando a olhar de soslaio para os cantos escuros.
Hicks levou o rastreador de volta para a barricada.
— Atrás de nós — fez um gesto em direção ao corredor que tinham acabado de passar.
— Um de nós? — Sem pensar, Ripley se aproximou do oficial.
— Não há como dizer. Esse bebê não é um instrumento de precisão.
Gorman chamou no rádio: — Apone, estamos no setor médico e temos um sinal. Onde está o seu pessoal? — Deu uma verificada rápida no mapa. — Tem alguém no bloco D?
— Negativo — todos eles puderam ouvir a resposta do sargento. — Estamos no Controle, como solicitado. Quer companhia?
— Ainda não. Vamos mantê-lo informado — cutucou o microfone aural para longe de sua boca. — Vamos, Vasquez!
Ela assentiu com a cabeça e balançou laconicamente a smartgun para a posição de prontidão. Ela e Hicks seguiram na direção da fonte de sinal, enquanto Frost e Wierzbowski ficavam na traseira do grupo.
O cabo levou-os de volta para o corredor principal e virou à direita, em um labirinto de paredes de metal escovado.
— O sinal está ficando mais forte. Definitivamente não é mecânico — segurou o rastreador firmemente em uma mão, e o rifle com a outra. — Movimento irregular. Onde diabo nós estamos?
Burke inspecionou os arredores. — Cozinha. Chegaremos ao processamento de alimentos se continuarmos indo por este caminho.
Ripley tinha ficado atrás de Wierzbowski e Frost. Percebendo de repente que não havia nada atrás dela a não ser a escuridão, se apressou para alcançar seus companheiros.
A avaliação de Burke foi confirmada à medida que avançavam e suas luzes começaram a saltar pelas superfícies brilhantes de máquinas volumosas: freezers, fogões, congeladores e esterilizadores. Hicks ignorou tudo isso.
— Está se movendo novamente!
O olhar do operador da smartgun era frio enquanto examinava seu ambiente. Seus dedos acariciaram os controles da arma.
— Qual o caminho?
Hicks hesitou brevemente, depois acenou com a cabeça em direção a uma matriz complexa de máquinas projetadas para processar carnes e legumes liofilizados.
Os soldados avançaram em marcha.
Wierzbowski tropeçou em uma vasilha de metal e com raiva chutou-a para as sombras.
O rastreador do cabo apitava de forma constante agora, quase cantarolando. O zumbido subiu para um gemido afiado. Uma pilha de potes de conserva de repente desabou e uma forma fracamente vislumbrada moveu-se atrás dos balcões de preparação.
O operador da smartgun girou com o dedo já contraindo o gatilho. Um traço de fogo rasgou o teto, enviando gotículas de metal fundido pro ar.
Hicks gritou para ela parar de atirar.
Apontou sua luz brilhante sob uma fileira de armários de metal e ficou assim durante o que pareceu uma eternidade antes de acenar para Ripley se juntar a ele.
As pernas dela não iriam funcionar, e seus pés pareciam congelados no chão.
Hicks gesticulou de novo, com mais urgência, e ela se viu avançando em transe.
Ele estava debruçado sobre, tentando trabalhar sua luz debaixo de um armário de armazenamento de alta. Ela se agachou ao lado dele.
Encurralada contra a parede, como uma borboleta presa por um alfinete, uma pequena, figura aterrorizada. Encarando-os em terror, a menina se encolheu diante dos intrusos. Em uma mão segurava um pacote de comida de plástico que tinha sido roído a metade. A outra agarrava firme a cabeça de uma grande boneca, segurando-o pelo seu cabelo. Não havia sinal do restante do corpo de plástico. A criança era magra e suja. Ela parecia muito mais frágil do que a cabeça da boneca que ela carregava. Seu cabelo loiro estava bastante emaranhado, como uma guirlanda de lã de aço emoldurando seu pequeno rosto.
Ripley tentou, mas não podia ouvir sua respiração.
A garota piscou contra a luz, o gesto foi suficiente para alavancar a mente de Ripley.
Ela estendeu lentamente a mão para a criança, os dedos fechados, e sorriu para ela.
— Vamos — disse ela suavemente. — Está tudo bem. Não há nada a temer aqui.
Ela tentou chegar mais longe por detrás do armário.
A menina recuava fugindo dos dedos que se estendiam, afastando-se e tremendo visivelmente. Tinha a aparência de um coelho paralisado por faróis de carro. Os dedos de Ripley quase a alcançaram. Abriu a mão, com a intenção de acariciar suavemente a blusa rasgada.
