sábado, 26 de setembro de 2015

Aliens - Alan Dean Foster (Parte 11)


A menina sentou-se encolhida na cadeira.

Não olhava nem para a direita, nem para a esquerda, nem qualquer um dos adultos presentes era merecedor da sua curiosidade.

Sua atenção estava voltada para um ponto distante no espaço.

Um biomonitor de pulso havia sido preso ao seu braço esquerdo. Dietrich tinha modificado-o a fim de se encaixar corretamente em torno do braço da criança.
Gorman sentou-se nas proximidades, enquanto a médica estudava as informações que o biomonitor estava fornecendo.



— Qual é o nome dela?

Dietrich fazia uma anotação em uma prancheta eletrônica. — O quê?

— O nome dela. Tem um nome, não?

A médica assentiu distraida, absorvida pelas leituras.

— Rebecca, eu acho.

— Certo.

O tenente usou de seu melhor sorriso e se inclinou para frente, apoiando as mãos nos joelhos. — Agora pense, Rebecca. Concentre-se. Você tem que tentar ajudar-nos para que possamos ajudá-la. Estamos aqui para ajudá-la. Quero leve o tempo que precisar, e nos diga do que você se lembra. Tente começar desde o início.

A garota não se moveu, nem a expressão dela mudou. Não estava em coma, mas em silêncio. Gorman desapontado sentou-se e olhou rapidamente para a esquerda para Ripley que entrou carregando uma caneca de café fumegante.

— Onde estão seus pais? Você tem que tentar...

— Gorman! Dá um tempo!

O tenente ia responder bruscamente, mas fez um aceno de cabeça resignado. Levantou-se, sacudindo a cabeça.

— O cérebro dela tirou férias. Experimentei tudo o que eu podia exceto gritar com ela, e eu não farei isso. Poderia piorar a situação, se é que isso é possível.

— Ela não está tão mal assim — Dietrich desligou o equipamento de diagnóstico portátil e gentilmente tirou a braçadeira sensor do braço da menina. — Fisicamente ela está bem. Bastante desnutrida, mas eu não acho que exista qualquer dano permanente. O incrível disso tudo é que ela esteja viva, vivendo somente a base de pacotes de produtos alimentares e pó liofilizado. Você viu pacotes de vitamina lá dentro?

— Eu não tive tempo para passear, e ela não se ofereceu para me mostrar o lugar.

Assentiu com a cabeça em direção à garota.

— Certo. Bem, ela deve saber sobre suplementos, porque não está mostrando sinais de deficiências críticas. É uma coisinha esperta.

— Como ela está mentalmente?

Ripley tomou um gole de café, olhando para a criança na cadeira. A pele da criança era um pergaminho.

— Não posso dizer com certeza, mas suas respostas motoras estão boas. Eu acho que é muito cedo para dizer que está sofrendo de bloqueio. Eu diria para esperar.

— Chame o que quiser — Gorman se levantou e se dirigiu para a saída. — Seja o que for, estamos perdendo nosso tempo tentando falar com ela — saiu para a sala do lado e foi juntar-se a Burke e Bishop no Controle.

Dietrich também se foi.

Por um tempo Ripley observou os homens junto ao computador da estação, depois se ajoelhou ao lado da menina.
Suavemente escovou o cabelo despenteado da criança para trás.
Poderia estar penteando uma estátua e seria o mesmo.
Ainda sorrindo, ofereceu a ela a xícara fumegante que estava segurando.

— Aqui, prove isso. Se não está com fome, deve estar com sede. Eu aposto que era frio na bolha de ventilação.

Balançou de leve a caneca deixando o ar carregar o cheiro quente, aromático, para as narinas da menina.

— É apenas chocolate quente instantâneo. Você não gosta de chocolate?

Quando a menina não reagiu, Ripley envolveu as mãos pequenas em torno do copo, dobrando seus dedos ao redor. Em seguida inclinou o copo para cima contra seus lábios.


Dietrich estava correta sobre as respostas motoras da criança. Ela bebeu mecanicamente e sem perceber o que fazia. Um pouco do liquido escorreu por seu queixo, mas a maior parte desceu pela pequena garganta.
Não querendo sobrecarregar o estômago, obviamente, ela afastou o copo quando ainda estava meio cheio.

— Não estava tão bom? Você pode beber um pouco mais daqui a pouco. Eu não sei o que você está comendo e bebendo, e nós não queremos deixá-la doente.

Acariciou as tranças louras novamente.

— Pobrezinha. Você não fala muito, não é? Tudo bem por mim. Você quer manter silêncio, ficar quieta. Eu sou assim também. Descobri que a maioria das pessoas que falam muito não dizem muito. Especialmente adultos quando estão conversando com as crianças. É como se gostassem de falar com você, mas não para você. Eles querem que você os ouça, mas não querem ouvir você. Eu acho isso estúpido. Só porque você é pequena não significa que não tem coisas importantes a dizer.

Ela colocou o copo de lado e tocou de leve no queixo sujo com um pano. Era fácil sentir a crista do osso sob a pele.

— Uhh! — Ela sorriu. — Achei um local limpo aqui. Agora acho que vou ter que continuar limpando, para ficar igual.

Ripley retirou um frasco cheio de água esterilizada e embebeu o pano que estava segurando. Em seguida, ela aplicou-o com firmeza para o rosto da menina, limpando a poeira e a sujeira acumulada, além dos pontos de chocolate restantes. Durante toda a operação a criança sentou-se calmamente. Mas os olhos azuis brilhantes pareciam se concentrar em Ripley pela primeira vez.

Ela sentiu uma onda de satisfação e lutou para suprimi-la.



— É difícil acreditar que há uma menina debaixo disso tudo — fez uma careta ao examinar a superfície do tecido.

— Olhe quanta sujeira — curvando-se, avaliou o rosto recém-revelado.
— Definitivamente é uma menina. E uma bem bonita.

Ela desviou o olhar apenas o tempo suficiente para assegurar-se de que ninguém das Operações estava prestes entrar. Qualquer interrupção neste momento crítico poderia desfazer tudo o que ela tinha trabalhado tão duro para conseguir com a ajuda de um pouco de chocolate quente e água limpa.

Não precisa se preocupar. Todos ainda estavam agrupados em torno do terminal principal. Hudson estava sentado aos comandos do console teclando, enquanto os outros observavam-o.

* * *

Um mapa tridimensional da colônia veio à tela principal, contornos geométricos varridos por uma linha tênue, da esquerda para a direita, em seguida, de baixo para cima, conforme Hudson manipulava o programa. O técnico estava procurando por alguma coisa. Nenhum comentário rude escapava de seus lábios agora, nem os palavrões que ocasionalmente se ouvia. Era hora de trabalhar.  O computador sabia todas as respostas. Encontrar as perguntas certas era um processo dolorosamente lento.



Burke fora inspecionar outros equipamentos. De volta, sussurrou para Gorman: — O que ele está verificando?

— TDPs. Transmissores de dados pessoais. Cada colono tem um implantado cirurgicamente, assim que chegam aqui.

— Eu sei o que é um TDP — Burke respondeu suavemente. — Minha empresa os fabrica. Eu só não vejo motivo em executar uma varredura TDP. Certamente, se mais alguém fora deixado vivo no complexo, teríamos encontrado-os. Ou eles nos encontrariam.

— Não necessariamente.

A resposta de Gorman foi educada, sem ser condescendente. Tecnicamente Burke tinha na expedição o papel de observador para a Companhia, para cuidar de seus interesses financeiros. Seu empregador estava pagando por esta pequena excursão em conjunto com a Administração Colonial, mas sua autoridade era em grande parte não escrita. Ele poderia dar conselhos, mas não ordens. Esta era uma expedição militar, e Gorman estava no comando. No papel, Burke era seu igual. Na realidade porém, era muito diferente.

— Alguém poderia estar vivo, mas incapaz de se mover. Ferido, ou talvez preso dentro de um edifício danificado. Claro que é um tiro no escuro, mas o procedimento exige. Nós temos que executar a verificação — virou-se para o técnico. — Tudo está funcionando corretamente, Hudson?

— Se tem alguém vivo dentro de alguns quilômetros a partir da base central, vamos vê-lo — bateu na tela. — Até agora nada.

Wierzbowski ofereceu um comentário do outro lado da sala.

— TDPs se mantem transmitindo se o proprietário morre?

— Não estes novos — Dietrich respondeu revirando uma valise médica. — São parcialmente alimentados pelo próprio campo elétrico do corpo. Se o proprietário morre, o mesmo acontece com o sinal. Essa é a única desvantagem de se utilizar o corpo como uma bateria.

— Não brinca — Hudson apontou a médica — você pode dizer se alguém é AC ou DC?

— No seu caso, Hudson, é fácil — ela fechou a valise. — Pilha fraca.

* * *

Era mais fácil encontrar outro pano limpo do que tentar usar do primeiro.
Ripley estava trabalhando nas pequenas mãos da menina agora, arrancando a sujeira dentre os dedos e sob as unhas. A pele rosada surgia detrás de uma máscara escura.
Enquanto limpava, mantinha o fluxo constante de conversa tranqüilizadora.

— Não sei como você conseguiu manter-se viva quando todos se foram, mas você é uma garota corajosa, Rebecca.

Um novo som para os ouvidos de Ripley, quase inaudível.
— Newt.

Ripley ficou tensa e desviou o olhar para sua emoção não aparecer.
Continuou  movendo a toalha enquanto se inclinou mais próxima.

— Sinto muito, garota, eu não ouvi. Às vezes minha audição não é tão boa. O que você disse?


— Newt. Meu nome é Newt. È como todo mundo me chama. Ninguém me chama de Rebecca, exceto meu irmão.

Ripley estava terminando com a segunda mão. Se ela não respondesse, a menina poderia voltar ao silêncio. Ao mesmo tempo, tinha que ter cuidado para não dizer nada que pudesse perturbá-la. Manteria a conversa casual e nada de perguntas.

— Bem, Newt, meu nome é Ripley, e as pessoas me chamam de Ripley. Você pode me chamar de qualquer coisa que você gostar.

Quando não houve resposta da menina, Ripley levantou pequena mão que ela tinha acabado de limpar e apertou-a, num comprimento formal.

— Prazer em conhecê-la, Newt.

Apontou para a cabeça da boneca sem corpo que a menina ainda agarrava ferozmente em uma das mãos. — E quem é essa? Será que ela tem um nome? Aposto sim. Toda boneca tem um. Quando eu tinha a sua idade, eu tinha um monte de bonecas, e cada uma delas tinha um nome. Caso contrário, como saberia qual é qual?

Newt olhou para a cabeça de plástico de olhos vidrados.

— Casey. Ela é minha única amiga.

— E quanto a mim?

A garota olhou para ela com tanta força que Ripley foi pega de surpresa. Os olhos de Newt revelavam uma frieza que não era nada infantil.
Seu tom de voz foi seco, neutro: — Eu não quero você para amiga.

Ripley tentou esconder sua surpresa: — Por que não?


— Porque você vai embora em breve, como os outros, como toda a gente — olhou para a cabeça da boneca. — Casey está bem. Ela vai ficar comigo. Mas você vai embora. Você vai ser morta e vai me deixar.

Não havia raiva em que declaração infantil, nenhum sentido de acusação ou traição.
Foi fria e com firmeza, como se já houvesse ocorrido.

Não fora uma previsão, mas sim uma declaração do que ocorreria naquele lugar.
E gelou o sangue de Ripley.

A deixou mais assustada do que qualquer coisa que tinha acontecido desde que tinha deixado a segurança da Sulaco em órbita.

— Oh, Newt. Sua mãe e seu pai se foram, não é? Você não quer falar sobre isso?

A garota balançou a cabeça, os olhos baixos, olhando para os joelhos. Seus dedos brancos em torno da cabeça da boneca.

— Eles estariam aqui se pudessem, querida — Ripley disse solenemente. — Eu sei que eles iam querer isso.

— Eles estão mortos. É por isso que eles não podem vir me ver mais. Eles estão mortos, como todo mundo.

Aquilo foi aterrorizante para se ouvir, ainda mais vindo de uma criança tão pequena.

— Talvez não. Como você pode ter certeza?

Newt levantou os olhos e encarou Ripley. Crianças pequenas não olham adultos nos olhos assim, mas Newt era uma criança apenas na estatura.

— Tenho certeza. Eles estão mortos. Eles estão mortos, e em breve você vai estar morta, e, em seguida, Casey e eu estaremos sozinhas de novo.


Ripley não desviou o olhar e não sorriu. Sabia que essa menina poderia ver a verdade por detrás de qualquer história falsa.

— Newt. Olhe para mim, Newt. Eu não estou indo embora. Eu não vou deixar você e eu não vou ser morta. Eu prometo. Eu vou ficar com você. Eu estarei com você, se você quiser.

A cabeça da menina permaneceu cabisbaixa. Ripley podia vê-la lutando internamente, querendo acreditar no que acabara de ouvir, tentando acreditar. Depois de um tempo ela olhou para cima novamente.

— Você jura?

— De todo coração — Ripley fez o gesto infantil.

Menina e mulher se avaliaram. O lábio inferior da menina começou a tremer. Lentamente a tensão escorreu de seu pequeno corpo, e a máscara de indiferença que ela tinha mantido até então em seu rosto foi substituída por algo muito mais natural: o olhar de uma criança assustada.

Jogou os braços ao redor do pescoço de Ripley e começou a soluçar. Ripley podia sentir as lágrimas escorrendo pela face recém-lavada. Segurou-a firme, balançando a menina em seus braços, sussurrando palavras suaves para ela. Fechou os olhos para o medo e a persistente sensação de morte que permeava o Controle, esperando que a promessa que tinha feito pudesse ser mantida.

O sucesso com a menina foi acompanhado por outro, quando Hudson soltou um grito de triunfo. — Hah! Encontrei! Dê ao velho Hudson uma máquina decente e ele faz chover! — Recompensou o console com uma pancada afetuosa. — Este bebê foi maltratado, mas ainda está no jogo!




Gorman se inclinou sobre o ombro dele.

— Em que condições se encontram?

— Não dá para dizer. Os sinais desses TDPs coloniais fornecem poucos detalhes. Mas parece que são todos eles.

— Onde?

— Na estação processadora de atmosfera...subnível 3, debaixo das unidades refrigerantes.

Todos tinham se agrupado em torno do técnico de comunicações para olhar para o monitor.
Hudson congelou a digitalização da colônia e ampliou uma porção dela.
No centro do esquema da estação de processamento, um conjunto de pontos azuis brilhantes pulsava como crustáceos em alto mar.

 

Hicks grunhiu, enquanto olhava para a tela.

— Parece o raio de um comício.

— Me pergunto por que todos foram para lá? — Dietrich meditou em voz alta. — Pensei que tínhamos decidido que este era o lugar onde eles fariam a sua última resistência?

— Talvez fizessem uma pausa para garantir um lugar melhor — Gorman se virou, rápido e profissional. — Lembre-se, a estação de processamento ainda tem energia. Isso vale muito. Vamos descobrir.