Então a menina disparou a correr, rastejar veloz, ao longo dos armários, com uma agilidade incrível. Ripley mergulhou para frente nos cotovelos e joelhos enquanto lutava para manter a criança a vista. Hicks corria freneticamente até que uma pequena folga aparecer entre dois armários. Esticou a mão e os dedos fecharam-se em torno de um pequena tornozelo.
Um instante depois gritou de volta: — Uh! Cuidado, ela morde!
Ripley estendeu a mão para o outro pé mas perdeu-o. Um segundo depois, a menina chegou a um duto de ventilação, cuja grelha tinha sido arrancada. Mexia-se dentro do duto, se contorcendo como um peixe. Hicks nem sequer tentou segui-la. Ele não caberia pela abertura estreita nem se estivesse completamente nu, muito menos em sua armadura volumosa.
Ripley mergulhou sem pensar, se contorcendo no duto com os braços estendidos para frente dela, movendo-se com coxas e braços. A menina estava logo à frente dela, ainda em movimento. Conforme Ripley a seguia, sua respiração soava alto no túnel confinado, quando a criança bateu uma escotilha de metal à sua frente. Ripley atingiu a barreira e empurrou-a abrindo-a antes que a menina pudesse tranca-la do outro lado.
Xingou quando bateu a testa contra o metal.
O que viu à frente, a fez esqueceu a dor. A garota estava agora apoiada contra a extremidade de uma pequena câmara esférica, uma das bolhas de descompressão do sistema de ventilação da colônia. E não estava sozinha. Em torno dela cobertores e travesseiros misturados com uma coleção aleatória de brinquedos, bichos de pelúcia, bonecas, jóias baratas, livros ilustrados e pacotes vazios de comida. Havia até mesmo um leitor de disco a bateria. Era o resultado de tudo que a menina conseguira recuperar no complexo. Tinha trazido tudo isso por si mesma, montando seu refúgio, de acordo com seu próprio plano infantil.
Era mais como um ninho do que um abrigo.
De alguma forma, essa criança havia sobrevivido. De alguma forma ela tinha lidado com a coisa toda e se adaptado àquele ambiente devastado, quando todos os adultos tinham sucumbido. A menina continuou na borda em torno da parede traseira. Ela estava se dirigindo para outra escotilha. Se fosse menor em diâmetro, estaria fora de seu alcance. Ripley nunca poderia entrar por ali.
A criança se virou e mergulhou, e Ripley atirou-se para ela e conseguiu colocar os braços ao redor da garota, em um abraço de urso. Encontrando-se presa, a menina entrou em frenesi, chutando e batendo e tentando usar seus dentes. Não era apenas assustadora, foi horrível: porque, após a luta, a criança ficou num silêncio mortal.
O único barulho no espaço confinado era sua respiração frenética, e mesmo assim, estranhamente subjugada. Apenas uma vez na vida Ripley precisou controlar alguém tão pequeno, mas que tinha lutado com ferocidade semelhante, e fora Jones, quando teve que levá-lo ao veterinário.
Conversou com a criança enquanto ela se mantinha protegida de seus pés, cotovelos e pequenos dentes afiados.
— Está tudo bem, está tudo bem. Você vai ficar bem agora. Está segura.
Finalmente, a menina perdeu as forças, como um motor falhando. Ficou completamente mole nos braços de Ripley, quase catatônica, e deixou-se balançar para frente e para trás. Era doloroso olhar para o rosto da criança, visivelmente traumatizada, de olhar vago. Lábios brancos e trêmulos, olhos cheios de loucura. Tentou enterrar-se no peito do adulto, abrigando-se de um mundo de pesadelo, que só ela podia ver.
Ripley manteve-se ninando a menina, com uma voz firme, tranquilizadora.
Seu olhar vagou pela câmara e caiu em algo que se encontrava no topo de uma pilha. Uma foto emoldurada da menina, inconfundível e mesmo assim tão diferente.
A criança na imagem estava vestida e sorridente, com o cabelo limpo e lavado, com uma fita nas madeixas loiras. Sua roupa era imaculada e sua pele cor-de-rosa.
As palavras abaixo da foto estavam gravadas em dourado:
PRÉMIO DE CIDADANIA DO 2º GRAU
REBECCA JORDEN.
— Ripley. Ripley? — A voz de Hicks ecoava pelo poço de ventilação. — Você está bem?
— Sim, estou bem. Nós dois estamos bem. Estamos saindo agora.
A menina não resistiu quando Ripley se pôs novamente a rastejar, arrastando-a consigo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Diga...