— Certo, vamos meninas! — Apone estava deslizando sua mochila sobre os ombros. — Eles não estão nos pagando por hora — olhou para Hudson. — Como é que chegamos lá?

Hudson ajustou a tela, reduzindo a ampliação. Uma visão geral da colônia apareceu no monitor.

— Tem um corredor de serviço pequeno. É uma boa caminhada, Sargento.

Apone olhou para Gorman, à espera de ordens.

— Eu não sei você, Sargento — disse o tenente — mas não gosto de longos corredores estreitos. Eu gostaria de ter o armamento da APC apoiando-nos quando chegássemos lá.

— Pensamos exatamente o mesmo, senhor.

O sargento olhou aliviado. Estava pronto para sugerir e discutir e ficou feliz que não ia ser necessário. Gorman podia ser inexperiente no campo, mas não era um tolo.

Hicks gritou de volta para a pequena sala. — Ei, Ripley, nós estamos indo para um passeio no parque. Você vem?

— Estamos chegando!

Alguns olhares de surpresa cumprimentaram-na quando ela apareceu com a menina.

— Esta é Newt. Newt, estes são meus amigos. Eles são seus amigos também.

A garota simplesmente assentiu, sem vontade de estender o privilégio além de Ripley.

Um par de soldados acenou para ela.

Burke sorriu. Gorman pareceu surpreso.

Newt olhou para a amiga, ainda segurando a cabeça da boneca sem corpo firmemente em sua mão direita. — Onde estamos indo?

— Para um lugar seguro. Em breve.

Newt quase sorriu.

domingo, 20 de setembro de 2015

Aliens - Alan Dean Foster (Parte 10)


Gorman inclinou-se para trás, pensativo.

— Tudo bem. A área está segura. Vamos entrar e ver o que o seu computador pode nos dizer. Primeira equipe, para o Controle. Sabe onde fica, sargento?

Apone cutucou o interruptor no painel do seu braço. Um pequeno mapa da colônia Hadley apareceu no interior da viseira do seu capacete.

— É aquela estrutura alta que vimos quando entramos. Não é muito longe, senhor. Nós estamos a caminho.

— Bom. Hudson, quando você chegar lá, veja se você pode ativar a unidade de processamento central. Nada de extravagante. Nós não queremos usá-lo; só queremos falar com ele. Hicks, estamos entrando. Encontre-me no portão sul junto da torre de comunicação. Gorman desliga.

— Certo — Hudson teria cuspido, se não fosse por não haver nenhum alvo adequado. — Ele está chegando. Eu já me sinto mais seguro.

Vasquez verificou que seu microfone estivesse desligado antes de concordar.

As potentes luzes de arco montadas na frente da APC iluminavam as paredes manchadas, gastas pelo vento, dos prédios da colônia, assim que o veículo blindado rolou pela principal rua de serviço. Passaram por um par de veículos menores estacionados numa zona guarnecida. As rodas de titânio do APC vomitaram água suja dos grandes buracos. Amortecedores de choque internos absorveram o impacto. A chuva chicoteou os faróis.

No compartimento do piloto, Bishop e Wierzbowski trabalhavam sem problemas, lado a lado, o homem e o sintético em perfeita harmonia. Cada qual respeitando as habilidades do outro. Ambos sabiam, por exemplo, que Wierzbowski podia ignorar qualquer conselho que Bishop desse. Wierzbowski encontrara o local procurado.

— Lá, eu acho.

Bishop estava atento ao piscar no mapa de cores vivas na tela entre eles.

— Tem que ser. Não há nenhum outro bloqueio nesta área. Sim, lá está Hicks.

Apone, o segundo no comando, surgiu no terreno próximo ao veículo blindado.
Observou enquanto a porta deslizava para o lado. Gorman foi o primeiro a descer a rampa, seguido de perto por Burke, Bishop e Wierzbowski.

Burke olhou para trás, em busca da ocupante restante no tanque, apenas para vê-la hesitar à porta.

Ela não estava olhando para ele. Sua atenção estava voltada para a entrada escura que conduzia às profundezas da colônia.


— Ripley?

Em resposta ela balançou a cabeça bruscamente de lado a lado.

— A área está segura — Burke tentou soar confiante. — Você ouviu Apone.

Outro gesto negativo. A voz de Hudson soou em seus fones de ouvido.

— Senhor, o computador da colônia está ativo.

— Bom trabalho, Hudson — disse o tenente. — Aqueles de vocês no Controle, aguardem. Estaremos ai em breve — Acenou para seus companheiros. — Vamos lá!


Pessoalmente a devastação parecia muito pior do que nos monitores da APC.

— Parece que a sua empresa vai ter que amortizar a sua quota desta colônia — o tenente murmurou para Burke.

— Os edifícios estão na sua maioria intactos — o representante da Companhia  não parecia preocupado. — O seguro cuida do resto.

— Ah é? E sobre os colonos? — Ripley perguntou a ele.

— Não sabemos ainda o que aconteceu com eles — respondeu um pouco irritado com ela.

Estava frio dentro do complexo. Sem energia, o regulador interno falhara, e em qualquer caso, as janelas que explodiram e os buracos nas paredes externas tinham sobrecarregado o equipamento rapidamente. Ripley descobriu que estava suando apesar do esforço de seu traje para mantê-la confortável. Seus olhos eram tão ativos quanto qualquer soldado, da maneira que verificava os buracos nas paredes e no chão, e cada canto escuro.

Este era o lugar onde tudo tinha começado. Este era o local para onde ele tinha vindo. O alienígena. Não havia nenhuma dúvida em sua mente do que tinha acontecido ali. O alienígena que tinha causado a destruição da Nostromo e as mortes de todos os seus companheiros estava solto na colônia Hadley.

Hicks notou o nervosismo dela ao esquadrinhar o corredor devastado e os escritórios queimados. Sem dizer nada, ele fez um gesto para Wierzbowski. O oficial assentiu imperceptivelmente, ajustando seu passo para ficar ao lado direito de Ripley. Hicks foi flanqueando-a do lado esquerdo. Juntos formaram um cordão protetor em torno dela. Ela notou e olhou para o cabo. Ele piscou, ou, pelo menos, ela pensou que sim. Foi muito rápido para ela estar certa.

Frost emergiu do corredor lateral logo à frente. Acenou para os recém-chegados, falando com Gorman, mas olhando para Hicks.

— O senhor precisa ver isso.

— O que Frost? — Gorman estava com pressa para encontrar-se com Apone. Mas o soldado foi insistente.

— É mais fácil mostrar, senhor.

— Certo. Mostre-me! — O tenente apontou para o corredor. Frost assentiu com a cabeça e virou-se para a escuridão, os outros o seguiram.

Ele levou-os para uma ala que estava completamente sem energia. As luzes dos trajes revelaram cenas de destruição ainda piores do que o que tinham até então encontrado. Ripley descobriu que estava tremendo. Na APC era seguro, fortemente armada, e não estava muito longe, se corresse ela estaria de volta lá em poucos minutos. Mas não importava o quão seguro o transporte de pessoal fosse, ela sabia que era mais seguro aqui, cercada pelos soldados. Continuou dizendo isso para si mesma à medida que avançavam.

Frost estava gesticulando. — Direto à frente aqui, senhor.

O corredor estava bloqueado. Alguém havia erguido uma barricada improvisada de tubos soldados e chapas de aço, e painéis das portas extras, revestimento de teto do piso. Furos e ácido marcavam barreira levantada às pressas. O metal tinha sido rasgado e torcido por forças terrivelmente poderosas. Onde Frost estava, a barricada tinha sido rasgada como uma lata de sopa. Espremeram-se através da abertura estreita, um de cada vez.


Luzes foram jogadas sobre a devastação além.

— Alguém sabe onde estamos? — Perguntou Gorman.

Burke estudou um mapa.

— Ala médica. Estamos no lado direito.

Se espalharam, as luzes de seus trajes iluminando mesas viradas, armários e cadeiras quebradas e equipamento cirúrgico caro destruido. Instrumentos médicos menores espalhados pelo chão como confetes de aço. E mesas móveis tinham sido empilhadas, aparafusadas e soldadas para dentro da barricada. Listras negras mostravam onde o fogo havia inflamado, e as paredes estavam marcadas por buracos de pulso-rifle e ácido.



Apesar da ausência de luz, o local não estava completamente sem energia. Alguns dos instrumentos e placas de controle brilhavam suavemente graças a força de emergência. Wierzbowski passou a mão enluvada sobre um buraco na parede do tamanho de uma bola de basquete.

— Última tentativa. Eles armaram uma barricada e se enfurnaram aqui.

Gorman chutou uma garrafa de plástico vazia. Ela correu fazendo barulho no chão.

— A área médica tem energia extra para alimentação de emergência duradoura e seu próprio estoque de suprimentos.

— Este é o lugar para onde eu viria também. Nenhum corpo?

Frost estava varrendo a extremidade da sala com a sua luz.

— Eu não vi nenhum quando entrei aqui, senhor. Parece que foi uma batalha.

— Não vejo nenhum de seus meninos, tampouco, Ripley — Wierzbowski olhou para cima e ao redor. — Ei, Ripley? Onde está Ripley?

— Aqui.



O som de sua voz levou-os para uma segunda sala. Burke examinou o novo ambiente antes de se pronunciar. — Laboratório Médico. Parece muito limpo. Eu não acho que a luta chegou até aqui. Eu acho que eles perderam antes de chegar aqui.

Os olhos de Wierzbowski percorreram o local até encontrarem o que atraiu a atenção de Ripley. Murmurou algo baixinho e caminhou na sua direção.
Assim fizeram os outros.

No outro lado do laboratório haviam cilindros transparentes brilhando em luz violeta.
O fluido dentro deles servia para preservar o material orgânico.
Todos os cilindros estavam em uso.


— Alguém fazia bebida ilegal aqui — brincou Gorman. Ninguém riu.

— Tubos de estase. Equipamento padrão para um laboratório médico de uma colônia deste tamanho — Burke contornou os cilindros de vidro.

Sete tubos para sete espécimes.

Cada cilindro mantinha algo que parecia uma mão decepada com muitos dedos. Os organismos de longos dedos eram achatados e envoltos em um material qual couro bege, fino e translúcido. Pseudoguelras mexendo-se preguiçosamente no fluido de suspensão. Não havia órgãos visíveis de visão ou audição. A cauda longa pendurado na parte de trás de cada abominação, arrastando-se livremente no líquido. Um par das criaturas ‘abraçadoras’, tinham suas caudas enroladas firmemente contra suas barrigas.

Burke falou com Ripley, sem tirar os olhos dos espécimes.

— São iguais aos que você descreveu em seu relatório?

Ela assentiu com a cabeça sem falar uma palavra.

Fascinado, o representante da Companhia foi até um cilindro, inclinando-se até que seu rosto estava quase tocando o vidro.

— Cuidado, Burke — Ripley avisou.

Assim que concluiu o alerta, a criatura no tubo avançou bruscamente, batendo contra o revestimento interno do cilindro. Burke pulou assustado. A partir da porção ventral do corpo achatado, uma projeção fina, carnuda havia emergido. Parecia uma secção cônica do intestino que deslizou feito uma lingua sobre o interior do tubo.


Eventualmente retraiu-se, enroscando-se dentro de uma capa protetora entre as estruturas feito guelras. Pernas e cauda em uma posição de repouso.

Hicks olhou sem expressão para Burke. — Ele gosta de você.

O representante da Companhia não respondeu, foi inspecionar cada um dos cilindros.
Com a sua proximidade, apenas um dos restantes dos seis espécimes reagiu.
Os outros, soltos no líquido de suspensão, com seus dedos e caudas flutuando livremente.

— Estes estão mortos — disse quando chegou ao último tubo. — Apenas dois vivos. A menos que haja um estado diferente, mas eu duvido. Vejam, os mortos têm uma cor completamente diferente.

Pastas de arquivo descansavam sobre cada cilindro.

Ao exercer cada gota de autocontrole que possuía, Ripley foi capaz de tirar uma delas do topo de um tubo contendo uma criatura viva. Recuando rapidamente, abriu a pasta e começou a ler com a ajuda de sua luz. Além do material impresso, o arquivo estava repleto de gráficos e  ultra-sonografias. Havia imagens de ressonância magnética, da estrutura interna das criaturas. Todos os longos relatórios traziam muitas notas rabiscadas à mão livre nas margens. Caligrafia do médico, ela concluiu, por serem em sua maioria ilegíveis.

— Alguma coisa interessante? — Burke estava encostado no cilindro de estase cujo arquivo ela estava folheando, ainda estudando a criatura que ele continha a partir de todos os ângulos possíveis.

— Provavelmente sim, mas a maior parte é demasiado técnica para mim — ela bateu no arquivo. — Relatório do médico examinador chamado Ling.

— Chester O. Ling. — Burke bateu no tubo com uma unha. Desta vez a criatura dentro dele não respondeu. — Tinhamos três médicos estacionados em Hadley. Ling era um cirurgião, eu acredito. O que ele tinha a dizer sobre este pequeno prêmio aqui?

— Removido cirurgicamente antes da implantação embrionária ter sido concluída. Os procedimentos cirúrgicos padrões foram inúteis.

— Me pergunto por quê? — Gorman estava tão interessado na amostra como o resto deles, mas não a ponto de tirar os olhos do local.


— Fluidos corporais dissolveram os instrumentos. Tiveram que usar lasers cirúrgicos para remover e cauterizar o espécime. Estava preso a alguém chamado Marachuk, John L. — ela olhou para Burke, que balançou a cabeça.

— Não me diz nada. Não era um administrador ou um dos maiorais. Deve ter sido um motorista de trator ou lojista.

Ela olhou de volta para o relatório. — Ele morreu durante o procedimento.

Hicks foi até ela, olhar para o relatório, espiando por cima do ombro de Ripley.
Ele não teve a chance de fazê-lo. Seu rastreador de movimento emitiu um sinal sonoro inesperado e surpreendentemente alto.

Os quatro soldados tomaram posição, verificando primeiro a entrada para o laboratório, passando a olhar de soslaio para os cantos escuros.
Hicks levou o rastreador de volta para a barricada.

— Atrás de nós — fez um gesto em direção ao corredor que tinham acabado de passar.

— Um de nós? — Sem pensar, Ripley se aproximou do oficial.

— Não há como dizer. Esse bebê não é um instrumento de precisão.


Gorman chamou no rádio: — Apone, estamos no setor médico e temos um sinal. Onde está o seu pessoal? — Deu uma verificada rápida no mapa. — Tem alguém no bloco D?

— Negativo — todos eles puderam ouvir a resposta do sargento. — Estamos no Controle, como solicitado. Quer companhia?

— Ainda não. Vamos mantê-lo informado — cutucou o microfone aural para longe de sua boca. — Vamos, Vasquez!

Ela assentiu com a cabeça e balançou laconicamente a smartgun para a posição de prontidão. Ela e Hicks seguiram na direção da fonte de sinal, enquanto Frost e Wierzbowski ficavam na traseira do grupo.

O cabo levou-os de volta para o corredor principal e virou à direita, em um labirinto de paredes de metal escovado.

— O sinal está ficando mais forte. Definitivamente não é mecânico — segurou o rastreador firmemente em uma mão, e o rifle com a outra. — Movimento irregular. Onde diabo nós estamos?

Burke inspecionou os arredores. — Cozinha. Chegaremos ao processamento de alimentos se continuarmos indo por este caminho.

Ripley tinha ficado atrás de Wierzbowski e Frost. Percebendo de repente que não havia nada atrás dela a não ser a escuridão, se apressou para alcançar seus companheiros.

A avaliação de Burke foi confirmada à medida que avançavam e suas luzes começaram a saltar pelas superfícies brilhantes de máquinas volumosas: freezers, fogões, congeladores e esterilizadores. Hicks ignorou tudo isso.

— Está se movendo novamente!



O olhar do operador da smartgun era frio enquanto examinava seu ambiente. Seus dedos acariciaram os controles da arma.

— Qual o caminho?

Hicks hesitou brevemente, depois acenou com a cabeça em direção a uma matriz complexa de máquinas projetadas para processar carnes e legumes liofilizados.

Os soldados avançaram em marcha.
Wierzbowski tropeçou em uma vasilha de metal e com raiva chutou-a para as sombras.

O rastreador do cabo apitava de forma constante agora, quase cantarolando. O zumbido subiu para um gemido afiado. Uma pilha de potes de conserva de repente desabou e uma forma fracamente vislumbrada moveu-se atrás dos balcões de preparação.



O operador da smartgun girou com o dedo já contraindo o gatilho. Um traço de fogo rasgou o teto, enviando gotículas de metal fundido pro ar.
Hicks gritou para ela parar de atirar.
Apontou sua luz brilhante sob uma fileira de armários de metal e ficou assim durante o que pareceu uma eternidade antes de acenar para Ripley se juntar a ele.
As pernas dela não iriam funcionar, e seus pés pareciam congelados no chão.
Hicks gesticulou de novo, com mais urgência, e ela se viu avançando em transe.

Ele estava debruçado sobre, tentando trabalhar sua luz debaixo de um armário de armazenamento de alta. Ela se agachou ao lado dele.

Encurralada contra a parede, como uma borboleta presa por um alfinete, uma pequena, figura aterrorizada. Encarando-os em terror, a menina se encolheu diante dos intrusos. Em uma mão segurava um pacote de comida de plástico que tinha sido roído a metade. A outra agarrava firme a cabeça de uma grande boneca, segurando-o pelo seu cabelo. Não havia sinal do restante do corpo de plástico. A criança era magra e suja. Ela parecia muito mais frágil do que a cabeça da boneca que ela carregava. Seu cabelo loiro estava bastante emaranhado, como uma guirlanda de lã de aço emoldurando seu pequeno rosto.


Ripley tentou, mas não podia ouvir sua respiração.

A garota piscou contra a luz, o gesto foi suficiente para alavancar a mente de Ripley.
Ela estendeu lentamente a mão para a criança, os dedos fechados, e sorriu para ela.

— Vamos — disse ela suavemente. — Está tudo bem. Não há nada a temer aqui.

Ela tentou chegar mais longe por detrás do armário.

A menina recuava fugindo dos dedos que se estendiam, afastando-se e tremendo visivelmente. Tinha a aparência de um coelho paralisado por faróis de carro. Os dedos de Ripley quase a alcançaram. Abriu a mão, com a intenção de acariciar suavemente a blusa rasgada.

Então a menina disparou a correr, rastejar veloz, ao longo dos armários, com uma agilidade incrível. Ripley mergulhou para frente nos cotovelos e joelhos enquanto lutava para manter a criança a vista. Hicks corria freneticamente até que uma pequena folga aparecer entre dois armários. Esticou a mão e os dedos fecharam-se em torno de um pequena tornozelo.

Um instante depois gritou de volta: — Uh! Cuidado, ela morde!

Ripley estendeu a mão para o outro pé mas perdeu-o. Um segundo depois, a menina chegou a um duto de ventilação, cuja grelha tinha sido arrancada. Mexia-se dentro do duto, se contorcendo como um peixe. Hicks nem sequer tentou segui-la. Ele não caberia pela abertura estreita nem se estivesse completamente nu, muito menos em sua armadura volumosa.

Ripley mergulhou sem pensar, se contorcendo no duto com os braços estendidos para  frente dela, movendo-se com coxas e braços. A menina estava logo à frente dela, ainda em movimento. Conforme Ripley a seguia, sua respiração soava alto no túnel confinado, quando a criança bateu uma escotilha de metal à sua frente. Ripley atingiu a barreira e empurrou-a abrindo-a antes que a menina pudesse tranca-la do outro lado.
Xingou quando bateu a testa contra o metal.

O que viu à frente, a fez esqueceu a dor. A garota estava agora apoiada contra a extremidade de uma pequena câmara esférica, uma das bolhas de descompressão do sistema de ventilação da colônia. E não estava sozinha. Em torno dela cobertores e travesseiros misturados com uma coleção aleatória de brinquedos, bichos de pelúcia, bonecas, jóias baratas, livros ilustrados e pacotes vazios de comida. Havia até mesmo um leitor de disco a bateria. Era o resultado de tudo que a menina conseguira recuperar no complexo. Tinha trazido tudo isso por si mesma, montando seu refúgio, de acordo com seu próprio plano infantil.

Era mais como um ninho do que um abrigo.



De alguma forma, essa criança havia sobrevivido. De alguma forma ela tinha lidado com a coisa toda e se adaptado àquele ambiente devastado, quando todos os adultos tinham sucumbido. A menina continuou na borda em torno da parede traseira. Ela estava se dirigindo para outra escotilha. Se fosse menor em diâmetro, estaria fora de seu alcance. Ripley nunca poderia entrar por ali.

A criança se virou e mergulhou, e Ripley atirou-se para ela e conseguiu colocar os braços ao redor da garota, em um abraço de urso. Encontrando-se presa, a menina entrou em frenesi, chutando e batendo e tentando usar seus dentes. Não era apenas assustadora, foi horrível: porque, após a luta, a criança ficou num silêncio mortal.
O único barulho no espaço confinado era sua respiração frenética, e mesmo assim, estranhamente subjugada. Apenas uma vez na vida Ripley precisou controlar alguém tão pequeno, mas que tinha lutado com ferocidade semelhante, e fora Jones, quando teve que levá-lo ao veterinário.

Conversou com a criança enquanto ela se mantinha protegida de seus pés, cotovelos e pequenos dentes afiados.

— Está tudo bem, está tudo bem. Você vai ficar bem agora. Está segura.


Finalmente, a menina perdeu as forças, como um motor falhando. Ficou completamente mole nos braços de Ripley, quase catatônica, e deixou-se balançar para frente e para trás. Era doloroso olhar para o rosto da criança, visivelmente traumatizada, de olhar vago. Lábios brancos e trêmulos, olhos cheios de loucura. Tentou enterrar-se no peito do adulto, abrigando-se de um mundo de pesadelo, que só ela podia ver.



Ripley manteve-se ninando a menina, com uma voz firme, tranquilizadora.
Seu olhar vagou pela câmara e caiu em algo que se encontrava no topo de uma pilha. Uma foto emoldurada da menina, inconfundível e mesmo assim tão diferente.
A criança na imagem estava vestida e sorridente, com o cabelo limpo e lavado, com uma fita nas madeixas loiras. Sua roupa era imaculada e sua pele cor-de-rosa.


As palavras abaixo da foto estavam gravadas em dourado:

PRÉMIO DE CIDADANIA DO 2º GRAU
REBECCA JORDEN.

— Ripley. Ripley? — A voz de Hicks ecoava pelo poço de ventilação. — Você está bem?

— Sim, estou bem. Nós dois estamos bem. Estamos saindo agora.

A menina não resistiu quando Ripley se pôs novamente a rastejar, arrastando-a consigo.

domingo, 13 de setembro de 2015

Aliens - Alan Dean Foster (Parte 9)



Gorman escorregou para fora de seu cinto de voo e se dirigiu até o corredor em direção ao centro de operações táticas do APC. Burke e Ripley o seguiram, deixando os fuzileiros com suas tarefas.

Os três preencheram o espaço. Gorman deslizou por trás do console de controle, enquanto Burke assumiu uma posição atrás dele para que pudesse olhar por cima do ombro do tenente. Ripley ficou satisfeita ao ver que não havia nada de errado com as habilidades de Gorman. Ele pareceu aliviado por ter algo para fazer. Seus dedos fizeram surgir leituras nos monitores, como um organista extraia notas do teclado. A voz de Ferro chegou até eles a partir da cabine, levemente triunfante.

— Finalmente achei as balizas sinalizadoras. Sinal baixo, mas distinto. E as nuvens foram limpas o suficiente para  obter algum visual. Podemos ver Hadley.




Gorman falou. — Como ela parece?

— Como os folhetos — respondeu ela com sarcasmo. — A colônia de férias da galáxia. Construção massiva, suja. Algumas luzes acesas, então eles têm energia. Não posso dizer a esta distância se são de emergência. Não tem muito mais. Talvez seja a hora da sesta.

— Spunkmeyer, suas impressões?

— Não foram atacados. Integridade estrutural parece boa, mas isso é daqui de cima, olhando com quase nenhuma luz. Desculpe, mas estou ocupado demais para fazer uma varredura.

— Nós vamos cuidar disso pessoalmente.

Gorman voltou sua atenção para as múltiplas telas. Quanto mais se aproximavam, mais confiante ele parecia tornar-se. Talvez o medo de altura fosse a sua única fraqueza, Ripley meditou.

Além das telas táticas havia duas telas pequenas para cada soldado. Todas possuiam rótulos com seus nomes. O conjunto superior transmitia a visão das câmeras dos capacetes de batalha. Na parte inferior, as bio-leituras forneciam individualmente: EEG, ECG, frequência respiratória, funcionamento circulatório, acuidade visual, e assim por diante. Informação suficiente para quem estava monitorando as telas para construir um perfil fisiológico completa de cada soldado.



Acima e ao lado do conjunto de telas menores, monitores maiores ofereciam para aqueles dentro da APC uma vista completa do terreno exterior.

— Parece bom — murmurou para si mesmo e para seus observadores civis. — Todo mundo pronto!

Ripley notou que as leituras de pressão arterial estavam notavelmente estáveis. E as frequências cardíacas dos soldados mantinham-se por volta de 75.

Um dos pequenos monitores de vídeo exibia estática em vez de uma visão clara do interior do APC.

— Drake, verifique  a sua câmera! — Gorman ordenou. — Não estou recebendo imagem. Frost, me mostre o Drake. Pode ser um cabo partido.

A vista na tela ao lado de Drake se deslocou para revelar o rosto com capacete do operador da Smartgun. Assim que ele bateu na bateria ao lado da cabeça, sua tela estalou em foco instantaneamente.



— Está melhor. Vire um pouco.

Drake obedeceu.

— Aprendi isso na aula de tecnologia — ele informou aos ocupantes da baia de operações. — Tem que ter a certeza de que atingiu o lado esquerdo apenas, ou não funciona.

— O que acontece se você acertar o lado direito? — Perguntou Ripley curiosa.

— Você sobrecarrega o controle da pressão interna, que mantém o seu capacete preso em sua cabeça.

Ela podia ver Drake sorrindo na câmera de Frost.

— Seus globos oculares implodem e o cérebro explode.

— Que cérebro? — Vasquez soltou um bufo. Drake prontamente se inclinou para frente e tentou bater no lado direito de seu capacete.

Apone acalmou-os. Ele sabia que não importava o que estava errado com o capacete de Drake, porque o operador da Smartgun iria abandoná-lo na primeira chance que ele tivesse. Da mesma forma Vasquez. Drake iria aparecer em seu boné e Vasquez com sua bandana vermelha. Não havia regulamentação para capacetes de batalha. Os capacetes obstruíam o movimento das miras da arma. Apone não estava disposto a discutir com eles. Eles poderiam raspar seus crânios e lutarem careca, se quissessem, desde que disparassem em linha reta.

— Certo! Equipe de tiro, se preparem. Verifique os seus sistemas reservas e as fontes de energia. Alguém vai morrer se vocês vacilarem. Se algum bicho-papão não matá-los, eu vou. Vamos! Dois minutos — olhou para a direita. — Alguém acorde Hicks!



Algumas gargalhadas soaram entre os soldados.
Ripley teve de sorrir quando viu o biomonitor com o nome do oficial. As leituras indicaram um homem com o tédio. Segundo Apone era indicativo de sono profundo, sono REM. Sonhando com climas quentes, sem dúvida. Ela desejou poder relaxar assim. Era uma coisa que ela tinha sido capaz de fazer. Uma vez que esta viagem terminasse, talvez conseguisse novamente.

O interior do veículo viu uma nova onda de atividade como as mochilas foram vestidas e as armas apresentadas. Vasquez e Drake auxiliavam um ao outro com seus complexos arreios Smartgun.

A tela apontada para trás dava para aqueless na baia de operações, a mesma visão que Ferro e Spunkmeyer tinham. Diretamente à frente um vulcão de metal apontava seu cone perfeito para as nuvens, arrotando gás quente para o céu. O audio se encarregava de abafar o trovão do processador atmosférico.




— Quantos destes em Acheron? — Ripley perguntou para Burke.

— Esse é um dos trinta e pouco. Eu não poderia dizer-lhe quantos. Estão espalhados por todo o planeta  para proporcionar a melhor injeção na atmosfera. Cada um deles é totalmente automatizado, e controlados a partir da Central de Operações de Hadley. Sua produção é ajustada quando o ar se torna mais respirável. Eventualmente eles vão ser desligados. Até que isso aconteça, vão trabalhar contra o relógio por mais vinte ou trinta anos. São caros e confiáveis. Nós os fabricamos, a propósito.



A nave de desembarque era uma partícula à deriva ao lado da maciça torre.
Ripley ficou impressionada. Como todo mundo, cujo trabalho levou-os para o espaço, ela tinha ouvido sobre as grandes instalações de terraformação, mas nunca esperava ver uma pessoalmente.




Gorman cutucou os controles, girando o gerador de imagens externo ao redor e para baixo para revelar os telhados silenciosos da colônia.

— Mantenha em quarenta — ele ordenou a Ferro através do console. — Faça um círculo lento ao redor do complexo. Não acho que vamos detectar qualquer coisa daqui de cima, mas essa é a maneira como o regulamento diz para agir, então é assim que vamos fazê-lo.

— Posso fazer isso — respondeu o piloto. — Segurem-se! Pode balançar um pouco enquanto entramos em espiral. Não é uma atmosfera boa para vôos. Vai ser um pouso ruim. Manobras suborbitais não são o ponto alto do meu repertório.



— Basta fazer o que lhe mandam, Cabo.

— Sim, senhor... — Ferro acrescentou então algo demasiado baixo para o microfone decodificar. Ripley duvidava que fosse lisonjeiro.

Circularam em toda a cidade. Nada se movia entre os edifícios abaixo deles.
As poucas luzes que tinham visto de longe continuavam a brilhar.
O processador vibrava em segundo plano.

— Tudo parece intacto — comentou Burke. — Talvez algum tipo de praga tenha deixado todos em casa.

— Talvez.

Para Gorman as estruturas da colônia lembravam os destroços de antigas caravelas espalhadas pelo fundo do oceano.

— Ok — ele disse bruscamente para Apone. — Vamos conferir de perto!

De volta ao compartimento de passageiros, o sargento se levantou de seu assento e olhou para suas tropas, enquanto a naveta balançava no vendaval incessante de Acheron.

— Tá certo! Vocês ouviram o tenente. Eu quero uma boa dispersão desta vez. Prestem atenção a frente de você. Qualquer um que tropeçar nas botas de alguém vai voltar a nave.

— Isso é uma promessa? — Crowe parecia ter feito uma pergunta inocente.

— Ei, Crowe, você quer sua mamãe? — Wierzbowski sorriu para seu colega.

— Queria que ela estivesse aqui — respondeu o soldado. — Ela limparia o chão com você.

Vasquez deu uma cutucada em Ripley enquanto passava por ela.

— Você vai ficar no interior?

— Pode apostar.

— Que figura —  o operador Smartgun virou-se, deslocando sua atenção para a parte de trás da cabeça de Drake.

— Desça sessenta metros deste lado do mastro principal de telemetria.  — Gorman girou o controle do gerador de imagens. Nenhum sinal de vida abaixo. — Pouso imediato ao meu comando, em seguida, encontre uma nuvem macia e permaneçar na posição.

— Entendido! — Respondeu Ferro.

Apone estava atento ao cronômetro embutido na manga do traje.

— Dez segundos, pessoal. Estejam atentos!

A Bug Stomper desceu dentro de cento e cinquenta metros do perímetro da Colônia, suas luzes exteriores acenderam automaticamente, poderosos holofotes penetrando uma distância surpreendente na escuridão. O solo estava úmido com lixo varrido pelo vento, nada para perturbar a aterragem cuidadosamente cronometrada de Ferro.Pernas hidráulicas absorveram o choque de contato quando toneladas de metal acertaram o solo. Segundos depois, o APC rugiu para fora do compartimento de carga distanciando-se.

Mal tendo tocado a superfície de Acheron, os motores da naveta trovejaram, atirando-a de volta para o céu escuro.





Nada se materializou fora a sujeira para desafiar ou confrontar o APC, até o primeiro dos edifícios colónias silenciosos. Sprays de lama voavam debaixo das suas sólidas rodas blindados. O transporte desviou bruscamente à esquerda para dar acesso a equipe da entrada principal da cidade. Antes de alcançarem a porta entreaberta, Hudson atingiu o chão correndo. Seus companheiros estavam bem atrás dele. Se espalharam rapidamente, para cobrir tanto terreno, sem perder de vista um do outro.

A atenção de Apone estava voltada para a tela do intensificador de imagem de sua viseira que examinava os edifícios circundantes. O computador interno do escâner ampliava a luz disponível e limpava a imagem, resultando em uma imagem brilhante ainda que tenebrosamente colorida e cheia de contraste. Era o bastante.

A arquitetura colonial tendia a ser somente funcional. A organização do ambiente vinha depois. O vento açoitava o lixo entre os edifícios dos detritos que eram muito pesados para afastar. Um pedaço de metal balançava em uma base, batendo contra uma parede próxima. Algumas luzes piscavam.

A voz de Gorman soou seca em todos os comunicadores dos trajes de combate.

— Primeiro esquadrão em linha. Hicks, posicione seu pessoal entre a entrada e o APC. Cuidado com a retaguarda. Vasquez, vá à frente. Vamos entrar.



Uma fileira de soldados avançou sobre a entrada principal.
Ninguém esperava uma comissão de boas vindas, só ultrapassar o bloqueio e passar sem dificuldade, mas ainda assim foi de certa forma um choque, encontrar um par de tratores pesados estacionados  na frente da grande porta , barrando a entrada. Isso implicava num esforço consciente por parte daqueles de dentro para manter algo do lado de fora.


Vasquez alcançou as máquinas silenciosas primeiro que todos e fez uma pausa para olhar dentro da cabina do operador do trator mais próximo. Os controles tinham sido arrancados. Impassível, ela se espremeu entre as escavadeiras e comentou num tom fleumático.

— Parece que alguém usou um pé de cabra nos instrumentos.

Ela chegou à porta principal e acenou com a cabeça para a direita, onde Drake a ladeou. Apone chegou, examinou a barreira, e foi aos comandos das portas externas. Seus dedos tentaram cada combinação sabida por ele. Nenhuma das luzes indicadoras respondeu.

— Destruída? — Perguntou Drake.

— Selada. Há uma diferença. Hudson, ajude aqui. Precisamos contorná-la.

Sem piadas agora o técnico, todo concentrado, colocou a arma de lado e inclinou-se para examinar o painel da porta.

— É padrão — disse.

Usando de uma ferramenta de seu cinto, arrancou o revestimento para protecção contra intempéries e estudou a fiação.

— Dois segundos, Sargento.

Seus dedos hábeis em seus movimentos, apesar do vento e do frio, começaram a remendar do circuito arruinado. Apone e os outros esperavam e observavam.


— Primeiro pelotão — o sargento ordenou — comigo na entrada principal!

Uma placa rangia onde tinha se soltado do local onde estivera afixada. O vento uivava em torno deles, esbofeteando nervos mais do que corpos. Hudson fez a ligação. Duas luzes indicadoras piscaram irregularmente. Gemendo contra a poeira que havia acumulado em sua calha de guia, a grande porta deslizou  nos trilhos, aos trancos e barrancos, em sincronia com as luzes piscando. Estacou no meio do percurso. A abertura era mais do que o suficiente.


Apone acenou para Vasquez entrar. O focinho de sua Smartgun veio antes, então ela entrou. Seus companheiros a seguiram enquanto a voz de Gorman crepitava em seus fones de ouvido.

— Segunda equipe mova-se! Sigam juntos. O que parece, sargento?

Os olhos de Apone esquadrinharam o interior da estrutura em silêncio.

— Limpo até agora, senhor. Ninguém em casa!

— Certo. Segunda equipe, continue acompanhando o avanço.

O tenente parou um momento para olhar para cima e atrás dele.

— Você está bem, Ripley?

Derrepente ela ficou ciente de que estava respirando muito rápido, como se tivesse acabado de correr uma maratona ao invés de estar parada ali. Assentiu, com raiva de si mesma, com raiva de Gorman por sua preocupação.
Ele voltou sua atenção para o console.

Vasquez e Apone caminhavam pelo largo corredor deserto. Algumas luzes queimadas. Iluminação de emergência já começando a se enfraquecer. Não dava para saber quanto tempo as baterias tinham suportado. O vento os acompanhou assobiando baixo.

Poças de água no chão manchado. Mais adiante, a chuva escorria através de furos de explosões no teto. Apone inclinou a cabeça para trás de modo que sua câmera capacete gravaria a evidência do tiroteio e transmitiria de volta para a APC.


— Pulso-rifles — murmurou ele explicando os buracos irregulares. — Um tiroteio danado.

Na baía de operações, Ripley olhou atentamente para Burke.

— Pessoas doentes não correm disparando armas dentro de seu habitat. Pessoas com equipamento de comunicações inoperantes não saem por aí disparando também. Só uma coisa provoca coisas desse tipo.

Burke simplesmente deu de ombros e se virou para observar as telas.

Apone fez uma careta para os furos de explosão.

— Que porcaria!

Era uma opinião profissional, não estética. O sargento não podia tolerar um trabalho mal feito. Naturalmente, eles eram apenas colonos, lembrou. Engenheiros, técnicos estruturais. Nenhum soldado. Talvez um ou dois policiais. Não havia necessidade de soldados; até agora. E por que agora? O vento zombava dele. Procurou o corredor à frente, em busca de respostas e encontrando apenas escuridão.

— Andem!

Vasquez retomou seu avanço, com movimentos exatos, duros, qual um robô. Seu canhão Smartgun lentamente ia da esquerda para a direita e vice-versa, cobrindo cada centimetro à frente, a cada poucos segundos. Seus olhos estavam baixos, acompanhando as leituras do monitor de rastreamento da sua arma.



Passos ecoaram ao redor e atrás dela, mas à frente apenas o silêncio.

Gorman bateu um dedo num grande botão vermelho.

— Formem quatro grupos de dois. Segunda equipe, mova-se. Hicks, o nível superior. Usem seus rastreadores de movimento. Se alguém vir algo em movimento, avise.

Alguém se aventurou a sussurrar a capela um trecho final de Das Rheingold. Soou como Hudson, mas Ripley não podia ter certeza,. Ela tentava assistir a todos os monitores de câmeras individuais ao mesmo tempo. Cada canto escuro no interior do edifício era uma porta de entrada para o Inferno, cada sombra uma ameaça letal.

Teve que lutar para manter sua respiração estável.

Hicks levou sua equipe até uma escada deserta para o segundo nível da cidade. O corredor era uma imagem espelho do corredor diretamente abaixo, talvez um pouco mais estreito, mas tão vazio quanto. Ao menos havia uma vantagem: nada de vento.



Parado no meio dos outros soldados, puxou uma pequena caixa de metal com face de vidro e entranhas delicadas que, como a maioria do equipamento , tinha um exterior fortemente blindado. Apontou para o corredor e ajustou os controles. Um par de LEDs iluminaram-se brilhando. Os medidores estavam imóvel. Balançou-o lentamente da direita para a esquerda.



— Nada — relatou. — Nenhum movimento, nenhum sinal de vida.

— Continue — foi a resposta decepcionada de Gorman.

Hicks realizava o escaneamento a frente dele enquanto sua equipe cobria-o, a frente, atrás e dos lados. Passaram por quartos e escritórios. Algumas das portas estavam entreaberta, outras fechados. Os interiores eram semelhantes e desprovidos de surpresas.

Quanto mais longe, mais flagrante se tornava a evidência de luta. Móveis virados e papéis espalhados. Discos de armazenamento de computador insubstituíveis tinham sido pisoteados. Bens pessoais, enviados a grande custo ao longo de distâncias interestelares, tinham sido abandonados sem pensar, esmagados e quebrados. Livros de valor inestimável, de papel de verdade, rasgados e danificados em meio de poças da água que vazara dos canos congelados e dos buracos no teto.

— Parece com o meu quarto na faculdade.

Burke estava tentando ser engraçado. Não conseguiu.

Vários dos quartos pelos quais Hicks passou não tinham sido apenas virados de cabeça para baixo; tinham sido queimados. Listras pretas cauterizadas nas paredes. Em vários escritórios as janelas envidraçadas com material a prova de estilhaços, tinham sido arrancadas. Chuva e vento soprava pelas frestas. Hicks deu um passo dentro de um escritório para levantar uma bolhacha meio comida sobre uma listagem de serviço. Um copo de café nas proximidades transbordara com a água da chuva. Manchas escuras jaziam espalhadas pelo chão, flutuando como ácaros nas poças.

O grupo com Apone procurava sistematicamente no nível mais baixo, movendo-se em pares que funcionavam como organismos individuais. Passaram por quartos compactos, apartamentos dos colonos. Não havia muito para ver. Hudson manteve os olhos no seu escaneador ao lado de Vasquez, parando apenas o tempo suficiente para reparar em uma mancha em especial na parede. Não precisava de analisadores eletrônicos sofisticados para dizer-lhe o que era: sangue seco. Todos na APC também viram, mas ninguém disse nada.

O rastreador de Hudson soltou um bipe, o som explodiu alto no corredor vazio. Vasquez girou, com sua arma pronta. O rastreador e a operadora da Smartgun trocaram um olhar. Hudson balançou a cabeça, em seguida, caminhou lentamente em direção a uma porta entreaberta que fora parcialmente arrancada para fora de sua moldura. Furos produzidos por saraivadas marcavam a porta e as paredes.



Com o oficial técnico fora do caminho, Vasquez se esgueirou para perto da barreira em ruínas e chutou-a. Chegou tão perto quanto possível de disparar sem realmente desencadear uma onda de destruição no interior da sala.

Pendurada em uma massa de tubos flexível, uma caixa de junção balançou para frente e para trás como um pêndulo, impulsionada pelo vento de uma janela quebrada. A caixa de metal pesado bateu contra os trilhos da cama de beliche de uma criança.

Vasquez soltou um som gutural. — Detetores de movimento. Odeio eles!

Ambos voltaram para o corredor.

Ripley estava assistindo a imagem fornecida por Hicks. De repente, ela se inclinou para frente.

— Espere! Diga-lhe para...

De repente ficou ciente de que só Burke e Gorman podiam ouvi-la, e ela correu para conectar seu transmissor no plugue da rede de comunicações.

— Hicks, é Ripley. Eu vi alguma coisa em sua tela. Volte um pouco.



Ele obedeceu, e a imagem em seu monitor recuou.

— Aí! Agora para a esquerda!

Os dois homens que compartilhavam a baía de operações assistiram a imagem fornecida pela câmera do cabo se estabilizar em uma seção da parede cheia de buracos e estranhas depressões. Ripley gelou. Ela sabia o que tinha causado aquele padrão irregular de destruição.


Hicks desceu a luva sobre o metal. — Vê isso? Parece derretido.

— Derretido não — Ripley o corrigiu. — Corroído.




Burke olhou para ela, levantou uma sobrancelha. — Hmmm. Sangue ácido.

— Parece que alguém acertou um dos meninos de Ripley aqui — Hicks soou menos impressionado do que o representante da empresa.

Hudson fazia a sua própria inspeção de um quarto no andar inferior. Acenou para seus companheiros para se juntarem a ele. — Ei, vocês vão gostar disso, vão adorar.

Ripley e seus companheiros deslocaram a sua atenção para a imagem sendo retransmitida de volta para a APC pela câmera do soldado.

Ele estava olhando para baixo. Seus pés enquadrando um buraco. Quando se inclinou para frente ao longo da borda, viram outro buraco diretamente abaixo do primeiro e mais além, vagamente iluminado por sua luz capacete, uma seção do nível de manutenção. Tubos, condutas, cabos, tudo tinha sido comido pela ação de algum líquido feroz.


Apone chamou: — Segundo pelotão, fale comigo. Qual é o seu status?

Hicks respondeu: — Acabei de terminar nossa varredura. Não há ninguém em casa.

O sargento falou com os ocupantes da APC distante.

— O lugar está morto, senhor. Morto e deserto. Tudo está tranquilo em Hadley. O que quer que aconteceu aqui, perdemos.

— Tarde pra festa novamente — Drake chutou um pedaço de metal corroído para o lado.